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2. O Ensino de Arte segundo os Professores

2.3 A discrepância entre o que se aspira e o que se ensina

O fato de todos os docentes, que responderam o questionário, possuírem formação específica em arte parece excluir a hipótese de que a não construção das competências derivaria da ausência de uma formação específica. Todos os professores analisados interpretam que a disciplina Arte pode contribuir de forma a fomentar e construir uma perspectiva crítica e reflexiva para seus alunos. Todas as respostas afirmam que a arte possui a capacidade de transformar a consciência humana.

A maioria dos professores respondeu que não consegue de fato construir as competências que consideram cruciais. Todos os professores buscam ações concretas para a construção do protagonismo e da autonomia, porém, não levam ao desenvolvimento da emancipação. Nenhum professor apresentou uma percepção sociológica e histórica sobre as possíveis causas das resistências dos alunos, o que demonstra uma perspectiva distante de uma concepção historicamente fundamentada. Todos reconheceram que os meios de comunicação de massa determinam o gosto dos adolescentes, porém, parecem não conseguir suscitar nos jovens a construção de uma consciência crítica sobre estes meios de comunicação. Todos os professores entendem que as teorias pedagógicas poderiam estar mais próximas da realidade dos alunos. A maioria deles respondeu que a equipe escolar conhece e discute as especificidades da cultura juvenil.

Para a P1, as competências consideradas como mais importantes daquelas apontadas pelo documento oficial PCNEM (2000) foram as competências (a), (b), (c) e (d). Segundo a

professora elas não estão sendo concretizadas. De acordo com as informações disponibilizadas, pode-se afirmar, portanto, que os objetivos proclamados nos PCNEM (2000) não são alcançados no cotidiano da sala de aula, para P1. Assim, as aspirações sugeridas nos documentos oficiais sobre o ensino da disciplina Arte não vêm sendo de fato concretizadas no âmbito de uma escola do ensino médio.

Da mesma forma para a P2 não há a concretização da competência (b) considerada como a mais importante. Conforme as informações disponibilizadas ficaram evidenciadas que a P2 não alcança a construção da competência que ela considera crucial, pela falta de recursos audiovisuais para a construção das competências indicadas. A P2 tem uma visão da mercantilização da arte, porém, de acordo com as informações disponibilizadas, pode-se afirmar que os objetivos proclamados nos PCNEM (2000) não são alcançados no cotidiano da sala de aula para P2.

A partir das informações disponibilizadas, pode-se afirmar que a competência (b) entendida por P3 como a mais importante consegue ser alcançada no cotidiano da sala de aula. Assim, pelo menos a competência mais importante apontada por esta professora está sendo de fato concretizada no âmbito de uma escola do ensino médio.

Para a P4 não há a concretização das competências (a) e (c) consideradas como a mais importante. De acordo com as informações disponibilizadas por P4 que indicou o desinteresse dos alunos éa principal causa da não construção das competências pode-se afirmar que os objetivos proclamados nos PCNEM (2000) não são alcançados no cotidiano da sala de aula pela P4. Assim, as aspirações sugeridas nos documentos oficiais sobre o ensino da disciplina Arte não vêm sendo de fato concretizadas no âmbito de uma escola do ensino médio.

Da mesma forma para a P5 não há a construção da competência (b) considerada como a mais importante. Segundo as informações disponibilizadas pode-se afirmar que o objetivo proclamado no PCNEM (2000) não consegue ser alcançado de forma satisfatória no cotidiano da sala de aula. Segundo a P5, a inexistência de salas de aula específicas para o ensino da disciplina Arte, inviabiliza a proposta. Assim, pelo menos a competência mais importante apontada por esta professora, entre aquelas apontadas pelo documento oficial PCNEM (2000), sobre o ensino da disciplina arte, não está sendo concretizada no âmbito de uma escola do ensino médio.

A partir das informações disponibilizadas, pode-se afirmar que a competência (a) entendida por P6 como a mais importante não consegue ser alcançada no cotidiano da sala de aula. Segundo a P6, tal fator ocorre devido ao desconhecimento dos alunos sobre Arte. Assim, pelo menos a competência mais importante apontada por este professor, daquelas apontadas

pelo documento oficial PCNEM (2000), sobre o ensino da disciplina arte, não está sendo concretizada no âmbito de uma escola do ensino médio.

Finalmente, de todos os professores analisados apenas um consegue construir a competência considerada por si como mais importante, porém, nenhum conseguiu de fato atingir os objetivos proclamados expressos no PCNEM (2000).

Embora P3 afirme conseguir construir e desenvolver a competência (b) em seus alunos esta professora parece possuir uma perspectiva sobre arte definida como conteudista. Nesta perspectiva, parece que é mais importante ensinar aos alunos os aspectos formais e transmitir o conteúdo do que seja a arte do que formar pessoas capazes de construir as suas próprias manifestações. Talvez esta concepção conteudista valorize mais a compreensão do que seja a arte e não estimule e valorize a produção de arte pelos próprios alunos. Tal concepção, portanto, pode ser interpretada como desencadeadora de certa passividade de criação. Passividade no sentido de não visar primordialmente a capacitação do aluno para a criação, mas apenas para a reprodução. Esse tipo de perspectiva educacional sobre a arte não contribui para a transformação da própria cultura e para a formação de sujeitos criativos e participativos capazes não apenas de reproduzir a cultura, mas de modificá-la. Mesmo que a professora acredite estar alcançando a competência indicada, ela está distante, de fato, de alcançar a dimensão cidadã prevista na LDB, justamente por não desenvolver os aspectos de ação e criação que são importantes na construção de cidadãos participativos. Nesse sentido, embora consiga alcançar a competência considerada como crucial, a professora não consegue desenvolver uma formação em Arte que leve de fato a emancipação.

Portanto, deste modo, podemos concluir que de acordo com as informações disponibilizadas pelos professores e a partir de uma analisa mais profunda sobre as mesmas é possível concluir que os objetivos proclamados, de caráter mais amplo, presentes nos PCNEM (2000) de uma capacitação para o trabalho e para a cidadania não são alcançados no cotidiano da sala de aula.

O PCNEM (2000) afirma categoricamente que “conhecer arte no Ensino Médio significa os alunos apropriarem-se dos saberes culturais e estéticos inseridos nas práticas de produção e apreciação artísticas, fundamentais para a formação e o desempenho social do cidadão” (BRASIL, 2000, p.46). O PCNEM (2000) também afirma que “a compreensão da arbitrariedade da linguagem pode permitir aos alunos a problematização dos modos de ‘ver a si mesmos e o mundo’” (BRASIL, 2000, p.5), mas a prática educativa cotidiana na sala de aula não consegue obter tal finalidade. Este documento diz que a reflexão sobre a linguagem no mundo contemporâneo “é mais do que uma necessidade, é uma garantia de participação

ativa na vida social, a cidadania desejada” (BRASIL, 2000, p.6). Porém, não é isto que é de fato alcançado, segundo as respostas apresentadas no questionário. Para o PCNEM (2000) o conhecimento sobre a Arte leva a uma postura crítica e reflexiva sobre a própria linguagem e “tal exercício pressupõe a formação crítica” (BRASIL, 2000, p.9). Porém, as respostas fornecidas evidenciaram o contrário daquilo que se aspira enquanto objetivos proclamados.

Desse modo, ficou evidenciado a não efetivação dos objetivos proclamados pelos professores de Arte do ensino médio da escola pública do Estado de São Paulo. A seguir, buscaremos compreender quais são as contradições que envolvem a teoria e a prática da atividade docente que inviabiliza a construção de uma consciência emancipada da forma concebida pela a teoria estética de Adorno.

3. ADORNO E O PAPEL EMANCIPADOR DA ARTE: uma Referência para a Crítica