• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Dinâmica da atividade pesqueira

4.2.1 A distribuição espacial das croas e camboas trabalhadas

Os bancos de areia que surgem durante as marés baixas e dos quais são extraídos os mariscos e sururus diariamente na comunidade, são denominados localmente de “croas”, e o manejo realizado nessas áreas de forma artesanal é indispensável para a manutenção das espécies ali encontradas.

Por causa disso, os pescadores e pescadoras apresentam certo cuidado ao escolher as áreas que vão trabalhar, geralmente evitam lugares que já foram “trabalhados” anteriormente, como costumam dizer, pois entendem que esse cuidado deve existir para que se possam garantir os pescados futuros. Existe também, preferência por lugares mais próximos do Porto, dada as limitações de deslocamento, já que muitos desses pescadores e pescadoras não possuem embarcações e se deslocam através das caronas oferecidas por outros pescadores e/ou pagando o aluguel de canoas ou “baiteras” como são conhecidas por eles.

Esse cuidado com o tipo de ambiente que os pescadores e pescadoras exploram é uma das características da atividade pesqueira na Povoação de São Lourenço, de modo que existem diversos pontos de pesca (“croas” e “camboas”) que são utilizados pelos entrevistados (Figura 3). Segundo Clauzet, Rameres e Barrella (2005) os métodos de pesca são escolhidos de acordo com os locais de pesca e os locais são escolhidos de acordo com as espécies-alvo das pescarias, que variam de acordo com a época do ano.

A escolha das áreas de “croas” tem relação direta com a fase da maré, pois na fase de maré baixa é o momento em que esses bancos de areia secam completamente, favorecendo o desenvolvimento das atividades de catação dos mariscos e sururu na região. Na Figura 2 é possível conhecer as “croas” que existem na área da comunidade estudada, utilizadas pelos pescadores para catação de moluscos e algumas vezes de siris. Na área da comunidade estudada disseram existir as seguintes “croas”: Croa do Porto de Bomba, Croa da Ilha do Meio ou Croa da Camboa da “Araia”, Croa do Viveiro 5, Croa do Guaxinim, Croa do Burro, Croa da Jurema e Croa Dona Joana.

Fonte: Google Earth (2016).

Existem ainda áreas conhecidas como “camboas” que pode ser definida como lago artificial à beira-mar, onde na maré cheia entra o peixe de pequeno porte; ou como esteiro, que

se enche na preamar e fica em seco na baixa-mar

(http://www.kinghost.com.br/dicionario/camboa.html), ou podem também ser definidas como canais naturais (rego), formados, geralmente, nas grandes marés ou com as enchentes pluviais.

De acordo com os pescadores as chamadas “camboas” são os trechos mortos dos rios ou canal por onde os peixes entram na maré cheia e saem quando a maré baixa, elas são especialmente frequentadas pelos pescadores de peixe, catadores de ostra e servem muitas vezes de acesso aos caranguejeiros para adentrar em áreas mais distantes no manguezal.

Figura 2 - Localização dos pontos de pesca. P1- Croa do Porto de Bomba, P2- Croa da Ilha do Meio ou Croa da Camboa da “Araia”, P3- Croa do Viveiro 5, P4- Croa do Guaxinim, P5- Croa do Burro, P6- Croa da Jurema, P7- Croa Dona Joana, P8- Mangue da “Araia”, P9- “Camboa” do atalho, P10-

Também é possível observar na Figura 2 a presença de algumas “camboas” na área da comunidade estudada. Foram descritas por meio do estudo as seguintes camboas: Camboa do atalho, Camboa da amoreia, Camboa do Freita, Camboa de Santo Antonio, Camboa do Atalho e Camboa do Maxixe. O deslocamento desde a casa do pescador até o local de coleta (croas e “camboas”), e posteriormente para o local de beneficiamento do pescado, pode ser realizado a pé ou com auxílio de embarcação, dependendo da distância percorrida e da altura da coluna d’água durante o trajeto.

No caso das “croas”, a seleção da área para extração ocorre por meio da identificação da quantidade e tamanho do marisco e sururu. Essa pode ser realizada através da visão, em locais onde a área de coleta está exposta; ou do tato, quando a “croa” está imersa pela coluna d’água. O reconhecimento pelo tato pode ocorrer com as mãos ou com os pés através da retirada de uma pequena porção de marisco ou sururu para verificar seu tamanho e inferir sua abundância. Caso o local não possua as características adequadas, a marisqueira irá se deslocar para outra “croa” e realizar o mesmo procedimento até encontrar uma área mais satisfatória.

Os locais de coleta da ostra vão variar de acordo com seu tamanho e disponibilidade, muitas vezes sendo preferido pelos pescadores entrar de canoa ou “baitera” pelas “camboas”, locais que pela dificuldade de acesso irão oferecer uma ostra diferenciada das que ficam na “beirada” do mangue, segundo informações passadas pelos pescadores.

Nishida, A. K. Nordi, N. Alves, R. R. N. (2004) relataram em pesquisa realizada nos estuários do rio Mamanguape e Paraíba do Norte (Paraíba), que os catadores de Ostra Gaiteira (Crassostrea rhizophorae - Guilding, 1928) preferem utilizar áreas de coletas mais distantes, pois nas proximidades observa-se que o recurso explorado se encontra comprometido tanto com relação ao tamanho quanto a quantidade devido à sobrepesca.

Comparando as duas situações expostas, observa-se que as variáveis que influenciam na escolha do local de coleta diferem em cada local, assim, as possíveis medidas de gestão que envolva o ordenamento espacial de cada atividade podem ser eficientes em uma circunstância, entretanto, não apresentarem resultados satisfatórios em outra.

Cada uma das áreas de “camboa” ou “croas” (Figura 2) é utilizada com intensidades diferentes, por isso é importante que todas sejam identificadas e caracterizadas, pois futuramente essas informações podem embasar propostas de manejo, como a exemplo do que é mostrado em pesquisas, como Washington (Estados Unidos) (PFISTER; BRADBURY, 1996); Golfo San Matias (Argentina) (Narvate et. al. 2007) e Reserva Extrativista Pirajubaé (Brasil) (PEZZUTO; SOUZA, 2015).