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CAPÍTULO 1: DINÂMICAS REGIONAIS E MOBILIDADE ESPACIAL: EXPRESSÕES DA DIVISÃO ESPACIAL DO TRABALHO

1.5 A diversidade das estruturas produtivas e ocupacionais

A diversidade das estruturas produtivas e ocupacionais dos centros urbanos componentes de uma determinada rede urbana é fundamental no contexto das suas articulações com as dinâmicas migratórias e aquelas do mercado de trabalho. Distintamente das dimensões históricas, multi-escalares e político-ideológicas, a referida diversidade não é um dos elementos

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(Tradução livre): em vista das condições gerais do trabalho assalariado, a liberdade do trabalhador para se mover se converte exatamente no contrário. Em busca de um emprego e de um salário para viver, o trabalhador se vê obrigado a seguir a onde quer que este flua.

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constituintes ou estruturadores da divisão espacial do trabalho, mas uma expressão desta em determinado momento histórico.

As considerações de Massey (1984) a respeito das estruturas espaciais constituídas através da dinâmica da divisão do trabalho, permitem diferenciar elementos constituintes dos seus reflexos: “The changing spatial organization of the relations of production and the division of labour is a basis for understanding changing patterns of employment and the geography of social class” 21 (p. 39). Além da distinção necessária, a autora afirma o caráter fundamental da compreensão daqueles primeiros para o entendimento da dinâmica das ocupações.

Faria (1976) destaca as estruturas produtivas e ocupacionais enquanto expressões da divisão espacial do trabalho:

(...) essa diferenciação do sistema urbano indica a existência de um padrão de divisão do trabalho entre as cidades brasileiras, que as diferencia quanto às suas estruturas produtivas, padrões ocupacionais, produtividade e capacidade de prover às populações respectivas dos bens de infra-estrutura econômica e social (p. 112).

Ainda que o autor esteja se referindo às características do sistema urbano brasileiro na década de 1970, suas considerações permitem caracterizar a diversidade das estruturas produtivas e ocupacionais a partir das dimensões estruturadoras da divisão do trabalho. Assim, se considera que elas são expressões diretas das diferentes formas de inserção à divisão do trabalho em suas mais diversas escalas espaciais e ao longo do tempo, já que demonstram as ocupações predominantes de acordo com aquilo que se produz (no sentido mais geral possível) num determinado lugar. Da estrutura produtiva existente em um lugar, decorre a sua estrutura de ocupações, ou seja, o perfil ocupacional de sua população.

Faria (1980) destaca tal questão ao apontar que ao lado da hierarquia funcional dos distintos centros urbanos constituintes de uma rede, “(...) a especialização funcional dos municípios, medida em termos de seus perfis ocupacionais” (p. 748) constitui uma das traduções operacionais satisfatórias dos conceitos relacionados à divisão espacial do trabalho. Outra questão importante que o autor destaca é o fato de que embora a análise de dados quantitativos sobre perfis ocupacionais estivesse mais vinculada a tradições funcionalistas ou pragmáticas das

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(Tradução livre): A cambiante organização espacial das relações de produção e a divisão do trabalho é uma base para a compreensão dos padrões mutáveis do emprego e da geografia das classes sociais.

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ciências humanas, sua operacionalização articulada às teorias macro-sociais críticas poderia trazer resultados relevantes.

O caráter histórico das diferentes estruturas ocupacionais dos centros urbanos foi destacado por Singer (1973a) ao caracterizar a estruturação de uma divisão espacial do trabalho. Conforme destacado anteriormente, o autor aponta que a diversificação e a diferenciação das atividades e das decorrentes ocupações entre os centros urbanos são os processos que constituem inicialmente a referida divisão. A articulação entre tais centros especializados não só permite o aproveitamento de especializações, como também a ampliação das possibilidades de acumulação, questão destacada por Gonçalves (1998) em seu estudo sobre a formação da rede urbana paulista.

A diversificação da estrutura produtiva em suas implicações sobre a estrutura ocupacional guarda relações com as dinâmicas migratórias. Em estudo anterior (Oliveira, R., 2009), verificou- se que os perfis das populações migrantes para três municípios da região de Ribeirão Preto diferiam, em termos de suas origens e escolaridade, em função das distinções entre as estruturas ocupacionais de Ribeirão Preto (centro comercial e de serviços), Sertãozinho (centro industrial em nível regional) e Barrinha (município com economia concentrada no setor agropecuário), o que caracteriza suas relações com distintas inserções a uma divisão intra-regional do trabalho. Do primeiro para o último município, a diversidade das origens e o nível de escolaridade diminuíam, sendo que Barrinha concentrava migrantes provenientes das áreas menos desenvolvidas do país.

Faria (1980) destacou as vinculações entre as migrações e as características das estruturas ocupacionais ao avaliar o crescimento da população urbana nas classes de municípios da região denominada como Macro-metrópole paulista22. Essas classes foram definidas mediante informações sobre perfis ocupacionais e hierarquias funcionais, sendo posteriormente articuladas às taxas de crescimento da população urbana e aos saldos migratórios. Isto permitiu ao autor destacar algumas características quanto aos processos migratórios predominantes.

Ambos os casos são relevantes para o presente estudo, em virtude de indicarem que a diversidade das estruturas ocupacionais decorrente das distintas inserções à divisão do trabalho vincula-se as características das dinâmicas migratórias. Considera-se que os municípios das duas regiões estudadas (Ribeirão Preto e Presidente Prudente) são caracterizados por diferenças quanto às populações migrantes não só em termos das suas estruturas ocupacionais em geral, mas também em função do seu papel no contexto da economia sucroalcooleira.

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Segundo o autor, compreenderia a Região Metropolitana de São Paulo, mais as regiões de Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Baixada Santista.

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A grande maioria dos municípios registra um perfil agrícola do CAI canavieiro, sendo caracterizados pela produção de matéria-prima, o que os distingue quanto às ocupações predominantes quando comparados aos municípios com presença de unidades de processamento industrial de açúcar e álcool. Tais diferenças guardam vinculações tanto com os perfis dos imigrantes, quanto com o processo de crescimento populacional. Assim, cabe interpretá-las em relação ao conjunto das interações espaciais que articulam as redes urbanas, nas quais também se ressaltam fluxos de mercadorias, informações e capitais.