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CAPITULO II – INICIATIVAS PARA O DISCLOSURE AMBIENTAL NO

2.3. A Divulgação Ambiental Normatizada pelo CFC

Outro órgão, com iniciativa neste processo de evidenciação e divulgação de informações de natureza social e ambiental no Brasil, é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) o qual, no ano de 2004 realizou a emissão da Resolução 1.003/2004 que aprovou a Norma Brasileira de Contabilidade − NBC T 15 − Informações de Natureza Social e Ambiental.

De acordo com o CFC (2004), a NBC T 15 − Informações de Natureza Social e Ambiental estabelece procedimentos para a evidenciação de informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade, a participação e a responsabilidade social da entidade. Para este fim, instituiu a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental que deve evidenciar os dados e as informações de natureza social e ambiental da entidade, extraídos ou não da contabilidade, sendo divulgada como informação complementar às demonstrações contábeis, pela utilização de informações contábeis e não-contábeis, não se confundindo, portanto, com as notas explicativas.

Essa demonstração contempla a divulgação de informações quanto a: (i) geração e a distribuição de riqueza (Demonstração do Valor Adicionado − DVA propriamente dita); (ii) recursos humanos; (iii) interação da entidade com o ambiente externo (comunidades, fornecedores, clientes) e; (iv) interação com o meio ambiente, além de outras que a entidade julgar relevantes.

No que concerne à divulgação de informações, quanto à interação da entidade com o meio ambiente, devem abranger informações de investimentos e gastos com: (i) manutenção nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente; (ii) preservação e/ou recuperação de ambientes degradados; (iii) educação ambiental para empregados, terceirizados, autônomos, administradores da entidade e a comunidade e; (iv) outros projetos ambientais. Além disso, a divulgação deve contemplar a quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a entidade, o valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determinadas administrativa e/ou judicialmente, passivos e contingências ambientais.

Pelo exposto, as informações divulgadas podem ser de natureza física, monetária ou qualitativa e devem aparecer no conjunto das demonstrações

contábeis como informações complementares, e não inseridas por meio de notas explicativas, sendo apresentadas de forma comparativa com as informações do ano anterior e, ainda, como objeto de análise pela auditoria independente.

Segundo comentam Costa e Marion (2007), a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental apresenta uma diferença se comparada ao Balanço Social, uma vez que na demonstração prevista pelo CFC há a inclusão de passivos ambientais, tais como multas e indenizações de caráter ambiental, das contingências ambientais, dos ativos ambientais, apresentando, portanto, uma maior abrangência em relação ao Balanço Social quanto a sua abordagem para as questões ambientais.

Um novo projeto que deve ser salientado neste estudo é o que vem sendo desenvolvido atualmente pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por meio do Grupo de Estudos de Informação de Natureza Ambiental, na elaboração de diretrizes para que as companhias de capital aberto ou fechado evidenciem e destaquem, em suas demonstrações financeiras, os Ativos, Passivos, Receitas, Custos e Despesas Ambientais. (CFC, 2009)

A aplicabilidade destas diretrizes se estende a todas as atividades econômicas que causem ou venham a causar, direta ou indiretamente, algum tipo de impacto ao meio ambiente, que poderá ser de natureza positiva ou negativa. Isto contribuirá para uma maior transparência por parte das empresas em relação ao seu compromisso com o meio ambiente, permitindo, desta forma, que os investidores possam visualizar informações de como as empresas atuam e tratam as questões ambientais.

Esse projeto para uma nova norma contábil ambiental denominada de NBC TE – Interação da Entidade com o Meio Ambiente aborda conceitos e critérios para a contabilização de eventos e transações que reflitam as interações da entidade com o meio ambiente, determinando os critérios para reconhecimento, classificação, avaliação e apresentação nas Demonstrações Financeiras.

Desse modo, para garantir a divulgação desejada a empresa deverá manter contas contábeis segregadas em seu plano de contas, visando registrar os eventos e as transações pertinentes aos Ativos, Passivos, Receitas, Custos e Despesas relacionados ao meio ambiente.

De acordo com o CFC (2009), a NBC TE requer que seja divulgado, por meio de Notas Explicativas o seguinte: (i) informações adicionais relevantes sobre ativos

ambientais e sua depreciação ou amortização; (ii) áreas de conservação de recursos naturais segregando aqueles de natureza compulsória das de natureza voluntária; (iii) em se tratando de danos ambientais e das obrigações dele decorrentes a divulgação da natureza do fato, o período da ocorrência, o valor envolvido e as medidas tomadas; (iv) a divulgação de prejuízos causados à terceiros em função da degradação ambiental provocada e desde que haja condições de mensuração a constituição de uma provisão; (v) divulgação da metodologia utilizada para mensuração do valor da provisão, o tipo e a quantidade de poluição causada; (vi) divulgação por meio de notas explicativas com relação a passivos ambientais contingentes decorrente de obrigação ambiental por degradação ocorrida no passado, cujo valor não possa ser estimado, explicando suas origens e as causas que impossibilitam sua mensuração; (vii) identificação das origens dos passivos ambientais; (viii) o total das despesas operacionais ambientais segregadas em pagas e provisionadas.

Essa nova norma ambiental, que se encontra atualmente em fase final de revisão para verificação de sua compatibilidade com as demais normas brasileiras de contabilidade, não está isenta de polêmicas entre as entidades e setores envolvidos. Há aqueles que são favoráveis e aqueles que não compartilham da ideia de haver mais esse conjunto de normas contemplando o tratamento às demonstrações contábeis e a divulgação das questões ambientais.

Comenta Ferreira, citado por Moura (2009), na matéria “Normas ambientais entram em pauta e causam polêmica”, publicada no Jornal Valor Econômico, de 20.10.2009, que o objetivo desta nova norma não é apenas técnica, mas sim social, pois tem vistas a padronizar a forma como os contadores possam elaborar o relatório anual das empresas, fornecendo informações por meio das Demonstrações Financeiras que propiciem aos investidores mais transparência no que diz respeito à visão da empresa quanto ao seu desempenho em relação ao meio ambiente, a partir da evidenciação e divulgação dos itens patrimoniais e de resultado ambientais, destacados separadamente dos operacionais.

Ainda segundo a matéria mencionada, esse tratamento contábil segregado propiciará uma informação de melhor qualidade para a empresa gerenciar, pelo fato de que, se provisionar separadamente, poderá realizar ações mais eficazes para evitar passivos maiores no futuro, proporcionando, desta forma, um resultado positivo à própria empresa e à sociedade.

Já no entendimento de Broedel, comentado por Moura (2009), neste mesmo artigo, é observado que qualquer demanda por novas informações geram custos para as empresas. No entanto, essa abordagem ambiental, trazida pela norma, faz parte da evolução da contabilidade, que saiu do foco das empresas e do acionista para a sociedade de uma forma geral, tendo em vista que a questão ambiental trata- se de uma das características da sustentabilidade.