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A DMINISTRAÇÃO P ÚBLICA G ERENCIAL

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI (páginas 26-30)

CAPÍTULO 1.......................................................................................... 3

1.2 EVOLUÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA

1.2.4 A DMINISTRAÇÃO P ÚBLICA G ERENCIAL

Um dos intentos mais significativos na busca por uma maior autonomia às ações estatais, foi a edição do Decreto-Lei 200/67. Esse mandamento legal pode ser considerado como a primeira evidência do modelo de gestão denominado Administração Pública Gerencial, tendo em vista que objetivava proporcionar uma maior flexibilização à rigidez burocrática. Esse novo modelo incorpora às características burocráticas, avanços práticos e teóricos alcançados pela área privada, mantendo, contudo, a particularidade finalística do Estado em atender ao interesse público.

Bresser-Pereira38 identifica três orientações para a Administração Pública Gerencial: a técnica, a econômica e a política:

A Técnica é caracterizada pela: 1)passagem do controle de procedimento para o controle de resultados; 2)tentativa de redução do custo do serviço público; 3) máxima preocupação com o controle financeiro; 4)grande relevância conferida à avaliação de desempenho dos funcionários; 5)disposição ao cumprimento de metas; 6)ampliação da autonomia de gestão; e 7)avaliação das performances. A Econômica é pautada pela: 1)alocação de um

‘controle por competição administrada’; 2)criação dos ‘quase-mercados’; 3)administração por contrato; 4)gestão pela qualidade

38 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do Estado para a cidadania, p.115.

total. E a Política, refere-se à existência de controle social e à consideração do cidadão como um cliente.

Enquanto a Administração Pública burocrática se concentrava no processo, em definir procedimentos para contratação de pessoal;

para compra de bens e serviços; e em satisfazer as demandas dos cidadãos, a Administração Pública gerencial orienta-se para resultados. A burocracia concentrava-se nos processos, sem considerar a alta ineficiência envolvida, porque acreditava que este era o modo mais seguro de evitar o nepotismo e a corrupção. Os controles eram preventivos, vinham a priori.

A Administração Pública gerencial, por sua vez, assume que se deve combater o nepotismo e a corrupção, mas que, para isto, não são necessários procedimentos rígidos. Podem ter sido necessários quando dominavam os valores patrimonialistas; mas não o são agora, quando se rejeita universalmente que se confundam os patrimônios público e privado. Por outro lado, emergiram novas modalidades de apropriação da res publica pelo setor privado. A administração gerencial; a descentralização; a delegação de autoridade e de responsabilidade ao gestor público; o rígido controle sobre o desempenho, aferido mediante indicadores acordados e definidos por contrato, além de serem modos muito mais eficientes para gerir o Estado, são recursos39.

Nessa racionalidade gerencial os resultados, os objetivos conquistados, as finalidades, são tomados não como Princípios, mas como realidade fática, somente apreensível empiricamente, nos casos concretos. E é nesta forma de apreensão que estes elementos se tornam, para o novo modelo, o fundamento de legitimidade.

Bresser-Pereira40, diz que a visão gerencial abandona a desconfiança no indivíduo, característica da burocracia; “Com a Reforma Gerencial, o administrador público deve adquirir não toda, mas uma grande parte da autonomia de que o goza o administrador privado”.

39 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Gestão do setor público: estratégia e estrutura para um novo estado, p.8.

40 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do Estado para a cidadania, p.126.

Por esse motivo não pode ser condenável que cada qual busque a sua própria satisfação, e mais, é possível deduzir que a própria busca por satisfação individual acabe por acarretar a melhoria geral da sociedade, ou acabe por acarretar sua maximização.

Gabardo41 finaliza dizendo que “não há que se falar, portanto, em solidariedade ou fraternidade, mas em concorrência ou competição.

Se o homem não pode alterar sua realidade, deve, ao menos, defender seus próprios interesses, afinal, se todos adotarem esta postura, haverá melhoria geral do sistema, que é pautado pela soma das performances”.

Com o surgimento desse novo modelo na segunda metade do século XX, a busca pela Eficiência na Administração Pública, passa a ser uma meta a ser alcançada. Conceitos como redução de custos, aumento da qualidade dos serviços prestados e a satisfação do cidadão, passam a ser priorizados na Administração Pública.

Um grande exemplo neste sentido, foi a publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado em 1995. Esse Plano teve como objetivo básico, a transformação da Administração Pública de burocrática em gerencial buscando, com isso, tornar o Estado menor, mais eficiente e mais voltado ao atendimento das demandas dos cidadãos42.

O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado desenhou uma estrutura organizacional diferenciada para o Brasil, baseada na estruturação de transição e na firmação de projetos específicos. Os setores são quatro: núcleo estratégico, de atividades exclusivas, de serviços, e de produção de bens e serviços para o mercado43.

A definição de objetivos se dá justamente em função da divisão setorial, além da adoção de metas globais, que são a descentralização, o aumento da efetividade e Eficiência do governo na implantação de políticas

41 GABARDO, Emerson. Princípio constitucional da Eficiência administrativa, p.50.

42 DA PAZ, Paulo Henrique Ferreira. Um estudo da avaliação da gestão pública baseada na experiência de governos estrangeiros com a utilização do balanced scorecard, p.18.

43 BRASIL. Plano diretor da reforma do aparelho do Estado, p.52.

públicas e a imposição de limites à ação estatal nas funções que não lhe forem próprias.

Mas, a elaboração desse Plano não foi a primeira tentativa de desburocratização da história brasileira. Muito antes disso, em 18 de julho de 1979, foi instituído o “Programa Nacional de Desburocratização”, com o objetivo de simplificar e tornar mais dinâmico o funcionamento específico da Administração Federal (embora acabou por obter a adesão de grande parte dos Estados-membros e municípios mais populosos) as duas grandes metas eram reduzir a interferência do Governo na atividade privada e melhorar o atendimento aos usuários do Serviço Público. Foi criado até mesmo a figura do Ministro da Desburocratização, além da “Secretaria de Modernização e reforma Administrativa” (com funções muito próximas ao que viria a ser, na década de 90, o “Ministério da Administração e Reforma do Estado”). Este programa teve como antecedente o estudo realizado pela COMESTRA (Comissão Especial de Estudos de Reforma Administrativa), instituída em 9 de outubro de 1964, que influenciou diretamente a elaboração do Decreto-lei 200, de 25/02/1967.

Assim como na transição da administração patrimonialista para a burocrática, a admissão dos novos conceitos trazidos pela administração gerencial, não representa o total abandono do modelo antecessor. No entanto, ocorre uma diferenciação fundamental entre os dois últimos modelos no que diz respeito à natureza dos controles por eles exercidos. Há uma migração do controle nos processos – característica do modelo burocrático – para se enfatizar, no modelo gerencial, o controle nos resultados.

Conforme relatado pelo Ministério do Planejamento no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado de 1995, a estratégia da Administração Pública gerencial direcionou-se para os seguintes aspectos:

(1)definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade; (2)garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados; (3)controle ou cobrança a posteriori dos resultados; (4)competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a

possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas;

(5)descentralização e redução dos níveis hierárquicos; (6)controle sobre os órgãos descentralizados através do contrato de gestão; (7)deslocamento da ênfase nos procedimentos (meios) para os resultados (fins); (8)incentivo à criatividade e à inovação; (9)orientação para o cidadão-cliente.

Houve, como se percebe, o interesse de se criar um ambiente gerencial na Administração Pública brasileira, tendo a satisfação dos interesses dos cidadãos como o norteador das ações do Estado. Pode-se considerar, portanto, que a finalidade maior na criação da administração gerencial, é a de considerar o indivíduo, economicamente, como consumidor (ou usuário) e, politicamente, como cidadão44.

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI (páginas 26-30)