• Nenhum resultado encontrado

A Dualidade nas Políticas Educacionais: Católicos e Liberais

No documento Download/Open (páginas 55-58)

Nos anos de 1930, após a crise mundial ocasionada pelas crises da Bolsa de Valores de Nova York e do café no Brasil, houve intensa politização mundial. Na maioria dos países do Ocidente, os projetos políticos e intelectuais fundiram-se de um modo até então nunca visto. A educação não ficaria fora desse contexto de

transformações, pois nela se refletem as acomodações, as alianças e as lutas dos grupos em jogo, na disputa das políticas educacionais.

De acordo com Cury (1988), estudioso da disputa entre católicos e liberais, na busca pelo predomínio nas políticas da educação,

[...] começa uma fase de reconhecimento de nossa sociedade, ou pelo menos a necessidade de considerá-la em vários aspectos. A conversão da estrutura econômica, social e política e a própria conversão da mentalidade de vários setores da população, implicavam na reconversão da estrutura educacional, a fim de valorizar as novas aspirações e na medida do possível concretizá- las. A revolução de Trinta e os esforços de “Reconstrução Nacional” possibilitarão amplos debates em todas as esferas da realidade brasileira, inclusive com ardor, no campo da educação, chegando mesmo ao conflito ideológico (CURY, 1988, p. 10).

No ápice dessas mudanças, os grupos que surgiram e se aglutinaram começaram a entrar em conflito, especialmente tendo como alvo a necessidade de impor, na reconstrução constitucional do Estado, seus princípios considerados, então, como asseguradores da nova ordenação de uma política justa e harmoniosa.

Conforme Cury (1988, p. 11), por faltarem os debates educacionais anteriores a 1930, as propostas só adquiriram contornos nítidos quando se aproximou a oportunidade de registrá-los na Constituição de 1934. Os grupos eram formados por

[...] educadores profissionais identificados como Pioneiros da Escola Nova e os lideres intelectuais católicos juntamente com os membros da hierarquia católica. Estes grupos são solicitados a oferecerem sugestões para o capítulo sobre educação da Constituição que estava sendo elaborada; tais grupos entram em choque, já que pretendem ver consagrada sua proposta, de modo integral, na futura Constituição (CURY, 1988, p. 11).

Cury (1988) ressalta a existência de duas correntes nas propostas relativas à educação. Em um primeiro momento, fixaram-se na dualidade das políticas educacionais: de um lado estavam os liberais defensores da escola pública, laica, obrigatória, gratuita e universalizada, em todos os níveis de ensino, e de outro lado, colocavam-se os católicos, que esperavam a continuidade da escola marcada pelo ensino confessional e pago, com base no modelo pedagógico de ensino baseado na escola tradicional, formalista e intelectualista.

Embora a Constituição de 1934, tenha contemplado princípios democráticos em relação ao ensino, incluindo o superior, não houve tempo para a sua implantação, em razão da ditadura que se instaurou em 1937 – o Estado Novo.

Na definição das políticas educacionais deste período predominaram duas correntes segundo Nagle (2001) o “entusiasmo pela educação” e de “otimismo pedagógico”. A primeira – o entusiasmo pela educação – pretendia acabar com o “atraso e ignorância”, eliminando o analfabetismo que imperava no país. A segunda – o otimismo pedagógico –

[...] se expressa na proposta de reforma das escolas existentes. A disseminação escolar não basta e nem é adequada sem a implantação dos princípios escolanovistas. A escola seria mais eficiente, seu espírito científico qualificaria o ensino, a psicologização do processo educacional capacitaria o aluno segundo suas virtualidades, a administração escolar racionalizaria o processo educacional. Começa a se fazer presente no Brasil a idéia da Reconstrução social pela Reconstrução educacional (CURY, 1988, p. 19).

Essa reforma implicava a superação do ensino academicista, formalista e intelectualista. Para essa corrente, em um país no qual o homem era a força propulsora e produtora de riquezas, esse ensino não tinha grande importância. Diante disso e da impossibilidade de a elite recusar o modelo de escola proposto, formaram-se duas redes de ensino: aquela que atenderia à formação das elites e a dedicada à formação da força de trabalho.

O modelo educacional da época sofreu influência dos escolanovistas, sobretudo as áreas que não tinham vínculos com a igreja católica, já que esta era a favor do ensino acadêmico e elitista. Os escolanovistas denunciavam a manutenção do caráter excludente da escola católica.

Apesar da vitória de Getúlio Vargas na Revolução de 1930, os planos dos vitoriosos não eram homogêneos. Havia oposição “à continuidade exclusivista da política educacional até então vigente (classista e elitista excludente), e também não havia heterogeneidade na vontade de implantar a política educacional” (CURY, 1988, p. 20). Os opositores à continuidade da política educacional elitista excludente uniam-se em torno de ideais liberais, e reinterpretavam ideais à luz das aspirações dos grupos que representavam (CURY, 1988).

Em 1931 realizou-se a Conferência Nacional de Educação (CNE), cujo objetivo era a discussão de um Plano Nacional de Educação, como estratégia para influenciar os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, que aconteceu em 1934 (CUNHA, 1980) e da qual emergiu a Constituição Brasileira.

Diante de compromissos assumidos na mencionada CNE, alguns intelectuais jovens, mas já importantes, porque vários deles haviam participado do ciclo de reformas estaduais dos anos de 1920, organizaram o que foi sistematizado por Fernando de Azevedo e se tornou um clássico na literatura pedagógica da história e filosofia da educação brasileira: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932. Foram signatários do documento os seguintes educadores: Fernando de Azevedo, Afranio Peixoto, Sampaio Doria, Anísio Spínola Teixeira, M. Bergstrom Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira de Almeida Jr., J. P. Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venancio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meirelles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Alvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nobrega da Cunha, Paschoal Lemme, Raul Gomes.

2.2 Obrigatoriedade, Gratuidade, Laicidade, Co-educação e Controle Estatal

No documento Download/Open (páginas 55-58)