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2. 1 Contexto histórico de Uberaba: origens, desenvolvimento e quadro geral até os primeiros anos do Século XX

As origens mais remotas de Uberaba ligam-se a três fatores principais: à existência da estrada do Anhangüera, picada aberta pelos bandeirantes da expedição de Bartolomeu Bueno da Silva (1722), à decadência de uma área de mineração, chamada Desemboque (1781)28 e à criação de gado, primeira atividade que concorreu para a fixação de população (não indígena) no novo lugar.

28 Desemboque foi um dos muitos arraiais auríferos surgidos no século XVIII. Segundo Antônio Borges

Sampaio, estudioso da história da região do Triângulo e de Uberaba, em sua obra, Uberaba: história,

fatos e homens, publicada em 1971 pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, na época da Derrama, lançada em 1763, muitos mineradores deixavam as regiões fiscalizadas e se refugiavam no Desemboque para se livrarem das cobranças de impostos. Para a historiadora Eliane M. M. de Rezende (1991, p. 24), essa povoação foi fundada aproximadamente, em 1740, nas margens do Rio das Abelhas (hoje Rio Araguari). Entre 1743 e 1781 suas minas produziram mais de 100 arrobas de ouro. O arraial cresceu, contando com mais de 196 casas e cerca de 1000 habitantes. Em 1766, foi criado o Julgado de Nossa Senhora do Desterro das Cachoeiras do Desemboque, que abrangia o Triângulo Mineiro atual e todo o sul de Goiás. A decadência começou em 1781. As ruínas dessa povoação localizam-se no município de

No final do século XVIII, a produção de ouro no Desemboque entrou em decadência levando os moradores do local, juntamente com outros pioneiros e exploradores, a penetrarem mais para o oeste do Triângulo Mineiro. Região denominada na época pelos entrantes e bandeirantes, que por ali passavam em direção a Goiás e Mato Grosso, de Sertão da Farinha Podre.29 Era uma região inculta e despovoada, um sertão muito desconhecido e habitado pelos índios Caiapós.

Uberaba surgiu próximo ao caminho de ligação entre São Paulo e Goiás, a “Estrada do Anhanguera”, existente desde 1722 que cortava a referida região, em um traçado quase reto e vertical no sentido Sul-Norte (Ver no mapa – Fig. 1). A maioria dos habitantes que deram origem a Uberaba vieram da área de mineração decadente do Desemboque e arredores de Oliveira, Itapecerica e Formiga e então se dedicaram à criação de gado,30 devido à qualidade das pastagens e a abundância de água.

29 O Sertão da Farinha Podre era a denominação dada, desde o período colonial até meados do século

XIX à região do Triângulo Mineiro e compreendia todas as terras situadas entre os rios Quebra Anzol, Araguari, Grande e Paranaíba. Até 1748 fazia parte da Capitania de São Paulo. Entre 1748 e 1816 pertenceu à Capitania de Goiás e dessa data em diante passou a fazer parte da Capitania de Minas Gerais. (MUSEU DO ZEBU. Catálogo da Exposição: Fazendas de criação do Triângulo Mineiro. ABCZ/ Fundação Cultural de Uberaba, 1987). Atualmente, de acordo com informações obtidas eletronicamente, a região do Triângulo Mineiro é uma das mais desenvolvidas do estado de Minas Gerais. Está situada entre os rios Grande e Paranaíba, formadores do rio Paraná. Faz parte da mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Destaca-se pelas suas cidades modernas e bem estruturadas, impulsionadas pelas indústrias, pelo agro-negócio da carne, café, milho, soja e cana-de-açúcar. Outras atividades econômicas com grande repercussão na região são o comércio atacadista e as telecomunicações. Tem como destaque cidades como Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Ituiutaba, Patrocínio, Araxá, Frutal, Araguari, Monte Carmelo e Iturama (TRIÂNGULO MINEIRO. Diponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo_Mineiro>. Acesso em 14/06/2007).

30 Por ocasião da decadência das minas do Desemboque, os mineradores foram abandonando o povoado

e se espalhando pelas terras circunvizinhas. Como as pastagens eram propícias formaram-se as primeiras fazendas na região de Araxá, cujo povoado surgiu por volta de 1811. Em seguida, um grupo de pessoas, lideradas por um pioneiro chamado José Francisco de Azevedo dirigiu-se para um local, que hoje dista mais ou menos uns 15 km a leste do centro da Cidade de Uberaba. Aí foi fundado um arraial, e em 1812, ergueram uma capela curada, filial da matriz do Desemboque. Este local denominado então Arraial da Capelinha foi visitado pelo Regente dos Sertões da Farinha Podre e Curador de índios, Capitão Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, que detectou no local a falta de água e terras férteis. Em busca de um lugar menos inóspito, veio dar no Córrego das Lages (curso d’ água, hoje coberto, que corta o centro de Uberaba) onde construiu (à margem esquerda) a Chácara da Boa Vista (hoje Fazenda Experimental – EPAMIG – Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais) e a uns dois km dali (córrego acima) um retiro para criação de gado e casa de ferreiro. O prestígio do Capitão e os problemas do Arraial da Capelinha, fizeram com que os moradores desse arraial se transferissem os arredores daquele retiro, local que corresponde, hoje, à Praça Rui Barbosa, coração de Uberaba. Nasceu, assim, um novo povoado, no qual em 1818, foi erguida uma capela dedicada a Santo Antônio e São Sebastião, santos vindos do primitivo arraial. A Igreja Católica era unida ao Estado e a benção de uma capela oficializava, por extensão, o nome do lugar: Arraial de Santo Antônio e São Sebastião da Farinha Podre, denominação que vigorou entre 1818 e 1820 (ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA. Catálogo Histórico: Árvore

Figura 1 - Reconstituição aproximada da Estrada do Anhanguera: trecho que corta o Triângulo Mineiro.