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A Educação Profissional no Pará: de Escola Técnica a Instituto

2 O PROEJA NO IFPA CAMPUS CASTANHAL: A EXPERIÊNCIA DA

2.1 A Educação Profissional no Pará: de Escola Técnica a Instituto

Devido ao suposto desenvolvimento industrial no Brasil surgiram as demandas à expansão industrial e isso foi determinante para o desenvolvimento do ensino técnico. Nesse contexto, foram criadas as Escolas Técnicas Federais no ano de 1959, através da Lei nº 3.552, de 16 de fevereiro, depois regulamentada pelo Decreto nº 47.038, de 16 de outubro de 1959. Com isso, houve uma significativa mudança na organização do ensino profissional técnico, que passou a ser por ramos e unificado em todo o país, mas apesar desse avanço, ainda permaneciam características de um ensino conservador e tecnicista. O outro ganho foi a autonomia didática, administrativa, técnica e financeira que veio com essa lei, através do art. 16, os estabelecimentos de ensino industrial, passaram a ter personalidade jurídica própria. Assim, as Escolas Técnicas Federais (ETF) foram instituídas como autarquias federais com atuação prioritariamente nas áreas da indústria e de serviço, oferecendo habilitações de nível técnico, além de diversos cursos de nível básico e do ensino médio (LOBATO, 2012).

Entretanto, algumas instituições só passaram a ser escolas técnicas tempos depois, como foi o caso da instituição no Estado do Pará. A Escola Industrial de Belém em 1966 passou a se denominar Escola Industrial Federal do Pará (EIFPA). No mesmo ano, implantou os cursos técnicos em nível de 2º ciclo (depois 2º grau), que foram Edificações e Estradas. Em 1967, foram criados os cursos de Agrimensura e Eletromecânica. Após a implantação dos cursos técnicos em nível de 2º ciclo (2º grau) a instituição em 1968 passou a denominar-se Escola Técnica Federal do Pará (ETFPA).

A outra mudança significativa para a educação profissional veio em 1971 com a Lei n. 5692/1971, a qual trouxe a obrigatoriedade do ensino técnico a todas as instituições que ministrassem o 2º grau. No entanto, a compulsoriedade do ensino técnico não gerou mudanças significativas na ETFPA, a instituição já era escola técnica antes da referida Lei. Entretanto, a questão da obrigatoriedade, quanto à terminalidade para uma atividade produtiva foi o mais expressivo na época.

Entretanto, a promulgação da Lei nº. 5.692/71 inferiu em outras instituições de ensino profissional no Pará, como o Colégio Agrícola Manoel Barata que, a partir da referida lei, teve a implantação do Sistema Escola-Fazenda, com o propósito à “preparação do profissional qualificado para o setor primário da economia” (BRASIL, 1990, p. 10). O

Colégio Agrícola Manoel Barata, teve sua origem em 17 de novembro de 1920, quando foi fundado o Patronato Agrícola Manoel Barata pela Lei nº. 1.957, no lugar onde funcionava o Instituto Orfanológico do Estado, na Ilha de Caratateua, em Outeiro, Distrito de Icoaraci, Belém-PA. Ele foi considerado uma das formas institucionais para contribuir com a preparação daqueles que seriam os empregados das elites agropecuárias no Estado. A criação desta instituição representou um marco do ensino rural/profissional na Amazônia, e a primeira ação federal direcionada para o ensino agrícola no Estado do Pará com o objetivo de desenvolver a agricultura, horticultura, jardinocultura para as crianças de classe popular, direcionando-as para o trabalho rural e atender, na época, os órfãos e abandonados, portanto, prepará-los para feitores do campo (Colleção Leis do Estado do Pará, p. 101, Artigo 1º do Decreto Lei nº. 1.957/1920).

Em 1968 o Colégio Agrícola Manoel Barata ainda permanecia com essa denominação, anos depois foi transferido da Ilha de Caratateua (Município de Belém-Pará) para a cidade de Castanhal-Pará. A mudança aconteceu no dia 18 de Junho de 1972 autorizada pelo Decreto Federal nº. 70.688 de 8 de Junho de 1972. Com a promulgação da Lei nº. 5.692/71, o colégio agrícola passou a adotar o Sistema Escola-Fazenda8 e em 1979 passou a ser chamada de Escola Agrotécnica Federal de Castanhal-Pará, através do Decreto nº. 83.935 de 04 de setembro de1979 (BRASIL, 1979).

Com a Escola Agrotécnica Federal de Castanhal o ensino técnico foi consolidado, pois a mesma deixou de atender o ensino colegial e ginasial passando a formar Técnicos em Agropecuária de Nível Médio, de acordo com as prescrições da Lei Nº 5692/71 e o Parecer Nº 45/72. Na década de 1990 a escola modificou o currículo e ampliou a oferta de cursos, por causa das modificações estabelecidas pela Reforma da Educação Profissional. Desta forma, a Escola Agrotécnica Federal de Castanhal passou a ofertar além do curso Técnico em Agropecuária, cursos na área de Agroindústria e Pós Técnico em Manejo Florestal. Essa reorganização do ensino agrícola tinha o objetivo de tornar essa formação profissional mais adequada às novas demandas do mundo do trabalho, e, portanto, da produção capitalista (OLIVEIRA, 2009 apud THURY, 2012).

No ano de 1997 as Escolas Técnicas da rede federal de ensino sofreram outra intervenção, foi instituída pelo Ministério da Educação, a verticalização da Educação

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Na década de 1970 foi implantado nas Escolas Agrícolas o Sistema Escola-Fazenda, reformulado posteriormente pela Coordenação Nacional do Ensino Agropecuário (COAGRI), órgão do MEC responsável em prestar assistência técnica e financeira às instituições de ensino agrícola, criada pelo decreto nº. 72.434 de 09 de junho de 1973 (THURY, 2012).

Profissional, em níveis Básico, Técnico e Superior. Desta forma, em 18 de janeiro de 1999, a Escola Técnica Federal do Pará foi elevada à categoria de Centro Federal de Educação Tecnológica com a finalidade de atuar nos níveis e modalidades da educação profissional, ou seja, o Básico, o Técnico e o Tecnológico – equivalente à educação superior. Com o status de uma autarquia subordinada ao Ministério da Educação, integrado a Rede Federal de Educação Tecnológica. Tinha o objetivo de atuar em diferentes áreas do conhecimento, com o compromisso de promover e contribuir para o desenvolvimento da região onde está inserido, no caso, na região norte.

A missão do CEFET-PA, assim como os demais, era proporcionar formação e qualificação de profissionais nos vários níveis e modalidades de ensino para os diversos setores da economia, realizar pesquisa e desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços, em estreita articulação com a sociedade, oferecendo mecanismos para a educação continuada. Desta forma, o ensino, a pesquisa e a extensão foram os focos para a contribuição da formação profissional, principalmente visando a formação inicial e continuada de trabalhadores; a educação técnica de nível médio; e a educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação”. Considerando nessas formação a valorização dos conhecimentos vinculados à atividade produtiva; a inserção social e a capacidade de responder ao desafio do desenvolvimento sustentável na região norte.

Após 1999 o CEFET-PA buscou concretizar sua missão, mesmo apresentando problemas, com destaque para a falta de investimento em infraestrutura e formação continuada de professores. Depois de onze anos da instituição da lei que transformou as Escolas Técnicas em CEFET’s. Estas instituições sofreram outra intervenção através da Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Este fato interrompe o sonho dos CEFET’s chegarem à condição de universidade tecnológica, com exceção do CEFET do Paraná. Entretanto, até o momento dois ainda não desistiram: os CEFET’s de Minas Gerais e do Rio de Janeiro9 (OTRANTO, 2010).

Um dos objetivos principais da legislação que o instituiu os IFET’s, é promover a integração e a verticalização da educação profissional, desde a educação básica até a educação

9 Os CEFETs de Minas Gerais e Rio de Janeiro continuam tentando a transformação em Universidade

Tecnológica, por esse motivo, não aderiram à proposta do IFET. Alegam que ascenderam à condição de CEFET juntamente com o do Paraná em 1978, e que apresentam os requisitos básicos necessários para a transformação em universidade, pois, oferecem vários cursos superiores e contam com corpo docente altamente qualificado com mestrado e doutorado, desenvolvendo importantes pesquisas no campo técnico e tecnológico. Foram os únicos que não aderiram à proposta governamental (OTRANTO, 2010).

superior, esses institutos devem ter características similares em nível de centro de excelência na oferta do ensino de ciências, em geral. Além de concretizar uma qualificação a ponto de se tornarem uma referência no apoio à oferta do ensino de ciências nas instituições públicas de ensino, oferecendo capacitação técnica e atualização aos docentes (Lei 11.892/08, art. 6º).

O que chama atenção na Lei 11.892/08 é a articulação do IFET com os setores produtivos, principalmente na proposta de geração e adaptação de soluções tecnológicas, e na oferta formativa para benefícios dos arranjos produtivos locais. Primeiro, envolve a questão do incentivo à pesquisa aplicada a produção cultural, o empreendedorismo, o cooperativismo e promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais. Então, de um lado tem a pesquisa como um modelo alternativo à universidade, pesquisa que vem sendo desenvolvida na América Latina ultimamente a partir de incentivos do Banco Mundial, e, por outro, a oferta de uma formação deve contemplar a consolidação e fortalecimentos dos arranjos produtivos, sociais e culturais, a partir das potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural, em cada Instituto Federal (OTRANTO, 2010).

O destaque desta proposta é a criação de instituições de ensino superior com o custo inferior aos cursos das universidades, pois os cursos superiores tecnológicos seriam mais flexíveis e com custo menor, do que os cursos tradicionais que tem um currículo com carga horária bem superior, laboratórios mais equipados e modernos, ou seja; um investimento maior. Além disso, ainda permanece o histórico característico dos cursos técnicos e tecnológicos referentes à integração ao sistema produtivo. Esse modelo se insere na proposta político-educacional-financeira do Banco Mundial e vem sendo planejado e instituído legalmente por parte dos planejadores da educação que têm como proposição de ofertar uma educação tecnológica de qualidade com cursos em menor custo, manter o controle sobre a instituição, direcionar os cursos aos interesses do mundo do trabalho, na expectativa de que essas instituições desenvolvam ações de ensino, pesquisa e extensão com produção genérica a das universidades sem os mesmos investimentos.

Desse modo, os CEFET’s que aderiram à proposta do IFET viram nela a possibilidade de crescimento e reconhecimento, porque muitas unidades tinham as condições exigidas pela legislação, atendiam os três níveis de ensino, já com cursos superiores, desenvolvendo pesquisa, e com trabalho de extensão. Além disso, seus dirigentes passariam a cargos com outros status, como o de Reitor, teriam a remuneração aumentada e o investimento em instalações das reitorias. Mediante essa condição, o CEFET-PA passou à denominação de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. A lei nº

11.892/08 criou 38 IFETs, com a finalidade de ofertar educação profissional e tecnológica em todos os níveis e modalidades.

A proposta de criação dos IFET’s abrangeu outras instituições de ensino profissional além dos CEFET’s, inferiu às Escolas Agrotécnicas Federais que, princípio se posicionaram contrários a essa transformação, devido às seguintes questões: o tempo de criação de cada instituição e sua história; a finalidade da formação profissional; a necessidade de qualificação de jovens, adultos e trabalhadores rurais; e principalmente a identidade articulada ao papel estratégico que as EAF’s no desenvolvimento rural dos diferentes Estados, onde em alguns, a agricultura é a principal atividade produtiva; outro argumento dessas instituições era em favor de sua autonomia, desejavam uma expansão para CEFET (OTRANTO, 2010).

As resistências ocorreram e através do Conselho das Escolas Agrotécnicas Federais (CONFEAF) foi elaborada uma proposta datada de 06 de junho de 2007 e encaminhada ao Ministro da Educação, o teor do documento revela o desejo dessas instituições em não mudar a identidade e crescer, com ênfase à ampliação e diversificação de cursos para atender a uma demanda maior de área agrícola, subsidiados por projetos políticos pedagógicos mais a médio e longo prazo, respeitando os processos de desenvolvimento dos arranjos produtivos locais (CONFEAF, 2007 apud OTRANTO, 2010).

As Escolas Agrotécnicas Federais lutaram por suas reivindicações e tiveram num movimento contrário ao seu desejo o empenho da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) juntamente com o MEC. A adesão ao IFET era opcional e ficava a cargo de cada instituição, porém o prazo terminava em 31 de março de 2008. A situação foi ficando tensa e as reuniões com os diretores passaram a ser mais diretas e pontuais, onde foi esclarecido que as Escolas Agrotécnicas Federais não poderiam ser transformadas em CEFET’s, e quem não integrasse ao IFET, continuariam a ser Escola Agrotécnica com ensino fundamental e médio sem possibilidade e não chegariam a condição de instituição de ensino superior, o que seria uma penalidade (OTRANTO, 2010).

É nesse cenário que a Escola Agrotécnica Federal de Castanhal-Pará que já tinha todo um percurso atrelado à cultura agrotécnica foi articulada ao IFPA, através da Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro de 2008, e passou à denominação atual de Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia – Campus de Castanhal, somando a unidade do instituto igual aos outros campos10 (BRASIL, 2008).

Nesse desenho, a Escola Agrotécnica Federal de Castanhal foi reorganizada, ampliou sua atuação para além dos cursos técnicos, apresentando o currículo integrado pautado no respeito à diversidade, na perspectiva da formação integral do discente, articulada às propostas curriculares dos projetos Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e ao Programa Nacional de Educação de Jovens e Adultos para Agricultores/as Familiares Integrada com Qualificação Social e Profissional - SABERES DA TERRA (OLIVEIRA, 2009).

2.2 A Educação de Jovens e Adultos a partir do século XX no Brasil: a criação do