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5 PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI): EXPANSÃO

5.1 A Educação Superior Pública no Estado de Alagoas

Inicialmente, antes de fazermos uma abordagem sobre a expansão do Ensino Superior privado e a materialização das políticas neoliberais no estado de Alagoas, gostaríamos de falar sobre o início da implantação da educação superior pública no território alagoano.

A primeira experiência de educação superior em território alagoano se deu, segundo Verçosa e Cavalcante (2015), com a criação do Seminário Diocesano instalado em Alagoas no ano de 1902. Os cursos ofertados por esta instituição eram Filosofia e Teologia. Mais de uma década depois, surgiu em Alagoas a Academia de Ciências Comerciais, no ano de 1916, que tinha um perfil de ensino laicizado cujo propósito era atender à necessidade de formação para o setor terciário crescente em Maceió. Verçosa e Cavalcante (2015, p. 14) alegam que

[…] a escola então criada já encontraria o Seminário maduro e com sua influência consolidada. Todavia, com a emblemática denominação de academia, como a garantir que ninguém tivesse dúvida sobre natureza do empreendimento, esta é a primeira instituição educacional ensino superior encarregada de um saber laico, teoricamente dedicada a conhecimentos de natureza científica, a ser implantada em Alagoas. Voltada para um setor bem específico do ramo terciário da economia...

Mais tarde surgiram no estado outras faculdades que passaram a ofertar cursos como Filosofia (1952), Direito (1933), Medicina (1951), Engenharia (1955), Odontologia (1957) e Economia (1954). Com estes cursos já instalados e em pleno exercício em território alagoano houve a necessidade de federalização dos mesmos, uma vez que estes funcionavam como faculdades isoladas e em instalações com uma certa precariedade. Verçosa e Cavalcante (2015, p. 116) dizem que

de fato, das seis faculdades que integravam a jovem Universidade, apenas duas – Direito e Medicina – dispunham de instalações adequada ao seu funcionamento. A Escola de Engenharia continuava mal instalada no antigo prédio da Escola Técnica, a Odontologia muito mal acomodada num antigo edifício construído com finalidades residenciais, a Filosofia apensa ao Colégio Guido de Fontgalland e a Faculdade de Ciências Econômicas, sem sede própria, era ainda hóspede da perseverança.

A tentativa de federalização dos cursos e faculdades existentes em território alagoano e a criação de uma Universidade Federal no estado de Alagoas se valeu

do esforço de muitos durante os anos finais da década de 1950. Entre as pessoas que se esforçaram para a implantação da Universidade Federal de Alagoas, destacamos como um importante articulador e incentivador para a criação da Universidade de Alagoas o Dr. A. C. Simões (VERÇOSA; CAVALCANTE, 2015). No início dos anos de 1960, o movimento estudantil exerceu um papel fundamental no processo de criação da Universidade Federal de Alagoas, pois

com a chegada de 1960, a ideia de criação de uma Universidade Federal, embalada timidamente por alguns dirigentes de escolas, receberia uma força sempre mais crescente. Ainda que os relatos existentes sobre a criação da Universidade de Alagoas insistam em secundarizar, ou mesmo, omitir a participação estudantil, ela foi, contudo, relevante. A partir do 2º Congresso Estadual dos Estudantes, realizado em Viçosa em junho daquele ano, e logo depois, do Congresso Nacional em Belo Horizonte, o movimento estudantil de Alagoas decidiria intensificar uma campanha pela criação de uma Universidade no Estado. O jornal Diretório da Faculdade de Medicina, que cobriu os dois Congressos, registraria a formação, pela a União Estadual dos Estudantes de Alagoas, de uma Comissão permanente para coordenar a mobilização (VERÇOSA; CAVALCANTE, 2015, p. 109).

O movimento estudantil marcou a sua participação na história da fundação da Universidade Federal de Alagoas com um discurso que expressava um dos pontos característicos de uma universidade: a pesquisa. Sobre esse discurso, Verçosa e Cavalcante (2015, p. 109) ressaltam que

a justificativa apresentada pelo movimento estudantil para a criação de uma Universidade Federal era a de que sua concretização representaria mais recursos capazes de garantir a pesquisa, maior dedicação dos professores e, com isso, a formação de profissionais mais voltados para a realidade local.

Para o movimento, a universidade federal pública deveria nascer trazendo consigo a vocação para pesquisa, a dedicação exclusiva do corpo docente para proporcionar uma melhor qualidade no ensino e sobretudo uma atenção focada na realidade do contexto alagoano. Percebemos que o movimento estudantil como um dos principais motivadores da criação da universidade desejava uma universidade com ensino, pesquisa e extensão.

Com o esforço e luta dos movimentos organizados no estado, a Universidade Federal de Alagoas foi criada no ano de 1961, por meio da Lei 3.867 de 25 de janeiro de 1961, como parte do programa de expansão do ensino superior desenvolvido pelo governo federal nas últimas décadas do século XX. A recém-

criada Universidade de Alagoas era, conforme a Lei, composta pelos seguintes cursos de graduação:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Artigo 1º É criada a

Universidade do Alagoas (U. Al) com sede em Maceió, Capital do Estado do Alagoas, e integrada no Ministério da Educação e Cultura - Diretoria do Ensino Superior, incluída na categoria constante do item I, artigo 3º, da Lei nº 1.254, de 4 de dezembro de 1950. Parágrafo único. A Universidade de Alagoas terá personalidade jurídica e gozará de autonomia didática, financeira, administrativa e disciplinar na forma da Lei. Artigo 2º A Universidade de Alagoas compor-se-á dos seguintes estabelecimentos de ensino: a) Faculdade de Direito de Alagoas (Lei nº 1.014, de 24 de dezembro de 1949); b) Faculdade de Medicina de Alagoas (Decreto nº 34.394, de 27 de outubro de 1953); c) Escola de Engenharia de Alagoas (Decreto nº 47.371, de 5 de dezembro de 1959); d) Faculdade de Odontologia de Alagoas (Decreto nº 41.352, de 22 de abril de 1957); e) Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas (Decreto nº 42.928, de 30 de dezembro de 1957); g) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (BRASIL, 1961).

A meta do governo federal era criar em todo o território nacional universidades federais públicas para atender à demanda de matrículas, que era crescente naquele período. Sobre esse desenrolar expansionista do ensino superior no Brasil, Barbalho (2007,p. 70) afirma que,

nas duas últimas décadas do século XX, a educação superior no país apresentou uma acentuada expansão que pode ser aferida pela ampliação do acesso por meio do crescimento do número de matrícula, do aumento e diversificação de instituições e de cursos, bem como pelo o aumento no número de professores.

A década de 1970 foi marcada pela criação da Universidade Estadual de Ciências da Saúde do Estado de Alagoas (UNCISAL). Neste mesmo período foi criada a Fundação Educacional do Agreste Alagoano (FUNEC) cuja sede estava situada na cidade de Arapiraca. “Esta instituição era pública e tinha como mantenedor o estado de Alagoas. Posteriormente, em 1990, a FUNEC foi transformada na FUNESA Fundação Universidade Estadual de Alagoas" e atualmente é a Universidade do Estado de Alagoas (UNEAL) (KULLOK; ARAGÃO;

BRAZ, 2012, p. 211). Ressaltamos a relevância dessas instituições públicas para um estado carente econômica, social e culturalmente como é Alagoas. Estas instituições têm exercido um papel fundamental no ensino superior público como formadoras de recursos humanos, mostrando-se essenciais para o desenvolvimento do estado de Alagoas.

A educação superior pública em Alagoas se desenvolveu e, ao longo dos anos, expandiu-se até alcançar as cidades do interior do Estado. Todavia, a história do ensino superior em terras alagoanas foi também influenciada e marcada pela iniciativa privada, com a implantação de instituições antes mesmo de a rede pública fazê-lo.

A seguir, falaremos sobre o surgimento e desenvolvimento da educação superior de iniciativa privada.