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6.1 PENETRANDO NA HISTÓRIA DOS USUÁRIOS

6.1.3 A efetividade – um ponto fraco do serviço

A efetividade, aqui compreendida como o cumprimento do acordo celebrado nos Balcões e seu potencial para garantir esse cumprimento, merece destaque, tendo em vista que essa é uma das maiores preocupações dos processualistas modernos, porque é um instrumento indispensável do acesso à Justiça qualificado (WATANABE, 1999, p. 21).

Chamou atenção o número de pessoas que lamentavam o descumprimento do acordo pelo outro litigante, pois pelo menos 08(oito) relatos foram destacados no Quadro 26, o que ultrapassa o percentual de 20%(vinte por cento) das pessoas ouvidas.

As declarações revelam que o acordo não estava sendo cumprido e as pessoas não tinham perspectiva de cumprimento, porque a dinâmica consistia em chamar mais uma vez o devedor para conversar, o que acabava resultando em novo acordo, que poderia até voltar a ser descumprido.

Isso introduz um aspecto relevante no objeto de estudo a ser melhorado, porque a efetividade é apontada como elemento indispensável ao acesso à ordem jurídica justa.34

No caso dos BJC, com efeito, os dados sinalizam que, realmente, o serviço proporciona a inclusão dos mais pobres, dos indivíduos com menor grau de escolaridade, e de um população inserida no quadro de atividades informais, realizando a dimensão de acesso ao sistema de Justiça enquanto chegada e ingresso nesse sistema. Os dados também revelam, a partir das taxas de sucesso e de eficiência demonstradas, que há relevante êxito nas tentativas de conciliação empreendidas nos BJC, por outro lado parcela desses acordos não são cumpridos e falta à prática a previsão de um mecanismo eficaz que constranja ao cumprimento dos acordos, voluntariamente ou coercitivamente.

De sopesar-se, entretanto, que mesmo aqueles que estavam enfrentando problemas com relação ao cumprimento do acordo, diziam-se muito satisfeitos com o atendimento e gratos por terem a oportunidade de serem atendidos naqueles Balcões.

34 FERRAZ (2010, p. 142) pondera que não basta que o processo produza resultados (“eficácia”), sendo,

ao revés, imperioso que se verifiquem resultados reais, palpáveis, factíveis, positivos e verdadeiros, ou seja, “efetivos”. Assim, é indispensável que o instrumento assegure à parte aquilo que ela tem direito de receber – quer em virtude de decisão favorável, quer em razão de acordo homologado pelo juiz.

Quadro 26 - Da efetividade segundo as partes entrevistadas

Entrevistados Discurso

J.B.S.

(...) Não, nunca, nunca deu nada. Inclusive eu tenho aí recibo do colégio do menino, tudo que eu pago, ela não ajuda em nada. (...) É porque eu tô esperando aí esse processo na justiça. No processo diz tudo, que ela tem que vender a casa, o carro, a moto, e cumprir o acordo com o menino. (...) Ela pegou o carro, vendeu, e eu não recebi, porque eu tinha o mesmo direito dividido (...).

A.S.V.

(...) Ele sempre pagou, mas, agora que a menina viajou com minha mãe, ele autorizou, ela foi para o Rio de Janeiro, agora que a menina tá lá, ele não ta dando. As mesmas coisas que a menina precisa aqui, a menina precisa lá, então, por isso que já vai fazer 5 meses que a menina ta lá e ele sem dar nada. (...) Ele pagou direitinho, parou de pagar agora em janeiro, ele passou a pagar em março, aí, a partir de janeiro nem fevereiro nem março, já vamos entrar em abril e nada (...)

E.L.L.S.

(...) Na verdade, eu ainda não tô recebendo, porque, na verdade, era para ele ter colocado cada dia 10 de cada mês, e como hoje já é 30 de março, ele não colocou ainda dia 10 de março. Aí, eu tentei entrar em contato com ele e ele fica naquele papinho, dizendo que está sem dinheiro. Eu fiz uma carta, e fui curta e grossa, dizendo que ele procurou o divórcio, e que eu iria até o fim, e eu falei de ir até o fim em relação a dar a pensão alimentícia. Não o ameacei de morte nem nada, ainda que ele pense isso, pois eu sou evangélica. E eu sei que ele recebe pelo INSS, pois ele sofreu um acidente de trabalho no estado de Goiás, e ele é carpinteiro e nunca fica sem trabalho(...)

E.L.B.

(...) Resolveu, mas ele não depositou. Iremos ver esse mês, se ele vai pagar. Por que ficou assim: R$110,00 para ele dar mais as despesas da escola, remédio metade/metade. (...) Foi uma enrolação retada. (...) Eu voltei aqui de novo, aí ele não compareceu, aí ele ficou de depositar os três meses, que são dois mais o mês de abril que tô esperando (...).

L.O.S.

(...) Conseguiu, mas eu tive que voltar aqui, porque ele descumpriu o acordo. E voltei para fazer um novo acordo agora dia 20. (...) Foram R$100,00, mas ele não tinha condições de dar mais, mas nesse acordo, eu vou pedir mais porque esse valor não dá mais. (...) Satisfeita eu não fiquei, mas ele disse que era o que ele podia dar porque ele tinha outra mulher e filhos. (...) Cumpriu, mas, depois, atrasou, por isso mesmo que eu voltei aqui para a gente fazer um novo acordo, porque ele não pagou os meses atrasados, e ele só pagou o mês normal (...).

A.O.S.

(...) Cumpriu, mas depois atrasou, por isso mesmo que eu voltei aqui Para a gente fazer um novo acordo, porque ele não pagou os meses atrasado, e ele só pagou o mês normal. (...) Não. Não tem nada de positivo por que se meu problema fosse solucionado, eu teria dito a você não, tem algo de positivo, por que meu problema foi resolvido. Mais só que meu problema foi resolvido. Ele não cumpriu ate hoje. (...) Por isso o acho que o Balcão não resolveu meu problema (...).

L.O.B.

(...) Ele não pagou. (...) Retornei ao balcão, aí me instruiu, aí chamaram ele, conversou com ele, aí ele pagou e parava. (...) Pagou 2 meses e parou. Aí ele veio hoje ao balcão e viu a gravidade dele, e, a partir de hoje, ele resolveu dividir as despesas do menino comigo e a pensão (...)

A.F. (...) Desde ano passado, ele está sem pagar, depois que fiz o acordo. (...) Aí, está marcada a audiência na defensoria (...). Fonte: Elaboração própria a partir de entrevistas concedidas por pessoas que procuram o projeto Balcão de Justiça e Cidadania, a fim de solucionar seus conflitos de cunho judicial.