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CAPÍTULO IV – A EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO LEGAL

4.2 A Emenda Constitucional nº 45/2004

Para o cidadão que busca no judiciário a solução dos seus conflitos, a demora na duração dos processos gera um sentimento de injustiça e de ineficácia da prestação jurisdicional. Essa demora compromete a resolução das demandas e também abala a credibilidade do Poder Judiciário.

Destaque-se que, conforme já mencionado, sempre existiu uma preocupação do legislador e dos operadores do Direito com a celeridade na tramitação processual. Nesse sentido o Código de Processo Civil (CPC) em seu art. 125, II, já determina a rápida solução do litígio; e outros dispositivos desse Código, como os que preveem o procedimento sumário e a tutela antecipada, procuram acelerar a solução da lide.

A partir de diversos movimentos da sociedade organizada, a razoável duração do processo, antes uma aspiração, tornou-se realidade por meio da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, que a elevou a principio constitucional. A emenda introduziu o inciso LXXVIII ao artigo 5º, da Constituição da República. A partir da EC nº 45, não se pode mais admitir que um processo tenha duração indeterminada50.

A reforma proposta pela EC nº 45 está, sobretudo, fortemente relacionada à busca de um novo modelo de prestação do serviço jurisdicional. Ela faz parte de um conjunto de medidas que devem ser levadas a efeito pelos Poderes de Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) para a promoção da Justiça.

50 A redação do dispositivo é a seguinte: “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] - LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”

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Promulgada em 08 de dezembro de 2004, depois de tramitar no Congresso Nacional por aproximadamente treze anos, a EC nº 45 alterou vinte e cinco artigos da Constituição Federal e acrescentou quatro novos artigos.

A emenda criou um novo órgão integrante do Poder Judiciário brasileiro, o Conselho Nacional de Justiça, doravante denominado CNJ, (art.92, I-A, CF51). O CNJ tem a atribuição de controle administrativo e financeiro do judiciário. Deve ainda zelar pelo cumprimento dos deveres funcionais dos servidores deste poder, inclusive dos magistrados, passando a ser curador do Estatuto da Magistratura52.

O CNJ tem tido papel preponderante no processo de reforma administrativa do Judiciário. Diversas ações do Conselho já produziram melhorias como a unificação das tabelas processuais (classe, movimento e assunto), a criação das metas para julgamento de processos antigos, o estímulo à conciliação, entre outras. No tocante às iniciativas no campo da tecnologia da informação, foco deste trabalho, tem havido grandes mudanças capitaneadas pelo Conselho.

Foram modificados ainda pela EC 45 os critérios para ingresso na carreira da magistratura. Concurso público de provas e títulos passou a ser o modo de acesso ao cargo de juiz de direito, além do exercício de atividade jurídica por no mínimo de três anos. As mesmas regras se aplicam aos concursos para o Ministério Público (art. 129, §3º, CF).

Critérios objetivos para promoção de magistrados, por merecimento, foram redefinidos (art.93, II, "c" da CF). No tocante à promoção por antiguidade, passou-se a exigir voto fundamentado e quorum qualificado de dois terços dos membros do Tribunal para recusar a promoção do magistrado decano, sendo-lhe assegurada ampla defesa (art.93, II, "b" da CF) (Fortes, 2009).

Em observância ao princípio da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF), vedou-se a promoção de juiz que mantiver autos em seu poder além do prazo legal, não

51 Constituição Federal

52 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. [Em linha]. Disponível em

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sendo possível devolvê-los ao cartório sem manifestação do magistrado (alínea "e" do art. 93, II).

Nos tribunais com colegiado maior que vinte e cinco membros tornou-se possível a criação de um órgão especial, formado por no mínimo onze e no máximo vinte e cinco membros, com atribuições do tribunal pleno (artigo 93, XI), para facilitar a tomada de algumas decisões, antes exclusivas do pleno.

Vedou-se também a concessão de férias coletivas aos magistrados de 1º e 2º Graus. O que deveria estimular o julgamento de um maior número de processos por ano. Estabeleceu-se ainda a obrigação de distribuir automaticamente os processos, tanto no Judiciário quanto no Ministério Público (art. 93, XV e 129 §5º, CF).

Outra importante inovação, essencial para a efetivação da razoável duração do processo e para promover o acesso à Justiça foi a definição, no art. 93, inciso XIII, de que o número de magistrados deve ser proporcional às demandas e à população.

A EC nº 45 permitiu ainda que os atos ordenatórios, atos de mero expediente e sem caráter decisório, pudessem ser realizados pelos serventuários da justiça, através de delegação do magistrado. Prevista no artigo 93, XIV a medida contribui para a diminuição do tempo do processo.

Outra novidade foi introduzida pelo artigo 102, §3º, que trouxe para o nosso ordenamento jurídico o dispositivo da repercussão geral das questões constitucionais como requisito para recebimento do Recurso Extraordinário no Supremo Tribunal Federal. O intuito é diminuir a quantidade de processos na corte constitucional, de modo que seja dada maior importância às demandas relevantes (Fortes, 2009).

A Súmula Vinculante surge como um poderoso instrumento de uniformização da jurisprudência. Essa inovação trazida pela EC nº 45 tem por objetivo diminuir o número de ações, evitando uma enxurrada de recursos repetidos e acelerando a resolução de determinados tipos de processos, vinculando os demais órgãos do Poder Judiciário à administração pública direta e indireta e nas esferas federal, estadual e municipal em todo o Judiciário (Cunha Júnior, 2003).

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As reformas processuais trazidas pela EC nº 45 tiveram por objeto a priorização e a simplificação de procedimentos, eliminando atos desnecessários e concedendo maior liberdade para o magistrado, tudo para atingir uma maior celeridade processual e facilitar o acesso à Justiça, buscado conferir concretude ao disposto no artigo 5º, LXXVIII, da CF/88, tornando realidade o direito fundamental à razoável duração do processo.

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