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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 A ENFERMAGEM PROFISSIONAL NO MUNDO E NO BRASIL

Segundo inúmeros autores que vêm estudando a história da enfermagem, como Geovanini et al (2005), Gonzalez (1999), Oguisso (2007), Stuart e Laraia (2001), entre muitos outros, a origem da enfermagem moderna no mundo, aconteceu com a criação da Escola de Enfermagem por Florence Nightingale, no Hospital Saint Thomas em Londres, na Inglaterra, em 1860.

A Escola Nightingale constituiu o ensino padrão para a formação da enfermagem profissional no mundo moderno. Esse

sistema teve sua base no capitalismo e reproduziu a estrutura de classes sociais, com a divisão do trabalho em manual e intelectual, com a constituição de duas categorias de enfermeiras:

As ladies que procediam da classe social mais elevada e que desempenhavam funções intelectuais, representadas pela administração, supervisão, direção e controle dos serviços de Enfermagem; e as nurses que pertenciam aos níveis sociais mais baixos e que, sob a direção das ladies, desenvolviam o trabalho manual de Enfermagem (GEOVANINI et al., 2005, p 27).

Os primeiros professores da Escola de Enfermagem de St. Thomas, foram os médicos, por serem na época os únicos qualificados para ensinar. A eles cabia decidir as funções que as enfermeiras poderiam desempenhar, o que estava de acordo “com as metas do projeto de profissionalização que a sociedade inglesa tinha interesse em compreender, e viriam a encaixar-se perfeitamente na cadeia hierárquica e no espaço disciplinado do novo hospital” (GEOVANINI et al. , 2005, p. 27).

Paixão (1979) abordou a difusão do sistema Nightingale em vários países da Europa e nos Estados Unidos, e a consequente reforma produzida na enfermagem através desse modelo. Nos Estados Unidos, em 1880, havia quinze escolas de enfermagem, e aconteceu uma rápida aceitação dessa profissão, criando-se nos anos seguintes, as associações de classes com o objetivo de atender aos interesses profissionais.

A profissionalização do cuidado de enfermagem a partir de Florence Nightingale, em meados do século XIX, proclama a saúde como equilíbrio das forças vitais, a natureza como força curativa e a doença como reação do organismo que busca um ponto de equilíbrio; o saneamento ambiental e a higiene individual como medidas profiláticas; o homem como força de trabalho no capitalismo industrial; e a enfermagem como profissão apropriada à parcela feminina da raça humana (TAVARES, 1999).

No Brasil, a criação da primeira escola de enfermagem surgiu em decorrência da necessidade de organização do

hospício moderno junto ao Hospital Nacional de Alienados. Surgiu então, em 1890, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no modelo francês, em um contexto de luta dos médicos pelo controle político-científico do Hospício Pedro II. Essa escola tinha entre seus principais objetivos a preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos alienados num espaço medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão de obra também médico-cientificamente orientada (MIRANDA, 1994).

Kirschbaum (1994, p. 61) assinala que a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras também tinha por objetivo formar profissionais para os hospitais militares existentes no país, além de promover a instrução e profissionalização das mulheres pobres. Disso decorriam algumas vantagens: incorporação e disciplinarização de um segmento da população excluído e "perigoso" (mulheres e meninas pobres e abandonadas), subordinação garantida destas aos médicos, evitando os conflitos que foram anteriormente enfrentados com as religiosas no hospício, e o estabelecimento desse local como instrumento médico de intervenção e sob a sua direção. De acordo com a autora, a opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual ou por desconhecimento de outros modelos.

Geovanini et al. (2005, p. 33) também assinalam que a formação de pessoal de enfermagem, para atender aos hospitais civis e militares e, posteriormente, às atividades de saúde pública, “principiou com a criação, pelo governo, da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras”.

Existe divergência entre as historiadoras da enfermagem brasileira quanto ao afirmar, qual foi de fato a primeira Escola de Enfermagem no Brasil, nos moldes profissionais. Para Rocha (1994, p. 6), a enfermagem profissional surgiu no Brasil somente em 1923, com a criação da Escola Anna Nery, no Rio de Janeiro. Para a autora, assim como para Padilha (1997), esta foi a primeira escola profissional criada no Brasil, pois anteriormente a Escola de Enfermeiros e Enfermeiras, criada em 1890, não havia se desenvolvido no sistema Nightingale, pois não foi organizada sob a orientação dessas enfermeiras.

No entanto, Geovanini et al (2005), Moreira (2002) e Porto; Amorim (2007) defendem que a Escola Profissional de

Enfermeiros e Enfermeiras18 criada em 1890 no Rio de Janeiro, junto ao Hospital Nacional de Alienados do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, era profissionalizante.

Moreira (2002, p. 627) aponta que a criação desta Escola, foi resultante do fato de que:

as irmãs de caridade e serventes do sexo feminino deixaram o Hospício Nacional de Alienados, Hospício Pedro II. Em meio à crise, os guardas e serviçais da instituição passaram a ser educados na escola, cujo objetivo era preparar enfermeiros e enfermeiras para os hospícios e hospitais civis e militares do país.

Porto e Amorim (2007, p. 87) referem que, com a criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras foi “necessária a contratação de enfermeiras”. Nesse sentido, a direção do hospital contratou cinco enfermeiras francesas, que permaneceram na instituição de 1891 a 189419.

Apesar da discordância dos autores, o início do ensino da enfermagem no Brasil deu-se no “hospício”. No entanto, paradoxalmente, o cuidado de enfermagem nas instituições psiquiátricas brasileiras tem sido marcado pela baixa qualificação profissional, com a consequente precária assistência de enfermagem.

Embora o modelo de enfermagem nightingale tenha se difundido no mundo, quanto à especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, historiadoras brasileiras como Miranda (1994), Moreira (2002), Oguisso (2007), Rocha (1994), entre outros, apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida nos hospícios não seguiu esse modelo.

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18 A Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras foi criada pelo Decreto Federal 791, de 27 de setembro de 1890, e denomina-se hoje Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencente à Universidade do Rio de Janeiro - UNIRIO (GEOVANINI et al., 2005, p. 33)

19 Essa providência foi divulgada na imprensa escrita da época, no Jornal do Comércio, Seção Gazetilha, em 9 de outubro de 1890 (PORTO; AMORIM, 2007, p. 87).

2.4 A IMPLANTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA EM