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2. COMO NASCE A PESQUISA

2.4 A entrada em campo

Minha entrada em campo se deu em junho de 2014. No entanto, a leitura das atividades, o processo de construção da entrevista semiestruturada, bem como o contato com as professoras participantes do curso antecederam minha ida à cidade de São José do Rio Preto.

Quanto ao roteiro da entrevista,13 sua elaboração resultou tanto das leituras acerca do que me propus a investigar – o que inclui o referencial teórico e metodológico –, quanto do material produzido pelas professoras durante o curso, ou seja, suas atividades, reflexões e discussões nos fóruns. Além disso, devo destacar que, devido à flexibilidade que o modelo semiestruturado permite ao(à) entrevistador(a), durante o

diálogo com as professoras outras questões foram surgindo, permitindo-me tornar a entrevista ainda mais esclarecedora.

Para entrar em contato com as professoras, em abril de 2014 solicitei a ajuda de duas profissionais que atuaram comigo durante as ofertas do curso GDE em junho e novembro de 2009, sendo elas a professora Adriana de Paula Silva, tutora presencial e coordenadora de Departamento da Secretaria de Educação da cidade de São José do Rio Preto, e Fabiana Marques Costa, designer instrucional. A ajuda de ambas fo i muito valiosa para a realização da pesquisa, pois foi por meio delas que obtive o e -mail e o telefone das professoras selecionadas.

Em maio de 2014, contatei dez professoras, sendo que oito delas residem em São José do Rio Preto (SP) e duas em Irapuã (SP). O primeiro contato foi feito por telefone, e, em um momento inicial, mesmo após me identificar como pesquisadora, aluna do curso de doutorado da Universidade de São Paulo e explicar do que se tratava a pesquisa, encontrei resistências por parte das docentes em cederem a entrevista, já que imaginavam que a conversa teria um tom avaliativo em relação ao que aprenderam ou não no curso. Esclareci, porém, que a intenção era realizar um diálogo a fim de conhecer os significados, para elas, do que é ser mulher e ser professora e investigar se o curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE) possuía algum tipo de influência nessas compreensões.

Naquele primeiro contato, duas professoras disseram que não trabalhavam mais como docentes. Uma delas, por questões pessoais, resolveu abandonar o magistério e se dedicar ao cuidado da filha. A outra, então estudante de doutorado, havia exonerado seu cargo na Prefeitura de São José do Rio Preto após ter sido contemplada com uma bolsa de estudos e, com isso, ter se mudado para outro Estado. Diante desse quadro, optei por não realizar a entrevista com as duas professoras, pois um dos critérios para a seleção dos sujeitos era a atuação na docência, visto que um dos significados e sentidos investigados dizia respeito às diferentes formas de ser professora.

Em um segundo momento, após o contato por telefone, enviei às oito professoras um e-mail com uma Carta Convite,14 na qual me apresentei como pesquisadora, disponibilizei meus contatos e, em seguida, expus os objetivos da pesquisa, assegurando-lhes quanto à utilização ética de relatos e imagens. Após o envio da Carta, solicitei às professoras uma resposta, via e-mail, em que elas se posicionassem sobre suas participações. Das oito docentes contatadas, porém, apenas quatro me responderam, sendo que três concordavam em ceder a entrevista e uma não, pois estava em início de gravidez e alegava estar passando por momentos difíceis.

Já em um terceiro momento, liguei novamente para as sete professoras, o que incluiu as três professoras que não haviam se posicionado por e-mail, a fim de me certificar de sua participação na pesquisa e agendar o dia e o horário das entrevistas. Nesse último contato, uma das professoras que não havia respondido o e-mail negou-se a participar da pesquisa, afirmando que já estava em vias de se aposentar, encontrava-se cansada e, por isso, não poderia ajudar na investigação. Assim, a pesquisa passou a contar com seis professoras.

O quadro 4 apresenta os nomes das professoras, a oferta na qual participaram da primeira edição do GDE que foi oferecido pela UNESP de Rio Claro e o título do projeto elaborado por cada uma delas no módulo 5 do curso.

Quadro 4: Professoras, oferta e título do projeto

Nome da professora Oferta Título do projeto

Gislaine 1ª Gênero e sexualidade na escola infantil

Celina 2ª Vamos brincar? Brincar de quê?

Helena 2ª Meu corpo

Bianca 2ª Despertar

Carla 2ª Despertar

Maria Rita 2ª Sexualidade humana

Fonte: Registros das atividades das professoras na plataforma Moodle.

Em junho de 2014, uma vez confirmada a participação e o consentimento de seis docentes, fui à cidade de São José do Rio Preto e realizei as entrevistas, as quais foram gravadas e, em seguida, transcritas. Durante a coleta de cada relato, procurei observar e anotar os gestos, o tom das falas e a forma de se portar de cada docente. Em alguns casos, as anotações ocorreram durante as entrevistas; em outros, após o relato.

As entrevistas foram realizadas nos dias 13, 14 e 16 de junho de 2014, em períodos variados (manhã, tarde e noite) e nos espaços escolhidos por cada docente (suas casas ou seus locais de trabalho). É válido destacar que fui muito bem acolhida pelas entrevistadas, sendo recebida com bastante simpatia e seriedade para a realização da entrevista.

Cada entrevista durou em torno de uma hora e meia, tendo todas elas se iniciado pela entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,15 documento em que ratifico a utilização ética dos relatos. Na tentativa de manter o anonimato das professoras, foram-lhes atribuídos nomes fictícios escolhidos por elas mesmas, exceto no caso de algumas que pediram para que eu mesma lhes atribuísse um nome.

É importante ressaltar que tanto o registro das atividades das professoras na plataforma Moodle, quanto suas falas obtidas por meio da entrevista foram organizados com base nos estudos sobre análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977) e Maria Laura Puglisi Barbosa Franco (2008), fundamentação que exponho no próximo item.