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A enxaqueca e a mulher

No documento ENXAQUECA UMA DOENÇA INCAPACITANTE (páginas 33-38)

Nas mulheres, as oscilações hormonais dos períodos menstruais, gravidez, amamentação e menopausa estão associados à gravidade e à frequência das enxaquecas. O uso de estrogênios, bem como pílulas anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também influenciam as crises de enxaqueca. Durante cada uma dessas fases do ciclo de viva feminino, as enxaquecas são um sofrimento contínuo que afeta a mulher, seu trabalho, seu companheiro, seus filhos e sua qualidade de vida. Na infância, o número de garotos e garotas que sofrem de enxaqueca é similar. Contudo, durante o período de adolescência, o número de garotas enxaquecosas aumenta consideravelmente até a maturidade, cuja proporção é de 3:1, sendo que é grande a prevalência nas mulheres durante seus anos produtivos. Durante a menopausa, essa proporção declina para 2:1, o que sugere que os hormônios femininos (como o estrogênio) têm uma importante influência cuja natureza não é clara, na enxaqueca (Bourgault et al 2002).

4.1 Menstruação

As enxaquecas menstruais parecem “passar em revista” um acúmulo de tensões e conflitos emocionais, condensando todas as tensões, preocupações e problemas do mês em alguns dias de “enfermidade” concentrada. Este assunto é ainda hoje bastante complexo, pois as mudanças na função reprodutiva feminina acontecem em vários níveis: existem alterações localizadas no útero e todo o aparelho reprodutor, alterações hormonais específicas, alterações fisiológicas muito gerais (na puberdade, na menstruação e na menopausa), e também, importantes mudanças psicológicas que ocorrem simultaneamente em todas essas alterações. Todavia, qual dessas tem o maior peso na determinação dos padrões de enxaqueca ao longo da vida da mulher? Todas as mulheres sofrem com alterações hormonais e distúrbios do tono emocional no período pré-menstrual, umas mais, outras menos. É possível afirmar que o ciclo menstrual é sempre associado a certo grau de distúrbio fisiológico que tende a ser na direção da excitação psicofisiológica antes da menstruação, e abatimento seguido de rebote depois da

menstruação. O período de excitação caracteriza-se por tensão, ansiedade, hiperatividade, insônia, retenção hídrica, sede, constipação, distensão abdominal etc., enquanto que o período de abatimento ou “desexcitação” manifesta-se por depressão, dor de cabeça vascular, hiperatividade visceral, palidez, suor etc. Praticamente todos os sintomas da enxaqueca podem ser condensados no tumulto biológico que cerca a menstruação. Na vida de uma mulher, ocorre freqüentemente uma alternação de diferentes formas de síndrome menstrual, destacando-se a dor de cabeça vascular em determinada época, a cólica intestinal em outra etc (Aukerman 2002).

As observações de ocorrência de enxaqueca em diferentes períodos da vida das mulheres vêm desde a Antiguidade e indica que a enxaqueca afeta de 10% a 20% de todas as mulheres no período reprodutivo. Os acessos não são apenas pré-menstruais; algumas mulheres têm crises durante e após a menstruação, mas que podem continuar ocorrendo mesmo depois da menopausa. Pode-se afirmar que as necessidades e expectativas das mulheres têm um papel importante na ocorrência ou desaparecimento de enxaquecas menstruais. De fato, muitas mulheres portadoras de enxaqueca menstrual reagem de modo excelente à psicoterapia, isoladamente, indicando que as influências hormonais são, no máximo, um co-determinante desses padrões de enxaqueca, ou seja, muito disso tudo depende de seu estado de espírito e de suas atitudes quanto a qualquer alteração do equilíbrio hormonal. Embora a menstruação possa ter efeito considerável sobre a enxaqueca, seu mecanismo é incerto devido às múltiplas causas concomitantes existentes

Cerca de 60% das mulheres com enxaqueca notam um aumento de suas crises durante o período menstrual. O termo “enxaqueca menstrual” é freqüentemente usado para descrever esse tipo de enxaqueca, mas alguns médicos insistem que ele deva ser restringido às enxaquecas que apresentam 90% de suas crises entre o dois dias anteriores e o último dia de sua menstruação (Gagnier 2001).

Em mulheres que sofrem de enxaqueca comum durante o ciclo menstrual, elas são, independente do tipo, incidentes no período pré-menstrual, quando comparadas aos outros períodos do ciclo em que as crises são mais dolorosas durante os dois primeiros dias da menstruação (Lay et al 2001).

4.2 Pílula

As pílulas anticoncepcionais contêm hormônios, geralmente uma pequena quantidade de estrogênio e progesterona, que regulam a glândula pituitária. Esta controla a liberação de óvulos nos ovários durante a ovulação. Quando não há ovulação, não há gravidez. Usadas corretamente, as pílulas são 99% eficientes na prevenção da gravidez. As mulheres que experimentam enxaquecas associadas ao uso das pílulas (variando doses e proporções de progesterona e estrogênio sintéticos) tendem a ter ataques durante a semana em que o nível de estrogênio cai. Contudo, o modo como as pílulas anticoncepcionais realmente influenciam a enxaqueca é ainda desconhecido (Clarke 1996).

Atualmente ainda é preocupante a existência dos efeitos variados de diferentes preparações de hormônios, principalmente os contraceptivos orais, sobre a intensidade e a freqüência das crises de enxaqueca. Entre essas preparações, as que são purificadas, como os androgênios, estrogênios, progestogênios e gonadotrofinas têm sido bastante estudados: especulou-se que as enxaquecas ovulatórias e pré-menstruais seriam precipitadas pela elevação dos níveis de estrogênio e pelas relativamente súbitas diminuições de progesterona em circulação. Experimentos com os atuais contraceptivos não negam nem refutam essa suposição; alguns deles parecem agravar a enxaqueca, outros parecem reduzi-la e há os que não têm efeito algum sobre os padrões da enxaqueca. Não há evidências convincentes, no momento, de que qualquer preparação hormonal existente tenha efeitos específicos sobre a ocorrência da enxaqueca (Macgregor et al 2000). Muitas mulheres que optam pela pílula anticoncepcional têm uma melhora acentuada na enxaqueca que eventualmente vinham sofrendo.

4.3 Gravidez

Muitas mulheres se preocupam com o que acontecerá com suas enxaquecas quando ficarem grávidas. Atualmente, o período periconcepcional – quando a mulher está tentando engravidar mas não tem certeza se conseguiu ou não – pode ser um período de mudanças. A maioria das mulheres não sabe que

estão grávidas até terem a primeira falha menstrual. Entretanto, todas as gestantes sabem que remédios tomados durante os primeiros estágios de desenvolvimento podem ser prejudiciais ao feto. Muitos remédios comumente usados para dor de cabeça podem afetar a gravidez nesse início perigoso. Muitos médicos alertam mulheres que têm enxaquecas a planejar suas gestações. Sugerem que elas larguem suas medicações preventivas e diárias quando estão planejando engravidar. Muitas mulheres com enxaquecas severas não conseguem largar sua medicação e neste caso, devem discutir com os médicos os riscos potenciais desses remédios antes de engravidarem. Muitas anomalias e defeitos fetais ocorrem nos primeiros três meses, quando os órgãos estão sendo formados. Portanto, esperar a confirmação da concepção para tomar decisões acerca dos medicamentos tomados para enxaqueca não é recomendável (Aubé 1999).

A enxaqueca pode apresentar um marcante período de remissão durante a gravidez, principalmente, durante a segunda metade do último trimestre; 8% a 9% de todas as mulheres com enxaqueca comum tendem a passar por essa remissão na primeira gravidez, e uma porcentagem menor fica isenta da enxaqueca em gestações posteriores; essa remissão é menos comum nos casos de enxaqueca clássica. As gestantes que se livram da enxaqueca nessa fase final da gravidez, geralmente sofrem uma crise excepcionalmente grave no pós-parto, uma ou duas semanas após o nascimento do bebê.

A enxaqueca em si, não aumenta o risco de complicações na gravidez como a incidência de anomalias e natimortos. Alguns estudos mostram tendência em haver uma melhora com a gravidez. Contudo, um pequeno número de casos começam com a gravidez, freqüentemente no primeiro trimestre, os quais envolvem uma alta incidência de enxaqueca com aura. Considerando o risco de tratamento farmacológico das enxaquecas durante a gravidez, a codeína pode ser usada seguramente, pois ao mesmo tempo em que reduz as dores de cabeça, também restabelece várias funções, habilitando a mulher a retornar ao trabalho, convivência familiar e compromissos pessoais (Scharff et al 1997).

4.4 Menopausa

A menopausa nada mais é do que a cessação da menstruação e um conseqüente desequilíbrio hormonal; período em que as mulheres sentem, em geral, ondas de calor, insônia, falta de energia, cansaço fácil, nervosismo, problemas de relacionamento, depressão, e é claro, enxaqueca! Em algumas mulheres, há melhora significativa durante a menopausa e quando ambas estão associadas, é necessário um acompanhamento médico detalhado (Feldman 1991).

Nas mulheres que têm suas enxaquecas ligadas ao período menstrual, a menopausa pode resultar em uma efetiva melhora das dores de cabeça; contudo é muito raro que elas desapareçam completamente. Em muitas mulheres, a náusea, os vômitos e as dores de cabeça são bem menos severas quanto mais o tempo passa. Portanto, pode não ser apenas a menopausa, mas também o envelhecimento que provoca essa melhora do estado de enxaqueca. Contudo, o agravamento das enxaquecas durante esse período pode estar associado à reposição terapêutica do estrogênio (reposição hormonal) que freqüentemente é prescrita na menopausa, devido à flutuação hormonal. À medida que a menopausa progride, o nível de esteróides no sangue declina e as crises de enxaqueca aumentam. Na população em geral, com idade entre 55 e 60 anos, a incidência nas mulheres ainda é maior do que nos homens (2:1). Isso sugere que outros fatores, e não apenas os hormônios sexuais, contribuem para a predominância dos acessos nas mulheres, e as razões para que isso aconteça ainda não são compreendidas (Lokken et al

No documento ENXAQUECA UMA DOENÇA INCAPACITANTE (páginas 33-38)

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