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A era do digital no jornalismo: vantagens e problemas

2.3. A problemática das novas tecnologias digitais: reflexos na relação entre jornalistas e

2.3.2. A era do digital no jornalismo: vantagens e problemas

Ao longo da história da profissão, os jornalistas têm vindo a adaptar-se à evolução tecnológica dos meios: do telex ao fax, da máquina de escrever ao computador.

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Um browser é uma aplicação de software para aceder à Internet (exemplo: Internet Explorer).

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A World Wide Web é um sistema hipertextual que opera através da Internet.

53 Helder Bastos escreve que o aparecimento da Internet transformou as rotinas de trabalho no jornalismo particularmente a dois níveis: 1) alterou o modo de pesquisa de conteúdos, recolha de informação e contacto com as fontes, dos jornalistas dos meios de comunicação tradicionais49. A maior parte dos jornais recorre aos motores de pesquisa disponíveis online para saberem o que mais foi escrito sobre o assunto que estão a tratar, verificar alguns factos e descobrir os contactos de fontes e especialistas50 (Bastos, 2000: 74). 2) Consolidou-se como meio para a publicação de conteúdos jornalísticos tradicionais adaptados51, através de edições eletrónicas construídas particularmente na web, para as quais os jornalistas começaram também a desenvolver, mais tarde, conteúdos específicos e exclusivos52 (2000: 73).

De acordo com Bastos, podemos considerar a Internet como condição do jornalismo assistido por computador53. A aquisição de computadores para as redações54, para substituir as máquinas de escrever e, mais tarde, a possibilidade de ligar os computadores, enquanto suporte físico, a redes como a Internet, proporcionou aos jornalistas novos modos de realização das suas tarefas, entre as quais, as formas de pesquisa e recolha de conteúdos e o contacto com as fontes de informação, referidas por Bastos (2000: 78). Com o aparecimento de computadores portáteis (2000: 79), e outros dispositivos digitais como os smartphones, tablets, possibilitaram aos jornalistas realizar as suas tarefas diárias fora da redação. Ligados à Internet, os jornalistas passaram a ter condições técnicas para envio e receção contínuos de informação entre jornalistas a partir de qualquer ponto geográfico, bem como a cobertura de acontecimentos até então negligenciados por falta de meios55 (Bastos, 2000: 82). As novas tecnologias vieram assim esbater as barreiras da distância: profissionais destacados em diferentes localidades passam a poder trabalhar “juntos”, isto é, como se

49 Aquilo que Bastos (2000) define como “jornalismo online”, ou seja, a utilização da rede (Internet)

enquanto instrumento privilegiado de pesquisa de informação e contacto com as fontes. Ainda sobre este tópico, Bianco afirma que, de facto, no quotidiano de meios de comunicação tradicionais, a Internet serve de ferramenta de acesso e contato com múltiplas fontes, agências de notícias e outras publicações online (2008: 4).

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A este respeito ver Bruce (1995). Em Computer-Assisted Reporting, Garrison Bruce refere que a pesquisa de informação para notícias é a maior vantagem experimentada até hoje por utilizadores, sendo a segunda a possibilidade contacto permanente entre jornalistas e jornalistas e fontes.

51 Sobre este tópico ver também Canavilhas (2003: 67).

52 A produção noticiosa na rede e para a rede designa-se, na conceção de Bastos (2000), por “jornalismo

digital”.

53 O Jornalismo Assistido por Computador (JAC) é uma expressão, proposta por Nora Paul, em 1995,

usada para identificar o processo de recolha de informação através da utilizaação do computador.

54

Em 1993, no caso da agência Lusa.

54 estivessem na mesma redação (Gomes, 2009: 61). O email é, segundo Bastos, a ferramenta mais utilizada na Internet pelos jornalistas para estes fins.

Perspetiva distinta sobre o jornalismo na web tem Sara Meireles Graça (2007). Os jornalistas trabalham para uma audiência quase ilimitada, eclética, e dispersa geograficamente. Os tradicionais textos até então circunscritos ao papel, caminham em direção à hipertextualidade e concorrem agora com outros elementos multimédia, como o som e o vídeo.

Num espaço ilimitado como a Internet, assiste-se à difusão ininterrupta de notícias em formato soft, light, como lhe quisermos chamar, num tempo de execução informativa por sua vez limitado (2007: 107-108).

Este contexto induz um perfil de jornalista do tipo “recolector”, cuja tarefa prioritária passa por retransmitir on line dados “em bruto”, em continum noticioso, com pouca margem de manobra para seleccionar, classificar, hierarquizar e, sobretudo, interpretar com alguma profundidade os “acontecimentos” (…). (Graça, 2007: 107)

Para Graça (2007), o jornalismo hoje faz-se sob um “imperativo tecnológico”, em que o jornalista é um mero “canalizador” da informação, ao invés de um “contextualizador”.

Os dispositivos digitais não alteram só o modo de operar nas redações, têm também o seu impacto nas rotinas de produção dos jornalistas: «todos os intervenientes nos canais de fabricação informativa estão interligados em rede, num trabalho que se quer cooperativo e descentralizado» (2007: 108). Assim, a produção é agilizada e orientada para um mercado onde a concorrência é cada vez mais forte (2007, 108). Tal suscita, na perspetiva desta autora, problemas na definição das funções dos jornalistas, isto é:

A introdução de aparelhos que permitem conjugar o saber-fazer de executores que se ocupam do grafismo, da composição ou da colocação em linha dos textos em formato web com a “destreza” dos repórteres e demais actores da produção noticiosa, em que se revêm os redactores de notícias, tende a diluir as fronteiras entre ofícios técnicos e intelectuais. (Graça, 2007: 108)

A tendência é para que, cada vez mais, se exija ao jornalista competências acrescidas, não só intelectuais, mas também técnicas, e aptidão para lidar com a

55 abrangência e a capacidade de difusão informativa características dos novos meios de comunicação digitais. Desta forma, ao quererem corresponder aos princípios do jornalismo online (hipertextualidade, produção em continuidade, escassez de tempo) descuram, por vezes, a componente de reflexão sobre a matéria informativa (2007: 109), porque o que está em causa não é a qualidade mas a quantidade e a rapidez da disseminação de conteúdos mediáticos.

À partida, segundo Graça, as potencialidades destes novos meios trariam vantagens declaradas à prática jornalística, por vários fatores, alguns já anteriormente mencionados: o alargamento do espaço, que deixou de ser físico, a relação permanente entre produtores e utilizadores de informação, e a emergência de uma “inteligência coletiva” através da facilidade que hoje se partilham conhecimentos (2007: 110). Porém, a forma como a tecnologia foi imposta nos processos de produção noticiosa, sem a devida preparação e formação dos jornalistas, habituados a lidar com meios de comunicação tradicionais, faz com que o online seja ainda encarado por muitos órgãos de comunicação e profissionais da área como apenas um suporte mais avançado do que o impresso, e as suas ferramentas sejam subaproveitadas (2007: 110-111).

É que, de facto, mudaram as formas de trabalhar e o mundo dos jornalistas, mas a sua introdução nas redacções ainda não suscitou, como seria de esperar, uma reorganização, em profundidade, das estruturas de produção noticiosa. Os hábitos de trabalho modificaram-se pouco, com apernas uma minoria activa dos jornalistas (em especial os mais jovens e diplomados) a empenharem-se, efectivamente, na mudança. (Graça, 2007: 113)

A polivalência de funções que a era do digital exige aos profissionais do jornalismo pressupõe boas habilitações práticas, excelente cultura geral, e um espírito de síntese que não estão a ser privilegiados (2007: 115).