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A escola pesquisada está situada à Rua Irmã Bonavita, nº 240, no Bairro Capoeiras, em Florianópolis, estado de Santa Catarina. O bairro é formado por uma comunidade de classe média, mas em seu entorno situam-se também algumas comunidades que vivem em situação de empobrecimento. A escola é a maior da região, possui uma grande área construída perfazendo um total de 5.200m². Foi inaugurada em vinte e nove de fevereiro de 1980, sendo considerada neste período uma escola modelo. No ano de sua fundação a escola, além do ensino regular, contava com cursos profissionalizantes: Habilitação Básica em Crédito e Finanças; Habilitação Básica em Construção Civil e Técnico em Eletrônica. A escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, com turmas do Ensino Fundamental e Médio. Atualmente o Ensino Noturno, período em que realizei a pesquisa, divide-se em turmas do ensino regular e magistério.

A referida escola possui amplo espaço de pátio com várias quadras poli-esportivas e um pequeno ginásio de esportes onde está instalada, permanentemente, uma rede de voleibol. Possui ainda: 25 salas de aula, sala dos professores, sala de artes, de vídeo, anfiteatro, cantina, cozinha, refeitório, biblioteca, videoteca, sala da secretaria, da direção, da equipe pedagógica e da coordenação de turno.

Conta ainda com uma Diretora Geral e um Diretor Adjunto, o curso noturno também possui equipe que trabalha os aspectos pedagógicos com professores e alunos, Coordenador de Turno, voltado a aspectos disciplinares e funcionais, Assistente de Educação e Assistente Técnico Pedagógico que realizam trabalhos administrativos na secretaria da escola, Bibliotecário e Auxiliar de serviços gerais. E ainda, um Conselho Deliberativo Escolar, embora não seja atuante, e uma Associação de Pais e Professores (APP).

Professores e alunos concordam que a escola possui uma boa estrutura física, embora o ambiente esteja marcado pelo descuido: as paredes estão com pinturas gastas e trazem muitas marcas de pichações feitas com lápis, canetas, corretivos e grafite. Portas e janelas externas são gradeadas devido a um período em que ocorreram depredações. Por ser construída em terreno desnivelado, a escola possui diversos patamares separados por escadarias e muitos corredores. Como à noite o número de alunos é reduzido, seus vários corredores esvaziados são tomados por um aspecto sombrio.

A escola é hermeticamente fechada com um muro alto que dificulta sua visibilidade tanto para dentro como para fora. Possui duas entradas, uma principal e outra pelo estacionamento. Em ambas existem guaritas com vigilantes de empresas de segurança terceirizadas. Algumas grades separam a entrada da escola, os espaços destinados aos professores e o espaço dos alunos. No entanto, observei que não há rigor em impedir a circulação dos jovens por estes espaços, algumas vezes observei os vigilantes perguntando para onde os alunos se dirigiam, dando-lhes permissão para passar.

Não há controle rígido de entrada e saída dos alunos, os professores informaram que por serem em sua maioria trabalhadores, muitas vezes precisam chegar atrasados. A saída também não é impedida, sendo que na última aula, como na primeira, o número de alunos em sala e na escola é bastante reduzido.

Para saber um pouco sobre como ocorrem as atividades pedagógicas da escola, em vários momentos perguntei aos diretores, à secretaria da escola e professores, sobre a existência de Projeto Político Pedagógico (PPP), fui informado que existia, embora ainda estivesse em processo de construção, mas que não sabiam exatamente onde estava, indicando que não é utilizado como referência para as atividades pedagógicas da escola.

Esta situação lembrou-me o que já havia contado Brum (2004) em sua pesquisa nesta mesma escola, que o PPP não contextualiza a escola, não fala sobre as comunidades em que está inserida, nem de onde vêm seus estudantes, limitando-se a aspectos históricos e burocráticos. Também não apresenta dados sócio-culturais sobre os estudantes que pudessem indicar quem são estes sujeitos e, embora o texto faça referências à importância do sujeito em relação aos conhecimentos, também não indica que conhecimentos devam ser trabalhados na escola. A autora diz ainda que o PPP da escola faz referência ao construtivismo mas sem a contextualização e sem apontar para autores que serviram de base para a consulta.

Nas entrevistas realizadas com os professores da escola, estes deram algumas indicações de que o PPP seria mais uma peça burocrática do que um documento que fosse utilizado para balizar as ações pedagógicas. Também falaram que a escola não tem feito planejamentos coletivos com os professores, nem reuniões com equipe pedagógica e direção para organização das atividades pedagógicas, além dos encontros para conselho de classe.

Alguns depoimentos dos professores elucidam em relação ao planejamento e ao PPP:19 “Nós fazemos o planejamento uma semana antes dos alunos chegarem, nos reunimos por disciplina. O planejamento coletivo da escola toda, nunca foi feito, nem no noturno. Faz 20 anos que estou aqui. Sempre é feito por departamento. Inclusive, até nosso PPP ainda não foi concluído aqui na escola, acho que não foi, não vi finalizarem os encontros sobre isso. O PPP, se não me engano, começou o ano passado” (Professora Vanessa).

“...em termos de PPP a escola deixa muito a desejar, né. Aqui cada um é por si e Deus para todos. Planejamento Coletivo? Nada. Coletivo as vezes assim, de um conversar aqui ou aí. Agora, um planejamento coletivo? Acho que não. O que percebo é que, às vezes algum professor entra no campo do outro, não sabe nem o que o outro tá fazendo. Tá faltando o PPP atuando. O PPP sempre existiu mas teve uma reelaboração uns quatro anos atrás, só que fica na gaveta, né” (Professora Lúcia).

“Eu andei perguntando sobre isso e diz que há tentativa em todos os anos de haver um comportamento coletivo e não individual, mas no começo do ano mesmo cada professor tem uma postura individual dentro de sala de aula e como é estado, tem estabilidade, tem aquela visão arcaica de que posso fazer o que quiser aqui dentro que não vai acontecer nada comigo” (Professor Juca).

Pode-se perceber por estes depoimentos e pelas indicações de Brum (2004) que a escola não tem conseguido se organizar para o planejamento coletivo das atividades pedagógicas da escola, ou seja, pensar sobre que conhecimentos são importantes para estes

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alunos, a partir daí organizar conteúdos, pensar em que momentos podem ser desenvolvidos com interdisciplinaridade, ou a possibilidade da realização de projetos, como fazer para conhecer seus alunos e outras ações que cada escola, com sua história e seus autores é capaz de realizar. Dado que o PPP é o documento que orienta as ações da escola, é importante refletir sobre o significado de ter um PPP meramente burocrático e não atuante, de que maneira a escola está cumprindo seu papel social com a educação.

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