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1.2 – A Escola Politécnica do Rio Janeiro – origens e princípios

O período de fins do século XIX e início do século XX, no Brasil, marca a inserção das nascentes preocupações com o meio urbano fazendo-se firmar a engenharia, por meio de seus técnicos, como idealizadora e executora de projetos de modernização da cidade. Além de abarcarem propostas, que se pode considerar, com abrangência e repercussão nacional como a construção de ferrovias e melhorias de portos, davam prioridade aos melhoramentos e aos projetos urbanísticos nas áreas centrais, sendo os principais campos de atuação as obras de infra-estrutura como as de saneamento e de abertura e regularização do sistema viário (LEME, 1999).

O saber médico higienista aliado à abordagem generalizante (ou de conjunto como apregoavam) da cidade propiciada pela engenharia (aspectos técnico-sanitários e ocupação do solo), estruturaram o pensamento urbanístico moderno, prenunciando os estudos geográficos da cidade real e o próprio planejamento urbano. Os princípios que regiram as intervenções, no dizer de Simone Kropf ( 6 ,àexp i ia àoà so hoàdaà azãoà eà aà alego iaà daà o de ;à o de à ueà seà p ete dia,à igual e te,à higie izado a,à saneadora, educadora, reformadora, regeneradora e civilizadora (HERSCHMANN e PEREIRA, 1994).

Momento profícuo para a execução de obras de engenharia, especialmente na então Capital Federal Rio de Janeiro, gerou também um campo de debate e um espaçoàsi gula àpa aà ueàosàe ge hei osà p oduzisse àpa aàsiàaàide tidadeàdeàg upoà social diretamente comprometido com o projeto de modernização nacional que se e a i hava (KROPF, 1996, p.70).

Ainda no século XVIII foram firmados os primeiros cursos de engenharia no Brasil com a criação, em 1792, da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. A partir de 1810, a engenharia passou por um processo mais concreto de institucionalização – tanto no que se refere à prática profissional quanto ao ensino –

com a formação da Academia Real Militar. Essa oferecia um curso de sete anos subdividido em Curso Militar e Curso Matemático (KROPF, 1996, p.75).

Contudo, somente na segunda metade do século XIX que os engenheiros, de modo mais consolidado, firmaram-se como categoria profissional estritamente ligada à vida social e à vida pública do país. Para Simone Kropf (1996, p.76), afigurou-se, nesse momento, uma ampliação das atividades nos serviços urbanos, sendo a cidade do Rio de Janeiro centro promissor para a consolidação da engenharia civil, sobretudo, com os avultados projetos para sua remodelação e com a transformação, no campo do ensino, da então Escola Militar em Escola Central (Figura 07), no ano de 1858, i stitui doàpelaàp i ei aàvezàu à u soàdeàe ge ha iaà ivil,àalé àdoàe si oàespe ífi oà deàest adasàdeàfe o . A partir desse momento, o ensino foi permitido também para civis.

A criação da Escola Politécnica no Rio de Janeiro, em 1874 (Figura 08) separou efetivamente as formações militar e civil da engenharia, tornando-as autônomas e valorizando essa última no contexto brasileiro. A Engenharia nacional, por meio da formação na Politécnica, logrou – desde os primórdios – engenheiros civis e i lopédi os à o oà denominou, posteriormente, Saturnino de Brito Filho na e ó iaà áà E ge ha iaà oà B asil à ap ese tadaà pelaà Fede açãoà B asilei aà deà Engenheiros ao 1º Congresso Pan-americano de Engenharia (BRITO FILHO, 1949 apud BARATA, 1973, p.73). Era uma formação multifacetada, que abrangia todas as esferas ligadas ao desenvolvimento material e físico do meio urbano e também do território.

Figura 07: Gravura da Escola Central

Figura 08: Fotografia da Escola

Polytechnica

Fonte: Acervo da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Parte do capital externo, vindo para o Brasil nesse momento, destinou-se aos se viçosàu a osàdeàt a spo tesà oletivos,àilu i açãoàpú li a,àa aste i e toàd águaàeà esgotamento sanitário. Os investimentos empreendidos pelas administrações públicas iniciaram um período profícuo de modificação da paisagem da cidade, solidificando-se não apenas a implantação do progresso técnico por meio de obras, mas também por intermédio de estudos e levantamentos, entre outros. O meio, desde metade do século XIX, segundo François Beguin (1991, p.23), passou ser considerado uma a ui a iaàu a a deàsa ea e to .à áà e uaçãoà aosà seusà p o le asà passa iaà aà se à ta é à ua titativa,à odifi ada,à i di adaà (... à po à eioà deà dadosà u é i os,à té i osàeàe o i os .

Nesse contexto de transformação também estrutural, a engenharia intensificou sua influência no Brasil e ascendeu como uma nova disciplina ligada ao urbano. As elites políticas e administrativas perceberam nos engenheiros – e em suas práticas – a viabilidade da idéia de progresso, sendo a tríade ciência, técnica e organização do trabalho as bases fundamentais desse desenvolvimento (ABREU, 1997). Oà p o essoà deà t a sfo açãoà eà ege e ação à daà so iedadeà deve iaà se à implantado e legitimado pela

(...) modernização técnica, por meio de obras e intervenções que concretizassem o progresso no próprio espaço físico da nação. A reforma social, em seu sentido mais amplo, seria assim a conseqüência imediata e necessária da implementação de novos e aperfeiçoados suportes materiais para o desenvolvimento, tais como estradas de ferro e serviços públicos urbanos (HERSCHMANN, KROPF e NUNES, 1996, p.9).

Assim, a ciência foi, na virada do século XIX para o século XX, divulgada como redentora das incertezas, em tempos que (se queriam) firmados por verdades absolutas, como diriam Lilia Schwarcz e Ângela Costa (2000). Tempos que, se por um lado, representavam a apoteose da técnica e o apogeu de uma certa modernidade velozà eà i efutável ,à po à out o,à dissi ulava ,à o oà ueà e à u aà o viv iaà harmônica e domesticada, o seu contraposto: o arcaísmo de uma sociedade com base econômica e social agrária, patriarcal, oligárquica e com reminiscências escravocratas. Os engenheiros ocuparam papel de destaque ora como partícipes desse processo, ora como questionadores, fortalecendo seus laços com as questões nacionais. As mudanças na estrutura física das cidades brasileiras, iniciadas em fins do

século XIX, intensificaram-se ao longo do período republicano, por todo o Brasil, sendo exemplos clássicos as intervenções de Aarão Reis, em Belo Horizonte; de Pereira Passos e Alfred Agache, no Rio de Janeiro; Anhaia Melo e Prestes Maia, em São Paulo; e Saturnino de Brito em dezenas de cidades no país, como Vitória, Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Pelotas, João Pessoa, entre outros.

Henrique de Novaes fez parte desse universo de pensamento e de atuação no espaço urbano ora como homem público ora como profissional ligado ao setor privado. Muitas foram as influências em uma carreira que se iniciou – importante dizer – antes mesmo da conclusão do curso de engenharia. A seguir, contam-se os passos desse desvendar do Brasil e os laços consolidados em prol do que chamou

e g a de i e toàdaà ação à17.