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2. A PERSPECTIVA DA ESCOLARIZAÇÃO DO TRABALHADOR DE NOVO TIPO

2.2 A escolarização do trabalhador de novo tipo

Segundo Marinho (2004), os fatores que levaram às mudanças na educação dos trabalhadores foram:

Os efeitos da crise do capital a prática do sindicato propositivo, integrado à dominação do homem pelo homem, as reformas na organização do trabalho e na estrutura sindical requerem finalmente uma mudança na esfera da educação profissional de modo a adequar a educação que prepara e instrumentaliza o trabalhador para o mercado de trabalho, a partir da idéia central de que o trabalhador deve se ajustar às transformações ocorridas na economia nas últimas décadas, em especial no que os autores chamam de globalização e exigências de novas competências para desenvolver minimamente as atividades requeridas pela marcha do capital. (MARINHO, 2004, p. 198)

Fazendo uma análise crítica sobre o documento - base MEC/SEMEC/PROEP e sobre a LDB Lei nº 9394/96 nos artigos 36, 39 e 42 relativos à educação profissional, Marinho (2004) destaca ainda que existe uma grande diferença entre a teoria existente na lei e a prática, chegando à seguinte conclusão:

...Constatou-se, então, após alguns anos de concretização dessa meta legal, que “salvo alguns poucos programas”, os cursos oferecidos estavam desvinculados da elevação da escolaridade e que freqüentar um curso profissionalizante não era sinônimo de empregabilidade (MARINHO, 2004, p.199).

Embora seja importante para o trabalhador, hoje em dia, procurar se qualificar profissionalmente e aumentar o nível de sua escolaridade, isso não significa que ele terá oportunidade de estar empregado, mas, com certeza, o preparará para o surgimento de novas oportunidades. A tendência atual é a de que as pessoas se preparem para trabalhar em vários campos profissionais ou se aperfeiçoem em áreas afins, para quando surgir uma oportunidade em uma área, eles estejam preparados, para que o período de desemprego seja o menor possível. No entanto, há uma tendência de saturação de determinados ramos. O discurso da qualificação profissional acaba se tornando falacioso.

Alguns autores como, por exemplo, Ferreti(2005) e Marinho(2004) entre outros, realçam a importância de se dar uma qualidade maior a esta educação do trabalhador, dando ênfase também à formação de um cidadão mais crítico. Mas, afinal, o que poderá acontecer se este cidadão/trabalhador obtiver uma educação voltada para a criticidade do que se vive? De certo, ele irá se rebelar trazendo prejuízos para a classe dominante. Mesmo assim, o trabalhador precisa se qualificar para permanecer no mercado de trabalho e, quem sabe um dia, conseguir uma promoção. Entretanto, sua formação acaba tendo que seguir as exigências do mercado, não podendo ser nem demais nem de menos, porque, se o trabalhador se qualificar demais, pode não conseguir um emprego, pois alguns empresários alegam não ter condições de manter um empregado com determinado nível de qualificação. Muitas vezes somente o empregado que se submete a um salário abaixo do estabelecido para sua categoria, é aceito por tais empresários. Em se tratando da educação proporcionada ao trabalhador com o objetivo de melhorar o grau de sua escolarização e, ao mesmo tempo, de prepará-lo para exercer melhor sua função, nesta pesquisa fica claro um pouco a satisfação por parte da empresa de ter um item de suas finalidades atingidas. O mesmo foi constatado na entrevista com o técnico de segurança I, pois quando perguntado sobre a contribuição dos estudos no trabalho do aluno/trabalhador (PA), o técnico disse: “... - Ele evolui bastante. Passou

a usar os equipamentos de segurança e incentivar os colegas a usar...” A última

parte desta fala reflete a capacidade deste aluno/trabalhador de ser multiplicador dos conhecimentos a respeito da importância do uso dos equipamentos, atendendo assim os interesses dos empresários. Vale salientar que são diversos os assuntos abordados em sala de aula, porém este tema está diretamente ligado ao trabalho dos estudantes que se tornaram objeto de investigação.

Na análise dos documentos bases MEC/SEMEC/PROEP e LDB Lei nº 9394/96 nos artigos 36, 39 e 42 relativos à Educação Profissional, Marinho (2004) ainda esclarece:

O documento deixa escapar alguns detalhes de um processo de desestruturação da educação em nosso país, da implementação do discurso neoliberal, da baixa escolarização da população empobrecida, da formação de um campo de larga exploração pela iniciativa privada, de ganhos formidáveis dos empresários com a concessão de incentivos fiscais e o aumento de seus lucros, enfim, com a divulgação, formação profissional é condição para a empregabilidade. (MARINHO, 2004, p. 200)

Infelizmente, muitos empresários só aceitam investir na Educação do Trabalhador com o intuito de obter isenção de impostos. Com isso acabam não dando o mínimo de incentivo para que a educação aconteça da forma mais prazerosa e humana possível, deixando os professores, muitas vezes, trabalhando com recursos limitados aos fornecidos pela empresa, no início do curso, e disponibilizados pela instituição contratada para promover a educação dos trabalhadores. Normalmente, a educação do trabalhador na tentativa de elevar o nível de escolarização do referido trabalhador, acontece depois do expediente, e, mesmo sabendo quais são aqueles que aceitaram participar das aulas, muitas vezes, exigem a realização de hora-extra por parte deste. Os patrões prometem inclusive não demitir os trabalhadores que estiverem estudando, mas, por vários motivos, eles demitem. Ainda existem os alunos/trabalhadores que não conseguem trabalhar o dia todo e estudar após o expediente, pois o cansaço se mostra como fator de colaboração para a diminuição do número de alunos da sala de aula. Esses, porém, são apenas alguns dos motivos que levam à evasão, no entanto este assunto não será aprofundado neste trabalho.

Embora se exija um trabalhador de novo tipo com aquelas características apontadas no item anterior, ainda se pode fazer uma observação a respeito da exigência desse novo trabalhador como:

O novo perfil do trabalhador que, na mesma ótica do capital, acompanhe as mudanças dos tempos e atenda às novas exigências do mercado, exige um maior investimento na escola, uma vez que, para tal, o nível de instrução da população necessita ser elevado. (QUIXADÁ, 2004, p. 180)

Para se exigir um trabalhador de novo tipo, é imprescindível investir na educação de qualidade, bem como incentivar da melhor forma possível as pessoas a uma qualificação, apontando os benefícios desta escolarização. Como pode a empresa que investi na educação do trabalhador deixar somente os professores e coordenadores incentivarem estes alunos a continuarem seus estudos? Faz-se necessário que estes empresários esclareçam sempre a importância da elevação dos estudos para este trabalhador, mostrando as vantagens não só para a vida profissional como também para a vida social. A demonstração da importância dos estudos a ser dada pelos empresários pode estar em pequenos gestos, como lembrar àquele funcionário a necessidade de assistir à aula, ao invés de fazer hora- extra. Além disso, por que não acrescentar ao salário do trabalhador um valor referente ao horário de estudo para que ele não pense em faltar aula em troca de fazer hora–extra? Entretanto é preciso deixar claro ao trabalhador que ele deve estudar para adquirir conhecimentos, afinal, o conhecimento é algo que se adquire para a vida e ninguém pode tirar dele. O fato de seus empregados estarem estudando significa mais lucro para os patrões porque a produção terá mais eficiência e eficácia, por isso não há mal em incentivá-los financeiramente e verbalmente.

Embora exista a necessidade de se ter um trabalhador de novo tipo, deve-se observar o tipo de ensino que se fornece a este trabalhador, em alguns casos, insuficiente e precário. Note-se o que relata Quixadá:

... apesar de todas as exigências da formação de um trabalhador com características mais flexíveis, criativas e multifuncionais, a realidade da nossa escola pública, agente formadora da classe trabalhadora, continua ainda hoje com problemas antigos, como baixa qualidade do ensino, a desvalorização do magistério, o baixo investimento na capacitação docente, aliados às péssimas condições de trabalho que são, dentre outros fatores mais imediatos, determinantes de tal situação (QUIXADÁ, 2004, p. 180)

Pode-se perceber que muitos são os empecilhos que fazem esta educação ainda não ser a esperada por este trabalhador. Mas ainda com esses percalços, a educação ainda é apontada com a solução para melhora da qualidade de vida dos trabalhadores. Segundo Quixadá (2004, p.184), “... A educação, neste novo contexto, mais uma vez e de forma mais enfática ainda, é proclamada pelo poder como a redentora dos males sociais...” Por isso, ainda se pode perceber que a educação é como um grande impulso para que estes trabalhadores melhorem suas

condições econômicas e sociais, pois o que Quixadá (2004) relata se torna a esperança para melhores condições de trabalho.

Após a exposição das características deste trabalhador de novo tipo, é importante esclarecer as competências exigidas para este profissional. Sendo assim, segue um capítulo dedicado a esta temática. O terceiro e último capítulo tentará explicar as competências do trabalhador de novo tipo, expondo alguns de seus tipos, bem como associará à Educação do trabalhador à essas competências também aproveitando o aprofundamento teórico do tema para fazer uma análise de algumas respostas das entrevistas, tentando sempre integrar as teóricas às práticas da classe observada.

3. AS COMPETÊNCIAS E A EDUCAÇÃO DO TRABALHADOR DO

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