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4.1 Trajetórias escolares de alunos com deficiência intelectual na educação básica:

4.1.2 A escolarização dos alunos com deficiência intelectual

Na tabela 2, apresentamos os dados referentes à idade dos alunos com DI e série em que estudavam no ano de 2014 (ano da coleta de dados)

Tabela 2 – Quantidade de alunos na relação entre série e idade Idade Série 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 ou mais Total 9 0 0 0 0 0 0 0 1 3 1 1 0 0 6 8 0 0 0 0 0 0 0 0 3 1 1 0 0 5 7 0 0 0 0 0 2 3 4 2 4 0 0 1 16 6 0 0 0 0 1 4 1 4 3 1 0 1 0 15 5 0 0 0 1 6 8 0 1 0 0 1 0 0 17 4 0 0 5 11 5 3 2 0 1 0 0 0 0 27 3 0 13 7 9 1 2 0 2 0 0 0 0 0 34 2 10 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 13 1 1 3 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 5 Total 1 13 15 13 21 13 20 06 12 12 07 3 1 1 138

Fonte: Documentos oficiais (registros escolares - prontuários dos alunos) consultados nas escolas pesquisadas

Como verificamos em nossa pesquisa sobre a série de matrícula dos 138 alunos com deficiência intelectual nas escolas regulares investigadas, do total de alunos que compõem a amostra da pesquisa, no primeiro ciclo, que corresponde do 1º ao 3º ano, frequentam 52 alunos; no segundo ciclo, que corresponde do 4º ao 6º ano, frequentam 59 alunos; e no terceiro ciclo, que corresponde do 7º ao 9º ano, frequentam apenas 27 alunos. Percebe-se então que a concentração maior de alunos está no período de transição de ciclos ou seja do 4º ao 6º ano, período em que o aluno precisa se adaptar a uma nova realidade escolar.

Verifica-se também nesta tabela que 56% dos alunos em estudo estão na faixa etária entre 8 e 13 anos e a maioria destes se encontram entre o primeiro e o quinto ano de escolarização. Supomos então que, a partir de 13 anos, quando estes alunos se encontram encaminhados para o sexto ano, fase em que se observa aumento das exigências acadêmicas, em que se depara com questões mais abstratas e mais desafiadoras aliadas a mudanças orgânicas do inicio da adolescência, mais os comprometimentos da DI, podem estar evidenciando as dificuldades, tornando assim as defasagens mais acentuadas. Dos 138 alunos de nosso estudo, 76% destes apresentam defasagens escolares (consultar também anexo G). Questões já apontadas nos estudos de Santos (2013):

[...] as transições escolares no início da adolescência são de especial interesse e preocupação porque esta é uma fase, a da puberdade, em que o pré-adolescente se depara com diversas mudanças desenvolvimentais e próprias da idade da adolescência, e que acarretam alterações a nível emocional, biológico e cognitivo e social e com os quais tem que lidar podendo, assim, tornar-se um período desafiador (CROCKET; PETERSEN; GRABER SHULENBERG; EBATA, 1989 apud SANTOS, 2013, p. 6-7).

Como os alunos com DI já se encontram em defasagem em idade e série, ao se deparar com esse ambiente desafiador de adaptações de novas rotinas, novos hábitos, este pode interferir na vida escolar dos mesmos, até mesmo aumentando suas dificuldades na aprendizagem, que pode até mesmo desestimular a continuidade de sua vida escolar. Levantamos esta hipótese ao perceber que em nossos estudos o número de alunos diminui a partir do segundo ciclo.

Será que a complexidade do ensino impede a permanência dos alunos com deficiência intelectual no final do ensino fundamental, mesmo em um sistema de progressão continuada? Qual é o sentimento destes alunos que entendem que não conseguem acompanhar o ensino regular?

O estudo de Lima e Mendes (2011) vem comprovar que essas defasagens podem estar acontecendo com frequência em outros ambientes escolares.

Em relação à faixa etária, cinco eram crianças (entre nove e 10 anos de idade), dezesseis estavam na adolescência e três na fase adulta. Quanto à série escolar, a maioria, isto é dezessete, estava nas séries iniciais, a minoria (sete), nas séries finais do ensino fundamental. Comparando-se a idade cronológica dos alunos com a idade esperada para a série cursada, os dados revelam atraso na escolaridade que variou entre dois e 16 anos. Por exemplo, um aluno de 29 anos cursava a 7ª série (LIMA; MENDES, 2011, p. 198).

Esses dados nos levam a pensar se realmente há a inclusão dos alunos com NEE num efetivo processo de ensino-aprendizagem. A defasagem idade/série também reflete um tipo de exclusão, aquela que acontece no interior da escola, pois esses alunos acabam sendo excluídos do processo de aprendizagem num tempo adequado. Isso pode se justificar, talvez, por atendimentos falhos nas adaptações de que necessitam ou por falta de outros recursos materiais e humanos das instituições escolares.

Contudo, podemos refletir de forma mais aprofundada qual seria o motivo dessa defasagem de idade-série, já que se trata de alunos com deficiência.

Segundo Ferraro (2004), é precisamente na primeira série da educação fundamental que acontece a retenção; em consequência disso, inicia-se a defasagem na relação série/idade no processo de escolarização.

A defasagem pode também ser fruto de entrada tardia na escola ou de processos de reprovação. Como no município há a progressão continuada, percebe-se que, certamente, estes alunos foram inseridos na instituição mais tardiamente.

A não inclusão desses alunos anteriormente pode ter sido intencional pela própria família e/ou motivada pela instituição especializada que os atendia, pois antes da regulamentação da inclusão como direito, a escolarização de alunos com necessidades educacionais especiais ocorria em instituições paralelas à rede regular. Luiz (2009) realizou uma pesquisa na qual acompanhou familiares de crianças com síndrome de down na fase de transição entre APAE e as creches de ensino regular. Em relatos de mães verificou-se que elas sentiam medo de seus filhos perderem o vínculo entre educação e saúde (atendimento especializado da APAE) e medo também dos filhos sofrerem preconceitos e rejeições. Ainda segundo a autora, esse mesmo desconforto, essa insegurança aparece quando as mães, acostumadas com o atendimento de seus filhos na Associação de Pais e amigos dos Excepcionais (APAE), precisam sair de sua zona de conforto partindo para uma nova experiência. Entende-se que, nas instituíções, as famílias dos alunos se sentem confortáveis por terem uma escola só para eles, onde as classes têm um número reduzido de alunos e um setor clínico onde o aluno pode usufruir do mesmo sem burocracias. Torna-se claro também haver um protecionismo misturado com o estigma de que os deficientes não possam ser autônomos e produtivos.

A partir da DS (UNESCO, 1994), que reafirmou o direito de educação para todos, em acordo com a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, é que o tema inclusão escolar tomou força e a pessoa com deficiência ganhou maior espaço e direito de ser tratada

em igualdade; mas a inclusão nas escolas regulares começou a acontecer muito timidamente, com poucos alunos.

Em 2008, com a criação da Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva, é que começaram a ampliar as matrículas de alunos com NEE na rede regular. Segundo dados do Inep (BRASIL, 2014), de 2007 a 2012, as matrículas de alunos com deficiência nas classes regulares de escolas públicas do país dobraram.

Acredita-se na hipótese de que os mecanismos de retenção e reprovação também podem gerar defasagem de idade/série para alunos com NEE, muitas vezes por não serem atendidos nas adaptações curriculares de que necessitam.