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ESTÁGIO EM EMPRESA JÚNIOR

4.2.1 A escolha pela ênfase curricular Trabalho, Organizações e Gestão

Ainda que referidas de diferentes maneiras pelos entrevistados, as razões da escolha pela ênfase curricular Trabalho, Organizações e Gestão giraram em torno de duas grandes motivações: a identificação e o interesse prévios pela POT e as maiores oportunidades de inserção no mercado de trabalho que essa área de atuação oferece.

A identificação com a área de POT ao longo dos anos iniciais de graduação foi mencionada pela maioria dos estudantes. Disciplinas obrigatórias referentes a essa área oferecidas no núcleo comum do currículo (Psicologia do Trabalho e Psicologia Organizacional), ou outras em caráter optativo, como Habilidades Interpessoais favoreceram uma aproximação importante com as suas temáticas para alguns dos participantes, levando-os pensar sobre suas atuações futuras e suas próprias concepções sobre o trabalho. João, por exemplo, se refere a essas disciplinas como um divisor de águas em sua formação, ao lhe ajudarem a perceber o caminho que gostaria de seguir na Psicologia e resultarem na sua escolha pela ênfase de POT.

O contato com alguma experiência ou com profissionais atuantes em contextos de trabalho antes de adentrar na ênfase propriamente dita também despertou o interesse dos estudantes. Pelo menos três deles se inseriram em organizações ou em setores da própria universidade e vivenciaram a realização de tarefas como recrutamento e seleção, levantamento de necessidades de treinamento e ações de capacitação, dentre outras relativas à gestão de pessoas. Luiza e Marina relatam como isso aconteceu:

Dentro da Psicologia eu fui escolhendo os estágios não obrigatórios e geralmente as disciplinas eu acabava também pegando aquelas voltadas pra POT. (…) Eu já sabia, desde a minha 5ª fase eu já sabia que ia fazer POT e Saúde (Luiza).

Eu ia começar a ter matérias sobre Psicologia do Trabalho, nem tinha tido ainda, aí fui procurar um estágio na área e consegui um, pra fazer recrutamento e seleção (Marina).

Marina e Gabriela iniciaram seus estágios em EJs quando estavam na 6ª fase, ou seja, antes da escolha pela ênfase. Elas se inseriram no contexto júnior inicialmente como estagiárias não obrigatórias, atuando por um semestre nessa condição, e a permanência por mais um ano previamente combinada e decorrente desse primeiro momento configurou o período de estágio obrigatório propriamente dito.

A influência e/ou o exemplo de profissionais atuantes na área também foram apontados como elemento motivador para a escolha por essa ênfase. Isabela destacou o papel inspirador de duas psicólogas que conhece, ambas em exercício no contexto organizacional, que dividiram com ela algumas de suas experiências e a incentivaram a conhecer melhor a área.

A expectativa de inserção no mercado de trabalho após a conclusão da graduação é um elemento importante, especialmente para estudantes em fases finais do curso. Como já dito, a POT é historicamente uma das áreas que oferece maiores oportunidades de emprego/trabalho (BASTOS; GONDIM; RODRIGUES, 2010; MALVEZZI; SOUZA; ZANELLI, 2010), inclusive a profissionais recém-formados sendo essa uma das razões também explicitadas para a escolha da ênfase Trabalho, Organizações e Gestão. Roberta e Laura apontam essa questão da empregabilidade claramente em suas falas. A primeira diz: eu acho que é a forma mais fácil de você se colocar no mercado de trabalho. Se você optar pela clínica, por exemplo, vai ser difícil até você fazer seu nome, conquistar seu espaço, conquistar seus clientes. Já Laura coloca: Eu tava em dúvida, mas escolhi organizacional porque eu tava interessada em algo que eu tivesse mais chances de emprego depois de formada, sabe?

Júlia disse perceber esse movimento em direção à Psicologia Organizacional e do Trabalho também realizado por colegas já formados, mesmo aqueles que almejavam atuar em outros campos da Psicologia e que tinham pouco ou nenhum contato com a POT durante sua formação. Nesse sentido, ao considerar a área como uma atuação possível para si própria depois de formada, sua escolha pela ênfase e pelo estágio na área se deu justamente em busca de aprendizagem e qualificação profissional:

Eu via muita gente saindo da graduação e indo pra área organizacional, mas também muito

despreparados, sem mal saber o que estavam fazendo. E eu falava “Tá, se eu for fazer isso, se é uma opção, se eu penso nisso, então que eu saiba o que é” (Júlia).

Carlos, que pretende seguir carreira artística e optou pela Psicologia como profissão que lhe garanta sustento, também vislumbrou a POT como estratégia para inserir-se no mercado e conquistar uma solidez financeira. Aliado a isso, seu interesse pela área como possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional também motivou sua escolha: Eu vi que eu tinha que fazer alguma coisa para me dar dinheiro quando eu saísse da faculdade, e eu percebi que era o caminho mais fácil para ganhar um dinheiro relativamente bom (Carlos). Essa fala revela não apenas a percepção da POT como campo fértil de oportunidades, mas também como um âmbito mais rentável, capaz de garantir a estabilidade e o estilo de vida que ele almeja.

Outras motivações, além do interesse pela área e das oportunidades de trabalho que oferece, também fundamentam a escolha pela ênfase Trabalho, Organizações e Gestão. Dentre elas, tem-se a escolha resultante do desinteresse pelas demais opções curriculares. Esse foi o caso de Ana, que já havia cursado a ênfase Saúde e Processos Clínicos e cuja não identificação com as áreas Escolar e Social/Comunitária lhe gerou uma “falta de opções” da qual decorreu a escolha pela ênfase/área de POT, ainda que com poucas expectativas: Imagina meu desespero, clínica que era o que eu esperava eu não gostei, as outras duas não tinham nada a ver comigo, eu já sabia, e POT eu tava meio assim... (Ana).

Uma razão apontada dentre essas outras motivações vai a uma direção completamente diferente: João não apenas interessava-se pela área de POT e passou a considerá-la um campo possível de atuação antes mesmo da escolha pela ênfase Trabalho, Organizações e Gestão como também atribuiu motivações políticas à sua decisão. Ele se refere às contradições presentes no mundo do trabalho, na Psicologia enquanto ciência e profissão e na Psicologia Organizacional e do Trabalho como área específica. Reconhecendo tais contradições e tensões, seu posicionamento, que considera diferente, é de buscar conhecimento e meios para intervir nos ambientes organizacionais:

Tem contradições? Tem. Tem todos esses problemas? Tem. Problemas relacionados a vínculos, às próprias relações de trabalho que o sistema impõe... Mas o que eu vou fazer com isso? Vou ficar produzindo artigo dizendo que isso é

errado, que isso não é correto, enfim, mostrando essas contradições? Ok, é uma atuação possível, mas também é preciso haver psicólogos trabalhando e atuando nisso na prática, e eu decidi por esse lado: “O quê que eu vou fazer com isso?”. Eu prefiro; não é no sentido de amenizar e colocar panos quentes, mas sim no sentido de tentar fazer algo melhor, e não simplesmente desistir da causa e achar que só porque uma empresa explora os trabalhadores eu vou deixar eles na mão ou algo do tipo. Não, eu quero tentar fazer o melhor possível dentro daquele contexto (...) Eu quero fazer isso dentro de organizações. É uma diferença de posicionamento (João).

As razões da escolha pela ênfase curricular Trabalho, Organizações e Gestão, em síntese, apontaram para o contato com o tema em disciplinas introdutórias, experiências desenvolvidas no campo e indicações de profissionais já atuantes, das quais emergiu uma identificação prévia com a POT. A possibilidade de inserção no mercado de trabalho também foi verificada como elemento motivador, diante das oportunidades futuras relativas à área. Posicionamentos políticos favoráveis às contribuições da Psicologia nas organizações de trabalho e o desinteresse pelas demais ênfases curriculares ofertadas completaram as justificativas mencionadas. De modo geral, esses resultados indicam o delineamento de interesses específicos e a preocupação com o início de carreira, aspectos comuns aos estudantes em fase final de formação e que também permearam a escolha pelas empresas juniores como campo de estágio, conforme se aborda a seguir.