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A Esquistossomose no Vale do Ribeira

Prioridade III Prevalência autóctone

1.4 A Esquistossomose no Vale do Ribeira

Em Itariri desde 1953 há ocorrências de casos autóctones – desse ano até 1977 foram 877 casos; em Pedro de Toledo de 1960 a 1977 ocorreram 1324 casos; em Juquiá de 1973 a 1977 ocorreram 73 casos; em Miracatu de 1963 a 1977 ocorreram 37 casos; em Peruíbe de 1965 a 1977 ocorreram 93 casos (SUCEN 1982).

De 1981 a 1992, a SUCEN tinha notificado 226.029 casos de esquistossomose em todo Estado, sendo que 12,5 % correspondiam a municípios ligados a Regional 2 de São Vicente. Em relação os casos autóctones do Estado de São Paulo, a regional 2 apresentava 36,1 % e o Vale do Ribeira apresentava 28,4% dos casos.

Os primeiros censos coprológicos foram realizados nos anos de 1980, 1981 e 1982, em alguns municípios do Vale do Ribeira. O município inteiro de Pedro de Toledo era considerado endêmico; o resultado do 1º censo (inquérito) apresentou 22,9 % de positividade e 18,1 % de autoctonia, no 2º censo, obteve-se 7,58 % de positividade e 5,39% de autoctonia. Concluíram os pesquisadores que a metodologia de controle foi eficaz e influenciou na queda da prevalência da esquistossomose (SUCEN 1982; MARÇAL e DIAS 1988).

O município de Itariri tinha 2/3 de sua área, endêmica, o resultado do 1º censo foi de 17,5% de positividade e 10,6% de autoctonia, Miracatu obteve 10,8 % de positividade e 4,18 % de autoctonia (SUCEN 1982). Não foram encontrados, dados de censos posteriores, dos dois últimos municípios, para fins de comparação.

Os casos importados de 1978 a 1982 representavam 36,5 % do total de casos detectados no Vale do Ribeira, e os autóctones eram 56, 4 % (SUCEN 1994).

O perfil dos indivíduos com esquistossomose em municípios do Vale do Ribeira, eram infantil e jovem, faixa etária de 5 a 29 anos, destacando-se a faixa etária de 10 a 14 anos,

sugerindo uma transmissão relacionada às atividades recreativas em locais como córregos, rios, ribeirões entre outras coleções de água (SUCEN 1994).

Os censos coprológicos para detecção da parasitose eram realizados na população total, e/ou apenas nos escolares, em determinada localidade, de importância epidemiológica. Todas as casas eram visitadas por agentes da SUCEN que entregavam latinhas para coleta das fezes à todos os moradores da residência. No dia seguinte, os agentes passavam para recolherem e encaminharem as latinhas para os exames de fezes, realizados pelo método Kato-Katz. Havia um formulário que se preenchia para identificar esses indivíduos.

Após os resultados dos exames, os indivíduos positivos para o Schistosoma mansoni eram encaminhados ao tratamento. A SUCEN atuava em toda a investigação, desde o diagnóstico, tratamento e investigação epidemiológica como estava preconizado pelo PCE/1989 com objetivo de detectar casos autóctones em áreas conhecidas ou em áreas novas com autoctonia(SUCEN 1982, 1994).

O tratamento químico de criadouros de importância epidemiológica era feito com Niclosamida, o produto tinha indicação para ser utilizado em focos com planorbídeos positivos e focos sem planorbídeos positivos, apenas com alta densidade para ser reduzida. A recomendação de tratamento químico a criadouros sem positividade prevaleceu até 1986. (SUCEN 1994).

A Niclosamida PM de 70% era indicada nas dosagens de 4 a 12ppm, de acordo com os parâmetros físicos e químicos da água, como matéria orgânica, turbidez e vegetação. Após anos de uso, como ocorreu no Vale do Ribeira, sinais de resistência dos moluscos já foram apresentados (SUCEN 1982, 1994).

Com o processo de municipalização, a SUCEN foi repassando aos municípios as atividades do censo coprológico para diagnóstico, tratamento e investigação epidemiológica. No entanto, particularmente o Serviço Regional de São Vicente ficou até 2003 envolvido, em parte, com essas atividades, convocando e encaminhando a

população local para o centro de saúde, para realizar o exame parasitológico de fezes, diagnóstico e tratamento dos positivos para a parasitose. A investigação epidemiológica do caso continou sendo realizada pelo Serviço Regional da SUCEN.

A participação da rede pública de saúde no processo de municipalização foi muito mais lenta na região do Vale do Ribeira porque o Serviço Regional de São Vicente foi muito atuante ao longo dos anos, no controle da esquistossomose (SUCEN 1994).

A Sucen regional esteve envolvida com as atividades de controle voltadas aos portadores da doença até 2003, quando o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo assumiu o controle e vigilância da esquistossomose.

O Vale do Ribeira atualmente tem uma economia que continua restrita à agricultura, os principais produtos são banana, chá e hortifrutigranjeiro. Nos demais municípios como Iguape e Cananéia, o turismo está cada vez mais, estruturado, é fonte geradora de emprego e renda.

A agricultura é a principal atividade econômica, oferece maior oportunidade de emprego. No entanto, a produção e a produtividade econômica são baixas devido à topografia acidentada da região e também porque os produtores locais têm dificuldades em conseguir linhas de crédito, por não possuírem a posse legal da terra. Eles acabam não investindo numa produção mais competitiva, muitas famílias acabam mantendo apenas plantios de subsistência. O nível de renda dos habitantes do Vale do Ribeira é um dos menores do Estado de São Paulo (Relatório de situação dos recursos hídricos UGRH 11).

Atualmente, o município de Itariri apresenta grau de urbanização de 54,3%, e conta com 87% do seu esgoto tratado; Pedro de Toledo apresenta grau de urbanização de 70,6% e tem 100% do esgoto tratado. Miracatu apresenta grau de urbanização de 54%, e tem 79% do seu esgoto tratado (SEADE 2003).

Em 1986, a Sabesp tinha um projeto para saneamento de pequenas comunidades rurais, de modo que vários municípios do Vale do Ribeira foram agraciados com alguma iniciativa de saneamento, como por exemplo, em Pedro de Toledo e Itariri receberam água tratada e o esgoto foi canalizado e posteriormente tratado.

Na década de 1980 foram realizados muitos estudos em Pedro de Toledo (Figura 6), por MARÇAL e DIAS e col. (1987, 1988, 1991, 1993, 1994) por conta de uma prevalência de esquistossomose de 22,8%, considerada alta. Com as ações sistemáticas de controle que a SUCEN e colaboradores destinaram ao município, foram obtidas a redução da prevalência e incidência de casos. Em 1987, a prevalência da esquistossomose, em Pedro de Toledo, tinha decrescido a 6%, o conjunto de ações de controle foi considerado um sucesso.

Nesta ocasião as atividades de risco foram determinadas, sendo as atividades recreativas como nadar, brincar e pescar em rios, as principais relacionadas à transmissão da parasitose. A área rural sempre apresentou maior prevalência de esquistossomose; atualmente, não se conhece ao certo a situação epidemiológica de Pedro de Toledo, Itariri e Miracatu .

Figura 6: Pedro de Toledo, área periurbana: caneleta à esquerda da rua é um criadouro de moluscos.

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