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A evasão no ensino superior é um tema muito discutido nos meios científicos, trata-se de um fenômeno que interfere na gestão universitária, pois contribui para o agravamento dos problemas de custeio. Representa um ônus para a sociedade, sobretudo pelo desperdício financeiro que acarreta (GOMES et. al., 2010).

O tema se tornou alvo das políticas públicas quando passou a figurar entre os indicadores de planilhas de alocação de recursos para as instituições federais de ensino, na segunda metade da década de 1990. Na sombra da lei, a evasão entrou para a agenda de conhecimentos e estudos a serem efetuados (ADACHI, 2009).

A conclusão do curso no prazo previsto pela instituição pode ser entendido como um indicador de eficiência do sistema educacional. A discrepância entre a duração prevista dos cursos e a duração real, efetiva, afeta os índices de produtividade e indica deficiência no sistema e suas causas merecem ser estudadas. (HOTZA, 2000, citado por PEREIRA, 2003).

Para Rosa (1994) o problema da evasão se constitui em um dos mais graves obstáculos à plena realização dos propósitos da universidade, gera custos sem gerar, em contrapartida, resultados. Em sua tese de doutorado apresentada em 1994, o autor questionava se a organização e a gestão universitária tinham algo a ver com o problema da evasão. Os resultados indicaram que, dentre as fontes de origem da evasão, os aspectos negativos existentes dentro da própria universidade mostravam que a gestão universitária tinha uma parcela de responsabilidade no problema. Aponta o autor:

Raramente encontra-se no Brasil algum estudo sobre causas de evasão que inclua aquelas internas à universidade pública, tais como: aulas ruins, currículos defasados, professores desestimulados, professores incompetentes, reduzida oferta de cursos noturnos e outras. (ROSA, 1994, p. 96)

Cita ainda o autor que através de pesquisas sobre o fenômeno da evasão no ensino fundamental é que foi constatada a importância da merenda escolar para diminuir o problema. “Se a evasão é alarmante no primeiro grau, porque colabora para a manutenção de elevadas taxas de analfabetismo, também o é no ensino superior, porque, além de outros aspectos negativos, onera exageradamente os custos que, em si, já são elevados” (ROSA, 1994, p. 2).

Borges e Aquino (2012, p. 134) quando analisam a expansão do ensino superior destacam: “... a problemática do alto índice de evasão é outra questão incompreensível e injustificável, pela irracionalidade e desperdício que expressa”.

SEVERINO (2009) infere que, se considerarmos, ainda, o número de vagas que não são preenchidas, bem como o número de formandos que não atuam no seu campo de formação, o quadro se torna mais desolador e desafiante, ficando difícil entender como convivemos com essa situação, dado seu ônus econômico, científico e cultural para o país. (BORGES e AQUINO, 2012, p.134)

A legislação brasileira, em suas várias formas, expressa o compromisso que as instituições de ensino superior devem ter com a formação profissional do aluno.

Conforme escreve Saviani (2008), a Lei nº 9.394/96, conhecida como a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, em seu artigo 43, capítulo IV, subtítulo Da Educação Superior, estabelece que:

[...]

Art. 43 – A educação superior tem por finalidade: [...]

II – formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.

[...]

O problema da evasão no ensino superior impede a instituição universitária de atingir suas finalidades específicas definidas em lei e é um empecilho à sua eficiência. Cabe à gestão política e administrativa o tratamento do problema para a correção dos seus rumos institucionais.

O combate à evasão no ensino é comumente ponto de destaque ou meta em planos políticos de governos. A título de exemplo, o plano de governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, pontuava, dentre 25 linhas de ação para a educação, a proposta de “estabelecer medidas com vistas à redução da evasão escolar” (RISTOFF, 2006, p. 47) Atualmente, o Plano Nacional de Educação para o período 2014 a 2024, promulgado pela Lei nº 13.005 publicada em 25 de junho de 2014, após 04 anos de tramitação, prevê 10 diretrizes e 20 metas para a educação no Brasil.

Dentre as referidas metas, a meta de número 12, que se refere especificamente à educação superior, prevê “elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público”. Na sequência, o plano destaca como estratégia para alcançar a meta “elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais nas universidades públicas para 90% (noventa por cento) ...”. Ora, diante de tais previsões, é de se supor que o governo federal irá de alguma forma cobrar as universidades públicas para que seja cumprida a meta de graduados e, nesse ínterim, o combate à evasão apresenta-se como uma das proposições que a Universidade Federal do Espírito Santo deve encampar.

Nunes et. al. (2006) têm uma visão otimista em relação à evasão. Argumentam os autores que, mesmo se constituindo uma ameaça no ensino superior, os números de evasão podem se converter em uma oportunidade para a universidade “... no sentido de que, com a queda da demanda, as universidades estão percebendo que a manutenção do aluno é tão importante quanto a sua captação”.

Os mesmos autores (op. cit.), ao percorrerem alguns aspectos da gestão universitária, identificaram que o ensino superior na atualidade busca tornar flexíveis seus currículos e conteúdos, em consequência de uma nova regulamentação e de novas tecnologias educacionais. Citam interessante exemplo do novo campus da USP, na Zona Leste da cidade de São Paulo, onde a possibilidade de diversificação proporcionada pela legislação foi posta em prática. Neste novo campus estão sendo oferecidas unicamente novas modalidades de graduação, entre as quais são enumeradas: Ciências da Atividade Física, Gerontologia, Obstetrícia e Marketing, áreas que fazem parte dos conteúdos dos cursos de Educação Física, Medicina e Administração respectivamente. Outro exemplo citado pelos referidos autores é o programa “Sexta Free”, oferecido pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) que consiste em oferecer disciplinas à distância às sextas-feiras, via tecnologias de informação e comunicação, favorecendo dessa forma os alunos que residem em locais afastados do campus. É o uso criativo do potencial da instituição pela gestão universitária, que detém o poder de decidir seus rumos e adaptar-se para atender a sociedade.