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3.2 PRODUÇÃO MAIS LIMPA

3.2.1 A evolução das questões ambientais

Em um processo produtivo os elementos de entrada podem ser os mais diversos, como por exemplo, água e energia, e os elementos de saída, diferentes tipos de produtos e resíduos. Esses elementos de saída possuem grande potencial de poluição no meio ambiente, e por isso devem ser considerados.

Para Lima (1991), citado por Rensi (2006), resíduo é considerado o resultado das atividades diárias do homem na sociedade, como sobras de alimentos, papéis, plásticos, vapores, poeiras e sabões.

A lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, define resíduos sólidos como:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Segundo Rensi (2006), os resíduos são originários de atividades industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola ou de varrição, apresentando características e composição variadas.

A geração dos resíduos só passou a ser considerado um problema com a intensificação do processo industrial, quando, com o aumento do volume produzido, se viu a necessidade de dar uma destinação a eles. Percebeu-se a complexidade dessa destinação à medida que a população foi aumentando, e, consequentemente a quantidade de resíduos produzidos por eles (SILVA, 2004).

Antigamente tinha-se o pensamento de que o meio ambiente era o provedor dos recursos naturais, e que ao extraírem-se esses recursos não se teria que arcar com nenhuma responsabilidade, resultado da inexistência de políticas ambientais e de fiscalização.

Segundo Cardoso (2006), a utilização das matérias primas pelas empresas, principalmente indústrias, foi marcado pela ineficiência dos processos produtivos, com a eliminação inadequada dos resíduos gerados e impactos diretamente causados ao meio ambiente.

De acordo com Marques e Sant'Anna, 2003, apud Cardoso, 2006, com a busca desesperada pelo lucro, as questões ambientais não eram consideradas. As instituições lucravam, e os impactos gerados durante o processo não eram internalizados, e sim relegados à sociedade.

A figura 2 mostra como se procedeu a evolução das questões ambientais.

Observa-se que passamos de uma fase em que o meio ambiente era considerado "livre", sem nenhum tipo de fiscalização, para a atualidade, onde o uso de tecnologias limpas e outras políticas ambientais estão em processo de inserção nas empresas.

Figura 2 - A evolução das questões ambientais

Fonte: CNTL, 2003

Com o passar dos anos realizaram-se diversas conferências mundiais com o objetivo de discutir os problemas ambientais advindos do crescente processo industrial e seus impactos negativos no meio ambiente.

Em 1968, especialistas reuniram-se em Roma para discutir a crise ambiental, com a criação do Clube de Roma, e, em 1983, criou-se a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de aliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

Duas outras conferências marcaram o momento de discussão ambiental: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia, e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Rio- 92, em 1992, realizada no Rio de Janeiro. Ambas refletiram a preocupação mundial com relação ao crescimento econômico baseado no modelo predatório.

A tabela 2 resume os principais fatos históricos da evolução ambiental no Brasil e no mundo.

Tabela 2 - Fatos históricos na evolução ambiental Período Fatos Históricos

1934 Primeira Conferência de Proteção à Natureza no Brasil 1945 Criada a Organização das Nações Unidas (ONU)

1948 Criada a União Internacional para a Conservação da Natureza e de seus Recursos (UICN)

1968 Criado o Clube de Roma 1972

Publicado o Relatório The limits of Growth (Os Limites do Crescimento) - Clube de Roma; Conferência de Estocolmo - ONU (primeira conferência mundial sobre o meio ambiente)

1973 Criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) - Brasil 1977 Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental -

Conferência de Tbilisi

1981

Sancionada a Lei nº6. 902 - Primeira lei ambiental do Brasil;

Sancionada a lei nº6. 938 - Política Nacional do Meio Ambiente; Criado o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA); Criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

1987

Divulgado o relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum) - Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (CMMAD)

1988 Promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil

1989 Criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

1990 Criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República

1992

Rio-92 - ONU: segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente; Publicado o relatório The World Environmental 1972-1992 (O Meio Ambiente Mundial) - PNUMA; Criado o Ministério do Meio Ambiente (MMA)

1997 Conferência Rio +5 (Rio de Janeiro)

1998 Promulgada a Lei nº 9.605 - Lei de Crimes Ambientais 2002 Conferência Rio +10 (Joanesburgo)

2003 Primeira Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA); Primeira Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente

2005 2ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA)

2007 Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas 2012 Conferência Rio + 20

Borges e Tachibana (2005) subdividem a evolução das questões ambientais em 3 fases distintas, identificadas na figura 3.

Figura 3 - Quadro evolutivo das questões ambientais

Fonte: Borges e Tachibana (2005).

Essas e muitas outras conferências introduziram o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), esse conceito é definido como àquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades (CARDOSO, 2006).

Segundo Rensi (2006), o Desenvolvimento Sustentável tenta aliar o crescimento econômico à necessidade da conservação ambiental.

Sachs (1986, apud Rensi, 2006) cita o Desenvolvimento Sustentável como uma forma de promover a satisfação das necessidades básicas, solidariedade com as gerações futuras, participação da população envolvida, preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, elaboração de um sistema social justo e, programas de educação ambiental.

O Desenvolvimento Sustentável visa integrar o avanço econômico a não degradação do meio ambiente. Isso pode ser feito através de diferentes maneiras, como por exemplo, o cumprimento de leis ambientais, substituição de tecnologias, alteração de produtos utilizados por aqueles não tóxicos ou recicláveis, modificação de processos utilizados, e tratamento de resíduos gerados.

A mudança de tecnologias e implementação de Sistemas de Gestão Ambiental passou a ser reconhecida como diferencial para a empresa, seja para fornecedores ou consumidores.

Por definição, um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é um sistema organizacional destinado ao controle de produto e atividades de uma empresa, para que essas sejam ecologicamente corretas. Diversas

normas ambientais foram criadas, sendo a ISO (International Organization for Standarization) responsável pela sua formulação.

A ISO foi criada em 1947, em Genebra, na Suíça, com o objetivo de criar normas internacionais. O Brasil participa através da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), responsável pela tradução e publicação das normas. O modelo de gestão ambiental proposto se baseia nos atos de planejar, executar, verificar e agir, visando à melhoria contínua dos processos de uma empresa.

A série ISO 14000, como um modelo de gestão ambiental, abrange seis áreas: sistema de gestão ambiental, auditorias, avaliação de desempenho, rotulagem, aspectos ambientais nas normas dos produtos e análise do ciclo de vida do produto. Para que o modelo seja efetivo dentro da empresa é necessário que haja comprometimento e uma avaliação e revisão periódica do sistema.

Cardoso (2006) salienta que, com uma maior preocupação ambiental e com um sistema de gestão ambiental implantado, as organizações submetem a tratamentos e a destinos adequados os seus resíduos (sólidos, líquidos e gasosos).

Com o objetivo de adequar-se aos padrões ambientais, com a redução de desperdícios, e, consequentemente o consumo de água, energia e a geração de resíduos, as empresas passaram a incorporar as chamadas Tecnologias Limpas, ou, a Produção Mais Limpa.

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