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1.1 – O SURGIMENTO DAS TELECOMUNICAÇÕES MODERNAS

Embora os telégrafos óptico e elétrico devessem ser excluídos do escopo das telecomunicações no sentido abordado nesta tese pela razão já indicada - serem inexpressivos na atualidade como meio de telecomunicação -, a necessidade de examinar a evolução dessas tecnologias cresceu à medida que se realizava a pesquisa para a elaboração deste texto. Isso ocorreu porque a história da telegrafia e o debate político e econômico que acompanhou a sua trajetória revelaram, com crescente evidência, que as questões centrais de então são as mesmas ou antecipam várias das problemáticas que envolveriam a posterior implantação de sistemas de telecomunicações mais avançados. Alguns aspectos das telecomunicações atuais, inclusive, surgiram há cerca de 200 anos, com a implantação do telégrafo óptico de Chappe, na França.

A revisão histórica a seguir permite afirmar que a discussão sobre o controle da telegrafia antecipa pontos centrais do debate, tal como ocorre ainda na atualidade, sobre as telecomunicações, tanto no que se refere aos aspectos políticos quanto aos econômicos e sociais. Em vista disso, este capítulo começa com um recuo à época em que ocorreu o desenvolvimento do telégrafo óptico.

Este capítulo é uma síntese da história das telecomunicações. Não pretende ser exaustivo, concentrando-se nos momentos críticos para o desenvolvimento das principais tecnologias e seus modelos de controle, sem estender-se na evolução tecnológica ou dos sistemas nacionais. Nele não se avançam análises ou elaborações teóricas. Seu objetivo é fornecer a informação histórica factual que embasa o texto do capítulo seguinte no qual, então sim, se trata de compreender o desenvolvimento internacional das telecomunicações com vistas a uma posterior abordagem dos casos argentino e brasileiro.

O telégrafo elétrico teve um duplo ponto de partida. Com tecnologia diferente, foi desenvolvido e implantado paralelamente na Grã Bretanha e nos Estados Unidos com um intervalo de apenas seis anos, aproximadamente.

No primeiro ponto de partida, em junho de 1837, Charles Wheatstone e William Cooke, obtiveram uma patente para seu aparelho e pouco mais de dois anos depois iniciaram as operações de uma linha ligando duas estações da ferrovia inglesa The Great Western

No segundo ponto de partida, em março de 1843, Samuel Morse recebeu autorização e recursos para construir a primeira linha experimental de telégrafo entre Washington e Baltimore.

A partir dessas duas experiências, o sistema se expandiu com rapidez para os padrões da época, ligando as principais cidades da Europa continental e dos Estados Unidos e cruzando o Atlântico, em 1866 a partir de tentativas iniciadas em 18571. Rapidamente superado pelo telefone como meio de comunicação de curta distância em terra2, o telégrafo só entrou em declínio irreversível como meio de transmissão de mensagens intercontinentais na segunda metade do século XX, quando foram instalados os primeiros cabos telefônicos transoceânicos. Já o código Morse teve vida ainda mais longa e só foi oficialmente abandonado como linguagem de emergência marítima em 19993.

Quando as redes telegráficas se tornaram suficientemente amplas, foi possível aposentar os pombos-correios até então utilizados na transmissão de mensagens breves4 e as redes de telégrafo óptico, estabelecidas em diversos países (inclusive o Brasil5), mas principalmente na França, onde alcançou uma amplitude e sofisticação que justifica sua inclusão neste trabalho.

1

OSLIN (1992) p. 167. HUURDEMAN (2003) aborda as tentativas de 1858, mas não faz referência ao fracasso de 1857 p. 130/3.

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FLICHY (1997) trata detalhadamente da penetração da telefonia, em especial nos EUA, indicando que em 1910, um quarto dos lares urbanos norte-americanos já contavam com telefone, fração que subiu para mais de 40%, em 1925 (p. 130). A expansão foi ainda mais surpreendente em certas áreas rurais. Em 1913, a metade das propriedades rurais tinha ligação telefônica (p. 126, nota de rodapé).

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A primeira mensagem de emergência por rádio foi enviada quase exatos cem anos antes, no dia 29 de abril de 1899, quando o navio britânico East Goodwin comunicou a uma distância de 22 km, que havia sido abalroado pelo vapor também britânico Matthews. HUURDEMAN (2003) p. 211/2. Em 01 de fevereiro de 1999, o Código Morse deixou de ser utilizado internacionalmente no Sistema Global de Emergência e Segurança Marítimas. Antes disso, porém vários países suspenderam sua utilização em suas águas territoriais. A última mensagem em Morse em águas territoriais francesas, transmitida em 31 de janeiro de 1997, tornou-se célebre pela forma anedótica como foi comunicada: Calling all. This is our last cry before our eternal silence (Chamando a todos. Este é nosso último grito antes do nosso eterno silêncio), dizia a insólita mensagem, conforme reportagem da revista The Economist, reproduzida pela Gazeta Mercantil de 12 a 14 de fevereiro de 1999, caderno de fim de semana p. 4. A “dramática” despedida foi citada em palestra radiofônica sobre a globalização por GIDDENS (1999). Emissões de despedida foram feitas também na Austrália, e registradas para a posteridade em site australiano conforme JORNAL ELETRÔNICO NOVO MILÊNIO (s.d.). Ironicamente, anos antes das emissões de despedida, no norte da Europa era criado o Short Message Service (SMS), um sistema de breves mensagens de texto, atualmente populares como serviço paralelo à telefonia celular, no Brasil mais conhecido como “torpedos” e que a fabricante de telefones celulares popularizou com um sinal sonoro de três sons curtos, três longos e três curtos, que em código Morse correspondem às letras S, O e S, parodiando a tradicional mensagem de pedido de socorro S O S. Mais irônico ainda, desde então foram realizadas competições entre exímios operadores de código Morse e de mensagens de texto via celular. De um modo geral, os operadores de Morse foram mais rápidos.

4

A esse respeito ver a curiosa história da fundação da Agência de Notícias Reuters, fundada por Julius Reuter. HUURDEMAN (2003) p. 88.

1.2 - O TELÉGRAFO ÓPTICO

A rede de telégrafo óptico foi desenvolvida por Claude Chappe (1763-1805) no final do século XVIII. Em seu apogeu, chegou a ser a maior e mais complexa rede de telecomunicação do mundo – entendida como comunicação à distância sem transporte físico das mensagens, embora a rigor não ocorresse uma transmissão das mensagens e sim sua leitura à distância – e funcionou até o final de 1856, quando foi desativado em território francês (embora tenha operado por mais alguns anos na Argélia)6.

O telégrafo de Chappe era composto por uma série de torres instaladas à distância de alguns quilômetros entre si. Estavam situadas em lugares elevados, sobre prédios ou sobre bases de pedra. Nesses locais instalavam-se hastes às quais ligavam-se dois braços móveis de madeira, cujas posições indicavam letras. Em cada torre, o operador “lia” a mensagem sinalizada pela torre anterior e a repetia à torre seguinte. Ao ser desativada, a rede cobria cerca de 5.000 km e contava com 534 estações7.

Desenvolvido quando a França vivia um dos períodos mais conturbados da Revolução8, o telégrafo de Chappe imediatamente foi percebido por sua utilidade estratégica.

6

OSLIN (1992) SOLYMAR (1999) e HUURDEMAN (2003).

7

SOLYMAR (1999) p. 30.

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No início de 1793, recomeçou a guerra contra a coalizão formada por Inglaterra, Holanda, Áustria, Prússia, Espanha e Sardenha. A fase final da construção da primeira linha coincidiu com o auge do terror revolucionário, seguido da condenação e execução de Robespierre (27 e 28/07/1794). Curiosamente, a confusão parece ter “contaminado” os historiadores das telecomunicações pesquisados. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, a inauguração ocorreu com a notícia da retomada de Le Quesnoy, em 15 de agosto de 1794, acrescentando que uma quinzena depois o mesmo ocorreu com Condé. INTERNATIONAL UNION OF TELECOMMUNICATIONS (1965) p. 13. HOLZMANN e PEHRSON fornecem detalhes sobre o trabalho inicial de Claude Chappe e sobre o funcionamento de seu telégrafo, afirmando que ele fez a primeira experiência pública com seu telégrafo em 2 de março de 1791, numa distância de 16 km, reproduzindo relatos de testemunhas, mas não faz referência precisa ao início das operações. HOLZMANN, Gerard J e PEHRSON, Björn (s.d.). Segundo o histórico das telecomunicações na França, disponível no site da ex-estatal France Telecom, o projeto foi aprovado em 1º de abril de 1792, pela Convenção, que nomeou Chappe o primeiro “ingénieur télégraphe”. FRANCE TELECOM (s/d). Conforme LAMMING, Clive e, PICARD, Serge (s.d.), Chappe, efetivamente fez a primeira experiência pública em 2 de março de 1791, numa distância de 15 km, apresentou seu projeto aos poderes públicos em 22 de março de 1792 e realizou uma demonstração aos comissários da convenção em 12 de julho de 1793 e em 1794, a transmissão de Paris a Lille é feita em 2 minutos. HUURDEMAN (2003) afirma que Ignace Chappe conseguira que Claude fizesse uma demonstração da versão aperfeiçoada do invento à Convenção em 22 de março de 1793 [sic] e inaugurado em 15 de agosto de 1794, com a notícia da retomada da cidade de Quesnoy pelas tropas francesas, o mesmo ocorrendo em 1º de setembro com relação à retomada de Condé-sur-l’Escaut. OSLIN (1992) relata as dificuldades enfrentadas por Chappe nas experiências realizadas em 1792, e, sem indicar datas, que obteve ajuda financeira e proteção governamentais para construir a primeira linha, inaugurada em 15 de agosto de 1794, com a notícia da retomada de Quesnoy. SOLYMAR (1999) afirma que com a ajuda de Ignace, que era membro da Assembléia Legislativa, Claude estava em condições de submeter uma proposta de construção à Assembléia em março de 1792. O projeto teria recebido o apoio do presidente do Comitê de Instrução Pública aos planos apresentados em 1º de abril de 1793, com experiências com três estações e a uma distância de 35 km em 12 de julho de 1793.

Submetido ao governo revolucionário, o projeto foi aprovado e teve a primeira linha, entre Paris a Lille, inaugurada em 15 de agosto de 1794, com a notícia de uma vitória militar no norte do país, cerca de uma hora depois de ocorrida. Como aconteceria a partir de então com praticamente toda nova tecnologia de comunicação, o telégrafo de Chappe foi saudado como uma invenção revolucionária, que permitiria uma maior compreensão entre os povos e estabelecer, em escala nacional, a democracia grega da Ágora9.

A natureza militar das primeiras mensagens relegou ao segundo plano as aplicações civis públicas da invenção. Seu potencial civilizatório foi adiado para tempos mais tranqüilos e o sistema passou a ser utilizado apenas para mensagens oficiais e cifradas, com exceção da transmissão dos resultados da loteria nacional, que contribuía para o financiamento dos custos operacionais do sistema10. Em 1831, Alexandre Ferrier propôs a criação de um telégrafo óptico privado e, apesar da oposição de Alphonse Froy, responsável pela operação da rede criada por Chappe, construiu uma linha entre Paris e Rouen, inaugurada em julho de 1833 e retirada de operação no final do mesmo ano. Em março de 1837, foi aprovada uma lei proibindo a telegrafia privada11. Assim, na França, legalmente a abertura do telégrafo óptico à transmissão de mensagens privadas só ocorreu muito depois da introdução do telégrafo elétrico12.

O debate na França sobre a conveniência de permitir o uso privado da rede estatal e de substituir o telégrafo óptico pelo elétrico durou anos. Em novembro de 1844, o governo formou uma comissão encarregada de elaborar um parecer sobre o telégrafo elétrico. Em menos de 15 dias o trabalho foi concluído com a proposta da construção de uma linha

SOLYMAR relata o entusiasmo dos membros da Convenção (que sucedera à Assembléia Legislativa) nos debates do dia 26 de julho de 1793. A inauguração teria ocorrido em 15 de agosto de 1794, com a notícia da retomada da cidade de Quesnoy pelas tropas francesas, o mesmo ocorrendo com relação à retomada de Condé- sur-l’Escaut, em data não indicada. As batalhas não foram suficientemente importantes para serem mencionadas pelos livros sobre a Revolução Francesa consultados. MATTHIEZ (1935) e MANFRED (1972), que tampouco fazem referência a Chappe e seu telégrafo.

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With the inauguration of the first line in 1794, Barère exclaimed: ‘It is a means which tends to consolidate the

unity of the Republic through the close and rapid contact it allows all parties. Modern peoples, through printing, gunpowder, the compass, and telegraphic sign language, have removed the major obstacles to the civilization of mankind’... Revolutionary thinkers presume it would suffice to multiply the number of lines and free their coded language, thus enabling all people in France to ‘communicate their information and their wishes’. The conditions of the Greek agora would thus be reproduced nationwide and Jean-Jacques Rousseau’s objection against the possibility of ‘large democratic republics’ would lose its validity... MATTELART (2000) p. 3/4.

10

SOLYMAR (1999) p. 32.

11

O texto, que foi aprovado por ampla maioria na Câmara e por quase unanimidade no Senado, estabelecia que

Anyone who transmits any signals without authorization from one point to another one whether with the aid of mechanical telegraphs or bay any other means will be subject to imprisonment for a duration of between one month and one year, and will be liable to a fine of from 1.000 to 10.000 francs. SOLYMAR (1999) p. 34.

12

Conforme MATTELART (2000), isso teria ocorrido quinze anos após a invenção do telégrafo elétrico em

experimental entre Paris e Rouen, tendo por base a importância que a telegrafia elétrica vinha adquirindo nos EUA, na Grã Bretanha e na Alemanha13.

Cerca de um ano depois da construção do projeto experimental, começou a construção da primeira linha regular entre Paris e Lille, como ocorrera com a experiência pioneira do telégrafo óptico14. No entanto, o serviço continuou vedado ao uso privado em termos inequívocos, conforme declaração do ministro do Interior, em 1847: la télégraphie dói être

um instrument politique et non um instrument commercial15.

O sucesso do sistema francês fez com que o telégrafo óptico fosse copiado ou desenvolvido com características locais em vários países da Europa e da América16. A versão britânica, consideravelmente menor, permaneceu em atividade até 1847, cerca de dois anos depois da inauguração da linha de telégrafo elétrico entre Londres e Gosport17. No início, os sistemas estavam submetidos ao controle administrativo e militar, mas isso nem sempre impedia o “vazamento” das informações, quando não codificadas, já que a necessidade de contato visual expunha as torres à observação pública18. Sob esse aspecto, os pombos além de não serem interrompidos por problemas climáticos menores, tão comuns na parte norte da

13 FLICHY (1997) p. 63/4. 14 FLICHY (1997) p. 64. 15 FLICHY (1997) p. 65. 16

Conforme SOLYMAR, por volta da metade do século XIX, todos os países europeus “da Rússia a Portugal” tinham algum sistema do gênero. O mesmo autor dedica um anexo a eles. SOLYMAR (1999) p.38. OSLIN menciona diversas linhas de curta distância, que operaram nos Estados Unidos, de um modo geral fornecendo informações sobre movimento de navios, a primeira das quais instalada em 1801, por Jonatthan Grout Jr. entre Martha’s Vineyard e Boston. OSLIN (1992) p. 6. Segundo INTERNATIONAL UNION OF TELECOMMUNICATIONS (1965) ,na Alemanha, o telégrafo visual chegou a contar com uma linha de 750 km entre Berlin e Coblenz, em 1833, enquanto o Czar Nicolau I inaugurava, em 1838, uma linha entre Moscou e Varsóvia, que envolvia 220 estações e 1320 operadores. INTERNATIONAL UNION OF TELECOMMUNICATIONS (1965) p. 43. Para um quadro sintético dos sistemas de telégrafo óptico implantados na Europa, com dados de amplitude, tecnologia e datas, ver HUURDEMAN (2003) p 40/44.

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. A linha, impulsionada pelo Almirantado com base no projeto de Lord George Murray, foi inaugurada em 1796 e ampliada em 1806 e 1808. Ao final da Guerra, a linha foi desativada, o que significa que não estava disponível quando Napoleão reassumiu o poder até a derrota em Waterloo. Isso levou o Almirantado a determinar a criação de novas linhas, utilizando outro sistema, que funcionou até 1846. SOLYMAR (1999) p. 36. Conforme INTERNATIONAL UNION OF TELECOMMUNICATIONS (1965) p. 13, a “linha” inicial entre Londres e Deal foi desdobrada para outros portos, como Plymouth e usada até 1847. Embora a bibliografia consultada não faça referência a respeito, é provável que a desativação dessa linha de telegrafia óptica tenha sido conseqüência da entrada em operação da linha de telégrafo elétrico ligando Londres a Gosport, perto de Portsmouth, inaugurada com uma mensagem da Rainha Victoria, em fevereiro de 1845. CONNECTED EARTH (s.d.).

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Para evitar isso e tornar mais rápida a transmissão, o sistema francês utilizava um código sofisticado, ao invés do idioma corrente. Além disso, utilizava um conjunto de sinais de operação que se incorporaram ou de forma semelhante foram necessários a todo tipo de telecomunicação posterior que não permitisse a dupla via simultânea (telégrafo elétrico, rádio, etc). Em Londres, o destinatário das mensagens era o Almirantado, mas a torre estava situada na Catedral de Westminster e as mensagens não eram codificadas, permitindo que seu conteúdo logo se tornasse de domínio público. Consta que a cidade teria vivido horas de pânico com a informação chegada de Portsmouth pelo telégrafo óptico segundo a qual o Duque de Wellington, comandante contra as tropas napoleônicas na Espanha teria sido derrotado. A mensagem completa, mas transmitida letra por letra, consistiria em: Wellington defeated the enemy, mas teria sido interrompida devido à neblina, quando apenas as duas primeiras palavras haviam chegado, fazendo supor que suas tropas tivessem sido derrotadas.

Europa, eram mais discretos, circunstância ampla e lucrativamente explorada pela família de banqueiros Rothschild, embora estudos mais recentes indiquem que os ganhos assim obtidos pela famosa casa bancária fossem menores que os geralmente estimados19.

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Por volta de 1815, uma notícia suficientemente importante para afetar os negócios da Bolsa de Amsterdam numa segunda-feira teria impacto na Bolsa de Londres na quinta-feira. Por isso, quando Nathan, o Rothschild de Londres ostensivamente recebeu uma informação e passou a vender seus papéis, a atitude foi tomada como indício de que os ingleses haviam sido derrotados por Napoleão em Waterloo. O chamado efeito “manada” foi imediato com as cotações despencando. Horas depois, Nathan passou a recomprar os papéis obtendo um lucro que torna o episódio um exemplo do uso de informações privilegiadas até hoje. Esse episódio é narrado com variável detalhamento por diversos autores. Segundo Oslin, os banqueiros Rothschild utilizavam regularmente pombos correios para enviar notícias entre as capitais européias, mas baseado na obra de Joseph Wechsbert The

Merchant Bankers, no caso de Waterloo, ao contrário da versão amplamente difundida, teriam utilizado os

serviços de um emissário. OSLIN (1992) p. 11. Carmack chega a incluir o nome do agente do banqueiro presente na batalha de Waterloo e a fisionomia de Nathan Rothschild ao fazer suas operações na bolsa de Londres. CARMACK (s.d.). Já para Ferguson, autor da obra mais detalhada sobre os Rothschild atualmente disponível, tudo não passaria de mito: “This Idea that Nathan profited from the dramatic events of 1815 is central to

Rothschild mythology”, – um mito que situaria os lucros entre £ 20 milhões e £ 135 milhões. Conforme

Ferguson, os aspectos mais fabulosos do caso (a presença do próprio Nathan em Waterloo, sua viagem por um mar tormentoso e a fortuna ganha) já teriam sido há muito refutados, mas admite, seguindo o relato de Victor Rothschild, que Nathan tenha obtido algum lucro com a derrota de Napoleão, pouco mais de £ 10 mil. FERGUSON (1999). p. 96. De acordo com o mesmo autor, o mito teria surgido com La Maison de Nucingen, livro ficcional de Honoré de Balzac, inspirado nos Rothschilds. e ganhou corpo com o panfleto de Georges Dairnvaell The Efifyling and Curious History of Rothschild I, King of the Jews (1846) p. 15 [referido em inglês por Ferguson]. Mito ou não, a versão sobrevive a ponto de que, em 27 de março de 2000, o diretor da Division of

Investment Management da U.S. Securities & Exchange Commission, Paul Roye, ainda citava o episódio numa

1.3 – INVENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO TELÉGRAFO ELÉTRICO

A invenção do telégrafo elétrico é geralmente atribuída a Samuel Morse, especialmente nos textos não especializados. No entanto, em diversos países, os experimentos a respeito eram realizados havia muito tempo20, sendo numerosas as experiências que estavam em andamento simultaneamente na década de 1830; assim como as disputas judiciais quanto a patentes e direitos21. Mais que isso, como indicado no início deste capítulo, na Inglaterra, a primeira linha telegráfica elétrica operou regularmente já no final da década de 183022, desenvolvida por Wheatstone e Cooke23.

1.3.1 - O Pioneiro Telégrafo Inglês

Charles Wheatstone e William Cooke, obtiveram a patente em 12 de junho de 1837 e fizeram a primeira demonstração pública um mês e meio depois. Em 9 de julho de 1839, eles

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As origens do telégrafo elétrico podem ser encontradas cerca de cem anos antes dos experimentos de Morse, conforme MACSKASI e NIXT (2000). FLICHLY, após fazer uma breve mas abrangente revisão histórica do desenvolvimento da telegrafia, acaba endossando a posição do historiador inglês Robert Sabine que, já em 1867 afirmava: “Le télégraphe électrique n’a pás, a proprement parler, d’inventeur. Il a grandi petit à petit, chaque

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