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A exclusão social ou a ausência de “capacidade social”

PARTE I. ENQUADRAMENTO TEORICO DA PESQUIS A

4.1 A exclusão social ou a ausência de “capacidade social”

Talvez fosse necessário começar por constatar que a exclusão está relacionada com a insatisfação, o mal-estar de todo o ser humano quando se encontra em situações nas quais não pode realizar aquilo que deseja e ambiciona para si próprio e para a sua família. Partindo deste ponto de vista, a exclusão teria uma certa carga subjectiva, apoiada em acções materiais. Será igualmente necessário recordar que, por vezes, exclusão que segue determinadas modas, hábitos ou ideias dominantes, pode ser vivida de forma positiva por uma pessoa, um grupo, uma comunidade, reforçando assim a sua coesão interna. Noutras ocasiões, a auto exclusão pode ser uma das condições para estimular a criatividade artística e intelectual ou uma vida e reflexão mais filosófico-religiosas. (ESTIVILL, 2003:13)

Associado ao conceito de «pobreza» aparece o de «exclusão». CAPUCHA (1998:217) distingue o conceito «pobreza» do conceito de «exclusão social» dizendo que a pobreza nem sempre se traduz em situações de exclusão social. O conceito de «exclusão social» surge a partir da crise da década de 70, em virtude das transformações (rápidas), do ponto de vista económico, social, político e cultural que as sociedades enfrentam (ESTIVILL, 2003:121).

A pobreza está intimamente ligada à insuficiência de recursos materiais, culturais ou sociais, ao passo que a exclusão social se situa no domínio do acesso aos direitos e deveres, colocando as pessoas à margem do exercício da sua cidadania. A conjugação destes dois fenómenos, pobreza e exclusão social, que aparecem não raras vezes associados, coloca as sociedades actuais perante graves problemas de (des)inserção e por vezes de marginalidade.

“ (...) produzem-se situações de exclusão social porque a sociedade não é capaz de oferecer a todos os seus membros a possibilidade de beneficiarem de todos os seus direitos e deveres. O resultado é as pessoas desfavorecidas perderem o estatuto de cidadania plena (...) “ (CAPUCHA, 1998: 211)

Segundo GARCIA et al, os espaços de pobreza e de exclusão transformam um indivíduo num estado total de ausência de “capacidade social” e de autonomia pessoal.

“(...) O “excluído” é-o por uma condição ditada pelo estado de sujeição quanto à forma como deve viver, aos trabalhos a que tem de recorrer, aos cursos a que pode aspirar, às profissões a que se deve adequar, às condutas que deve evitar, ao comportamento humilde-agradecido-humilhante que deve demonstrar (...)” GARCIA et al (2000:211)

Também SEBASTIÃO (1998:10) compreende o conceito de «exclusão social» de forma semelhante, ao percepcioná-lo como gerador de uma fraca capacidade de definição da trajectória pessoal do indivíduo.

Quando se fala da pobreza e exclusão social, das desigualdades e reprodução social tende-se, muitas das vezes, a partir de um olhar construído e projectado pelos não pobres, como nos diz FRIEDMAN.

“(...) A pobreza é tradicionalmente definida por aqueles que se julgam socialmente superiores aos pobres (...)” (FRIEDMAN, 1996:59-60).

A pobreza não aparece apenas ligada ao sub-desenvolvimento; a crescente complexidade do mundo moderno acentua as assimetrias e contrastes existentes entre os mais em pobres e os mais ricos, não só em Portugal como no resto do mundo. Neste sentido, um modelo de desenvolvimento alternativo ganha especial relevância, no cenário actual de crescimento económico, já que, como nos diz FRIEDMAN (1996:75), é o modelo económico seguido na maior parte das sociedades modernas que exclui os «pobres» do exercício da sua cidadania que lhes retira, na terminologia de GARCIA et al (2000:11), a sua “capacidade social” e a sua “autonomia pessoal”.

“ (...) O crescimento económico dominante torna muita da população supérfula às necessidades da acumulação do capital. Os constrangimentos sobre os pobres são, portanto, estruturais no sentido em que o sistema de relações de poder que sustentam a produção capitalista actuam também para manter os pobres disempowered. Não proporciona o pleno emprego na economia formal; promove um crescimento de um padrão de propriedade de terra que reduz pequenos camponeses a uma condição de virtual dessapossamento de terras; expulsa a “subclasse” da efectiva participação política. Avançar para além da sobrevivência significa, então, que as relações de poder dominantes na sociedade terão que mudar” (...)” (FRIEDMAN, 1996: 75)

Os pobres, ao verem-se excluídos do mercado de trabalho e da participação social e política, acabam por não ter os meios para se ajudar a si próprios. Assim FRIEDMAN(1996:76) defende que na luta contra a pobreza e pela inclusão social e política, o papel das organizações externas é providenciar apoio de modo, a encorajar os disempowered a libertarem-se da dependência tradicional.

Também COSTA (1985:2000) refere que a definição de coordenadas para uma política de erradicação de pobreza deverá criar condições para a viabilização de uma maior participação dos pobres na vida pública, para que estes se possam expressar no quadro normal das instituições democráticas.

Em síntese, da confrontação teórica entre os diferentes autores que estudam os fenómenos de «pobreza» e «exclusão social» se conclui que se queremos actuar sobre

as causas da pobreza, deveremos procurar compreender os motivos que lhe estão subjacentes e que são natureza complexa. De igual forma, os modos de actuação para a sua erradicação e portanto para a promoção de uma sociedade mais inclusiva são objectivos ambiciosos porque pressupõem, não só um reequacionar do modelo de desenvolvimento vigente, como colocar o enfoque naqueles que são, frequentemente, vistos como problema e não como parte importante da solução, isto é, os «pobres».

“ (...) Os programas de anti-pobreza eficazes não podem ser criados e viabilizados de cima para baixo através de uma burocracia obediente, mas deve emergir da confusão da política na qual os pobres continuamente exercem pressão para o apoio, ao nível macro, às suas próprias iniciativas (...)” ( (FRIEDMAN, 1996:71)