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A expansão das Matrículas e as Políticas de Inclusão no Ensino Superior

No documento REVISTA COMPLETA (páginas 50-52)

Como foi apontado anteriormente, a educação formal adquiriu crescente importância nas socie- dades modernas, seja no âmbito da socialização, seja na determinação dos papéis sociais dos indiví- duos. Se assim acontece, e tendo em vista que a escola não é o primeiro e nem o único ambiente de socialização frequentado pelos indivíduos, há fatores exteriores à escola que auxiliam na determinação da trajetória escolar.

Segundo dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2017) entre os anos de 2006 e 2016 houve um aumento de 62,8% nas matrículas em IES, totalizando algo em torno de oito milhões de estu- dante4s (8 052 254). Deste total, 75,3% são matrículas em instituições particulares. Ainda em 2016, houve 3 milhões de novas matrículas, 82,3% em instituições privadas e somente 17,7% em instituições públicas. Por fim, foram concedidas 239 263 bolsas do ProUni em 2016.

Atualmente a taxa líquida de matrícula no Ensino Superior no Brasil se encontra na casa dos 15% segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2016. Esse valor é con- siderado baixo mesmo em termos de América Latina (NEVES, 2013) e ainda abaixo da Meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) que estabelece uma taxa líquida de 33%4. No entanto,

a situação agrava-se a medida que descemos a pirâmide social brasileira, sendo que grande parte da po- pulação que ocupa as posições mais baixas – com menores níveis de renda e de educação formal – está praticamente excluída dos cursos superiores, promovendo uma reprodução intergeracional das desi- gualdades socioeconômicas (PICANÇO, 2015).

Até o fim dos anos de 1990 o acesso às IES – tanto públicos como privados - se dava quase que exclusivamente através de exames de aprovação, os vestibulares. Porém,

4Para ver mais sobre o PNE, acessar:

http://pne.mec.gov.br/

Dossíê

os exames não eram o suficiente para garantir o acesso democratizado, devido à diversidade socioeco- nômica que promovia diferentes aproveitamentos acadêmicos. As camadas populares eram as mais ex- cluídas deste processo pois, como destaca NEVES (2013), a condição familiar marcada por dificuldades econômicas permitia que poucos estudantes e suas famílias pagassem pelo ensino e também as vagas em instituições públicas de ensino superior, onde o ensino era gratuito, são disputadíssimas. Ainda pode- mos destacar como fatores que contribuíram para a exclusão desses jovens: (a) o nível de dificuldade das provas, provavelmente em função da enorme procura e da escassez de vagas, em comparação com a qualidade de ensino oferecida pelas instituições públicas as quais eles frequentaram durante o ensino bá- sico; e (b) a predominância da oferta de cursos diurnos na IES públicas, impossibilitando a frequência daqueles jovens que precisavam trabalhar.

A condição de acesso tem melhorado nos últimos dez anos devido uma série de medidas do governo federal que procuram através de diferentes políticas permitir o ingresso de jovens das camadas popula- res no ensino superior. Atualmente as duas políticas se referem à democratização do acesso são a polí- tica de cotas e o ProUni. Tais políticas de correção, ou compensatórias, compõe um conjunto de outras medidas que configuram uma perspectiva geral, não só do Brasil, de investimento na ampliação da qua- lidade da educação formal como estratégia mais ampla de combate às desigualdades. Segundo CAS- SASSUS (2007) esse interesse pela qualidade surgiu pela primeira vez nos EUA durante a década de 1980 após a publicação do relatório da Comissão Nacional de Excelência em Educação. De acordo com o autor:

No decorrer desses debates nacionais e internacionais, configurou-se um consenso em torno da ideia de que a educação é o instrumento de política pública mais adequado para resolver os problemas cruciais da sobrevivência e do desenvolvimento das sociedades como são o crescimento econômico e a integração social. (CASSASSUS, 2007, p. 42)

As políticas de cotas surgiram no país em 2003 e, desde então, têm provocado críticas e elogios. As críticas se dividem em diversos tipos, porém a mais frequente é relativa à capacidade intelectual dos alunos cotistas e uma suposta ameaça à qualidade das universidades. Desde então se têm desenvolvido o interesse científico sobre o tema e não são poucos os trabalhos que investigam a relação entre as cotas e rendimento5. VELLOSO (2009), em trabalho recente, apontou que há pouca diferença significativa

entre os rendimentos de cotistas e não-cotistas, porém não discorre demasiado sobre o assunto, atri- buindo o bom rendimento dos não-cotistas a uma autos seleção. Porém apontou que entre os alunos cotistas da UnB entre os anos de 2004 e 2005 dos cursos da área de Humanidades houve alteração do perfil socioeconômicos dos alunos, em especial um aumento considerável no percentual de alunos que tinham mães com ensino superior completo (de 34% para 44%), resultando numa melhoria dos re- sultados de um ano para outro (VELLOSO, p. 630). Com a recente aprovação do senado do projeto de lei 180/2008, que reserva 50% das vagas das Universidades Federais aos alunos provenientes da rede pública de ensino, deve-se considerar que haverá alteração no quadro atual das universidades, pois, tal medida tem intuito de corrigir as desvantagens de origem e permitir que maior diversidade socioeco- nômica nas universidades públicas. Deve-se salientar que as políticas de reserva são orientadas para fa- vorecer a igualdade, observando indicadores quantitativos no que se refere à igualdade de acesso à educação superior pública, ou seja, se refere ao número de matrículas, com o objetivo de favorecer a he- terogeneidade socioeconômica em um espaço onde prevalece a presença das camadas

privilegiadas economicamente.

5MATTOS, 2006; VELLLOSO,

2009; WELLER, 2007; entre ou- tros

Dossíê

Programa Universidade para todos (ProUni) é um projeto do governo federal que tem como ob- jetivo a concessão de vagas em instituições de ensino particulares para estudantes de baixa renda través de bolsas que podem ser integrais ou parciais (25% e 50%). A contrapartida do governo federal para essas IES particulares é isenção de alguns tributos. O programa foi institucionalizado pela lei 11,096 de 2005 e desde então tem tido um papel importante não só para a democratização do acesso entre as camadas populares, como na expansão do sistema particular no país6.

Sabe-se, de acordo com o que foi apontado por FERNANDES (2006) e outros autores (SILVA; HASENBALG, 2002) que a igualdade de acesso reduz à medida que se sobe no nível de ensino e, por- tanto tais políticas se justificam. Porém, para a igualdade de resultados há poucas informações. A igual- dade de resultados encontra-se claramente hierarquizada por estratos sociais (CASSASSUS, 2007). O rendimento está relacionado não só com as trajetórias escolares desses estudantes, mas também com as disparidades das estruturas sociais as quais serão inseridos quando comparadas à sua origem social.

No documento REVISTA COMPLETA (páginas 50-52)