• Nenhum resultado encontrado

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2 Experiência

6.2.5 A experiência do nascimento vivenciada por Luciana

Luciana procurou o hospital após a saída do tampão mucoso (ela achava que era líquido amniótico após rompimento da bolsa) e sem contrações dolorosas. No entanto, ao chegar à maternidade, a bolsa rompeu e as contrações começaram, então foi orientada a caminhar. Foi internada com 2cm de dilatação, quando as contrações já estavam muito dolorosas. Teve acesso à bola para se exercitar e recebeu massagem para alívio da dor, por sua sobrinha. Foram realizados outros exames de toque, quando estava com 3cm e depois com 5cm. Quando estava com 9cm de dilatação, recebeu ocitocina sintética, “aí quando ela botou

o soro, aí é que a dor dobrou! Aí, eu fiz: „ai meu Deus do céu, eu não aguento mais não, doutora, eu já tou fraca, não aguento mais não. ”

Relatou muita dor e sentimento de fraqueza durante o trabalho de parto, “eu tava tão

passada, que eu não queria saber se era cesáreo ou se era normal, eu só queria passar a dor, queria que a minha dor passasse, entendeu? ” No período expulsivo, sentou numa banqueta,

“aí, quando a dor veio, ela [sua irmã] tava aqui do meu lado e eu ia mordendo o ombro dela,

pano: „é cachorro agora, é? ’” Luciana sentia que estava fazendo toda a força que podia,

então a médica que a estava acompanhando perdeu a paciência e saiu, ficou apenas outra médica que a ajudou a deitar e continuou estimulando que fizesse força, “aí foi um anjo na

minha vida. ”

Fez um novo toque, disse ter sentido a orelha do bebê e que precisaria utilizar fórceps, “Aí, uma [enfermeira] foi pra um lado, a outra foi pro outro. Aí, quando eu disse a ela „é

agora a dor, é agora a dor, ‟ ela fez: „vá, faça força, mãe, faça força. ‟ Aí, quando eu fiz a força, uma pegou na minha perna, outra pegou na outra, aí conseguiu puxar ele. (...)puxou com ferro, aí quando puxou, eu não tava mais vendo ele. Aí, ela botou ele aqui em mim, a enfermeira fez „mãe, olhe seu bebê aqui, olhe, dê um beijo nele. ‟ Aí, eu fiz assim, aí eu vi ele cortado aqui. ”

A médica que havia saído retornou, “ela: „não sei como é isso não, já vi alguém sentir

dor...‟, e, assim, nervosa comigo, „eu já vi alguém sentir dor e ter força de botar pra fora, mas desse jeito... eu não tou entendendo essa menina não, eu já perdi toda a minha paciência. ” Luciana foi então levada para a sala de cirurgia, recebeu anestesia e passou por

uma curetagem para retirada da placenta, “ela tava dando ponto e a hemorragia... aí minha

irmã entrou na sala, do grito que eu dei, disse „tire essa mulher daqui‟. (...) Eu já tava mole, eu já tava pedindo a Deus: „será que eu vou morrer, meu Deus? ‟ Com medo de fechar os olhos. ”

Após o nascimento, o bebê foi levado para o berçário. A médica informou que ela iria precisar de fisioterapia, mas esqueceu de dar o encaminhamento. Quando tentou retornar para a maternidade, não conseguiu o encaminhamento e nem uma consulta com a médica que a acompanhava no pré-natal, “Aí, a gente não tem direito mais a volta, a gente fica à mercê,

porque a gente já tá ponteada, desse jeito, com menino no braço. ”

Um mês depois, ainda sentindo dor, conseguiu atendimento ginecológico em outro hospital, quando soube que estava com uma inflamação, “o que eu tou achando estranho é

que tou soltando gases o tempo todo. (...) E fedendo, né? Que a gente fica fedendo. Tudo isso, que a gente fica com tanta dúvida. Quer dizer, o filho é cuidado, a mãe não. ” Nessa consulta,

foi informada de que deveria ter tirado os pontos, mas não haviam dito anteriormente. Entregou um encaminhamento para realização da fisioterapia e prescreveu uma medicação, que na farmácia informaram que não é produzida mais.

Luciana ficou também bastante insatisfeita com o primeiro atendimento pediátrico, sentiu que foi tratada com descaso no atendimento e que o médico não estava atento, não havia nem percebido que ele estava com a cabeça machucada.

O momento que marcou positivamente foi após o nascimento, quando soube que seu filho estava bem. Luciana fala não conseguir sequer explicar o amor que sente, “Meu Deus, é

um amor tão grande por ele que eu não sei nem te explicar o tamanho. Eu acho que eu viro uma leoa. Eu era mansa, acho que agora virei uma leoa. ” Fez o registro no cartório, sem

identificação paterna.

O que a marcou negativamente, “foi a parte do parto, né? Que você sofre que só pra

ter e você não tem aquele apoio. Não senti apoio, entendeu? De conversar, de eu saber que ela queria me deixar ali só, ainda não de perto de mim, né? (...) eu digo: „a gente passa pelo matador, depois é que a gente tem. ’” Luciana ainda se mostrou magoada com a assistência

recebida durante o nascimento do seu filho, “eu creio que cada doutora, umas delas,

querendo ou não, foi mãe, tá sendo mãe. Devia ter mais dó da pessoa que tá passando por aquela situação. Se fosse um médico homem, eu acho que ele não ia entender, mas parece que o médico homem entende melhor do que uma mulher. Eu vi isso, sabe? Poxa, médico homem sente mais dó do que a própria mulher sente dó da outra. Eu não sei se isso ficou complexado na minha cabeça. Porque eu não só vi eu sofrendo, eu vi muitas mulheres. ”

Acredita que foi forçada a vivenciar uma situação traumática, que poderia ter tido um desfecho diferente, “se ele [médico] vê que a gente tá dizendo que não tá suportando, faz um

cesáreo, acho que é mais adiantado. Eu sei que é mais saudável ter normal, é mais... né? Dizem que é isso, dizem que é aquilo, a recuperação. Eu tô sentindo não, eu tô sentindo como se tivesse feito um cesáreo. Se eu tive dilatação ou não, mas eu não tava conseguindo. Terminou me cortando, terminei levando ponto, terminei na raqui, como se tivesse feito as duas coisas ao mesmo tempo." Ao repensar esse processo pelo qual passou, diz que não faria

nada igual.