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A Exploração Industrial (EI): um contexto laboral em observação

A Exploração Industrial constitui um dos principais suportes ao “core business” da Empresa, assegurando a manutenção do material circulante, segundo políticas de qualidade e segurança de forma a garantir a elevada qualidade dos serviços prestados e cumprir a sua Missão.4 A manutenção do material circulante (MC) é assim o objectivo principal da EI, que para cumprir as suas obrigações contratuais quer com o cliente interno, a Exploração Comercial (EC), quer com os clientes externos, desenvolve e colabora em projectos no âmbito da organização da Produção, Gestão do Sistema de Informação e inovação na Manutenção do Material Circulante. Destacam-se os seguintes projectos: SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade, sendo a EI certificada pela Norma da Qualidade ISO 9001, de 2005. O RCFA – Root Cause Failure Analisys e o RCM - Manutenção Centrada na Fiabilidade. A manutenção do material circulante traduz-se na Actividade de Manutenção, que segue um plano de manutenção (intervenção, inspecção e reparação) acordado com o cliente interno EC em função da quilometragem real percorrida pela frota de material circulante.5 A Actividade de Assistência à frota de material circulante caracteriza-se pela garantia de intervenção, reparação de falhas, bem como na resposta das equipas da EI a todas as ocorrências em linha para que foi solicitada pela EC, ou seja a todos os comboios em que se detectem avarias durante a exploração. Para assegurar o seu funcionamento a EI dispõe de recursos humanos altamente qualificados. No âmbito da gestão da Informação a EI desenvolve um conjunto de actividades: Boletim Interno de Comunicação (publicação electrónica); Ordens de serviço

4 Missão da EI “Ser um Centro de Resultados de referência que proporciona um serviço de manutenção de

qualidade aos seus clientes, fornecedores e colaboradores. Obter um adequado rendimento económico através do uso eficaz dos recursos, que permita ir melhorando continuamente as condições económicas e sociais, contribuindo para a realização humana de todos os colaboradores.” fonte intranet ML

5 A manutenção do MC traduz-se por: Intervenção limpeza 2.500 Km/Intervenção de Inspecção aos 12.500 Km;

25.000 Km; 50.000 Km; 100.000 Km; 250.000 Km e aos 500.000 Km (grande revisão, tecnicamente designada por R500), comporta a desmontagem dos principais componentes mecânicos, eléctricos e electrotécnicos das composições, substituição das peças defeituosas, nova montagem, inspecção final e ensaios.

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de produção; dados relacionados com o nº de acidentes; Manual de formação em Segurança e Higiene no Trabalho.

Passamos de seguida a apresentar uma breve caracterização dos departamentos em estudo, quanto ao seu efectivo, horários (quadro nº 3) e espaço geográfico.Os horários praticados por turnos são rotativos e seguem uma escala, que define horários e dias de semana trabalhados, incluindo fins-de-semana, entre as 7:00h e a 1:00h (das 9.00h às 18.00 h; das 7.00h às 16.00h e das 16.00h à 01.00h).

Quadro 3: Efectivo das oficinas EIAP e EIAC em Agosto de 2008

Grupos profissionais EIAP (Pontinha) EIAC (Calvanas) Total Horários

Chefes de departamento 1 1 2 Fixos

Mestres 1 4 5 Turnos

Contramestres 4 5 9 Turnos

Electromecânicos 18 35 53 Turnos Maquinistas de manobras6 8 8 16 Turnos Fonte: Documentos internos EI

Quanto ao espaço geográfico, o nosso trabalho de campo foi realizado em oficinas geograficamente afastadas mas que realizam de um modo geral o mesmo tipo de trabalho. No Parque de Material e Oficinas da Pontinha (PMOIII), encontramos a oficina de Assistência e Inspecção da Pontinha (EIAP) onde se realiza a manutenção da frota de Material Circulante normalmente afecta à linha azul. No outro lado da cidade, temos o Parque de Material e Oficinas de Calvanas (PMOII), onde estão localizadas as Oficinas de Assistência e Inspecção (EIAC), nas quais se executa a manutenção da frota de Material Circulante normalmente afecta às linhas Amarela, Verde e Vermelha.

As instalações do PMOIII são constituídas por um edifício oficinal que se encontra fisicamente separado dos edifícios administrativos. Quem chega ao PMOIII tem uma sensação agradável, pois o espaço é cuidado, rodeado de jardins. O primeiro edifício que com que se depara é o edifício administrativo. Neste encontram-se vários gabinetes de várias

6 Os maquinistas de manobras não pertencem a esta direcção apesar de aí prestarem serviço e não foram

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direcções, o posto médico, o refeitório, o bar, o Centro Cultural e Desportivo, um ambiente de “escritório”. Nas traseiras do edifico administrativo, encontramos o edifício oficinal, com as suas várias oficinas, na porta da entrada encontramos um dístico de proibição a pessoas estranhas ao serviço. Mal passamos a porta, surge a nave industrial, com o seu pórtico característico, condutas de ar, máquinas pesadas e várias manchas de azul, cor da farda dos operários das oficinas (os azuis) expressão várias vezes ouvida por nós, proferida por outros colegas que não utilizam farda. Aqui são todos iguais, a moda efémera, aqui não entra, nada existe na sua farda que os distinga ou identifique como sendo da oficina A ou B. As cores preferidas, convicções futebolísticas ou políticas, estão expressas nos cartazes expostos em algumas paredes da oficina, através das cores do Benfica e do Sporting. O vermelho tem ainda o seu lugar cativo junto à foice e ao martelo os cartazes dos sindicatos são também, bem visíveis e maioritários, mas as folhas centrais das revistas com meninas em roupa interior (ou sem ela), também têm o seu cantinho, normalmente em sítios mais resguardados como a sala de pessoal ou as portas dos cacifos, como pudemos constatar mais tarde. Para quem conhece a realidade de algumas das oficinas de empresas portuguesas ligadas ao sector ferroviário, cedo se apercebe que este é um espaço privilegiado, amplo, limpo e com luz natural. Para entrarmos na oficina da EIAP, temos de possuir um cartão que tenha acesso àquelas instalações, na porta podemos ler Vias electrificadas – Perigo de Morte. Quando passamos a porta encontramos do lado direito o acesso à zona administrativa e gabinetes técnicos, situada no primeiro andar, do lado direito as várias linhas e diques, em frente temos a plataforma elevatória. Numa gaiola espreita um corvo, mascote da oficina de Inspecção e Assistência, mandado prender por ter a fama e o proveito de sarapintar a oficina com os seus dejectos. O PMOII, tem como vizinhos o Aeroporto de Lisboa e a 2ª circular, ocupa vários hectares de terreno e está rodeado por um muro. Num dos extremos temos as oficinas ligadas à Gestão de Infraestruturas (GI), o edifício administrativo, o posto médico, gabinete de Higiene e Segurança, uma sala do Centro Cultural e Desportivo, várias salas concedidas pela empresa, aos sindicatos e o refeitório. No outro extremo temos as oficinas da EIAC. Como que a ligar estes dois espaços, rodeadas por uma rede metálica, e com acesso condicionado, sobressaem na paisagem as vias de ensaio que tal, como o nome indica, servem para ensaiar os comboios quando saem das oficinas, e as vias de garagem, onde ficam estacionados os comboios que não estão na rede. Tal como acontece na Pontinha, o acesso às oficinas é condicionado. Quando se passa a porta, somos recebidos por uma exposição dedicada aos cartazes sindicais. Palavras de ordem apelam à luta sindical, o novo código laboral é o alvo a abater. A oficina

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industrial que ali se desenvolve. Em frente à porta encontramos os vários diques e, no primeiro andar, encontram-se a zona administrativa e a os gabinetes técnicos. Aqui também temos uma mascote, um gato tigrado que por ali apareceu e por ali ficou.

Como anteriormente foi referido o nosso trabalho foi realizado em duas oficinas distintas, (EIAP) e (EIAC), como não foram encontradas diferenças significativas entre estes dois contextos de trabalho decidimos trabalhar e analisar a informação recolhida conjuntamente, no entanto sempre que julgarmos necessário procederemos a essa diferenciação.

2.2 Os actores sociais em estudo (electromecânicos, mestres/contramestres e chefes de