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4. PRESSUPOSIÇÕES DA GRADAÇÃO DE IPTU

4.4. A EXTRAFISCALIDADE AMBIENTAL DO IPTU

4.4.1. A extrafiscalidade ambiental no município

A cidade na atualidade passou a ser um bem ambientalmente tutelado por integrar o meio ambiente artificial. A propriedade urbana e as cidades como um todo tiveram, com a vinda do Estatuto das Cidades, um bom progresso no que fere à sua coordenação, por que esta lei regulamentou de forma explícita como deve ser o uso e a ocupação do meio ambiente artificial, ou seja, as Cidades.

No que compreende designadamente a questão ambiental destaca-se que a política urbana procura atingir as funções sociais da cidade e da propriedade através das seguintes diretrizes promulgadas no Artigo 2º da Lei n.º 10.257 de 2001171, que se seguem:

Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; (...) VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: (...) a poluição e a degradação ambiental; (...) XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

Nesse ínterim, o Município, em conformidade com a Constituição Federal, o Código Civil e o Estatuto das Cidades - pode produzir diversas medidas para que o imóvel cumpra com sua função social como, a imposição de tributos, limitações, servidões, requisições, desapropriações, outorga onerosa do direito de construir, etc.

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OLIVEIRA, Gustavo Goiabeira de. PÉRILLIER, Eduardo Barros Miranda. A extrafiscalidade como Instrumento de Controle Ambiental. In: ORLANDO, Breno Ladeira Kingma; e outros (Org.). Direito Tributário Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.109.

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Desta forma, através de impostos como o IPTU pode a municipalidade cobrar mais ou menos de um imóvel urbano de acordo com os danos causados ou simplesmente pelo não cumprimento de obrigações inerentes à proteção ambiental ou ainda beneficiar aquele contribuinte que ajuda a preservar o meio ambiente.

Sobre o tema, Saliba172 afirma que: “Se determinado proprietário pratica

atividades positivas ou deixa de praticar atividades negativas, ambas ligadas ao contexto do meio ambiente artificial, não seria de toda ordem prejudicial à concessão de incentivos para isentá-lo (total ou parcial) do pagamento do imposto. (...).”

Contrariamente ao que ocorre com a progressividade das taxas dos imóveis que não acolhem a função social, seja qual for reafirma-se, imóvel subutilizado, não edificado ou não utilizado, crê-se ser de bom grado a diminuição do percentual, em certas circunstâncias determinadas em lei, de um dos elementos quantitativos da regra-matriz do imposto, qual for a taxa empregada.

Exemplo da Lei Nº 3443, 27 de maio de 1998 que instituiu o Código do Meio Ambiente do Município de Ijuí, criando o fundo municipal do meio ambiente, do município de Ijuí. Onde:

CAPÍTULO IV - DOS INCENTIVOS FINANCEIROS E FISCAIS (...) Art. 50 - Os imóveis particulares que contenham árvores ou associações vegetais relevantes, declaradas imunes ao corte, a título de estímulo à preservação poderão receber benefícios fiscais, mediante a redução de até 50% do valor do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU. Parágrafo Único - O proprietário do imóvel a que se refere o "caput" do artigo, deverá firmar perante a Secretaria Municipal da Saúde e Meio Ambiente termo de compromisso de preservação o qual será averbado na matrícula do imóvel, no registro imobiliário competente, sendo vedada sua alteração nos casos de transmissão do imóvel. Art. 51 - Os proprietários de terrenos integrantes do Setor Especial de Áreas Verdes receberão a título de estímulo à preservação, isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano ou redução proporcional ao índice de área verde existente no imóvel, conforme a seguinte tabela: Cobertura Florestada acima de 80 – 100% de redução do IPTU. De 50 a 80 – 80% na redução. De 30 a 49 50% na redução.

O exemplo do município supracitado regula o uso da propriedade urbana em consonância com o Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001), onde o Art. 47 dispõe: “Os tributos sobre imóveis urbanos, assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos, serão diferenciados em função do interesse social.”.

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SALIBA, Ricardo Berzosa. Fundamentos do direito tributário ambiental. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p.123.

A primeira alínea a ser averiguada é a da redução do valor em até 50% para os episódios em que o proprietário de imóvel urbano com árvores ou vegetação relevante resolve por livre e espontânea vontade resguardar a área do imóvel.

Nesse caso o Município concede o benefício fiscal desde que seja firmado pelo proprietário um termo de compromisso com a Secretaria Municipal da Saúde e Meio Ambiente (SMSMA) e, em ato contínuo deve ser feita o averbamento na matrícula do imóvel.

O Setor Especial de Áreas Verdes, as quais são espaços físicos urbanos com prevalência de vegetação arbórea de grande importância no aumento da qualidade de vida da população podem ser privadas ou públicas. Conforme o Ministério do Meio ambiente são consideras áreas verdes urbanas o agrupamento de áreas dentro da cidade que tenham cobertura vegetal, arbórea (nativa e introduzida), arbustiva ou rasteira (gramíneas) e que acarretem qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas cidades173.

Considerando assim área verde de domínio público "o espaço de domínio público que desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de impermeabilização"174.

Já os jardins residenciais, hortos urbanos e verde semilocalizados dentro da área delimitada poderão ter redução proporcional do IPTU, podendo ser adquirida, inclusive, a isenção deste imposto nos casos onde a cobertura florestal for igual ou superior a 80% do imóvel.

Aqui destaca-se que a redução ou a isenção de IPTU, serve de estímulo à manutenção das áreas de relevância ambiental para o Município o qual, por sua vez, busca assegurar uma melhor qualidade de vida às pessoas e melhorias ao meio ambiente em geral.

Desta forma destaca-se que as isenções e reduções no Município são reconhecidas por ato do Secretário de Finanças, a requerimento da parte interessada ou de seus legítimos procuradores. Fica a critério do interessado, anualmente, a comprovação da manutenção das condições da isenção ou da

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Resolução CONAMA Nº 369/2006. 174

De acordo com o Art. 8º, § 1º, da Resolução CONAMA Nº 369/2006. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiano1.cfm?codlegitipo=3&ano=todos. Acesso em: 13 jan. 2016.

redução sob a pena de perda do benefício, excluindo-se os casos em que há dispensa pública que são avaliadas áreas verdes privadas.

Nesse patamar, um incentivo fiscal stricto sensu somente ocorre nos casos em que o proprietário estiver incutido no dever de proteção imprescindível prevista no caput do artigo 225175 da CF/88 e procurar proteger uma determinada área verde de seu imóvel sem que, lhe seja imposto qualquer tipo de obrigação. Nesses episódios a redução do valor em até 50% convém como um estímulo à proteção ambiental.

Nos outros casos trazidos à tona percebe-se um incentivo fiscal lato sensu visto que o Município, através dos estudos urbanísticos e ambientais, fixa a preservação em determinadas áreas, o que acaba por limitar o uso do imóvel que, em determinados casos, podem ser tão rigorosas ao ponto de impedir o pleno exercício do direito de propriedade e, por conseguinte, a desvalorização do valor venal do imóvel. Nesses eventos a diminuição do valor venal mostra sua faceta mais justa de cobrança do IPTU do que de incentivo fiscal.

Para a proteção do meio ambiente, como direito fundamental, são necessários mecanismos para que o Poder Público, juntamente com a sociedade, possam assegurar o direito ao meio ecologicamente equilibrado e uma sadia qualidade de vida. O IPTU em seu caráter extrafiscal, é um forte instrumento na viabilização da política ambiental.

Por meio da concessão de benefícios fiscais, o IPTU pode adequar-se à defesa do meio ambiente, estimulando aos agentes condutas, no que se refere ao ambiente, apropriadas. Ao interferir no exercício do direito de propriedade, o IPTU progressivo, atende assim à função social da propriedade como incentivo/estímulo à proteção do meio ambiente.

4.4.2. A progressividade do IPTU e sua conexão com a política de desenvolvimento