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2 CONTEXTUALIZAÇÃO

2.4 A face da disposição final de resíduos sólidos urbanos

Atualmente, a disposição final dada aos resíduos sólidos urbanos pode ser um aterro sanitário, aterro controlado, vazadouro a céu aberto, aterro de inertes ou de resíduos de construção civil. Esta disposição final pode ser compartilhada com outros municípios por meio de um consórcio intermunicipal, por exemplo (MONTEIRO, et al., 2001).

Ferreira; Anjos (2001) apontam que, na maioria das cidades da América Latina, a situação se agrava pelo fato de os resíduos sólidos municipais serem dispostos no solo, de forma inadequada, em vazadouros a céu aberto (lixões).

Os problemas decorrentes dos resíduos sólidos municipais na América Latina continuam presentes e sem um equacionamento adequado. O lançamento indiscriminado dos resíduos no meio ambiente mantém-se como prática comum. Muitos dos vazadouros são à beira de cursos d'água (ou nos próprios), podendo provocar fortes impactos ambientais nos mesmos, rompendo o equilíbrio do ecossistema (FERREIRA; ANJOS, 2001, pág. 694).

Nesta direção, a ABRELPE (2008) aponta que mais da metade dos resíduos sólidos urbanos coletados em 2008 no Brasil, recebeu destinação adequada (aterros sanitários). Entretanto, mais de 67 mil toneladas diárias de RSU, (44%), tiveram destinação inadequada (aterro controlado e/ou lixão).

De acordo com a ABRELPE (2008), a constatação de uma simples melhoria é um fato promissor e possivelmente resulta da combinação de esforços técnicos para adequar a questão e de um avanço da sociedade brasileira

na compreensão da importância do tema com reflexos pró-ativos. Como exemplo, podemos citar a quantidade de resíduos sólidos urbanos coletados em domicílios, vias públicas e coleta seletiva que, segundo a ABRELPE (2008), em 2008, aumentou aproximadamente 5%, quando comparado ao ano de 2007, enquanto a geração de resíduos cresceu apenas cerca de 1%.

A adequação na destinação se inicia na seleção de áreas para a implantação de aterros sanitários e na elaboração de projetos para a captação de recursos para construção das referidas unidades de processamento. Um projeto correto evita problemas no licenciamento junto aos órgãos ambientais competentes para liberação e operacionalização dos aterros sanitários.

Ao tratar de disposição final de resíduos sólidos urbanos não podemos nos iludir com a ideia de que não existem críticas acerca das tecnologias disponíveis para esta etapa da gestão dos resíduos. Entretanto, o recorte teórico realizado nesta pesquisa acompanha o empirismo que municípios brasileiros vêm demonstrando.

Dessa forma, para fins desta pesquisa, parte-se do pressuposto de que o material coletado e não reaproveitado comumente deveria ter como destino final os aterros sanitários, que caracterizam a forma mais adequada de destinação, conforme a Deliberação Normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental (DN Copam) n.º 52, de 2001, que trata da destinação final adequada de resíduos sólidos urbanos.

A disposição de resíduos sólidos urbanos em lixões e aterros controlados contribui com a contaminação dos lençóis freáticos, a proliferação de vetores de doenças, a poluição atmosférica, além de impacto visual negativo, desigualdade social e problemas na saúde humana. A escolha de um sistema de disposição de resíduos sólidos precário gera gastos muito maiores em saúde e qualidade de vida por haver descarte no solo sem nenhuma medida de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública.

Para Ferreira; Anjos (2001), a presença dos resíduos sólidos municipais nas áreas urbanas é muito significativa, gerando problemas de ordem estética, de saúde pública, pelo acesso a vetores de doenças e animais domésticos, obstruindo rios, canais e redes de drenagem urbana, provocando inundações e potencializando epidemias de dengue e de leptospirose, entre outras.

Segundo van Elk (2007), o aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada sob critérios técnicos, cuja finalidade é garantir a disposição dos resíduos sólidos urbanos sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente.

É considerada uma das técnicas mais eficientes e seguras de destinação de resíduos sólidos, pois permite um controle eficiente e seguro do processo e quase sempre apresenta a melhor relação custo-benefício. Pode receber e acomodar vários tipos de resíduos, em diferentes quantidades, e é adaptável a qualquer tipo de comunidade, independentemente do tamanho.

O aterro sanitário comporta-se como um reator dinâmico porque produz, por meio de reações químicas e biológicas, emissões como o biogás de aterro, efluentes líquidos, como os lixiviados, e resíduos mineralizados (húmus) a partir da decomposição da matéria orgânica.

Todo projeto de aterro sanitário deve ser elaborado segundo as normas preconizadas pela ABNT. No caso dos aterros sanitários Classe II2, as normas a serem seguidas são a NBR 8419/1984 e a NB 843/1983, que descrevem as diretrizes técnicas dos elementos essenciais aos projetos de aterros, tais como impermeabilização da base e impermeabilização superior, monitoramento ambiental e geotécnico, sistema de drenagem de lixiviados e de gases, exigência de células especiais para resíduos de serviços de saúde, apresentação do manual de operação do aterro e definição de qual será o uso futuro da área do aterro após o encerramento das atividades.

De acordo com a Norma NBR 8419/1984, o projeto de um aterro sanitário deve ser obrigatoriamente constituído das seguintes partes: memorial

descritivo, memorial técnico, apresentação da estimativa de custos e do cronograma, plantas e desenhos técnicos. Todo aterro, antes de ser implementado, deve obter as licenças exigidas pelos órgãos ambientais, municipais, estaduais ou federal. O CONAMA regula, em âmbito nacional, o licenciamento desse tipo de atividade através de resoluções.

A Resolução CONAMA 01/1986 define responsabilidades e critérios para a Avaliação de Impacto Ambiental e define atividades que necessitam do estudo de impacto ambiental (EIA), bem como do relatório de impacto ambiental (RIMA).

Por sua vez, a Resolução CONAMA 237/1997 dispõe sobre o sistema de Licenciamento Ambiental e a regulamentação dos seus aspectos, como estabelecido pela Política Nacional do Meio Ambiente. De forma complementar, a Resolução CONAMA 308/2002 estabelece as diretrizes do Licenciamento Ambiental de sistemas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos gerados em municípios de pequeno porte. Assim, segundo as diretrizes dessas resoluções, devem ser requeridas as licenças.

Licença prévia (LP) é requerida com a apresentação do projeto básico, com vistas à verificação da adequação da localização e da viabilidade do empreendimento.

Com base nesse pedido, quando for necessária a realização de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA)4, o órgão de controle ambiental procederá à elaboração de uma instrução técnica, que é uma orientação sobre os aspectos relevantes, relacionados ao projeto e ao local, que devem ser enfocados no EIA e

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O EIA é o relatório técnico que apresenta o conjunto de atividades técnicas e científicas destinadas a identificar, prever a magnitude e valorar os impactos de um projeto e suas alternativas.

no respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)5. O EIA e o RIMA devem ser feitos por uma empresa contratada pelo empreendedor, pois este não tem permissão para realizar tais estudos diretamente.

Após os estudos serem aprovados (EIA/RIMA) e o projeto executivo elaborado, o empreendedor solicita a licença de instalação da obra. Com a concessão da licença de instalação (LI) pelo órgão ambiental responsável, o empreendedor poderá dar início à obra do aterro sanitário, para a implantação do projeto aprovado.

Concluída a obra, solicita-se a licença para operar o aterro sanitário, que será concedida desde que tenha sido implantada de acordo com o projeto licenciado na LI. De posse da licença de operação (LO), o empreendedor poderá iniciar a operação do aterro sanitário.

Torna-se importante salientar que, durante todo o processo de escolha da área para implantação do aterro sanitário, bem como seu licenciamento e operacionalização, devem ser considerados os trabalhos de educação e conscientização da população em geral sobre os efeitos ambientais e na saúde, da disposição inadequada dos seus resíduos e de suas responsabilidades enquanto cidadãos (FERREIRA; ANJOS, 2001). Ainda de acordo com estes autores, estes trabalhos exigirão um esforço muito grande, mas são básicos para uma mudança comportamental que irá repercutir diretamente no gerenciamento dos resíduos.

Dessa forma, a administração municipal deve ter uma visão sistemática da gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos para que assuma suas

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O RIMA é o documento que consubstancia, de forma objetiva, as conclusões do EIA, elaborado em linguagem corrente adequada à sua compreensão pelas comunidades afetadas e demais interessados. Durante a análise do EIA pelo órgão de controle ambiental, o RIMA fica disponível aos interessados no projeto. A avaliação de impacto ambiental é apresentada em audiência pública, para conhecimento e apreciação dos interessados, e as considerações feitas nessa ocasião são analisadas para eventual incorporação no parecer final do órgão de controle.

responsabilidades, diante de cenário que tem demandado políticas e programas inovadores. Essa visão sistêmica refere-se às áreas de desenvolvimento local, meio ambiente e, especificamente, a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos, pois a atividade tem buscado atingir melhores padrões de desenvolvimento e socialmente justos.