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Parte I Enquadramento Teórico

1. A família do doente em fim de vida

1.2. A família

A palavra família deriva da palavra latina fâmulo, que significa servidor.

Segundo Bentler et al (1989) citados por Sthanhope e Lancaster (1999), “a família é um grupo social único ligado por laços de geração, emoções, preocupações, estabelecimento de metas, orientação altruísta e uma forma própria de organização” (Sthanhope & Lancaster, 1999, p. 492).

O conceito família, sofreu modificações ao longo do tempo, existindo atualmente diferentes conceptualizações e tipos de família. Para Rey e Avelar citados por Figueiredo (2007), a família é definida sob três perspetivas diferentes, onde cada uma pode influenciar de diferente maneira o modo de atuar da pessoa tanto na forma de viver com saúde como na de encarar a doença. A perspetiva estrutural define família como uma instituição social básica a partir da qual se desenvolvem outras instituições, conforme a crescente complexidade cultural que as tornou necessárias; a perspetiva sociológica considera-a como um grupo de pessoas unidas diretamente por laços de parentesco, assumindo os adultos a responsabilidade de cuidar, tanto das crianças como dos idosos, satisfazendo a maioria das suas necessidades; na perspetiva psicológica, a família representa uma rede de relações emocionalmente fortes onde o afeto mútuo entre os seus membros é considerado a base da solidariedade e da liberdade.

Segundo Johnson (1992), citado por Sthanhope e Lancaster (1999) a família é constituída por dois ou mais indivíduos, pertencendo ou não ao mesmo grupo de parentesco, e devendo estar implicados numa adaptação contínua à vida, assim residem habitualmente na mesma habitação e experimentam laços emocionais comuns ao mesmo tempo que partilham entre si e com outros certas obrigações (Sthanhope & Lancaster, 1999). Por sua vez, para Sampaio e Gameiro (1998), citados por Paúl e Ribeiro (2012), o termo família engloba um conjunto de elementos emocionalmente ligados, compreendendo pelo menos três gerações, mas, para estes autores, fazem também parte da família elementos não ligados por laços biológicos, mas significativos. Deste modo, pode falar-se em família nuclear tradicional (pais e filhos), em família extensa (família alargada com várias gerações) e em elementos significativos (amigos, professores e vizinhos) (Paúl & Ribeiro, 2012).

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De outro ponto de vista, Bonet (1995), defende que o conceito de família pode variar de acordo com as várias perspetivas, classificando-as da seguinte forma: biológica - quando os elementos são ligados por laços sanguíneos; social - quando se apresentam como um grupo organizado que convive segundo normas; psicológica - quando os elementos são ligados por laços afetivos.

Varela (1993), citado por Moreira (2001), enumera várias formas de evolução relativamente à constituição das famílias, sendo elas: a família patriarcal (romana), a qual compreendia todas as pessoas que se encontravam sobre a autoridade do mesmo chefe e faziam parte do agregado familiar os filhos, os netos e os restantes descendentes, a mulher, as noras e os escravos. Existia apenas uma família, a paterna, de tipo patriarcal com carácter essencialmente individualista; A família comunitária medieval que englobava apenas as pessoas ligadas entre si por via do casamento e pelos laços biológicos de procriação. As pessoas pertenciam às famílias materna e paterna. A família passou a representar um papel fundamental como unidade de produção; A família nuclear da sociedade industrial contemporânea em que o modelo familiar anterior se alterou profundamente. Tais alterações ocorreram devido à revolução francesa e à revolução industrial. Com a revolução francesa terminou o carácter sacramental do matrimónio, surgindo o princípio do casamento civil. A revolução industrial deu origem a movimentos migratórios das populações dos meios rurais para os urbanos e consequentemente o círculo real das relações começou a estreitar-se, passando a família a circunscrever-se ao marido, à mulher e aos filhos.

Atualmente, a nível sociocultural a família é tida como uma unidade que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e socialização do indivíduo. Todas as famílias, independentemente da sua estrutura, desempenham certas funções, com o objetivo de manter a integridade da unidade familiar e dar resposta às necessidades familiares, às necessidades dos seus membros individualmente e às expectativas da sociedade (Moreira, 2001).

Desta forma, a família é entendida como um todo que integra contextos variados como a comunidade e a sociedade em que se insere. Assim, por família devem entender-se “todas as pessoas que a pessoa doente considerar como tal e que, com ela, constituam uma unidade social, uma rede de relações pautada pela proximidade, intimidade e afecto” (Pereira, 2010, p.63).

São várias as definições de família, contudo na sua maioria partilham aspetos comuns como a existência de laços de interação, afeto e intimidade entre os seus membros e o funcionamento com um grupo que tem características semelhantes.

De acordo com Minuchin (1982), citado por Moreira (2001), as funções da família atendem a dois objetivos, um interno, que diz respeito à proteção psicossocial dos seus membros, e outro externo que se refere à acomodação a uma cultura e à transmissão dessa mesma. Por seu lado, Kozier (1993), citado por Moreira (2001) considera que a função mais importante desempenhada pela família é a de

proporcionar apoio emocional e segurança aos seus membros, mediante o amor, a aceitação, o interesse e a compreensão.

Sthanhope e Lancaster (1999), realçam a importância da saúde da família, considerando como função básica da família proteger a saúde dos seus membros e proporcionar-lhes cuidados quando necessitam.

Para Pinto (1991), a família representa o principal grupo de suporte emocional para o doente, afirmando ainda que apesar das mudanças ocorridas na sociedade atual, que implicam uma reestruturação dos papéis tradicionalmente atribuídos a cada um dos membros da família, esta função não se perdeu.

Pode afirmar-se que a família desempenha um papel fundamental em todos os estádios do ciclo da vida familiar, sendo muito importante também no fim da vida, pois esta é uma fase em que a pessoa apresenta grande necessidade de se sentir protegida, amada e compreendida, e a família é quem melhor consegue satisfazer essas necessidades devido à sua relação de proximidade e devido aos sentimentos existentes no seio familiar (Moreira, 2001).