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A Família Wasem e a Cascata do Caracol: sentidos em deslizamento

5.1 DO EFEITO DE SENTIDO NATUREZA À PAISAGEM DO ATRATIVO

5.1.2 A Família Wasem e a Cascata do Caracol: sentidos em deslizamento

Como sequência a essa primeira parte do capítulo, apresento algumas considerações, pois, provavelmente, o autor Stoltz, seja descendente de alemães, o que lhe concedeu maior confiança para relatar os percalços, vividos por esses imigrantes. Embora, tenho observado também, que no relato de Stoltz, Wasem é a delimitação de um novo marco no território, o que fez de Wasem um dos personagens chave para o desencadeamento dos acontecimentos ocorridos no território de Canela.

Wilhelm Wasum nasceu no ano de 1822, “na aldeia de Dörrebach – Hunsrück, na Renânia, Alemanha” (STOLTZ, 1992, p.71), “situada nas proximidades do rio Mosela e da cidade de Trier, antigo reino da Prússia” (ENGLERT, 2002, p.11). Em 1845, se casou com Barbara Flasch. E, em seguida ao seu casamento e alguns acontecimentos posteriores, a Família Wasum planeja dar um novo rumo em suas vidas e decide ir “para o Brasil, país que estava recebendo imigrantes alemães desde 1824” (STOLTZ, 1992, p.71).

Para a viagem embarcam Wasum e sua esposa Barbara, juntamente, com um casal de filhos, Christina, de apenas dois anos e o pequeno Wasem de poucos meses de vida e mais alguns parentes. Segundo “o Registro Geral da chegada de colonos a São Leopoldo, na época chamada de Real Feitoria do Linho Cânhamo”

(ENGLERT, 2002, p.12) dava conta de que a viagem feita pela Família Wasum no ano de 1847, foi realizada em uma embarcação à vela, denominada Brigue Antonia (REIS; VEECK; OLIVEIRA, 2009), que aportou no Rio de Janeiro no mês de junho daquele mesmo ano, porém, durante a travessia, muitos percalços surgiram, mas o mais difícil foi à perda do pequeno Wasum, que envolto em um lençol foi jogado ao mar após ter sido acometido por uma doença (REIS; VEECK; OLIVEIRA, 2009). Assim que a família chegou, todos foram registrados e o nome de Wilhelm foi traduzido para Guilherme, assim como o sobrenome que passou de Wasum para Wasem.

Nesse momento, é percebida a existência de tensões polissêmicas expressas no texto quando ocorre a tradução e/ou modificação dos nomes dos imigrantes. Uma vez que a polissemia pressupõe deslocamento, ruptura de processos de significação, produção de “movimentos que afetam os sujeitos e os sentidos na sua relação com a história e com a língua” (ORLANDI, 2010, p.36-37).

A tradução ou a troca dos nomes por imposição local funcionaram como um novo batismo. Porém, foi um fato violento, que negou ao imigrante o direito de se significar enquanto sujeito, embora, tenham concedido a ele um nome de origem teutônica.

“Após semanas de espera, a família Wasem viajou para o Rio Grande do Sul pela costa, chegando no porto da cidade de Rio Grande” (STOLTZ, 1992, p.72), seguindo até Porto Alegre na Barca de Vapor Porto Alegrense que chegou em 1º de julho de 1847 (ENGLERT, 2002; REIS; VEECK; OLIVEIRA, 2009).

“E de lá até a Colônia Alemã de São Leopoldo, em 19 de julho, Guilherme foi registrado como lavrador e foram encaminhados para a colônia Campo Ocidental, hoje Hamburgo Velho, onde se instalou com a família” (STOLTZ, 1992, p.72).

Nessa passagem do texto, quando Wasem é registrado como lavrador, um trabalhador da terra e encaminhado a um determinado local já estabelecido, estamos nos remetendo a um conhecimento específico, que derrota um saber e um fazer, mas também, um lugar na estrutura social. Trata-se de uma posição-sujeito em relação de identificação entre o sujeito do discurso e a forma-sujeito de uma dada formação discursiva. Isso quer dizer que diferentes sujeitos, relacionados com uma mesma formação discursiva, podem ocupar distintas posições-sujeito (PÊCHEUX, 1988). Ou seja, para Pêcheux (1988),

[...] os indivíduos são „interpelados‟ em sujeitos-falantes (em sujeitos de seu discurso) pelas formações discursivas que representam „na linguagem‟ as formações ideológicas que lhe são correspondentes (PÊCHEUX, 1988, p.161, grifo do autor).

Para tanto, as formações discursivas permitem compreender o processo de produção dos sentidos, em sua relação com a ideologia (ORLANDI, 2010). Podendo ser definida como aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito (PÊCHEUX, 1988).

Dito de outra maneira, toda formação social é resultado de um modo de produção dominante, em que seu processo de produção aciona as forças produtivas existentes em e sob relações de produção definidas (ALTHUSSER, 2003).

A posição ocupada por Wasem, na condição de imigrante foi de lavrador. Para as autoridades, na época, provavelmente, esse estrangeiro não possuía títulos de nobreza nem posses com as quais poderia se manter no local em que decidira viver, mas nem mesmo o local, como já foi dito, poderia ser escolhido, pois, todas as pessoas nessas mesmas condições eram encaminhadas ao mesmo sítio demarcado, deixando o sujeito limitado para estabelecer novas identificações.

“Wasem ficaria em Hamburgo Velho por exatos 17 anos” (ENGLERT, 2002, p.12) e lá “tiveram mais filhos com nomes tipicamente alemães que foram traduzidos para Pedro, Guilherme Filho, Henrique Kilian, Paulina e Guilhermina” (STOLTZ, 1992, p.72).

Com a morte de sua mãe, em 1863, Wasem decide dar novo rumo à sua vida (ENGLERT, 2002). Assim, a década de 1860, do século XIX, reservava grandes surpresas para os campos de Canela e também para a Família Wasem. “Nos primeiros meses do ano de 1864, subiu a serra gaúcha o alemão Guilherme Wasem com sua família” (STOLTZ, 1992, p.42). Segundo Stoltz (1992), eles procuravam,

[...] para viver, um ambiente semelhante ao de sua terra natal. Seu interesse era o de arrumar para si um lugar em cima da serra. E no dia em que conheceu o Campestre decidiu que seria aquele o local no qual passaria o resto de sua vida (STOLTZ, 1992, p.42).

Nesse momento, reconheço a necessidade constante de dar sentidos ao novo, num movimento de identificação, significação e ressignificação, que retorna sobre si (ORLANDI, 2001), ou seja, os imigrantes que vieram ao Brasil, apesar de

não conhecerem o país, procuravam encontrar um lugar para viver semelhante ao seu país de origem, e para isso, tentaram significar o local a eles designados, assim como, a eles mesmos enquanto sujeitos, uma vez que lugares e sujeitos se constituem simultaneamente.

Com isso, Wasem foi em busca dos donos do campo, dirigindo-se ao Fachinal. E assim, Candida Bella da Silva lhe concede a permissão de residir e usufruir o campo. E, “uma vez estabelecido no Canela na antiga casa dos Esteves, a família Wasem se tornou a segunda a residir no campo” (STOLTZ, 1992, p.43). “Desde essa data Canela jamais deixou de ser povoada” (STOLTZ, 1992, p.43).

Nesse momento do texto de Stoltz, surge uma marca, o residir e o usufruir, que pressupõe o pertencimento dos habitantes àquele território, que puderam lá fixar suas raízes e ressignificar o território.

A partir de 1866, Wasem, passa a enfrentar alguns problemas com o Tenente Coronel Francisco Pacheco de Paula Machado, que alimentava intenções de adquirir o campo de Canela. As disputas envolvendo o campo e, consequentemente, a posse do território, já se seguiam há algum tempo, entretanto, é a partir desse momento, que se tornam mais visíveis e frequentes no desenrolar dos acontecimentos.

Supõe-se que o Tenente Coronel tenha requisitado a medição das terras de Canela, mesmo com a presença da Família Wasem. E assim, se iniciam os conflitos “entre os donos do Canela com os donos do Fachinal” (STOLTZ, 1992, p.43; ENGLERT, 2002, p.14).

Com o início dos conflitos no campo, se subentende a existência de relações de forças muito marcadas entre os sujeitos, uma vez que elas demonstram “o lugar a partir do qual fala o sujeito” (ORLANDI, 2010, p.39) que, consequentemente, é constitutivo do que ele diz, afinal, o discurso está “situado no interior da relação de

forças existentes” (PÊCHEUX, 1993, p.77, grifo do autor) que se torna muito clara,

uma vez que a medição das terras é requerida por alguém que fala da posição- sujeito tenente coronel, em oposição à posição-sujeito lavrador, o que me fez crer que na época do ocorrido, o que estava em jogo realmente era a representação de cada um perante a sociedade e o Império. Trata-se de lugares numa formação social, já que a formação social determina as condições de produção do discurso, sendo seu funcionamento diretamente articulado ao funcionamento da ideologia. Sendo assim, uma formação social que não reproduz as condições de produção, ao

mesmo tempo que as produz, não sobrevive. Portanto, “a condição última da produção é a reprodução das condições de produção” (ALTHUSSER, 2003, p.53).

Ainda no ano de 1866, Candida Bella da Silva, com escritura firmada, vende a Joaquim Gabriel de Souza, o Campestre Canella. “Foi em princípio de 1867 que Joaquim Gabriel de Souza e família subiram a serra para começar uma vida nova” (STOLTZ, 1992, p.44) tornando-se “o segundo dono legítimo e o terceiro a residir no Canela” (STOLTZ, 1992, p.44).

Wasem foi então informado pelo tabelião que o campo havia sido vendido e o mesmo estava intimado a se retirar das terras, entretanto, ignorou a intimação que estavam lhe fazendo. E assim, conforme Stoltz (1992), o cerco foi montado,

[...] de um lado do campo a chegada da família Gabriel de Souza, de outro a medição judicial por parte do tenente-coronel Francisco Pacheco de Paula Machado, e de outro lado ainda a casa de onde Guilherme Wasem observava tudo com descontentamento (STOLTZ, 1992, p.44).

Contudo, naquele dia nada aconteceu, uma vez que Joaquim Gabriel de Souza embargou a medição que havia sido pedida pelo Tenente Coronel. Para não perder tempo, os novos donos começaram a construção da casa. E eles puderam contar com “o auxílio do lavrador João de Deus Vidal e seus filhos, Pedro e Felisberto” (STOLTZ, 1992, p.45). E assim, com o passar dos anos, novos canelenses nasceram, membros da Família Gabriel de Souza.

Acredita-se que, “Joaquim Gabriel de Souza tenha dado um prazo para que Guilherme Wasem se retirasse” (STOLTZ, 1992, p.45-46), mas mais uma vez, o prazo não foi obedecido e a Família Wasem deixou o campo “às pressas, abaixo de tiros de pistolas” (STOLTZ, 1992, p.45-46) não tendo muito tempo para retirar seus pertences.

O século XIX avançava, e em meados dos anos oitenta, muitos posseiros começaram a requisitar a “medição de terra para registrar oficialmente suas propriedades” (STOLTZ, 1992, p.49). Sendo assim, em 1884, teve “início a medição do Campestre Canella” (STOLTZ, 1992, p.58) para o seu registro legal.

Infelizmente, não se sabe com precisão onde estariam esses marcos, segundo Stoltz (1992), o ponto um, seria perto de onde hoje é o bairro Canelinha; ponto dois, algum ponto localizado ao sul do município; ponto três, próximo de onde hoje se encontra o centro do município; ponto quatro, próxima a Vila Meneghetti e

fechando o quadro, chega-se novamente ao ponto um. E assim, em poucas horas, deram por encerrada a medição, com uma área aproximada de 2.722.500 m². “A partir dessa data o Campestre Canella passou a ser denominado somente Canella” (STOLTZ, 1992, p.61).

A essa mudança nominal, acrescento à minha construção o conceito de paráfrase, que é produzida no interdiscurso, a partir dos processos de efeitos de sentido. “A paráfrase é a matriz do sentido” (ORLANDI, 2010, p.38), já que, a produção do sentido é estritamente indissociável da paráfrase (PÊCHEUX; FUCHS, 1993), “pois não há sentido sem repetição, sem sustentação no saber discursivo” (ORLANDI, 2010, p.38).

São esses sentidos que se constituíram ao longo de uma história a que já não temos acesso que falam em nós (ORLANDI, 1990 apud ORLANDI, 2010).

Cada vez que dizemos [...], ou que nos significamos em relação a essa história, esses sentidos retornam mas, ao mesmo tempo, podem derivar para outros sítios de significação (ORLANDI, 1993 apud ORLANDI, 2010, p.38-39), produzindo novos sentidos, efeitos do jogo da língua inscrito na materialidade da história (ORLANDI, 2010, p.38-39).

Apesar de todo o esforço para legitimar Canela como sua, Joaquim Gabriel de Souza, no ano de 1887, vende sua propriedade a Ignácio Saturnino de Moraes, que “tornou-se o quarto dono do Canela” (STOLTZ, 1992, p.61). Ignácio também “desejava viver no Canella pois havia algo naquele campo que atraia homens feito ímã” (STOLTZ, 1992, p.61). No ano de 1891, falece Joaquim Gabriel de Souza.

Canela agora pertencia a Ignácio Saturnino de Moraes, mas como essas terras estavam dentro do Fachinal e seu entorno também era conhecido como Canela, mas que não era Canela, decidiu-se nomear as terras que estivessem “fora do „quadro‟” (STOLTZ, 1992, p.62), de Canelinha.

O finado Joaquim Gabriel de Souza jamais pôde imaginar que muitos anos depois seu nome seria reconhecido como sendo um dos principais personagens da história de Canela e nem ele podia imaginar que o campo de seus sonhos, com suas belezas naturais, um dia se transformaria em uma das cidades turísticas mais visitadas do Brasil (STOLTZ, 1992, p.62).

Outra vez, retorno às marcas, para retratar um novo indício de significação que se apresenta no texto. E para isso, devo lembrar que, em homenagem aos

personagens que deram início ao povoado, geralmente, uma rua ou uma avenida recebe seu nome.

É interessante observar que Joaquim Gabriel de Souza recebe essa homenagem e a rua que leva seu nome, se localiza no atual Bairro Canelinha, ou seja, muito, provavelmente, próximo ao local onde há mais de cem anos, essa família construiu uma das primeiras moradias do município.

Após serem expulsos do campo de Canela, de acordo com Stoltz (1992),

[...] Guilherme Wasem e família se deslocaram mais para o norte onde se instalaram em outro local de grande beleza da serra gaúcha, onde não habitava ninguém e nem havia posseiros. Guilherme tomou essas terras por ocupação primária em época mansa e pacífica, e por anos o local permaneceu desconhecido, mas logo veio a receber nome próprio e é conhecido nos dias de hoje por Caracol (STOLTZ, 1992, p.46).

Nesse momento, relembro alguns conceitos que já abordei ao longo dessa narrativa, uma vez que os mesmos estão permeando a construção da minha análise. Volto à formação discursiva, chamando a atenção para o modo como foi dito que Wasem se apropriou das terras em que passaria a viver, no texto está escrito, “tomou essas terras por ocupação primária em época mansa e pacífica” (STOLTZ, 1992; JUSBRASIL, 2013). Esse trecho remete ao discurso jurídico, retomando o significado de posseiro, pois, “as palavras, expressões e proposições recebem seus sentidos da formação discursiva à qual pertencem” (PÊCHEUX, 1988, p.263). Afinal, “o discurso se constitui em seus sentidos porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva” (ORLANDI, 2010, p.43), e, com isso, “todo discurso se delineia na relação com outros: dizeres presentes e dizeres que se alojam na memória”(ORLANDI, 2010, p.43) e ainda segundo Orlandi (2010) disponibilizam

[...] dizeres, determinando, pelo já-dito, aquilo que constitui uma formação discursiva em relação a outra. Dizer que uma palavra significa em relação a outras, é afirmar essa articulação de formações discursivas dominadas pelo interdiscurso em sua objetividade material contraditória (ORLANDI, 2010, p.44).

Após a morte do Tenente Coronel Francisco Pacheco de Paula Machado, a maior parte de seus bens fica “para seu genro Felisberto Soares de Oliveira e Vitalina Pacheco que a essa altura já possuíam a maior parte do Fachinal” (STOLTZ, 1992, p.47).

[...] uma linda cascata entre matas virgens. Na época não havia grande interesse dos posseiros em ter cascatas e cachoeiras. De nada lhes adiantava uma cascata. Antes, preferiam terras para cultivar (STOLTZ, 1992, p.72).

Mais uma vez, notamos a presença de aspectos de belezas naturais, que remetem à paisagem que se destacava naquele novo território ocupado por Wasem. O Caracol é o território em que ele pode, finalmente, obter a posse primária. O que não ocorre com o campo de Canela, nem tendo ido em busca de justiça.

É necessário comentar que, apesar das disputas mais acirradas se darem pelo campo de Canela, Wasem consegue para sua família um recanto tão ou até mesmo mais importante do que o que gostaria de possuir, pois o Caracol irá representar alguns anos mais tarde, o início do movimento turístico por essas terras.

Novamente, retomo a formação social para abordar as mudanças que ocorreram entre os descendentes portugueses e alemães evidenciadas nessa parte do capítulo, quando das posses pelo território. Para tanto, relembro que Wasem era um lavrador, trabalhador da terra e sem títulos de poder e todos os demais donos, seja do Fachinal ou do Canela, ocupavam posições militares, que lhes conferiam maior autoridade perante a sociedade e o Império.

O novo lar de Wasem foi construído “próximo à cascata com o arroio do Caracol. A própria cascata foi batizada de Cascata Wasem” (STOLTZ, 1992, p.72), mas o nome “não pegou. Popularmente ela foi sempre referida pelo mesmo nome do arroio. O nome Caracol vem das curvas do leito do arroio em que alguns pontos do seu curso, lembra o desenho de um caracol” (STOLTZ, 1992, p.75). “Este arroio tem sua nascente no bairro Canelinha e desemboca no rio Caí” (CARDOSO, 2004, p.41). Nessa época, o território denominado Caracol não era muito conhecido e “às vezes era mais referido como Fundos do Fachinal” (STOLTZ, 1992, p.73).

Wasem solicita a medição de suas terras, essas foram feitas no decorrer de quatro dias e dezesseis marcos foram fixados, porém, “no mapa não consta a cascata por não ser necessário, por ser menos significativo que uma vertente” (STOLTZ, 1992, p.73). Encerrando a medição foi calculada a área de 15.800.000 m². “Hoje as terras que pertenciam a Guilherme Wasem são divididas entre Canela e Gramado pelo arroio do Caracol. Mais ou menos 70% das terras hoje

pertencem a Gramado, mas a cascata acabou ficando para Canela” (STOLTZ, 1992, p.75).

Diz-se que, “o mesmo ponto onde consta a moradia da família Wasem hoje é o mesmo ponto que representa o Caracol em qualquer mapa” (STOLTZ, 1992, p.75).

Percebe-se um ponto de vizinhança, separação, disputa, discórdia e até mesmo, competição entre Gramado e Canela. O fato se inicia em razão da cascata pertencer a Canela, algo que sempre foi muito discutido, uma vez que Gramado muitas vezes alega ter a posse da cascata pela divisão de terras e se coloca no direito de divulgá-la entre seus atrativos. Muitos guias de turismo que trabalham no município vizinho, ao levar os visitantes para conhecer o Parque Estadual do Caracol, fazem questão de dizer que estão em Gramado, podendo dessa forma, confundir o visitante quanto a estar em Canela ou Gramado. Embora esse fato já ocorra naturalmente pela proximidade entre os dois municípios, acentuando a ideia de que suas fronteiras são tênues e imprecisas.

Wasem faleceu no Caracol, no ano de 1899, mesmo ano em que seu filho Henrique se casou. Ele e a esposa foram morar no Mato Queimado, onde possuíam terras. Barbara falece cinco anos após, em 1904. Henrique faleceu, em 1920, em casa, deixando esposa e filhos. “Seu corpo foi levado de Mato Queimado para o cemitério no Caracol próximo à cascata onde foi enterrado logo acima do túmulo de seus pais” (STOLTZ, 1992, p.77). Lá também estão repousando os corpos de seus irmãos, “inclusive os que moraram fora do Caracol” (STOLTZ, 1992, p.79).

Eles, que um dia já foram a segunda família a residir no campo do Canela. Talvez Guilherme Wasem tivesse sido um homem simples e pobre tal como morreu no final do século XIX, mas ele teve uma das belas riquezas do Estado do Rio Grande do Sul, que é a Cascata do Caracol na Região das Hortênsias (STOLTZ, 1992, p.79).

Deixando Wasem por um instante, dedico as próximas linhas à Cascata do Caracol, pois “quando se fala em Canela acaba-se sempre lembrando do Caracol. Principalmente a cascata” (STOLTZ, 1992, p.78), que admirada por todos é “um dos pontos mais significativos do Estado do Rio Grande do Sul” (STOLTZ, 1992, p.69).

Porém, com o passar dos anos a cascata ganhou novos sentidos através do discurso daqueles que passaram a visitá-la a partir do ano de 1916. Esse reconhecimento culminou com a desapropriação das terras, em um acordo firmado

entre a Prefeitura Municipal de Canela e algumas entidades, em que o Caracol passou para o Serviço Estadual de Turismo (SETUR), em 1968. Após esse órgão ser extinto, através da lei 6.237, de julho de 1971, foi criada a Secretaria Estadual de Turismo (Setur/RS), e no mesmo ano o Caracol virou Parque Estadual pelo decreto 22.576 administrado pela Companhia Rio-Grandense de Turismo (CRTUR).

O Parque conta com uma área de 100 hectares, mas “apenas 25, são destinados ao turismo. O restante da área é totalmente preservado” (SALINET, 2013). Atualmente, o Parque Estadual do Caracol pertence ao Estado, porém, a administração é feita através da Prefeitura Municipal de Canela, pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do município.

O Parque do Caracol, a 7 km do centro de Canela, com moderna infraestrutura possui restaurante, quadra de esporte, área de lazer, camping, feira de artesanato, churrasqueiras, „play ground‟ e ruas asfaltadas. Para ter-se uma melhor visão da formosa cascata, foi construído um mirante de onde os visitantes podem admirar todo seu esplendor. Isso tudo, numa área de 35 ha de matas nativas, araucárias centenárias, riachos com corredeiras e desfiladeiros Na atualidade a imagem da Cascata do