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A fase da Diversificação, “Activismo” e Questionamento

3 HISTÓRIA DE VIDA: UM ENCONTRO COM AS MEMÓRIAS DE UMA

3.4 Ciclo de Vida pessoal e profissional: o professor e sua prática

3.4.3 A fase da Diversificação, “Activismo” e Questionamento

Dos sete aos 25 anos de profissão, Huberman (1992) denomina como sendo a fase da “Diversificação”, “Activismo”, bem como, a fase de “Questionamentos”. Dos sete aos 25 anos, Maria Elena atuou na escola pública como supervisora do MOBRAL, onde realizavam visitas as professoras alfabetizadoras de adultos. Trabalhou na supervisão por três anos, mas como a supervisão era à noite e tinha nenê, saiu da supervisão e retornou a trabalhar como professora alfabetizadora de uma escola municipal de Santa Maria/RS, onde atuou por 15 anos e depois trabalhou com a 2ª série até aposentar-se. Contudo, em meio a essas mudanças ocorridas na trajetória enquanto docente do Ensino Público, Maria Elena, permaneceu atuando dos sete aos 25 anos como professora alfabetizadora do Ensino Privado. Com exceção de um ano que fez a experiência de continuar com seus alunos de 1ª série na 2ª série. Para Maria Elena foi uma experiência válida, mas preferiu retornar à classe de alfabetização. Pois conforme relata, ela se apaixonou pela 1ª série “é uma energia que me faz assim, a querer

Além do relato autobiográfico e da entrevista semi-estruturada, Maria Elena apresenta também as homenagens e os cartões19 que recebera nessa fase de sua carreira, a qual mostra

com muito carinho e emoção as lembranças desse tempo.

FIGURA 1- Homenagem de um aluno da 1ª série – Dezembro de 1982.

FIGURA 2 - Homenagem do Colégio Santa Maria (Ensino Privado) – Outubro de 1991.

FIGURA 3 - Cartão de uma aluna da 1ª série – Fevereiro de 1995.

FIGURA 4 - Homenagem recebida do primeiro Reitor da Universidade Federal de Santa Maria – Um livro com dedicatória. – Novembro de 1993. (Maria Elena foi professora alfabetizadora dos netos de José Mariano da Rocha Filho).

FIGURA 5 - Homenagem pelos 20 anos de professora – Colégio Santa Maria (Ensino Privado)

– Outubro de 1996.

FIGURA 6 - Caneta recebida por um de seus alunos da 1ª série - (Ao mostrar essa caneta Maria Elena relata que o aluno antes de presenteá-la conversara com sua mãe que aquela era a caneta que mais gostava, mas como amava muito mais a professora, ele iria dar a caneta para a sua professora da 1ª série - Maria Elena).

Ao mostrar essas recordações, Maria Elena expressa muita satisfação e felicidade frente ao carinho que sempre recebera na sua profissão. Essas homenagens foram algumas selecionadas frente a todas as outras que mostrara nos encontros. A alegria e o amor presentes nas suas lembranças são dominantes ao recordar sua História de Vida. Como aponta Bergson (1999, p.200), “há sempre algumas lembranças dominantes, verdadeiros pontos brilhantes em torno dos quais outros foram uma vaga nebulosidade. Esses pontos brilhantes multiplicam-se à medida que se dilata a nossa memória”. Essas lembranças dominantes sobrepõem-se às demais, tornando-se mais nítidas, tomando um significativo espaço nas recordações de Maria Elena.

Para Huberman (1992), essa fase de “Diversificação” (dos sete aos 25 anos de carreira), é definida como um período de buscas e experimentações. Essa fase não corresponde igualmente a todos os docentes. Alguns, segundo Huberman (1992, p.41), “(...) lançam-se, então, numa pequena série de experiências pessoais, diversificando o material didático, os modos de avaliação, a forma de agrupar os alunos, as seqüências do programa (...)”. Os professores buscam novas idéias, sentem-se mais entusiasmados com as mudanças, diversificando suas práticas educativas e refletindo sobre a melhor maneira de ensinar.

(...) fui passando por diversos métodos: tinha o Método da Abelhinha, o Método Silábico, o Método da Palavração. Depois, eu estudei muitos anos o Construtivismo. Eu estudava junto com a minha coordenadora, eu acho que foi em 80, mais ou menos, que muito estudei com ela. A minha turma fazia experiência com o Construtivismo do Freinet, que é um escritor francês. Estudamos muito esse autor. Eu acho que ficamos uns quatro anos estudando e aplicando a técnica dele com os meus alunos, e o que eu fazia com os meus alunos, nós correspondíamos com uma escola de Cachoeira. Primeiro, nós aplicávamos e depois passávamos para Cachoeira. (...) Depois estudamos bastante as teorias de Paulo Freire. Ao longo dos anos, eu, junto com todos esses estudos, fui criando mais (...).

(Maria Elena - Relato autobiográfico).

A trajetória profissional de Maria Elena foi marcada por diversas mudanças, acompanhando a evolução das teorias em sua prática como alfabetizadora. Tais estudos estiveram voltados ao coletivo, e a coordenadora também participou das transformações. Na busca e na diversidade dessas experiências, nas reflexões em meio às mudanças, Maria Elena foi criando e percebendo as melhores possibilidades de ensinar e aprender.

Para Huberman (1992), nessa fase, outros docentes buscam uma promoção profissional, voltando-se a outras atividades na profissão, como direção e coordenação da escola, tarefas realizadas fora da sala de aula. Na maioria dos casos, essa fase de diversificação, com interesses na promoção dentro da profissão, acontece mais intensamente com os homens do que com as mulheres. Como as mulheres não estão somente envolvidas com a rotina da profissão, mas também com atividades familiares, esse interesse pode vir a ser mais tardio do que entre os homens.

Existe, ainda, nessa fase dos sete aos 25 anos, mais precisamente entre o 15º e o 25º ano de carreira, aqueles professores que se deparam com um período de “Questionamento”. Para Huberman (1992, p.42) “a fase de diversificação dá lugar ao aparecimento de um grande número de casos ao longo de um período em que as pessoas se põem em questão (...)”, como aqueles docentes que começam a fazer o “balanço da sua vida profissional”, questionando sua escolha pela docência. Em alguns casos, os questionamentos podem provir direto da fase de estabilização, sem nem mesmo ter passado pela diversificação. Nesse período, torna-se comum os docentes escolherem uma profissão paralela e até desistirem da carreira. Conforme Antunes (2001, p. 22),

Mesmo estando numa fase de diversificação que pressupõe modificação, inovação, criatividade, capacidade de aceitar desafios, segurança e capacidade de liderança na carreira docente, este momento pode ocasionar sentimentos de desequilíbrio, desorientação e insegurança que acabam pondo em jogo o prosseguimento da carreira.

Apesar dessa fase de diversificação e experimentação, alguns docentes podem vivenciar o período de questionamentos, de pôr em questão tudo aquilo que já viveram na docência. Quanto a esse aspecto, Huberman (1992) diz que, para alguns professores, tal desequilíbrio ocorre devido à rotina da vida cotidiana em sala de aula, enquanto que, para outros, o desencanto provém dos fracassos em tentativas de mudança. Cabe ressaltar que, nos estágios da diversificação, as tentativas de inovação dos professores e de mudança de cargos dentro profissão podem aliviar a sensação de rotina, na busca pelo entusiasmo na profissão. A partir da História de Vida de Maria Elena, essa fase de “Questionamentos” não foi mencionada, pois conforme seus relatos as buscas e experimentações tiveram forte presença nesses anos de carreira. Maria Elena confessa que momentos difíceis existiram, mas sempre quis ser professora e desde quando iniciou a trabalhar, seus objetivos e esforços permaneceram voltados a profissão docente. Até recorda uma proposta que recebera de seu

irmão quando tinha 18 anos. Conforme relata na entrevista semi-estruturada: “o meu irmão é

aposentado do Banco do Brasil, quando tinha 18 anos, ele queria muito que eu fizesse concurso, inclusive ele me pagava cursinho pra eu fazer o concurso do Banco do Brasil, e eu – não, não é isso que eu quero, eu quero ser professora”. Desde o começo da carreira, Maria

Elena já tinha definido sua profissão na qual poucos anos depois já definira sua escolha pela alfabetização em que permanece atuando até os dias atuais.