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4 Material e Métodos

6.3 A FEMINIZAÇÃO NO ENVELHECIMENTO E NO CUIDADO

Pode-se observar que na presente pesquisa houve a prevalência do sexo feminino em todas as categorias estudadas. Isso pode se dar ao fato de que as mulheres são mais propensas que os homens para procurar informações de saúde na Internet (GARBIN; PEREIRA NETO; GUILAM, 2008; POWELL et al., 2011; FOX, 2001; ANKER; REINHART; FEELEY, 2011), sendo assim o público que aderiu e predominou na presente pesquisa. Além disso, participaram da pesquisa idosos compondo a categoria CI, aspecto presente nos estudos de Luzardo, Gorini e Silva (2006); Cruz e Hamdan (2008); Silva, Passos e Barreto (2012).

A justificativa da prevalência de idosas na amostra, a nível epidemiológico, pode se dar devido à feminização do envelhecimento. A redução das taxas de fecundidade e de mortalidade no caso brasileiro tem sido responsável pela configuração de um novo padrão demográfico, no qual se observa uma sobrevida das mulheres. A questão da feminização do envelhecimento é apontada como um aspecto a se levar em consideração quando se trata de políticas públicas, ao considerar o perfil sociodemográfico das idosas. A grande maioria das idosas nunca trabalhou ou não contribuiu para a Previdência Social e tem baixa escolaridade. A falta de rendimento e o não reconhecimento do trabalho das mulheres colocam-nas, muitas das vezes, em uma situação de dependência (SOARES, 2012).

A sobremortalidade da população masculina foi descrita há séculos e sua primeira mensuração foi feita por John Graunt, em 1662 diante comentários que

tangiam a temática em sua publicação Natural and political observations made upon

the bills of mortality. A menor sobrevida masculina é quase sempre aceita sem muita

discussão (LAURENTI; JORGE; GOTLIEB, 2005), sendo o diferencial da mortalidade por sexo a favor das mulheres em todo o mundo (LINDAHL-JACOBSEN et al., 2013). Além da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção básica (BRASIL, 2008). Autores (PORCIÚNCULA et al., 2014) afirmaram que o quadro instalado da morbimortalidade masculina se deva às características da organização social do trabalho e o comportamento do indivíduo sobre o cuidado com a própria saúde, na medida em que os homens estão mais expostos aos riscos de acidentes de trabalho, ao tabagismo, ao alcoolismo e à violência, enquanto as mulheres dão maior atenção à saúde ao procurar os serviços, fazerem mais uso de medicamentos e apresentarem maiores taxas de adesão aos programas de prevenção.

Nesse sentido, a fim de dar suporte à população masculina, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem por meio da portaria no 1.944 de 27 de agosto de 2009 que tem por objetivo a promover a melhoria das condições de saúde dos homens do Brasil, contribuindo, de modo efetivo, para a redução da morbimortalidade diante o enfrentamento racional dos fatores de risco e mediante a facilitação ao acesso, às ações e aos serviços de assistência integral à saúde (BRASIL, 2008).

O sexo feminino também se mostrou prevalente na categoria “Cuidador de idoso”. O cuidador é definido como sendo a pessoa da família ou não que, com ou sem remuneração, cuida do idoso no exercício das suas atividades diárias, como a alimentação, a higiene pessoal, a medicação de rotina, o acompanhamento aos serviços de saúde, excluindo-se técnicas e procedimentos identificados como exclusivos de profissões legalmente estabelecidas (CALOMÉ, et al.; 2011). Em nossa sociedade, o “cuidado” é papel considerado como sendo feminino e as mulheres são educadas, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por este papel (BRASIL, 2008).

Luzardo, Gorini e Silva (2006) afirmaram que é possível traçar estratégias adequadas que tenham como finalidade atender as principais necessidades do cuidador e do idoso, a fim de que ambos tenham uma melhor participação no cuidado, favorecendo a compreensão a respeito da doença, do paciente e da relação paciente/cuidador. Tais medidas devem representar um suporte profissional

para fornecer ferramentas aos cuidadores voltados aos aspectos educacionais que promovam um reforço positivo para auxiliar o cuidador a superar os desafios impostos pela situação de infortúnio.

O cuidado da pessoa idosa geralmente é ofertado por familiares em especial, do sexo feminino, que geralmente residem no mesmo domicílio e se tornam as cuidadoras de seus maridos, pais e até mesmo filhos (KARSCH, 2003; VERAS, 2009). A designação do cuidador abrange quatro fatores relacionados com o parentesco, com destaque aos cônjuges; com o gênero, destacando-se o feminino; com a proximidade física, relacionado à mesma moradia da pessoa cuidada; e com a proximidade afetiva, destacando-se a relação conjugal como entre pais e filhos. A mulher, vista como a cuidadora tradicional, não é realidade somente no Brasil, salvo por razões culturais específicas de outros países (KARSCH, 2003). Nesse contexto a dependência de um indivíduo, ao se pensar no contexto familiar, gera a quebra na homeostase dos papéis desenvolvidos pelos atores sociais desse ambiente, surgindo então o papel do cuidador.

Richardson et al. (2013) demonstrou em seu estudo que cuidar de uma pessoa com Doença de Alzheimer pode estar associado ao risco significativo de desenvolver problemas relacionados à saúde mental e física, além de tornar esse cuidador um paciente secundário para os profissionais de saúde. Os autores pontuaram as variáveis que aumentam o risco de sobrecarga do cuidador, dentre elas ser do sexo feminino e ser idoso além de fatores presentes no indivíduo cuidado, como as comorbidades e o declínio cognitivo.

Perkins et al. (2013) afirmaram que o ato de cuidar pode ser um fator de risco para mortalidade do cuidador. Os profissionais de saúde devem desenvolver e verificar a eficácia de ações que proporcionem a melhora da saúde, qualidade de vida e bem-estar dos cuidadores de indivíduos portadores de doenças crônico- degenerativas. A exemplo tem-se ações de educação em saúde, pois muitas vezes esses cuidadores desconhecem as condutas adequadas frente às manifestações das doenças e às exigências de cuidar de um idoso fragilizado (LUZARDO; GORINI; SILVA, 2006; PERKINS et al. 2013).