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A Ficção Científica e os debates sobre livros lidos 6ª Oficina

4.2 A pesquisa na escola campo: Os momentos iniciais

4.2.8 A Ficção Científica e os debates sobre livros lidos 6ª Oficina

20/03/2015 Iniciou-se a sexta oficina com questionamentos dos alunos em relação ao caderno diário, ― olha eu só fiz uma produção ‖, percebeu-se a preocupação com quantidade, para ajudar na confecção dos cadernos apresentou-se alguns modelos, para que os jovens pudessem decorá-los,“ Ih! Não sei fazer isso”, “ sou péssima em artes ” essas observações em relação ao caderno foram pontuadas por AVs 15 e 16 que chegaram atrasadas.

Solicitou-se aos jovens que tentassem em conjunto com os colegas, pensar em um conceito acerca da literatura fantástica a partir dos livros que estavam lendo ou teriam lido, as respostas seguiram com desenvoltura durante a oficina, AV 18 respondeu ter lido “Amanhecer e Eclipse”, perguntou-se “ mais algum?”

Ao que AV19 respondeu “ O Alienista de Machado de Assis ”, “ aquele que o doutor interna todo mundo da cidade, porque todo mundo ficou doido ”, AV11 fez a seguinte inferência, “ e deu para internar todo mundo na clínica? ”, AV19 respondeu não saber porque não tinha terminado o livro ainda.

Observações muito interessantes, pois a percepção de leituras realizadas a partir de uma perspectiva de pensar o outro, o estranho, a hesitação, aquilo que não é explicado de forma lógica, parece ser para os jovens um exercício que realizam sem perceber a importância desse ato, AV13 respondeu ter lido ― Romeu e Julieta ‖, AV14 ― O Morro dos Ventos Uivantes ‖, AV15 ― Lembranças da Meia Noite ‖, os demais responderam gostar de filmes.

83 Um grupo pequeno constituído em sua maioria por meninos, disse preferir HQs, então propôs-se a escrita de uma produção textual que tivesse uma figura de linguagem, onomatopéia, explicou-se o conceito dessa figura, e exemplificado, todos assentiram. Então como metodologia, deixou-se à livre escolha dos alunos a criação de uma história.

Durante a produção da HQs, os alunos estavam utilizando elementos textuais das leituras feitas por eles, de Best Sellers, contudo com algumas estruturas que em primeira análise, percebe-se como aproximação de elementos e personagens dos textos lidos durante as oficinas até então trabalhadas.

Dados esses momentos iniciais, questionamentos como, ― o que é ficção científica?”, AV11 respondeu que seria ― a criação de monstros em laboratório,extraterrestres ‖, então respondeu-se que seria também “ a questão do olhar do outro, dos artefatos fantásticos, da concepção do autor de ficção científica ao discorrer sobre o futuro da humanidade ‖.

Um jovem que está lendo Julio Verne, Viagem ao Centro da Terra, questionou ― aconteceu mesmo tudo aquilo?”, “ doido demais moço ”. Ao que obteve como resposta, ― não naquela época ‖, mas que já existiam muitas máquinas que realizavam trabalhos parecidos, foi aí que questionou-se se teriam assistido ao filme Volta ao Mundo em 80 dias, com Jack Shan, a maioria da turma respondeu que sim, então para exemplificar, informou-se aos jovens que o texto original, seria uma adaptação para o cinema da obra literária de Julio Verne.

Para que o objeto, pertencente a qualquer esfera da realidade, entre no horizonte social do grupo e desencadeie uma reação semiótico-ideológica, é indispensável

que ele esteja ligado a condições socioeconômicas essenciais do referido grupo, que concerne de alguma maneira às bases de sua existência material. (BAKHTIN, 2009, p. 46)

Concorda-se com Bakhtin, ao afirmar que o objeto precisa ser parte da realidade do grupo que o estuda, dessa maneira, o domínio da linguagem literária e seu valor é constituído a partir do momento em que se toma forma o objeto estético, o livro, para que possa abarcar seu valor social.

Nesse sentido ao ler a produção de AV21, observa-se a presença de um ser do imaginário da literatura fantástica, mas que é mitológico, na construção abaixo:

“ Em uma cidade escura e sombria, com poucos habitantes, havia um ser,metade cavalo e metade humano. Que a noite ficava sequestrando humanos no fim da meia noite. Para matar pessoas, por uma grande revolta criador um cientista maluco que ficava fazendo esperiencias com especies de ser vivo.”

84 Em análise inicial pensou-se em tratar de uma referência ao filme ― O labirinto do Fauno ‖, mas após uma leitura mais cuidadosa percebeu-se que o centauro foi apenas transposto no texto, para representar um personagem do imaginário da literatura canônica, Frankenstein, pois até mesmo a questão das experiências científicas da obra de Mary Shelley são abordadas.

O humor ao finalizar o texto foi utilizado de forma a causar suspense e uma certa hesitação no leitor, por se tratar de uma produção de texto fantástico AV21 parece ter compreendido alguns elementos durante a elaboração da história.

Ao finalizar a oficina, alguns jovens vieram entregar livros e HQs, e pegar outros de empréstimo, o que já se tornou uma rotina. Sempre procuram saber se podem entregar e pegar outro livro, todos os títulos escolhidos são de obras da literatura universal, em sua maioria textos de literatura fantástica, contos, HQs, romances de cavalaria, poesia e cordel, em um total de 84 obras, todos constantes de material exclusivo para esse trabalho de leitura literária. Acredita-se que quanto maior for a quantidade de leituras que disponham os jovens, maior será a oportunidade de realizar um despertar para o prazer literário. E é nessa concepção de linguagem enquanto código ideológico, que ―confrontam-se os índices de valor contraditório‖ (BAKHTIN, 2009, p. 80).

Compara-se a leitura de Best Sellers com os ditos clássicos, que se propôs a tornar de fácil acesso aos jovens, livros da literatura brasileira e universal, sendo que essa comparação só ocorre para que haja uma aproximação desses índices de valor, pois é necessário

85 compreender em que dado momento de sua formação e representação identitária esses jovens passaram a alocar tamanho valor a esses chamados Best sellers.