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A filosofia de Vattimo como Ontologia do presente

Capítulo II A ontologia niilista de Vattimo: um diagnóstico do

2.4 A filosofia de Vattimo como Ontologia do presente

A “Ontologia da atualidade”109 se ‘constitui’, desse modo, como

Filosofia do presente que tem a possibilidade de interpretá-lo sem retomar às estruturas metafísicas tradicionais e leva em conta o estado da Ontologia no fim da Metafísica. A Filosofia, assim compreendida, se posiciona como alternativa à época do declinar da Metafísica, considerando-a, portanto, como a marca própria da atualidade, ou seja, a atualidade tomada como época do declinar da Metafísica.

A ‘ontologia da atualidade’ vattimiana110, em suas intenções

filosóficas, assume o caráter antimetafísico, radicaliza as suas dimensões ético-políticas, pertencentes à existência nos diversos planos social, cultural, religioso, estético, político, etc., que configuram (nosso) presente. Embora a “Ontologia da Atualidade” pretenda reconstruir os lugares em que acontece o presente - e tendo a esfera da existência, configurada pela tecnologia e suas implicações, como espaço privilegiado para a compreensão da questão do sentido do ser -, Vattimo reconhece que o problema de sua Ontologia reside justamente na definição da natureza de seu tema, dos lugares e dos saberes que representam tal objeto.

A ontologia da atualidade, aos meus olhos, é como uma

sociologia filosófica, uma espécie de retorno a Adorno,

que foi o primeiro autor que queria estudar depois da formatura. Porém, Adorno tem um estilo e um tipo de escritura que é improsseguível, não pode se fazer escola. Não por acaso, para ele, a reflexão filosófica é

109 VATTIMO, Gianni. O Fim da Filosofia na Idade da Democracia. IN: PECORARO,

Rossano. Niilismo e (pós)modernidade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 143.

110 A proposta filosófica de Vattimo busca interpretar a história do Ocidente “[...] como

Ontologia da atualidade, como experiência da abertura veritativa atual que conduz a palavra, isto é, como pensamento que consegue compreender o hoje e as suas possibilidades sem nostalgias metafísicas”. [“[...] come Ontologia dell’attualità, come esperienza dell’apertura

veritativa attuale portata alla parola, cioè come pensiero che riesce a cogliere l’oggi e le sue possibilità senza nostalgie metafisiche”.]. (GIORGIO, Giovanni. Il Pensiero di Gianni Vattimo – l’emancipazione dalla metafisica tra dialettica ed ermeneutica. Milano: FrancoAngeli, 2006, p.

um pouco como uma execução musical. Se na minha obra existe uma ontologia da atualidade, paradoxalmente, está contida nos artigos que escrevi para jornais 111.

Apesar de não dispor de um esboço decisivo sobre as suas fronteiras e delineado definitivamente os seus horizontes, a “Ontologia da atualidade” seria, com efeito, uma interpretação mais adequada sobre os diversos modos do acontecer do ser na época pós-moderna. É fundamental destacar que Vattimo a concebe como resposta ao apelo heideggeriano da rememoração do ser. Nessa perspectiva, Vattimo declara que seu interesse pela reflexão de Heidegger foi motivado pela possibilidade de constituir uma Ontologia da Atualidade, que vem desenvolvida ao longo de seus escritos, igualmente, os artigos para jornais112.

Definida como ontologia da atualidade, a filosofia se exercita como uma interpretação da época que põe em forma um sentir difuso a propósito da existência atual em uma certa sociedade e em um certo mundo histórico. Sou consciente que aqui se descobre a água quente da filosofia como espírito do tempo, da memória hegeliana. A diferença está, porém, na ‘interpretação’: a filosofia não é expressão da época, é interpretação que certamente se esforça de ser persuasiva, mas que reconhece a própria contingência, liberdade, risquiosidade 113.

111 VATTIMO, Gianni apud SAVARINO, Luca; VERCELLONE, Francesco. Gianni Vattimo. La filosofia come ontologia dell’attualità. 2006, pp. 263-264: “L’ontologia dell’attualità, ai miei occhi, è come una sociologia filosofica, una sorta di ritorno ad Adorno, che era il primo autore che volevo studiare dopo la laurea. Ma Adorno ha uno stile e un tipo di scrittura che è improseguibile, non può fare scuola. Non a caso, per lui, la riflessione filosofica è un po’ come un’esecuzione musicale. Se nella mia opera c’è un’ontologia dell’attualità, paradossalmente, questa è contenuta negli articoli che ho scritto per i giornali”.

112 A atividade de escrever em jornais é considerada por Vattimo como uma extensão de

sua atividade como professor na academia, o que confirma a ideia da Ontologia da atualidade como leitura do dado mais atual da existência: “[...] eu não penso que exista uma diferença entre aquilo que faço quando ensino na universidade e aquilo que faço quando escrevo um artigo para um jornal”. [“[...] io non penso che ci sia una differenza tra quello che faccio quando

insegno all’università e quello che faccio quando scrivo un articolo per un giornale”.].

(VATTIMO, Gianni. Vocazione e Responsabilità del filosofo. Genova: il melangolo, 2000, p. 109).

113 VATTIMO, Gianni. Nichilismo ed emancipazione. 2003, p. 93: “Definita come ontologia dell’attualità, la filosofia si esercita come una interpretazione dell’epoca che mette in forma un sentire diffuso circa il senso dell’esistenza attuale in una certa società e in un certo mondo storico. Sono consapevole che qui si scopre l’acqua calda della filosofia come spirito del tempo, di hegeliana memoria. La differenza sta peró nell’”interpretazione”: la filosofia non è

Contudo, o caminho a ser percorrido ainda carece de definições mais precisas quanto, diga-se de passagem, ao real significado que as ‘categorias’ assumem no contexto do discurso de Vattimo. Por isso, é relevante destacar que a ontologia da atualidade vattimiana tem na experiência do presente a sua fonte primária de investigação, ou seja, a ontologia do presente de Vattimo toma como tema fundamental a experiência que se oferece na pós- modernidade, sempre aberta a novas dimensões, reflexões, cenas, páginas...

A Ontologia da atualidade pode ser compreendida como interpretação aberta do presente, construída e reconstruída constantemente com base nos impactos éticos, estéticos, políticos, econômicos, culturais, oriundos das mudanças do mundo, que perderia sentido se “[...] pensar que o essencial foi dito e que se trata apenas de ‘documentar’, por amor a informação historiográfica, o devir deste pensamento. Quer documentar um itinerário filosófico porque parecia que tinha um possível desenvolvimento e uma atualidade específica”114. Em que sentido a ontologia da atualidade se

apresenta como filosofia do presente? O que torna, porém, plausível os argumentos de Vattimo quanto à sua leitura sobre a pós-modernidade?

espressione dell’epoca, è interpretazione che certo si sforza di essere persuasiva ma che riconosce la propria contingenza, libertà, rischiosità”.

114 VATTIMO, Gianni apud ZABALA, Santiago. Gianni Vattimo. Opere Complete. Roma:

Meltemi, 2007, pp. 09-10: “[...] pensare che l’essenziale è stato detto e che si tratta solo di ‘documentare’, per amore di informazione storiografica, il divenire di questo pensiero. Si vuole documentare un itinerario filosofico perchè sembra che esso abbia un possibile sviluppo e una specifica attualità”.