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A Fitogeografia é uma subárea da Biogeografia que estuda a distribuição espacial e a caracterização fisionômica e estrutural das formações vegetais na superfície terrestre. Os estudos fitogeográficos são de fundamental importância para a compreensão das diferenças existentes entre os diversos ecossistemas que compõem a biota terrestre (TROPPMAIR, 2006). O componente vegetacional desta biota e sua variabilidade fisionômica são geralmente explicados por fatores edáficos, climáticos, geológicos e geomorfológicos dentro de uma perspectiva que considera o planeta como um grande sistema formado por diversos componentes interligados (WICANDER; MONROE, 2009).

De acordo com Fernandes (1998), a Fitogeografia ou Geobotânica visa ao estudo da integração dos componentes florísticos com o ambiente dentro de uma perspectiva holística que considera a dependência entre as formações vegetais e os elementos abióticos. Além do mais, esse ramo do conhecimento também estuda a distribuição geográfica e a história evolutiva dos vegetais. Para Bezerra e Fernandes (1989), a Fitogeografia estuda as causas da distribuição dos vegetais na superfície terrestre, além de fornecer meios para a compreensão das correlações entre espécies atuais e pretéritas.

De acordo com Troppmair (2006), a compreensão da dinâmica do componente vegetal baseia-se no estudo das suas características estruturais que determinam unidades fitogeográficas individualizadas. Esse autor ainda destaca que os estudos fitogeográficos permitem uma melhor compreensão das formações vegetais, uma vez que permitem uma caracterização segura das interações que ocorrem nessas comunidades. Por outro lado, Ribeiro e Hofig (2010) ressaltam que esse tipo de discussão é carente no âmbito da Geografia, haja vista a pouca produção bibliográfica a respeito do tema.

Nessa perspectiva, deve-se considerar as formações vegetais como parte de uma biocenose que é constituída de diversas populações, tanto da flora quanto da fauna, que se integram formando um ambiente com interações harmônicas e desarmônicas (TROPPMAIR, 2006).

De acordo com Mueller-Dombois e Ellemberg (1974), a estrutura da vegetação é muito complexa e importantíssima para os estudos vegetacionais. Assim, a estrutura pode estar associada a cinco contextos distintos e, ao mesmo tempo, integrados: estrutura fisionômica, estrutura de biomassa, estrutura das formas de vida, estrutura florística e estrutura da comunidade.

A estrutura fisionômica está associada à aparência da vegetação. A estrutura de biomassa, por outro lado, possui um conceito considerado como o mais preciso e importante para a estrutura da vegetação, referindo-se especificamente ao espaçamento e à altura das plantas. A estrutura de formas de vida diz respeito ao crescimento das plantas, enquanto que a estrutura florística se preocupa com a composição das espécies de determinada área. Por fim, a estrutura de comunidade estuda a interação entre espécies de um mesmo ambiente (MUELLER-DOMBOIS; ELLEMBERG, 1974). Para Rizzini (1997), a fisionomia é a aparência que a vegetação exibe, enquanto que a estrutura corresponde à ordenação da vegetação em estratos verticais. A composição florística, por sua vez, indica as espécies da flora distribuídas pelos gêneros e pelas famílias.

De acordo com Braun Blanquet (1979), o estudo da estrutura da vegetação se prende ao agrupamento sociológico das espécies dentro de uma comunidade, sendo os inventários fitossociológicos importantes por permitirem inferências sobre o desenvolvimento, as relações de competição e outras propriedades inerentes às espécies presentes na comunidade.

Para Dajoz (2006), os organismos vivos de uma biocenose ocupam lugares geralmente bem definidos. Isso confere às biocenoses uma estrutura vertical (estratificação) (Figura 11) e uma estrutura horizontal (heterogeneidade espacial da biocenose). No âmbito da estrutura vertical, Sanquetta (1995) considera dois parâmetros fitofisionômicos: o porte e a estratificação. O porte corresponde à altura dos indivíduos, já a estratificação diz respeito aos patamares de altura ou andares presentes na vegetação. Esses parâmetros são considerados como os mais importantes para a compreensão da fisionomia das formações vegetais. Em relação aos estudos da estrutura vertical, deve-se destacar a importância da aferição da Circunferência à Altura do Peito (CAP) e do Diâmetro à Altura do Peito (DAP) como atributos complementares às análises de porte e de estratificação. Nesse sentido, Felfili (1993, apud DUARTE, 2007) ressalta a importância da avaliação diamétrica para os estudos de comunidades vegetais, uma vez que esse atributo reflete o histórico da vegetação, bem como a ocorrência de distúrbios como o corte, o fogo e o ataque de doenças no passado. Esse dado também permite conclusões sobre a sucessão ecológica da comunidade, pois a presença de indivíduos com significativos diâmetros em estádio inicial pode caracterizar a existência de antigas clareiras em processo final de cicatrização na area (FELFILI, 1993, apud DUARTE, 2007).

Figura 11 – Perfil representando os três estratos verticais da Floresta Estacional Decidual tardia do Parque Estadual da Mata Seca

Nesse contexto, Furlan (2009) ressalta que esses dois aspectos são de fundamental importância para a caracterização fisionômica das coberturas vegetais e apresenta uma classificação dos estratos, os quais seguem os seguintes critérios:

i) Estrato herbáceo: é vegetação rasteira que se encontra no nível mais próximo do chão e logo acima da serrapilheira. É formado por gramíneas e outras plantas não lenhosas que não ultrapassam 50 cm de altura. ii) Estrato arbustivo: patamar que se situa entre um a dois metros de altura, onde estão os arbustos e os indivíduos arbóreos de pequeno porte. iii) Estrato arbóreo: constituído de árvores que alcançam alturas bastante distintas, podendo apresentar indivíduos em um patamar intermediário que sobressai ante o estrato arbustivo, mas que não alcança as árvores mais altas.

iv) Dossel: é o patamar mais alto da vegetação; formado pelas copas das árvores que atingem maiores alturas.

v) Emergentes: é o patamar representado pelas árvores cujas copas estão acima do dossel.

Quanto aos parâmetros estruturais horizontais, destacam-se os atributos florísticos que compõem as diversas espécies de uma área amostral. Melo (2004) afirma que a análise florística e estrutural possibilita comparações dentro e entre formações vegetais no espaço e no tempo, além de gerar dados sobre a riqueza e a diversidade de uma determinada área. Para Mueller-Dombois e Ellemberg (1974), a caracterização florística refere-se a uma lista de espécies distribuídas por diversos níveis taxonômicos. Essas listas podem vir acompanhadas de chaves de identificação, constituídas de textos com informações morfológicas de cada espécie. Assim, a caracterização florística corresponde ao levantamento do número de indivíduos de cada espécie e ao arranjamento dessas espécies pelos grupos de famílias. A caracterização fitossociológica, por outro lado, diz respeito à produção de dados referentes às interações entre as espécies, e entre estas e o meio em que se encontram (MELO, 2004).

3. MATERIAL E MÉTODOS