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2. A FORMAÇÃO DO ATOR NO TEATRO BRASILEIRO E NO

2.3 A formação do ator: de Gomes Cardim a João Galante de Souza

Os registros do período republicano que traziam a função de incentivar a dramaturgia, exerciam tão grandes exigências dos alunos, que em alguns casos, poucos participavam das estreias. Após três décadas de tentativas de criação de espaço para o ensino do teatro, em 1906, sob o pioneirismo de Gomes Cardim, foi criado em São Paulo o Conservatório Dramático e Musical, de caráter privado. O local ofertava curso de música e de arte dramática, este último para sua formação completa, contava com duração de três anos. Porém, muitos registros não estão claros sobre seu funcionamento, mas o que se sabe é que atendeu até o ano de 1931 e não apenas formou alunos para a arte de representar, mas também “incentivava a investigação, pesquisa e aprimoramento da arte dramática”, observado em Carvalho (1989,p. 173).

Em julho de 1911, foi inaugurada a primeira escola brasileira de caráter público, Escola Dramática Municipal do Rio de Janeiro, por Coelho Neto (diretor e professor de estética), de acordo com os seguintes atos: Lei nº 1.167, de 13 de janeiro de 1908, regulamentada pelo Decreto-Lei nº 832, de 08 de junho de 1911. A inauguração contou com a presença do Presidente Nilo Peçanha e do Prefeito do Distrito, Serzedelo Correa, no Rio de Janeiro, na época Capital Federal. Em sua estreia, recebeu 168 candidatos concorrendo às 30 vagas disponíveis. A proposta curricular para o ensino contava com disciplinas, também seguindo ao que demandava o ensino de teatro europeu: Prosódia; Arte de Dizer; Exercício, Atitudes e Esgrima; Literatura Dramática e História; Arte de Representar a Psicologia das Paixões, além de Português.

Foi uma luta que iniciou desde o ano de 1908, seguindo a vontade de Artur Azevedo, tentando dar ao ator brasileiro uma formação regular. De acordo com documentos da época, apesar de ser uma escola assumida pela administração pública, dependia quase exclusivamente do esforço de Coelho Neto para a continuidade de seu funcionamento. Ainda nesse documento, as críticas se voltaram para o ensinamento ministrado, atribuindo a que a escola não corresponde às expectativas e apontam como falha maior a imobilidade e a falta de alternância de metodologia na procura de melhores resultados, a escola sofria com o descaso e falta de apoio das autoridades e dos empresários (NUNES, 1956, p. 54-55 apud FREITAS, 1998, p. 23).

Apesar das críticas externas negativas direcionadas ao ensino na Escola de Arte Dramática, o jornalista Mário Nunes, defendeu o esforço do corpo docente da escola, frente à deficiência do teatro brasileiro, conforme Faria (2012, p. 378):

Falta-nos uma escola, diziam; agora, apesar de se ensinar na nossa pelos mesmos processos de todas as congêneres, diz-se: a escola está errada. Ótima ou péssima ela aí está e já este ano dá uma turma de diplomados. Três anos de curso fizeram esses rapazes e senhoras; dois de arte de representar com os distintos professores: Augusto Melo, Cristiano de Sousa e Eduardo Vitorino; o último guiado pelo obscuro signatário das presentes linhas. Estou intuitivamente convencido de que não há uma só criatura de bom senso e que conheça um pouco de teatro, crente de que saiam dali verdadeiras águias, capazes de, por si só, reerguerem o teatro nacional. O que eles almejam e com justa razão é o aproveitamento daqueles que se querem dedicar ao teatro como justo prêmio dos seus esforços e do trabalho de três anos de escola.

A Escola Dramática Municipal-RJ, após a morte do primeiro Diretor, Coelho Neto (1864-1934), contou como os seguintes diretores: Renato Vianna (1894-1953) e Luís Peixoto (1894-1973). Por reconhecer o esforço de seu fundador, como homenagem, mudou a identificação da escola para Escola Dramática Coelho Neto. Porém, em 1953, passou a se chamar Escola de Teatro Martins Pena, a qual atualmente permanece com o mesmo nome.

Por volta de 1922, Renato Viana iniciava uma intensa luta em favor do ator brasileiro, para que tivesse uma educação valorizada e reconhecimento de ator profissional. Investida partindo com a criação de Colmeia, nome atribuído à reunião de diretores; em 1932, funda o Teatro de Arte; em 1934, novamente com o projeto de formação de ator, cria o Teatro Escola; por volta de 1944, funda o Teatro Anchieta e a Escola Dramática do Rio Grande do Sul, funcionando até 1946. Nesse mesmo ano, parte para mais um projeto pedagógico voltado para o ensino do ator, o Teatro do Povo, e como forma de difundir essa arte contou com a participação de operários como alunos, nessa experiência.

Depois de tanta dedicação para o ensino das técnicas teatrais, utilizando as próprias teorias e práticas, Vianna partiu e deu outro salto, para dirigir a Escola Dramática Municipal. Em meio ao período dessa gestão, transformações foram ocorrendo, tanto no programa de ensino como no aspecto físico, resultando na troca de identificação, passando a denominação de Escola Dramática Martins Pena. Pelo menos Vianna pode sentir-se realizado, desfrutando daquilo que tanto batalhou e defendeu, um espaço adequado para a formação do ator, por mais que com o passar dos anos fosse necessário mudanças nos projetos pedagógicos, como adequação do novo tempo. Renato Viana faleceu em 1953.

Em 1937, após 26 anos de inauguração da primeira escola de teatro, Escola Dramática Municipal, inaugurada em 1911, atual Martins Pena, no Rio de Janeiro, o governo federal, de acordo com o Ministério da Educação e Saúde, acatou e criou a Comissão de Teatro Nacional, instituída pelo Ministro Gustavo Capanema, em 14 de setembro de 1936, para que estudasse a possibilidade de criação de curso de teatro, visando à formação profissional do ator, criando em 1939 o Curso Prático de Teatro (CPT), no Rio de Janeiro,

ligado ao Serviço Nacional de Teatro. A essa Comissão fazia parte os seguintes membros: Múcio Leão, Oduvaldo Viana, Francisco Mignone, Sérgio Buarque de Holanda, Olavo de Barros, Benjamin Lima e Celso Kelly (BRASIL, 1937). Essa comissão via os próprios grupos amadores como “escola natural de teatro”, pois suas práticas estimulavam o ensinamento do teatro.

As sucessivas mudanças ocorriam em meio à tentativa e busca de firmação do ensino teatral. Criado o CPT em 1939, o órgão a quem estava ligado Serviço Nacional de Teatro no ano de 1953, passou a outra denominação: Conservatório Nacional de Teatro, até o ano de 1969. Prosseguindo as mudanças, o Conservatório passa a Escola de Teatro da Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara (FEFIEG). Com a mudança do Estado da Guanabara para Estado do Rio de Janeiro, por volta de 1978, passa para Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEIERJ). Permanecendo com essa denominação apenas por um ano, pois a partir de 1979 passou a denominação de Escola de Teatro do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), permanecendo atualmente.

No ano de 1948, São Paulo ganha a Escola de Arte Dramática conhecida como EAD, que teve como fundador o Professor e Diretor Teatral Alfredo Mesquita (1907-1986). Um fato importante sobre o envolvimento de Mesquita com a arte teatral, é que no mesmo ano da fundação da EAD, o Grupo de Teatro Experimental (GTE) criado por ele, apresentou o espetáculo “A mulher do próximo”, de Abílio Pereira Almeida (1906-1977), por ocasião da inauguração do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), criado por Franco Zapari (1898-1966). Na mesma estreia, outra apresentação “La Voix Humaine”, de Jean Cocteau, mas por Henriette Morineau (1909-1990).

Um fato marcante nesse processo de criação dos espaços de formação do ator se deu em 1955, quando é criada a primeira escola de teatro ligada a uma instituição federal de ensino superior, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, instalada inicialmente no Departamento de Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas da instituição, atualmente denominada de Escola de Teatro da UFBA.

Outras instituições surgiram no final da década de 50, como evolução dos espaços de ensino de teatro no Brasil, prosseguindo na década de 60. Em 30 de dezembro de 1957, foi criado o Curso de Arte Dramática (CAD), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), iniciando suas atividades no ano seguinte, em 1958, em nível médio técnico. A partir de 1967, o Curso de Arte Dramática mudou para Centro de Arte Dramática.

Atualmente, com curso de Graduação em Arte Dramática, funciona no Departamento de Arte Dramática (DAD), do Instituto de Artes da UFRGS-Porto Alegre.

A Universidade de Pernambuco, em 1958, iniciou com o curso de Formação de Ator. Atualmente oferta o curso de Licenciatura em Teatro, que visa à formação de professor de Teatro para atuar na educação formal dos níveis fundamental e médio. Já a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) fundou em 1956 o Teatro Universitário em Belo Horizonte. Somente a partir de 1989 passou a oferecer curso em nível de segundo grau. Atualmente, o Teatro Universitário está vinculado à Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG, que oferece o curso Técnico de Ator. Tanto o Teatro Universitário, quanto o curso Técnico em Ator estão funcionando na Escola de Belas Artes da UFMG.

No início dos anos 60, a Universidade Federal do Ceará e a UFPA criaram os cursos de Formação de Ator, na modalidade livre. Atualmente, a Universidade Federal do Ceará possui o Curso de Licenciatura em Teatro, voltado para a formação de professores, ligado ao Instituto de Cultura e Artes. A UFPA iniciou o curso de formação de ator, como curso livre, no ano de 1963, permanecendo até o ano de 2003. A partir desse ano, o curso mudou para Técnico Profissionalizante, passando por adaptações, e alteração de nomenclaturas, como: Curso de Formação de Ator, Curso Técnico de Arte Dramática, por último Curso Técnico em Teatro. Como o objeto desta pesquisa versa sobre o ensino do teatro, na formação do ator na UFPA, na década de 60, a seguir, apresentaremos algumas questões sobre a história e a memória do curso, que influenciou na cultura, mudando significativamente a história do teatro em Belém do Pará.