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CAPÍTULO II AS DIMENSÕES ONTOLÓGICAS DO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO

2.3 A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA: DUPLA DETERMINAÇÃO OU UNICIDADE?

O tema da consciência se apresentou para a o campo da psicologia ao final do século XVIII e início do século XIX de forma bastante conflituosa, especialmente para a denominada “velha psicologia”, e em nosso estudo ela estará presente em todas as discussões, seja de forma direita ou indireta. Ainda que nossa investigação pertença à área da educação60, já argumentamos o quanto a psicologia se mostra indispensável para compreender os processos de desenvolvimento, ensino e aprendizagem na infância, uma vez que fornece elementos indispensáveis sobre a constituição, o funcionamento e os mecanismos da psique humana, possibilitando ampliar a nossa análise ontológica, gnosiológica e epistemológica dos processos de apropriação do conhecimento.

Como assinalamos anteriormente, nosso viés para a discussão é a psicologia soviética, cuja constituição está assentada na filosofia marxista. Não é possível encontrar uma ciência psicológica acabada nas obras dos fundadores do marxismo-leninismo. Segundo Rubinstein (1979, p. 253), entre as obras de Marx há uma que contém “um sistema inteiro de ideias relacionadas diretamente com a psicologia. Nos

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Nosso campo de estudo e atuação é a educação, que necessariamente se articula com outras áreas, como a filosofia, a psicologia, a biologia e a sociologia. Sabemos que a discussão acerca da consciência no campo da psicologia e da filosofia é bastante densa e polêmica. Foge ao escopo desta tese uma abordagem que contemple questões eminentemente das áreas psicológica e da filosofia em relação ao estudo da consciência. Abordamos alguns aspectos de caráter ontológico e epistemológico que julgamos relevantes para a nossa análise, a partir de nosso objeto de investigação, especialmente considerando a relação entre teoria e prática e o que já indicamos como nosso objeto de estudo. Para mais informações sobre a temática, sugerimos as seguintes leituras: TOASSA, Gisele. Conceito de consciência em Vigotski. Psicologia USP, v. 17, n. 2, p. 59-83, 2006; LORDELO, Lia da Rocha; TENÓRIO, Robinson Moreira. A consciência na obra de L. S. Vigotski: análise do conceito e implicações para a psicologia e a educação. Revista Semestral da Associação Brasileira de

Psicologia Escolar e Educacional, v. 14, n. 1, p. 79-86, 2010; IASI, Mauro. O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência. São Paulo: Viramundo,

referimos a uma de suas primeiras obras, os Manuscritos económicos- filosóficos del año 1844”61. Essa obra, especialmente para Rubinstein (1979) e para a psicologia soviética, apresenta como problema central o próprio homem.

Além dessa produção, Rubinstein (1979), cita A ideologia alemã (1845-1846), escrita com Engels, na qual “se encontram pensamentos filosóficos importantes, mas somente isolados sobre problemas psicológicos, pensamentos que refletem o ulterior desenvolvimento da concepção marxista” (RUBINSTEIN, 1979, p. 280). A partir dessa obra de Marx, ele apresenta a tese fundamental sobre a consciência: “A consciência {das Bewusstsein} não pode ser nunca outra coisa que o ser consciente {das buwusste Sein}, e o ser dos homens é seu processo de vida real” (RUBINSTEIN, 1979, p. 280), declarando que a vida real do indivíduo seria a única maneira de focar o estudo da consciência. Segundo o próprio Marx, citado por Rubinstein (1979, p. 280), “não é a consciência que determina a vida senão a vida que determina a consciência”.

Ao tomar essa proposição de Marx, é possível estabelecer algumas analogias fundamentais, ainda que iniciais, sobre uma provável consideração ontológica em relação aos processos investigativos daqueles que buscavam dar materialidade à psicologia, torná-la objetiva e concreta, pois, considerar a consciência como determinada pela vida nada mais é do que admitir que sua constituição se origina da materialidade da vida, da realidade e da ação prática dos homens, do agir humano, do trabalho em seu processo de complexificação; destarte, a partir do princípio ontológico fundamental — o trabalho.

Sabemos que o desenvolvimento da consciência (psiquismo) não pode ser reduzido apenas às suas funções psíquicas. Existem pesquisas, como, por exemplo, as de Luria (1990), registradas em sua obra Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos culturais e históricos, e as expostas na obra de Leontiev (1978) intitulada O desenvolvimento do psiquismo, que comprovam e demonstram que diferentes processos psíquicos se reajustam, modificam-se no decurso do desenvolvimento histórico e sob determinadas condições comuns a determinado grupo social, sejam elas econômicas ou culturais. Portanto, em diferentes épocas da história serão distintos também os processos de percepção, de memória de pensamento. De acordo com Leonitev (1978, p. 90), “as

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Não apenas Rubinstein apresenta essa compreensão. Marta Shuare também afirma que os Manuscritos econômicos e filosóficos trazem elementos importantes para uma concepção psicológica marxista.

particularidades do psiquismo humano são determinadas pelas particularidades destas relações”. As experiências realizadas por Luria (1990), nos diferentes contextos e povoados da Rússia evidenciam esse fato com extrema clareza.62

A psicologia burguesa, cuja abordagem da consciência foi realizada de forma tradicional, mostrou-se inapta para estudar os processos que permitem compreender que nela se encontram os fenômenos e processos psicológicos, por considerar a consciência do homem e a sociedade de classes como imutáveis e próprias de todos os homens. Para compreender as características psicológicas e seu movimento, suas relações dinâmico-causais, era necessário renunciar a concepções que as isolam do mundo objetivo — concepções de caráter metafísico.

À vista disso, era preciso realizar uma abordagem que considerasse que as relações de produção se transformaram ao longo da história humana e, sendo diferentes, teríamos distintas transformações na consciência humana, já que esta é produto da atividade prática e, portanto, social do homem. É importante relembrar que, após o salto ontológico, o caráter das relações humanas é eminentemente e ineliminavelmente social.

Tendo essa premissa no cerne de suas averiguações, Vigotski se destaca por trazer elementos inovadores a partir dessa matriz teórica e filosófica com intuito de compreender os mecanismos de formação concreta da consciência e, consequentemente, como o indivíduo realiza seu processo de apropriação de conhecimentos, a formação de sua personalidade para poder agir e compreender a realidade, processo este entendido por nós como o próprio desenvolvimento da humanização do homem após seu nascimento. Kozulin, (2001, p. 16, grifos do autor), ao se pronunciar sobre o teor das pesquisas de Vigotski, acentua que “as palavras chaves de sua investigação são consciência e cultura”.

Considerando o método que Vigotski buscava para compreender os fenômenos psicológicos — o materialismo dialético —, é possível constatar que o próprio conceito de consciência foi transformando-se na obra do autor, demonstrando o caráter de aprofundamento e superação

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Luria e Vigotski queriam provar a tese marxista-leninista, segundo a qual “todas as atividades cognitivas humanas fundamentais tomam forma na matriz da história social, produzindo assim o desenvolvimento sócio histórico” (LURIA, 1990, p. 7). Para isso realizaram uma pesquisa, por sugestão de Vigotski, segundo Luria (1990), nas regiões mais remotas do Uzbequistão e Kirghizia, em vilarejos e terras de pastoreio nas montanhas.

de seus estudos. Podemos observar essa alteração em alguns de seus artigos, cuja abordagem nos parece mais enfática. É o caso de Os métodos de investigação reflexológicos e psicológicos, comunicação de 1924, apresentada num congresso em São Petersburgo e escrita a partir de outro artigo que expôs em Leningrado, em 6 de janeiro de 1924, trabalho científico que lhe rendeu o ingresso na psicologia. Também destacamos A consciência como problema da psicologia do comportamento63, conferência que proferiu quando já havia sido convidado a integrar o Instituto de Psicologia em Moscou, na qual apontou a necessidade de um estudo concreto da consciência; O significado histórico da crise na psicologia, seu grande trabalho histórico e teórico finalizado entre 1926 e 1927; e A construção do pensamento e da linguagem, publicado no limite de sua vida, em 1934. Existe ainda uma seleção de estudos, seminários e notas organizada por seus alunos e colegas da equipe de pesquisa entre 1933 e 1934, intitulada O problema da consciência64.

Em nossas leituras e estudos pudemos constatar que esses artigos teóricos produzidos por Vigotski expressam, em sua essência, uma crítica ontológica65 para muito além da crítica epistemológica, devido à profundidade e à matriz teórica que assumem suas análises em relação ao que estava posto até então para os estudos da consciência. Isso nos permite estabelecer correlações entre o que havia de estudos sobre consciência na psicologia e as investigações de Vigotski a respeito da formação da consciência, a partir da temática central: a consciência como formação genuinamente humana.

Em seu artigo sobre a Consciência como problema da psicologia do comportamento (2004b), Vigotski revela as circunstâncias em que estavam sendo consideradas as investigações sobre a consciência e qual

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O texto original dessa conferência foi publicado em 1925 e pode ser lido em: VYGOTSKI, L. S. La conciencia como problema de la psicología del comportamento. In: VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas (v. 1,). Madrid: Visor, 1991. p. 39-60.; VIGOTSKI, L. S. A consciência como um problema de psicologia do comportamento. In: VIGOTSKI, L. S. Teoria e método em

psicologia. São Paulo: Martins Fontes: 2004.

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No texto original há uma longa nota de rodapé que oferece explicações sobre a forma como foi redigido esse texto, a partir de uma reunião de trabalho de Vigotski, cuja recuperação foi feita a partir dos fragmentos dos manuscritos e do arquivo pessoal de Leontiev, que redigiu um prólogo e uma introdução que convém consultar antes de examinar o artigo.

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Referimo-nos ao conceito de crítica ontológica no primeiro capítulo, que versa sobre o método ontogenético.

o seu espaço na ciência psicológica da época (décadas de 1920 e 1930). Uma de suas afirmações consistia na desaprovação inferida pela ciência psicológica (behaviorista e empírico subjetiva) quanto a essa questão. Dizia ele que ao ignorar o problema da consciência, a psicologia encerrava para si a possibilidade de investigar a complexidade do comportamento humano; ao negá-la, não permitia que as reações internas fossem conhecidas, pois são justamente elas, que estão ocultas aos olhos do observador, que orientam e dirigem o comportamento humano.

Investigar as reações internas fazia parte de suas averiguações para compreender a consciência no comportamento psicológico, o que já demarcava algo completamente distinto para a época. Em vários momentos, o autor pontua em sua vasta obra, especialmente no texto Significado histórico da crise da psicologia, de 1927, a falta de um método pelo qual essa investigação fosse possível para a psicologia, dada a abordagem metodológica que se priorizava até então. Além disso, era necessário considerar outras vertentes na exposição da problemática que não fossem somente a partir da psicologia, como as vertentes da biologia, a social e a fisiológica.

Em seus escritos, ao distinguir o comportamento animal — como conjunto de reações, reflexos inatos ou não condicionados (estrato biológico da experiência hereditária de toda a espécie), explicados por Darwin66 — dos adquiridos ou condicionados (que surgem sobre a base dessa herança hereditária, a partir do fechamento de novas conexões obtidas por meio da experiência particular), abordados por Pavlov67,

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“Charles Darwin (1809-1882) foi um cientista britânico que lançou as bases da teoria da evolução e transformou a maneira como pensamos sobre o mundo natural. [...] Darwin trabalhou em sua teoria por 20 anos. Depois de saber que outro naturalista, Alfred Russel Wallace, desenvolveu ideias semelhantes, os dois fizeram um anúncio conjunto de sua descoberta em 1858. Em 1859, Darwin publicou ‘A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural’. O livro foi extremamente controverso, porque a extensão lógica da teoria de Darwin era que o homo sapiens era simplesmente uma outra forma de animal. Ele fez parecer possível que mesmo as pessoas só poderiam ter evoluído—muito possivelmente dos macacos — e destruiu a ortodoxia dominante sobre a forma como o mundo foi criado” (BBC, 2014).

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Ivan Pavlov (1849-1936), fisiologista e médico russo, estudou num seminário religioso onde teve como mestre um sacerdote que lhe despertou o gosto pela ciência. Estudou ciências naturais na Universidade de São Petersburgo. Despertou o interesse em estudar medicina depois de ler Os reflexos do cérebro, livro que detalhava as conexões entre nossas atividades físicas e nossas ações

Vigotski (1997), evidencia que com o homem se processa algo completamente distinto, demonstrando que a experiência herdada pelo homem é muito mais ampla do que a do animal, sendo que a experiência física não é a única a ser herdada, mas também a experiência das gerações anteriores (trabalho, instrumentos, comportamentos) que não são transmitidas diretamente de pais para filhos, mas que se produzem e processam ao longo da história da humanidade, a qual Pavlov “convencionalmente chamou de experiência histórica” (VIGOTSKI, 1997, p. 45).

Segundo Vigotski (1996), em seus estudos sobre a gênese do comportamento histórico-cultural, foi possível observar que em cada estágio de desenvolvimento na sequência evolutiva ocorre uma espécie de preparação para uma transição seguinte; abre-se um novo caminho, de forma dialética, mudando o que estava posto até então para uma nova forma de comportamento, o que pode incluir crises e conflitos gerados nesse processo de transição de um estágio de desenvolvimento para o outro.

Ainda segundo esses estudos, o autor coloca que, ao nos determos no processo de transição evolutivo do homem, veremos que o uso de ferramentas pelos macacos antropoides determina o fim de uma etapa orgânica do desenvolvimento comportamental. Já o desenvolvimento da fala, do trabalho e de outros signos psicológicos utilizados pelo homem primitivo demarca o início do comportamento social e histórico. Contudo, no desenvolvimento da criança é possível visualizar

[...] uma segunda linha de desenvolvimento que acompanha os processos de crescimento e maturação orgânicos, ou seja, vemos o desenvolvimento cultural do comportamento baseado na aquisição de habilidades em modos de comportamento e pensamento culturais (VYGOTSKY, 1996, p. 53).

Aqui Vigotski se refere exatamente ao processo de aquisição da experiência histórica. Em Marx é possível verificar esse pressuposto — experiência histórica — com extrema clareza, o que nos permite expandir a abrangência de sentido levantada por Vigotski.

psicológicas. Seu objetivo era ser professor de fisiologia. Pavlov criou a “teoria dos reflexos condicionados”. Recebeu o Prêmio Nobel em 1904 por seus trabalhos sobre a relação do sistema nervoso com o sistema digestivo (E- BIOGRAFIAS, 2014).

Essa concepção mostra que a história não termina por dissolver-se, como “espírito do espírito”, na autoconsciência, mas que em cada um de seus estágios encontra-se um resultado material, uma soma de forças de produção, uma relação historicamente estabelecida com a natureza e que os indivíduos estabelecem uns com os outros; relações que cada geração recebe da geração passada, uma massa de forças produtivas, capitais e circunstanciais que, embora seja, por um lado, modificada pela nova geração, por outro lado prescreve a esta última suas próprias condições de vida e lhe confere um desenvolvimento determinado, um caráter especial — que, portanto, as circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstâncias (MARX, 2009, p. 43).

A experiência histórica assim entendida é fundamental precisamente por permitir ao homem apropriar-se da experiência de seus antepassados, não apenas espiritualmente, mas materialmente. É essa experiência que tem possibilitado à humanidade avançar, progredir, reproduzir a sua vida no sentido ontológico68, conservando suas bases históricas.

Assim nos comprovam os estudos de Vigotski relacionados à evolução dos sistemas simbólicos sob uma perspectiva histórica e cultural. Em seu livro Estudos sobre a história do comportamento humano: símios, homem primitivo e criança (1996), escrito em parceria com Luria, ele enfatiza que a memória do homem primitivo permitiu compreender essa história quantitativa e qualitativamente. O desenvolvimento da memória humana está vinculado à criação cada vez mais elaborada social e coletiva de instrumentos culturais criados pelo homem. Além dos instrumentos (muitos passados de uma geração a outra), o homem criou um segundo sistema simbólico — as palavras e sinais para substituir os instrumentos concretos — que tem como função a comunicação com outros e, a partir de sua internalização, a de regular seu próprio comportamento. Fica demonstrado assim o primeiro estágio

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Referimo-nos à reprodução no sentido empregado por Lukács (1981), como parte constitutiva do ser social e que apresenta elementos de conservação, superação e transformação.

do desenvolvimento da linguagem como processo interpsicológico (interação com outros no processo de controle do ambiente) e interpsicológico (interiorização desses símbolos para o controle de si próprio).

Esse complexo e intrincado processo de relação das relações que constitui experiência histórica adquiriu em Vigotski, como podemos constatar, um sentido dinâmico de compreender a história como essencial no processo de formação e reprodução da consciência humana. Também para Lukács, esse era um grande ponto de inflexão da teoria marxiana: “a tese segundo a qual a categoria do ser social, e isto vale para todo ser, é que ele é histórico” (LUKÁCS, 1999, p. 145).

À experiência histórica, Vigotski (2004b), diz que se deve acrescentar a experiência social, a qual designou como o componente social do comportamento humano, entendido como a experiência de outras pessoas que nos permite estabelecer conexões a partir dessas experiências69, ainda que estas não tenham sido vivenciadas diretamente por nós. O componente social, no qual o outro assume um caráter dinâmico na composição de nossas próprias vivências, não é compartilhado em hipótese nenhuma pelos animais.

Outro elemento importante, segundo o autor russo, é que o homem adapta-se ativamente ao meio e a si mesmo, adquirindo novas formas de relação. Embora o animal também se adapte, sua adaptação é passiva e epifenomênica. Sabemos que somente o homem constrói idealmente o resultado de seu trabalho — preceito ontológico postulado por Marx em relação ao trabalho existente idealmente para o trabalhador antes mesmo de ele o iniciar. Vigotski (2004b), chama a atenção para o processo de trabalho previamente idealizado, considerando-o uma experiência duplicada, já que permite ao homem desenvolver formas ativas de adaptação, dando origem a novas formas de comportamento, as quais são completamente inexistentes nos animais. Em outras palavras, ele denomina comportamento de experiência duplicada a essas novas formas de comportamento.

A partir desses três elementos: experiência histórica, experiência social e experiência duplicada, Vigotski (2004b) fundamentou uma

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Vigotski cita o exemplo das inúmeras conexões que estão na experiência de outras pessoas. Assim diz ele: “Dispongo no solo de las conexiones que se han cerrado em mi expereincia particular entre os reflexos condicionados y elementos aislados del médio, sino também de las numerosas conexiones que han sido estabelcidas en la expereincia de outras personas” (VYGOTSKI, 1997, p. 45).

linha de investigação sobre o comportamento humano. Seus argumentos e esforços estavam voltados para compreender o funcionamento objetivo da consciência. Para ele, era preciso investigar aquilo que não estava aparente, porque “estudar as reações visíveis à primeira vista resulta estéril e injustificado” (VYGOTSKI, 1997 p. 40)70, pois justamente os movimentos internos é que orientam e dirigem a atividade consciente, embora saibamos que os excitantes externos é que dirigem o movimento interno. Esse postulado também é defendido por Rubinstein (1965, 1966, 1979), e o retomaremos mais à frente, no capítulo III.

Diferentemente da premissa da reflexologia, que admitia ser possível explicar o comportamento humano sem recorrer a fenômenos subjetivos — portanto, uma psicologia sem psique —, ou seja, o comportamento humano deduzido a partir da soma de reflexos, para Vigotski, o conceito de reflexo era importante, porém, não deveria ser entendido com caráter de um conceito principal baseado na reflexologia, já que para ele o reflexo é um conceito abstrato:

[...] metodologicamente tem grande valor, mas não pode se converter em um conceito principal da psicologia como ciência do comportamento do homem, porque esse comportamento não constitui de forma alguma um saco de couro cheio de reflexos nem seu cérebro é um hotel para os reflexos condicionados que casualmente se alojam nele (VIGOTSKI, 2004b, p. 60).

Vigotski não desconsiderava as descobertas da reflexologia. Reconhecia seus avanços para a ciência psicológica, mas era cauteloso com a ideia de tudo ser compreendido como reflexo (condicionado). Defendia que era preciso estudar não os reflexos, mas o comportamento humano, seu mecanismo, composição e estrutura. Aliás, observamos que ele vai substituindo a palavra reflexo por comportamento, justamente em razão da consistência e da abrangência, além do sentido histórico que ele contém dentro da ciência psicológica. Entretanto, de modo algum Vigotski desconsiderava a ideia do reflexo como imagem ideal71 na consciência. Para ele, o psiquismo possui essa unidade material e ideal cujo desenvolvimento é geneticamente social.

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“Limitarse a estudiar las reacciones que se vem a simple vista resulta estéril e injustificado incluso em lo que se refiere a los problemas más simples del comportamiento humano” (VYGOTSKI, 1997, p. 40).

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Rubinstein, ao compartilhar da mesma base filosófica do materialismo dialético, assim como Vigotski, considerava imprescindível analisar as condições internas do indivíduo. Em seu livro