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A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS E HÁBITOS DE LEITURA

ESCOLAS INTEGRADAS NAS REDES DE BIBLIOTECAS ESCOLARES

1.4. A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS E HÁBITOS DE LEITURA

Numa perspectiva abrangente que vai muito para além do processo de aquisição das competências da leitura, a formação de leitores é uma responsabilidade partilhada entre pais, professores e bibliotecários, ou seja, é determinante que tudo aconteça dentro do triângulo “família – escola – biblioteca”.

Se é na escola que os alunos adquirem as competências necessárias à leitura (ou não), é na família que ocorre (ou não) a socialização primária da leitura. Assim sendo, promover a leitura junto das crianças é obrigatoriamente sensibilizar e envolver os adultos (pais, professores e técnicos de bibliotecas), destacando o seu papel determinante de companheiros de viagens e de descobertas pelo mundo dos livros.

A promoção da leitura pode, inclusive, ser feita simultaneamente junto da criança que ouve a história e do adulto que a lê. Com efeito, quem mais lê melhor lê, são muitas as respostas que a leitura nos dá, em Sousa (2007:51), encontrámos seis razões que passamos a enunciar:

1. lê-se pela busca do prazer e de evasão para onde o livro nos pode transportar para outros mundos, espaços, culturas, por vezes, tão distantes da nossa realidade comezinha;

2. lê-se pela busca de sentidos, por vezes a nossa vida afigura-se-nos sem sentido, no livro onde há um princípio, meio e fim, onde as suas personagens têm objectivos permite-nos uma busca pessoal de sentidos para esse universo;

3. lê-se para que haja um desenvolvimento afectivo, fazendo com que o leitor se identifique com as personagens, procurando ele mesmo, enquanto leitor, soluções para essas personagens e para os seus problemas. Esta identificação com os outros (as personagens) leva a:

4. um desenvolvimento social, ou seja torna-se o leitor mais tolerante com os outros e com os seus problemas, conhecendo-se melhor a si, compreendendo melhor os outros;

5. lê-se para alargar conhecimentos, permitindo um saber enciclopédico; 6. lê-se para desenvolver competências leitoras.

Nesta nossa dissertação, as nossas vinte razões para ler encaixam perfeitamente nestas que se nos afiguram mais abrangentes:

1. Ler para saber; 2. Ler para crescer;

3. Ler para desenvolver a imaginação; 4. Ler para amar;

5. Ler para conhecer outros mundos; 6. Ler para estudar;

7. Ler para interagir; 8. Ler para cozinhar;

9. Ler para sonhar acordado; 10. Ler para ter liberdade;

11. Ler para abrir um cofre de sabedoria; 12. Ler para ter um amigo;

13. Ler para ampliar horizontes; 14. Ler para comunicar;

15. Ler para viajar sem sair do lugar; 16. Ler para enriquecer o vocabulário; 17. Ler para de conhecer melhor;

18. Ler para compreender melhor os outros; 19. Ler para se actualizar;

leitura deve ser um objectivo estratégico a perseguir. Para além de criar as condições para manter os leitores activos a ler, há que perspectivar formas de combater a relutância à leitura.

Para além do investimento inicial na formação de crianças leitoras, devem ser desenvolvidas actividades que estimulem a prática da leitura, por parte dos jovens, fortalecendo, deste modo, os hábitos de leitura. Podemos definir um leitor relutante como alguém que, apesar de ter as competências necessárias, opta por não ler.

- Qual a causa de tanta aversão à leitura, por parte das crianças?

Provavelmente:

• associarão a leitura ao fracasso;

• não são capazes de estar sossegadas o tempo suficiente para lerem; • a leitura não fornece o nível de entretenimento que elas desejam; • cresceram num ambiente de não-leitura;

• ler é uma tarefa, quase sempre, solitária;

• ler é difícil para elas porque lhes faltam as competências leitoras.

Criar e fortalecer o gosto pela leitura nas crianças começa a despertar mesmo antes desta saber ler, o seu contacto precoce é determinante no seu desenvolvimento psicomotor, social e afectivo. Enquanto forma de descoberta do Eu, do Outro e do Mundo, a leitura ajuda a crescer.

Neste contexto, torna-se fundamental desenvolver projectos que, de uma forma continuada, ajudem as crianças a trilhar os seus percursos individuais de leitura desde a mais tenra idade até à adolescência.

O grande desafio é conseguir que estes a vejam como algo mais do que um mero instrumento para aprender ou como um dever escolar. Apresentar a leitura como uma forma de lazer e como uma forma de descoberta e afirmação

individual torna-se fundamental para consolidar as práticas de leitura nas crianças, de modo a fidelizá-las e defini-las como público leitor.

Contudo, o sucesso de um programa de promoção de leitura só pode ser avaliado a longo prazo. Esta constatação alerta-nos para a necessidade de realizar actividades, neste campo, sabendo, no entanto, que não existem fórmulas mágicas, nem verdades científicas, sendo que a única forma de o fazer é através do exercício de uma prática reflectida e crítica que nos obriga, permanentemente, a questionar conceitos, a repensar estratégias, a testar modelos, a avaliar resultados, como referencia, na sua obra, (Sáiz 2007:165). Em Portugal, tendo em atenção as características socioculturais das populações, principalmente no que diz respeito à falta de hábitos de leitura, é fundamental que esta seja assumida como uma prioridade estratégica para as escolas, tendo como parceiros as famílias e as bibliotecas.

Assim, retomando os ensinamentos de Inês Sim-Sim (2006), podemos dizer que aprender a ler é aprender a descobrir, na combinação de um conjunto de símbolos – nos quais cada um é um som –, as palavras e as ideias que nos transportam a um número tão grande de representações, consoante são as vivências que possuímos e que verbalizámos. Trata-se de um processo que se automatiza de tal modo que ler será como que possuir um novo sentido de visão.

Um novo sentido de visão, base para o desenvolvimento de todo o pensamento, para as incalculáveis associações que permitem depois encontrar caminhos para resolver as situações problemáticas ou, até, para inventar. A experiência mostra como as crianças adoram desenhar o enunciado das situações problemáticas, de inventar outras – como se fossem histórias, e de representar, também através do desenho, os caminhos do seu pensamento para encontrar as soluções. Santana e Neves (1997:13) afirmam:

[…] a leitura é um acto cognitivo, ou seja, está intimamente ligada à compreensão. Sendo assim, ensinar a ler na escola não pode ter como principal objectivo o treino das competências mecânicas. O treino das competências mecânicas, efectivamente necessário, tem de ser subsidiário do projecto de ler textos com sentido e com uma função definida, tem de

se adquira uma leitura fluente, mas que isso se construa sobre um conjunto de práticas capazes de desenvolver a compreensão e o gosto pela leitura.

É a mestria da leitura e da escrita – ao serviço da mestria de todas as aprendizagens – que permite, a cada criança, encontrar o caminho para se poder tornar um cidadão culto. Estas aprendizagens devem estar alicerçadas num clima de confiança, de auto-estima, de vivências democráticas, em que cada criança se sente um elemento do grupo, em que o seu desempenho tem significado para a vida da comunidade escolar, de leitores e outras.

Trata-se da vivência do trabalho em equipa, onde todas as actividades, todos os projectos, todas as metas e avaliações passam pelo grupo, onde todos decidem e se entre ajudam. Como o explicita Josette Jolibert (1984:16), será o caminho para formar cidadãos conscientes dos direitos e deveres, ávidos de informação e de conhecimento.

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