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A formação do professor de língua inglesa no Brasil

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1 LENTES VOLTADAS PARA A APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS

1.6 A formação do professor de língua inglesa no Brasil

De acordo com a legislação brasileira, para atuar como docente de língua inglesa a partir dos anos finais do Ensino Fundamental, o professor deve ter, como formação mínima, curso de licenciatura plena:

Art.62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se- á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e instituições superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal (BRASIL, 1996).

A oferta de licenciatura plena no país dá-se, majoritariamente, em cursos de licenciatura dupla: língua portuguesa e língua inglesa, com atribuição de carga horária superior para língua portuguesa, com disciplinas como: morfologia e sintaxe, gramática da língua portuguesa, didática de ensino da língua portuguesa, literaturas portuguesa e brasileira; à língua estrangeira dedica-se, em média, menos de 50% das 2200 horas de estudo estabelecidas para a licenciatura plena, dividindo-as ainda entre estudo da língua e literaturas inglesa e americana (PAIVA, 2003).

Além da formação mínima, tanto o Plano Curricular Nacional (PCN), bem como a recém outorgada BNCC, enfatizam a importância da formação continuada desses docentes, prática essa que deve ser apoiada, inclusive, pelas instituições de ensino:

[...] professores reflexivos e críticos, com um conhecimento satisfatório das questões relacionadas ao ensino e aprendizagem e em continuo processo de auto formação [...] (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002, p.244).

Para a formação contínua do professor de língua inglesa, ou ainda para aqueles que desejam atuar em cursos de idiomas25, há também a oferta de certificações

internacionais voltadas especificamente para o ensino da língua. Os cursos preparatórios e as certificações são oferecidos por escolas de idiomas que trabalham em parceria com a Cambridge English, uma empresa dedicada ao ensino e certificação de inglês em todo o mundo, do grupo Cambridge University Press.

Dentre as certificações oferecidas, destacamos: Teaching Knowledge Test26 -

TKT, Certificate in English Language Teaching to Adults - CELTA e Diploma in English

Language Teaching to Adults - DELTA, ressaltando a exigência de conhecimento

mínimo B2+ por parte do professor, uma vez que os cursos preparatórios e as avaliações são em língua inglesa.

O primeiro, TKT é composto por três módulos para conhecimento das especificidades do ensino de língua estrangeira: (i) didática geral e planejamento de aulas; (ii) módulo para ensino de jovens TKT Young Learners27 e (iii) módulo para

habilitação de ensino a partir do uso de CLIL28 [Content and Language Integrated

Learning] aplicado tanto para ensino da língua quanto para a educação bilíngue. Os

seguintes, CELTA e DELTA se diferenciam por acompanharem e avaliarem a prática do professor por meio de um tutor, e qualificarem o professor para o ensino de alunos adultos29.

Embora não seja objetivo deste estudo discutir a formação do professor de línguas, duas questões que emergiram durante a revisão de literatura, e optamos por trazê-las a título de observação e como potencial tema de pesquisa dentro do tema

25 A obrigatoriedade da licenciatura plena não se estende a cursos de idiomas.

26 TKT é um teste que avalia o conhecimento do professor sobre o ensino de língua inglesa 27 Ensino de crianças e adolescentes, de acordo com as especificidades de cada faixa etária.

28 CLIL Content and Language Integrated Learning constitui-se em uma metodologia de ensino de

línguas por meio do estudo de disciplinas acadêmicas como: estudos sociais, matemática e ciências.

de aprendizagem de idiomas: (i) o desinteresse pelas licenciaturas e (ii) os resultados sobre a formação do professor de línguas no Censo Escolar de 2017.

Os resultados do Censo de Educação Superior de 2015 (BRASIL, 201630)

revelaram que em um universo de mais de 8,35 milhões de graduandos, apenas pouco mais de 1,47 milhões estavam nos cursos de licenciatura, e dentre estes menos de 88 mil cursam língua estrangeira moderna. O resultado do Censo de 2016 apontou para um aumento de 3,3% no número de ingressantes, todavia a procura pelo bacharelado continua superior. Além disso, a porcentagem de concluintes dos cursos de licenciatura também é preocupantemente inferior a porcentagem de concluintes do bacharelado, conforme podemos evidenciar no fragmento a seguir:

Em 2016, os concluintes de bacharelado correspondem a 61,2% do total de concluintes em cursos de graduação, enquanto a licenciatura tem uma participação de 20,4% e os tecnológicos 18,4%. (Notas sobre o Censo da Educação Superior, 2016, p. 14)31

A pesquisa O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, citada no tópico 1.2, apontou que um em cada cinco professores de inglês tem formação fora da área de línguas. Quando questionados sobre dificuldades associadas à sua formação, as respostas obtidas foram as seguintes: 55% dos professores relataram não ter oportunidade para praticar o idioma; 22% reconheceram ter dificuldade com a língua falada; 9% com a leitura e 4% com a escrita. Desses professores entrevistados, 33% possuíam uma certificação de proficiência.

Dois anos passados desse estudo, os resultados do Censo Escolar de 2017 mostram que os piores resultados com relação a adequação da formação docente nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental referem-se à disciplina de língua estrangeira, conforme podemos observar nos gráficos a seguir:

30 BRASIL. Censo Escolar 2015 Notas Estatísticas. 2016. Disponível em < www.inep.gov.br>. Acesso

em: 29 jul. 2018.

31 Disponível em:

<http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2016/notas_sobre_o_ce nso_da_educacao_superior_2016.pdf>. Último acesso 29 jul. 2018.

Figura 6 – Formação Docente nos Anos Iniciais

Disponível em:

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2018/notas_estatistica s_Censo_Escolar_2017.pdf

Figura 7 – Formação Docente nos Anos Finais

Disponível em:

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2018/notas_estatistica s_Censo_Escolar_2017.pdf

Em ambos os gráficos, observamos que a formação dos docentes está distribuída em 05 grupos: (i) professores licenciados na área da disciplina; (ii) professores bacharelados na área da disciplina; (iii) professores licenciados fora da área da disciplina; (iv) outras formações superiores e (v) professores sem formação superior.

Nos anos iniciais, apenas 42% dos professores são licenciados para o ensino de língua estrangeira, ao passo que nos anos finais o número é pouco superior: 49%. Assim, tanto a educação básica, quanto as escolas de idiomas absorvem profissionais de áreas diversas para o ensino de inglês, o que além de descaracterizar a profissão docente, também nos leva ao questionamento do conhecimento teórico e didático dessa grande maioria de professores atuantes.

Dessa forma, emerge nesse tópico um questionamento para futuras pesquisas: quão preparados estão esses professores para atenderem uma das demanda de formação do cidadão do século XXI, que é a habilidade de se comunicar em língua estrangeira? Aventamos assim a hipótese de que muitos dos discursos de dificuldade com a língua tenham suas raízes na formação de professores, e que este é um tópico que demanda atenção dos pesquisadores da área de formação de educadores.

2 LENTES VOLTADAS PARA O PERCURSO DE PESQUISA: DA ESCOLHA

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