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A formação profissional, segundo Silva (1984), não pode se reduzir ao período da graduação ou da pós-graduação. A formação profissional é entendida como um processo dialético, portanto, aberto, dinâmico e permanente, incorporando as contradições decorrentes da inserção da profissão e dos profissionais na própria sociedade. Esse processo contínuo de preparação científica e técnica de profissionais fornecerá subsídios para dar resposta às demandas sociais que se apresentam para profissão, de produção de conhecimento de extensão de profissão.

O Conselho Nacional de Saúde (Brasil 2001) reconhece, conforme resolução n.º218, de 6 de março de 1997, como profissionais de saúde de nível superior as seguintes categorias: assistentes sociais, biólogos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

Este reconhecimento reflete a importância da ação interdisciplinar no âmbito da saúde e a imprescindibilidade das ações realizadas pelos diferentes profissionais de nível superior, constituindo-se num avanço que tende à concepção de saúde e à integralidade da atenção.

De acordo com o Conselho Nacional de Educação – CNE (Brasil 2002), A formação do profissional de saúde tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:

I - Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se

encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo;

II - Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando ao uso apropriado, à eficácia e ao custo- efetividade da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;

III - Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral; envolve comunicação verbal, não- verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;

IV - Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem- estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;

V - Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a atuar como empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde;

VI - Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática com responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais (Brasil 2002).

Santana e Christófaro (2003) refletem sobre as repercussões desses processos entre elas, o aumento da cultura científica das populações, concorrendo para mudanças nas suas formas de demandar, selecionar, consumir e avaliar os serviços e produtos disponíveis.

A incorporação da Internet, da telemedicina e da miniaturização de equipamentos e outros avanços tecnológicos na área deverão transformar a maneira de planejar, organizar, administrar e realizar os cuidados à saúde, a partir da atenção básica na forma de meios de apoio diagnóstico e terapêutico que se agregarão ao arsenal de recursos tradicionalmente manejados nesse nível de atendimento.

Compreender essa realidade e entender seus desdobramentos específicos para o trabalho e para a educação no setor saúde representa um desafio, a começar pela definição de papéis e ações no espaço de trabalho e de formação/capacitação profissional do setor que extrapolam normas e processos de auto-regulação profissional.

As articulações entre o processo de formação de profissionais e trabalhadores de saúde e a produção de serviços do setor expressam particularidades da relação geral entre educação e trabalho na sociedade.

Na atualidade brasileira, esse duelo foi levado para o âmbito jurídico e institucional, ao fazer-se constar na Constituição Federal (Brasil 1988) que compete ao SUS ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde.

Uma idéia recorrente na história das relações entre o setor educação e saúde, gira em torno da utilização de incentivos propiciados pelo sistema de saúde para a reordenação curricular das profissões da saúde.

O Ministério da Educação e do Desporto, em consonância com o Conselho Nacional de Educação, estabelecerá diretrizes curriculares nacionais, constantes de carga horária mínima do curso, conteúdos mínimos, habilidades e competências básicas, por área profissional ( Santana e Christófaro 2003).

Dificuldades existem para o processo de reordenação do ensino superior que se somam à das dificuldades no contexto geral das instituições universitárias.

Não basta adotar um conceito de competência, entre os muitos existentes, para pensar a educação profissional dirigida à produção de serviços de saúde. Pensar em formação profissional hoje exige mais que adotar um conceito e um método, uma vez que esse espaço é um mundo onde se inscrevem a educação básica, a educação continuada e especializada e onde é preciso considerar os modelos, as teorias, a

legislação e a regulamentação da própria educação, do trabalho, da saúde. Pensar a educação profissional é refletir sobre as práticas reais dos atores e das instituições de educação e de produção de cuidados à saúde (Santana e Christófaro 2003).

Há de se considerar também que a formação profissional é um campo de luta ideológica e política; é um daqueles domínios em que todos se sentem à vontade para emitir opiniões, de onde resulta a estranha impressão de que nunca se avança.

A efetiva integração entre os processos de ensino-aprendizagem e de produção de serviços é requisito indispensável para o desenvolvimento de competências profissionais.

A experiência na elaboração de perfis de competências para profissões ou ocupações na área de saúde é ainda tem muito a caminhar, pois envolve o embate de grupos de interesse, procedentes do setor acadêmico e de serviços ou, mais freqüentemente, das corporações profissionais, resultando nas listas constantes nos projetos de diretrizes curriculares nacionais para os diversos cursos.

Para avançar mais nessas construções de consensos, é preciso basear-se em concepções e justificativas acordadas na dinâmica da interação entre grupos sociais que estão à frente dos processos de ensino e de prática profissional.

A complexidade que envolve as relações entre os mundos do trabalho e da educação e como lidar com suas decorrências são questões presentes na agenda dos gestores de recursos humanos do SUS. A análise permanente dessa problemática torna- se um exercício indispensável para o bom desempenho de suas responsabilidades, tanto que uma política específica foi criada pelo Governo Federal (Santana e Christófaro 2003).