• Nenhum resultado encontrado

1.5 Termos e Definições

2. REVISÃO DA LITERATURA 1 O Ensino Superior

2.1.2. O Surgimento e a Evolução da Formação em Turismo e Hospitality

2.1.2.1. A Formação em Turismo e Hospitality em Espanha

De acordo com Huete (2007), a Espanha é um dos destinos mais populares do mundo, representando o Turismo desde o início dos anos 60 um dos setores de maior importância para a sua economia, uma vez que é considerado o motor da economia espanhola por obter um elevado nível de receitas, bem como por gerar um alto nível de emprego. O mesmo autor refere que uma das principais tendências das políticas de Turismo em Espanha desde do início dos anos 90 tem sido o crescente número de iniciativas desenvolvidas para neutralizar as fraquezas e os desafios percebidos na indústria turística do país. O governo espanhol começou a esforçar-se para responder aos novos padrões do Turismo internacional em grande mudança, dando ênfase à melhoria daquilo que a indústria tinha para oferecer em termos de qualidade e de variedade, desenvolvendo e renovando as infraestruturas e explorando novos mercados (Huete, 2007). Essas políticas foram integradas no Plan Integral de Calidade del Turismo Español (PICTE) em 2000, reivindicando a colaboração entre as universidades e o mundo dos negócios (Huete, 2007).

A primeira Escola de Turismo em Espanha nasceu em Madrid em 1957, através do Centro Español de Nuevas Profesiones (CENP), uma instituição de caráter privado, numa altura em que as próprias empresas desempenhavam o papel de centros de formação (Ceballos et al., 2010). Assim, com a criação deste centro, tentou-se colmatar um vazio ao nível da formação, repercutindo-se anos mais tarde num grande nível de desenvolvimento. De acordo com a mesma fonte, os cursos tinham a duração de 3 anos, com aulas teóricas e práticas adaptadas às necessidades dos seus formandos, tendo o CENP inaugurado a segunda e a terceira Escolas de Turismo em Barcelona (1960) e Sevilha (1961).

A aprovação do Decreto de 7 de Setembro de 1963 do então Ministerio de Información y Turismo regula legalmente a formação em Turismo em Espanha, ainda no âmbito extrauniversitário, tendo nascido na sequência deste decreto a Escuela Oficial de Turismo (EOT), adotando os mesmos planos de estudo implementados pela CENP (Ceballos et al., 2010). O título de “Técnico de Empresas Turísticas” (TET) implementa-se em 1963, sendo o curso similar ao CENP, tendo os dois primeiros anos um ramo comum e sendo o último ano dedicado a uma especialidade. Este decreto reconhece a EOT como alavanca das escolas de Turismo privadas. Ainda assim, era obrigatório o reconhecimento

30

destes centros não oficiais por parte do Ministerio de Información y Turismo (Ceballos et al., 2010). O regime do TET esteve em vigência entre 1965 e 1983 (Majó, 2004).

Em 1980, na sequência do Real Decreto 865/80 de 14 de Abril, surge o título de “técnico en empresas y actividades turísticas” (TEAT), apelando a uma formação mais voltada para as empresas, tendo representado um curso de carácter provisório que se manteve até à chegada dos estudos superiores no ano de 1996 (Ceballos et al., 2010; Majó, 2004). No final dos 3 anos procedia-se a uma avaliação equivalente ao título de Diplomado Universitário. Tanto no TET como no TEAT, era obrigatória a realização de uma prova na Escuela Oficial de Turismo de Madrid. Esta escola de Madrid foi durante bastante tempo a única escola oficial de Turismo. No entanto, devido à implantação de competências autónomas, foram criadas outras novas Escuelas Oficiales de Turismo (EOT) em todo o território, inclusive nas ilhas. Essas Escolas foram criadas primeiro na Catalunha, com sede em Girona (1989), nas Baleares com sede em Palma de Maiorca (1990), seguindo-se as Ilhas Canárias com sede em Las Palmas de Gran Canária (1990), depois na Comunidade Valenciana com sede em Alicante (1994),

em Castilla-León com sede em Ávila (1995), e na Andaluzia (1996) com sede em

Sevilla (Ceballos et al., 2010; Majó, 2004). No momento da implantação do Plano

de TEAT, havia 37 EOT atribuídas à Escola de Madrid, e em 1997 já eram 76 EOT em todo o território, situando-se 30 delas na Região Autónoma da Catalunha, enquanto Madrid tinha 21 (Majó, 2004). Os TEAT estiveram em vigência entre 1980 e 2001 (Majó, 2004).

De acordo com Ceballas et al. (2010), em 1996 é aprovado o Real Decreto 604/1996 que implementa um novo título oficial de “Diplomado en Turismo”, com o mesmo valor académico e profissional do DEAT (Diplomado de Empresas y Actividades Turísticas). Assim o TEAT e o DEAT seguem juntos até à total integração dos estudos turísticos na Universidade. Esta junção do TEAT-DEAT não foi de todo satisfatória, de acordo com Ceballos et al. (2010), uma vez que reduziu consideravelmente no seu plano de estudos a carga horária dedicada às línguas.

A preocupação pela formação tem estado sempre presente no setor turístico em Espanha e, com destaque desde o início da década de 90, uma vez que foram criadas grandes expetativas com a crescente importância dos Fundos

31

Estruturais Europeus destinados à formação e à reciclagem dos recursos humanos, e mais ainda pelo Fundo Social Europeu (FSE) que levou à reforma de 1989 (Galeano, 2003). Desta forma, o tema da formação passou a ser incluído nas análises de todas as atividades económicas (Galeano, 2003). Por um lado, estava o problema da formação dos recursos humanos e, para além disso, a formação dos dirigentes e chefias das empresas turísticas (Galeano, 2003). Por outro lado, estava a preocupação pelos planos de estudo, em concreto, os conteúdos da formação profissional turística, nomeadamente (Galeano, 2003):

• A excessiva duração dos cursos, pela sua escassa relação com a vida real do setor, problema acentuado pela falta de colaboração dos profissionais do mesmo para facilitar a prática na empresa.

• Baixo nível dos professores, devido sobretudo à sazonalidade, à escassa retribuição e falta de ligação com a realidade quotidiana.

• A não-existência de cursos de reciclagem tanto para os professores como para os profissionais.

Estes problemas eram semelhantes para as Escolas de Turismo existentes e nas escassas tentativas de estudos universitários de formação ou de reciclagem (Galeano, 2003). Em 1992, a Secretaria Geral de Turismo Espanhol tomou uma série de medidas dentro do “Plan Marco de Competitividad del Turismo Español” para a formação, estabelecendo-se 4 grandes programas e 15 subprogramas, destinados para a melhoria da formação e educação turística e para melhorar a estabilidade no emprego (Galeano, 2003).

No âmbito do III Congresso da AECIT (Asociación de Expertos Turísticos en Turismo) em 1995, os participantes refletiram sobre um “modelo integrado de formação em Turismo” como exemplo a seguir para a futura formação turística em Espanha, tendo concluído que seja necessário renovar o sistema educativo com a participação tanto das instituições privadas como das públicas bem como o envolvimento dos agentes sociais e económicos para desenhar os conteúdos da formação (Galeano, 2003).

O desequilíbrio entre, por um lado, um país que ostenta uma posição de relevo no Turismo e, por outro, o nível de formação e de investigação turística foi sendo corrigido progressivamente (Vera & Ivars 2001). A evolução dos cursos superiores em Espanha esteve marcada pela sua desconexão da Universidade até uma data relativamente recente (Vera & Ivars, 2001). O sistema da formação

32

turística compõe-se de uma Licenciatura em Turismo integrada na Universidade desde 1996, e de uma extensa oferta de Cursos de Pós-Graduação e de Títulos Próprios da Universidade para cobrir as necessidades de uma especialização na formação turística (Vera & Ivars, 2001).

Ainda assim, e apesar de tardiamente, as universidades atuaram de uma forma positiva, implementando e desenvolvendo os diferentes planos de estudo. De acordo com os dados do Ministério da Ciência e Inovação, no ano 2008/09, cerca de 75 centros dispunham de cursos de Diplomado em Turismo, pertencendo 58 deles a universidades públicas e 17 a universidades privadas (Ceballos et al., 2010). No ano letivo de 2004/05, havia 76 IES em Espanha com cursos superiores em Turismo (Huete, 2007).

Numa linha do desenvolvimento da formação, dentro desta área e, considerando que, os estudos de Turismo em Espanha possuem uma forte componente empresarial e de gestão, como no Reino Unido e na Austrália (Hall, 2005), implementaram-se alguns programas de doutoramento relacionados com o Turismo, onde as condições de acesso exigiam uma licenciatura (Ceballos et al., 2010).

A situação atual dos estudos de Turismo na sua vertente de formação profissional deriva da Lei Orgânica de Ordenação Geral do Sistema Educativo de 1990, que derrogou a Lei Geral de Educação de 1970, donde se explicita a vontade de empreender uma reforma profunda da formação profissional, por se tratar de um dos problemas do sistema educativo que precisava de uma solução mais profunda e urgente, sendo um âmbito de maior relevância para o futuro do sistema produtivo (Majó, 2004). A lei orgânica 6/2001 de 21 dezembro propõe a implementação de um sistema de créditos nas universidades, modificada pela lei orgânica 4/2007, de 12 de abril que estabelece 3 ciclos para o ensino universitário: Licenciatura, Mestrado e Doutoramento (Ceballos et al., 2010). Estima-se que, com esta implementação, os programas de doutoramento aumentem a qualidade da investigação em Turismo (Ceballos et al., 2010).

33

Em Espanha havia no ano letivo de 2012/2013 um total de 1.561.123 estudantes inscritos no Ensino Superior, enquanto que para o ano letivo de 2013/2014 as previsões apontavam para 1.438.115 estudantes12.

Para ter uma ideia da oferta de cursos superiores de Turismo e afins em Espanha, a Tabela 3 ilustra essa pela Área de Conhecimento

Tabela 3: Nº de Cursos Superiores de Turismo e afins em Espanha (Ano Letivo 2014/15)

Área de Conhecimento Nº de Cursos Quota (%)

Ciências Sociais e Jurídicas 68 100

TOTAL 68 100

Fonte: Elaboração própria baseada na análise das websites das IES espanholas, de http://www.universidad.es/universidades e http://www.ua.es/es/internet/listado.htm e Brea e Vilas (2013).

No ano letivo de 2013/2014 havia 82 IES em Espanha, das quais 50 públicas (61%) e 32 privadas (39%)13. No ano letivo de 2014/2015 havia um total de 83 IES, das quais 50 públicas (60%), 26 privadas (31%) e 7 católicas (9%)14. Entre essas 83 IES 56 possuem cursos de Turismo conferindo o grau de licenciatura, distribuídas por 40 IES públicas com 74 cursos, 14 privadas com 22 cursos e 2 católicas com 3 cursos de Turismo15. A tabela 4 ilustra os resultados desta análise.

Tabela 4: Nº de IES no geral em Espanha e das IES com Cursos de Turismo (Licenciatura) no Ano Letivo 2013/2014

Estatuto

das IES Nº de IES (em %) Quota Nº de IES com Cursos de Turismo

Quota

(em %) Nº de Cursos de Turismo (em %) Quota

Públicas 50 60 40 71 50 74

Privadas 26 31 14 25 15 22

Católicas 7 9 2 4 3 4

TOTAL 83 100% 56 100 % 68 100%

Fonte: Elaboração própria baseada na análise das websites das IES espanholas, de http://www.universidad.es/universidades e http://www.ua.es/es/internet/listado.htm e Brea e Vilas (2013). 12http://www.mecd.gob.es/dms/mecd/educacion-mecd/areas-educacion/universidades/estadisticas- informes/datos-cifras/DATOS_CIFRAS_13_14.pdf (acedido em 27.05.2015) 13 http://www.mecd.gob.es/prensa-mecd/dms/mecd/prensa-mecd/actualidad/2014/02/20140213-datos- univer/datos-cifras-13-14.pdf (acedido em 24.04.2015) 14 http://www.universidad.es/universidades (acedido em 24.04.2015)

15 http://www.universidad.es/universidades e http://www.ua.es/es/internet/listado.htm (acedido em 24.04.2015)

34

A Figura 2 representa o Mapa das 75 IES em Espanha no ano letivo 2012/2013.

Figura 2: Mapa das Instituições do Ensino Superior em Espanha

Fonte: Vila e Brea (2013: 297) e http://www.ua.es/es/internet/unimapa.htm (acedido em 24.04.2015)

No Ano Letivo de 2014/2015, havia um total de 83 IES, em que a Universidad Europea de Valencia e a Universidad Europea das Canárias integram cursos de Turismo na sua oferta formativa. Para além dessas 2 IES, no Mapa da Figura 2 não se registaram as 6 IES que não possuem cursos de Turismo, a saber, Universidad de Loyola, a Universidad Internacional Isabel Y Castilla, a Universidad de Tecnologia Y Empresa, a Universidad Fernando Pessoa Canária, a Universidad Internacional Mendenez Pelayo, bem como a Universidad Internacional de Valencia.