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A formação política como princípio educativo

No documento TÍTULO (páginas 62-72)

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 A formação política no MST

2.4.2 A formação política como princípio educativo

A sociedade contemporânea registrou desde o final do século XIX profundas transformações no mundo capitalista provocadas pelas revoluções industriais e tecnológicas de maneira paradoxal, pois se de um lado promovem o desenvolvimento, por outro, contraditoriamente reforçam a expropriação da classe trabalhadora. Nesse contexto, “as forças revolucionárias dos trabalhadores respondem construindo sua resistência em vários campos da luta entre os quais o da formação política para a preparação de quadros para o enfrentamento de classes” (SOUSA, 2005, p. 5).

Nessa perspectiva, é importante entender a formação política no âmbito da dinâmica da luta de classes no momento atual e, a partir dessas contradições, compreendê-las no intuito de intervir e transformá-las.

Isso exige compreender as contradições existentes na sociedade capitalista no que se refere à relação capital e trabalho, categorias fundantes do Modo de Produção Capitalista (MPC).

O termo capital tem sido utilizado de diversas formas, seja se referindo ao humano, social ou intelectual. Entretanto, no MPC deve-se considerar duas dimensões fundamentais: a determinação econômico-política onde o capital “constitui-se [...] a partir de um processo que valoriza o dinheiro, isto é, um processo que no final conclui com um valor superior ao inicial”, produzindo, assim, a mais valia pelo trabalhador que é apropriada pelo capitalista, valorizando o dinheiro e transformando-o em capital; e uma relação social determinada, na qual o capital expressa uma relação de compra e venda entre o capitalista (proprietário do capital) e o trabalhador (possuidor da força de trabalho), onde o resultado é uma relação de exploração sustentada na apropriação, pelo capitalista, do excedente produzido pelo trabalhador, criando a mais valia. (MONTAÑO; DURIGETTO, 2011, p. 78, grifo do autor).

Ainda segundo Montaño e Durigetto (2011, p.81), na sociedade capitalista “quanto maior desenvolvimento, maior acumulação de capital. O desenvolvimento no capitalismo não promove maior distribuição de riqueza, mas maior concentração de capital, portanto, maior empobrecimento [...], ou seja, maior desigualdade”.

Essas desigualdades as quais o autor se refere são oriundas das relações do modo de produção capitalista onde o “trabalhador precisa vender sua força de trabalho ao capitalista, estabelecendo uma relação de emprego, uma relação salarial”. (MONTAÑO; DURIGETTO, 2011, p.81). Decorre, portanto, dessa relação entre capital e trabalho, a situação de pobreza como resultado da acumulação privada de capital por meio da exploração da força de trabalho pelos donos do capital.

Nesse contexto, as lutas de classe emergem como “o instrumento que o trabalhador tem tido para diminuir essa desigualdade ora conquistando leis e normas que regulem a relação salarial, ora inibindo relativamente o poder do capital”. (MONTAÑO; DURIGETTO, 2011, p.81).

No que se refere a luta de classe nas palavras de Lenin (2008),

Todo o mundo sabe que, em qualquer sociedade, as aspirações de alguns dos seus membros se chocam com as de outros, que a vida social é plena de contradições, que

a história nos revela uma luta entre povos e sociedades, [...] mostra uma sucessão de períodos de revolução e de reação, de paz e de guerra, de estagnação e de rápido progresso ou de decadência. (LENIN, 2008, p. 24).

Segundo Marx e Engels (1998, p. 9), “a sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não mais fez do que substituir por novas classes, por novas condições de opressão, por novas formas de luta, as dos tempos passados”.

No contexto contemporâneo a luta de classes, no que tange aos trabalhadores rurais se agrava na medida em que a perspectiva da modernização da agricultura no campo promove o desemprego e a pauperização, submetendo grande parte da população do campo a migrar para a cidade (LENIN, 2008) e se expande o agronegócio.

É nesse contexto que o MST conquista espaço como movimento de massa (MST, 2001, p. 107) “resultado de um amplo trabalho de base, de conscientização e de preparação de lideranças” que, articulado ao trabalho de organização e formação de militantes, impulsionou as mobilizações por meio de ocupações e acampamentos, dando visibilidade ao Movimento e aumentando a demanda pela formação de quadros.

De certo, a formação política tem sido uma tarefa necessária na história do MST com vista ao enfrentamento da luta de classes. A esse respeito, Pizzeta (2007a) diz,

Desde a origem, no final dos anos setenta e início dos anos oitenta do século XX, o MST tem se defrontado com a necessidade de garantir um amplo processo de formação política para o seu quadro de militantes, desde a base acampada e assentada até seus dirigentes nacionais, com vistas a possibilitar a unidade política e ideológica, o desenvolvimento da consciência política-organizativa e a superação dos desafios impostos pela realidade. (PIZZETA, 2007a, p. 242).

A partir do que diz o autor, depreende-se que no MST, desde sua criação, sempre esteve presente a preocupação com a formação de lideranças de base, militantes e dirigentes. Desse modo, “com o objetivo de ser um movimento autônomo e independente política e ideologicamente [...] o MST elabora uma concepção de formação, adaptada às suas demandas e características”. (MST, 2001, p. 108).

De forma sempre dinâmica, são definidas as Linhas Políticas da Formação do MST que orientam o processo nos diferentes níveis. Conforme Bogo (2003) descreve,

A formação deve ser um processo permanente, para assimilar os objetivos e capacitar a militância, para intervir na realidade em que vive para transformá-la; o ponto de partida da formação deve ser a prática social. A partir dela, ter acesso à teoria para que esta possibilite compreender, orientar e corrigir, voltando à prática, construindo assim um movimento permanente prática-teoria-prática; além de contribuir com o desenvolvimento da prática, a formação tem por objetivo desenvolver e garantir a unidade política e ideológica do MST; o processo de formação deve refletir e construir uma ética revolucionária no comportamento dos militantes, baseada no amor à causa do povo, no companheirismo, disciplina,

honestidade, responsabilidade, crítica e autocrítica, solidariedade, corrigir e eliminar vícios, dedicação à causa e à organização; os programas de formação devem incluir trabalho prático e teórico e desenvolver a mística, a disciplina e a emulação; os cursos de formação devem garantir o domínio de conhecimentos científicos, resultar em firmeza ideológica, dar embasamento metodológico para que os militantes tenham capacidade de reproduzir conhecimentos e contribuir para a organicidade do MST. (BOGO, 2003, p. 182).

Nesse sentido, a formação política envolve diferentes momentos e se constrói no cotidiano das lutas com vista à construção de um projeto contra hegemônico8 que promova as mudanças sociais necessárias à classe trabalhadora. Para tanto, o processo de formação deve atender aos diferentes níveis da organização seja a base, militantes e dirigentes, e ser massiva, completa e permanente, desenvolvendo-se no interior das diversas atividades realizadas como reuniões, assembleias, mobilizações, encontros, seminários, leituras individuais, cursos, trocas de experiências, visitas de estudos, não se restringindo aos cursos de formação (MST, 2001).

Na mesma direção, converge o pensamento de Martins (2009, p. 48), segundo a qual o MST, ao fazer parte de uma sociedade de classes e lutando contra ela, “educa as novas gerações, procurando constituí-las como sujeito político e histórico e participante da construção de uma ‘contra-hegemonia’”.

Pizzeta (2007b, p. 86, grifo do autor), destaca a formação como parte da luta de classes existente a partir de uma realidade concreta, devendo contribuir “para o ‘desvelamento’, para a interpretação e para o conhecimento dessa realidade que está além das aparências”. O autor destaca, ainda, que o conhecimento da realidade não é suficiente se não estiver acompanhado por ações concretas.

Dessa maneira, o processo de formação deve ser capaz de transformar as pessoas e a realidade. Portanto, a formação “só tem sentido se ajudar a organizar o povo, pois a força da mudança está no nível de consciência, no grau de organização e na disposição de luta das massas” (PIZZETA, 2007b, p. 87). E acrescenta que “a principal tarefa da formação é motivar para que os silenciados saiam de seu silêncio, que os dominados aceitem sair da dominação através da luta”. (PIZZETA, 2007b, p. 87).

8 A compreensão do projeto contra hegemônico defendido pelo MST perpassa, inicialmente, pela discussão do

que se entende por hegemonia. Segundo Gruppi (1991, p. 70), hegemonia é “capacidade de unificar através da ideologia e conservar unido um bloco social que não é homogêneo, mas sim marcado por profundas contradições de classe”. Nesse entendimento, acrescenta o autor, “uma classe é hegemônica, dirigente e dominante, até o momento em [...] consegue manter articulado um grupo de forças heterogêneas, consegue impedir que o contraste existente entre tais forças exploda, provocando assim uma crise na ideologia dominante...”. Nesse sentido, o Estado configura-se como um dos mais importantes mecanismos a serviço da classe dominante para garantir e perpetuar a hegemonia. O Estado, por sua vez, constitui-se pela sociedade política a qual utiliza os mecanismos de controle e repressão para manter a hegemonia e pela sociedade civil que imersa na ideologia dominante reproduz os interesses da classe que estar no poder. (Gramsci 1971, p. 174).

Nesse sentido, a formação política tem lugar no MST desde os primeiros acampamentos, quando os trabalhadores se reuniam em assembleias para discutir seus problemas em busca de soluções. Esses momentos eram marcados por discussões no tocante as questões como a reforma agrária, a luta pela terra, por liberdade e igualdade de direitos. À medida que essas discussões foram se sedimentando, adquiriram um caráter mais formal e passaram a ser organizadas em cursos de formação, surgindo, assim, o setor de formação responsável por articular a formação política de seus militantes e simpatizantes também chamados “amigos do MST” (PIZZETA, 2004).

Entretanto, cabe ressaltar que o processo de formação política não é tarefa apenas do setor de formação, mas todo o conjunto da organização deve assumir essa responsabilidade. De modo que “todos os militantes e dirigentes devem ser formadores de base e de novos militantes por intermédio de sua práxis,” o processo de formação política é entendido como discurso e prática política-organizativa (MST, 2001, p. 111).

Por outro lado, os coletivos de formação, constituídos de quadros formadores, devem proporcionar consistente capacidade teórica, pedagógica e vinculação com a prática da organização.

No capítulo de apresentação da obra “A política de formação de quadros,” Bogo (2007) enfatiza a necessidade de organizar uma estrutura de quadros que permeasse o movimento de massa. Ele diz:

Como fumaça que anunciava os acampamentos, surgiram os setores atuantes nas escolas, roças, cursos, saúde e comunicação e em centenas de círculos de direção. Era preciso aprender a dirigir para se reproduzir. Semear conhecimentos era tão importante quanto ocupar, resistir e produzir.[...] Era o raiar da formação. (BOGO, 2007, p. 8 e 9).

A concepção de formação política no MST “está ligada à formação da consciência política9 das pessoas que fazem parte de uma organização” (MST, 2001, p. 112). Assim, as relações que ocorrem em meio aos saberes universais, práticas e relações entre as classes sociais vão formando a consciência política dos grupos sociais.

A exemplo disso, Lenin (1986 apud MST, 2001) assevera que a consciência da classe operária não se desenvolve

[...] se os operários não estiverem habituados a reagir contra todo abuso, toda manifestação de arbitrariedade, de opressão, quaisquer que sejam as classes atingidas [...] Se não aprenderem a aproveitar os fatos e os acontecimentos políticos concretos e de grande atualidade, para observar cada uma das classes sociais em

9 A consciência política é formada por duas dimensões: a social e a política. A consciência social é formada pela

convivência social e experiência pessoal por meio das relações sociais. A consciência política forma-se a partir da apropriação de conhecimentos científicos produzidos através de pesquisas cientificas.

todas as manifestações de sua vida intelectual moral e política; se não aprenderem a aplicar praticamente a análise e o critério materialista a todas as formas da atividade e da vida de todas as classes, categorias e grupos da população.(LENIN, 1986, p. 55 apud MST, 2001, p. 115 -116).

A referência a Lenin é importante, pois revela que a consciência política se processa de forma planejada de modo a possibilitar uma reação de indignação diante das situações de exploração, alimentada por uma lógica socialista.

Bogo (2007, p. 74) diz, ainda, que para Che Guevara “o quadro é a coluna vertebral da organização” e está ligada aos demais membros do corpo de forma vital, interdependente. Por analogia, extrai-se a compreensão de que são os militantes que fazem o corpo da organização se movimentar.

Nesse sentido, a formação política é, para o MST, a força mobilizadora da organização da base, dos militantes e dirigentes. Faz-se, portanto, necessário compreender o caráter e a natureza do processo de formação do MST a serem desenvolvidos.

Segundo Pizetta (2007b), a formação precisa ser entendida como um conceito de política, assim sendo vinculada à luta de classes e ao objetivo de transformação social; a formação deve articular a experiência pessoal com a experiência da classe trabalhadora; a prática política e organizativa se constituem fundamentais para o desenvolvimento e crescimento político dos militantes; os métodos de formação precisam ser criativos, coletivos, alegres e abertos a participação de todos; a formação deve cultivar a mística; é preciso levar em conta nas atividades de formação – teoria e prática – os aspectos da razão e da emoção; a cultura e a afetividade devem ser elementos valorizados e respeitados; o trabalho de base constitui-se como instrumento pedagógico fundamental no processo de formação das massas; uma das estratégicas do movimento deve ser o processo de formação da e com a juventude, devendo-se encontrar formas de envolvê-la e motivá-la a participar nos processos de luta, organização e formação.

A proposta de formação política para preparação de quadros e de militantes deve ser ancorada nos princípios do marxismo, com todo o seu legado. Deve, ainda, incentivar e desenvolver o valor da solidariedade de classe e o internacionalismo10 e potencializar as estruturas de formação já conquistadas nos estados. (MST, 2012).

Nessa perspectiva, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF)11 emerge como

10 Princípio da luta de classe em que todos os trabalhadores, todos os oprimidos, todos os pobres do mundo se

identificam e devem se unir para poder derrotar seus exploradores seja à nível local, nacional e internacional.

11 A Escola Nacional de Formação Política Florestan Fernandes (ENFF) situada na cidade de Guararema, a 60

quilômetros de São Paulo, foi construída pelo esforço voluntário dos militantes do MST. Constitui-se uma contribuição inestimável para a formação de quadro do movimento revolucionário da América Latina. “Florestan Fernandes (1920-1995) foi um dos principais intelectuais socialistas brasileiros. Um dos maiores representantes

um espaço de articulação das diversas iniciativas e experiências no âmbito dos estados como o propósito de “buscar uma maior unidade e qualificar essa práxis” (PIZETTA, 2007b, p. 246). Destinada à formação da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e políticos na perspectiva de viabilizar a transformação social por meio do conhecimento e discussão das contradições da sociedade capitalista, subsidia a formação política do quadro de militantes e possibilita organizar o povo para a luta por uma sociedade de homens e mulheres livres.

A formação política oferecida no MST, segundo Santos (2007, p. 70), “é entendida como um processo que pressupõe uma relação direta entre a prática e a teoria, por isso visa a uma ação transformadora, buscando formar homens e mulheres novos, sujeitos da história e construtores de uma nova sociedade”.

Por outro lado, a mística12 se constitui uma das marcas importantes sempre presentes no contexto da formação política do Movimento, é incorporada “como uma prática social que faz com que as pessoas se sintam bem em participar da luta” (STÉDILE; FERNANDES, 2012).

Para o MST (2001), alguns elementos são fundantes na formação de um militante e que, portanto, todos os coletivos de formação devem considerar em sua proposta de formação política: a formação deve se dar pela prática, pela experiência, pela ciência, pela cultura, pela disciplina, pelo exemplo, pela convivência e partilha, pelo espírito de sacrifício, pelo trabalho produtivo e pela crítica e autocrítica. Para Bogo (2003, p. 183), “os militantes e os dirigentes devem ser a imagem e a semelhança da organização e vice-versa. Por isso devem ser exemplos vivos do que pensa, faz e quer alcançar o movimento”.

Houtart (2007, p. 55) destaca o imperativo da coerência entre a formação de quadros e a pedagogia do movimento uma vez que “o próprio movimento é o principal processo educativo”. Desse modo, ressalta os princípios que devem permear o processo de formação de quadro, a saber:

a) Uma perspectiva de conjunto, que significa dizer que nenhuma ação social dos indivíduos representa a totalidade de uma situação. Cada uma constitui parte de um conjunto. Se tomarmos como exemplo a percepção dos camponeses, vemos que ela

da Sociologia Crítica. [...] produziu uma obra fértil e volumosa, na qual se destacam seus estudos sobre a formação social brasileira e, em particular, sobre os problemas da dominação burguesa e o caráter retrógrado da burguesia do país.” (KOHAN, 2007, 103).

12

Originalmente a palavra mistério (mysterion, em grego, provém de múein, que quer dizer perceber o caráter escondido, não comunicado, de uma realidade ou de uma intenção) não possui um conteúdo teórico, mas está ligada à experiência religiosa, nos ritos de iniciação. A pessoa é levada a experimentar, por meio de celebrações, cânticos, danças, dramatizações e realização de gestos rituais, uma revelação ou uma iluminação conservada por um grupo determinado, e fechada. Importa enfatizar o fato de que mistério está ligado a essa vivência/experiência globalizante. (BOFF, 1999, p.12).

está condicionada por um sistema socioeconômico no qual estão presentes muitos elementos. Trata-se de um todo que abarca desde as relações sociais, a cultura, a organização política, a dimensão de micro e de macro, até o papel específico de homens e mulheres; b) Se as ações sociais individuais não podem ser entendidas isoladamente, devemos acrescentar também que todas elas possuem uma dimensão histórica. No caso dos camponeses se trata da revolução das técnicas agrícolas, do desenvolvimento do capitalismo rural, da luta política entre os sujeitos sociais: os latifundiários e os camponeses; c) Uma terceira dimensão é o fato que toda realidade é dialética. Ela é sempre composta por sujeitos em interação. Quando os latifundiários mecanizam a agricultura, os camponeses excluídos reagem. Quando os camponeses se organizam, os latifundiários se utilizam de mecanismos jurídicos ou repressivos para defender seus interesses, etc. Esse processo dialético nunca termina [...]. toda experiência que se define como o fim da história acaba em suas próprias contradições. (HOUTART, 2007, p. 55-56).

Desse modo, esses princípios tem consequência direta sobre o programa de formação de quadros, pois remete à necessidade de agregar ao conteúdo elementos como: economia política, que traz como primeira necessidade o estudo do funcionamento do capitalismo; a história social, nesse contexto, a história dos camponeses, a introdução do capitalismo agrário e dos movimentos camponeses no Brasil; uma perspectiva filosófica, ao mesmo tempo racional e dialética; e por fim o estudo dos efeitos da lógica do capitalismo no setor agrícola.

Para Houtart (2007, p. 63), também é importante, na análise da realidade, adotar uma pedagogia adequada para o que destaca a utilização do método “ver, julgar e agir” 13 que inspirou o MST e consiste na “orientação que se deve seguir na formação de quadros”.

Aspecto relevante também apontado pelo autor diz respeito à importância da cultura e da espiritualidade. Diz que “toda a experiência do MST tem sido global, incluindo a cultura como parte essencial da construção de sua ação” (HOUTART, 2007, p. 69) e afirma que um aspecto particular da cultura é a espiritualidade. O aspecto espiritual entendido não como monopólio da igreja, embora compreenda-se que “as religiões podem contribuir com a motivação do compromisso social e revolucionário” (HOUTART, 2007, p. 69).

Nesse sentido, a experiência de formação no MST denota a influência exercida pela Teologia da Libertação e sua contribuição na luta por uma nova sociedade. De fato, segundo Fernandes (1999, p. 70) “as CEBs foram o lugar social onde os trabalhadores encontraram condições para se organizar e lutar contra as injustiças e por seus direitos”.

Sob a influência do movimento de renovação da Igreja pela Teologia da Libertação, as CEBs começam a criar novos espaço de socialização política, “deixam de ser

13 Método pedagógico proposto pela Juventude Operária Católica (JOC) fundada na Bélgica em 1940, pelo

sacerdote Joseph Cardin. Atualmente é muito utilizado pela CNBB, nos trabalhos pastorais e no MST. Consiste em ver a realidade de modo critico tendo como parâmetro os princípios cristãos baseados nos ensinamentos de Jesus Cristo; julgar no sentido de confrontar a realidade a partir das causas e consequências da realidade observada; e o agir que exige comprometimento com uma ação transformadora da realidade.

apenas o lugar onde os fiéis iam à procura de paz para se tornar um espaço de reflexão e de

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