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A Fortaleza, as contas de Mascarenhas Homem

No documento Aqui, desde sempre (páginas 73-77)

e outras denúncias

Quem se envolve com a coisa pública acaba se dando mal na privada. Ao longo dos tempos, muitos capitães-mores, ouvi- dores, provedores, tiveram suas ações devassadas provocadas por denúncias.

A primeira obra pública no Rio Grande do Norte não escapou dessa sina. Quem nos conta essa história é Hélio Galvão no seu livro História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, como transcrito a seguir.

“Sobre o emprego da verba de 8:992$333, retirada por ordem do governador Dom Francisco de Sousa dos cofres dos defuntos e ausentes para a conquista do Rio Grande do Norte, ao lhe ser dada a comissão para a esquadra de Álvaro de Carvalho, teve que deixar um procurador para encarregar-se do problema que se criara na prestação de contas. Outorgou o mandato ao seu cunhado Aires de Almeida Henriques. Estava sequestrada a sua comenda, e a Mesa da Consciência, “sobre a pretensão que tem Aires de Almeida Henriques

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como procurador de Manuel Mascarenhas seu cunhado que se lhe desembargue a comenda que por ordem da dita Mesa está embargada pelo dinheiro dos defuntos que tomou em Pernambuco”, deferiu o pedido mediante fiança (30 de agosto de 1605) prorrogando por dois meses o prazo, para prestá-la a 20 de setembro desse ano. Carta de el-rei ao Bispo Dom Pedro de Castilho noticiava a concessão do título do Conselho a Mascarenhas Homem, que ia servir de general numa esquadra para combater os holandeses nas partes do Sul. E quanto à petição em que referia suas ações e serviços, caso fosse bem-sucedido na nova empresa, seria atendido para que se desse a certo parente seu o lugar de capitão-mor em uma viagem à Índia. Entretanto, quanto a levantar o sequestro de sua fazenda pessoal, “pôr o dinheiro que tomou do cofre dos defuntos por mandado do Governador do Brasil para a Fortaleza do Rio Grande que ele foi fazer, que deixe procurador para se liquidarem as contas e mostrando como dito dinheiro se empregou em serviço, se mandará pagar a dita quantia aos defuntos, desobrigando-se os bens e rendas de Manuel Mascarenhas e levantando-se o sequestro”. No fim, não satisfez a prestação de contas e, de acordo com a Carta Régia de 31 julho de 1606, foi compelido a restituir aquela quantia”.

Em 1612, o Rei enviou carta para o governador Gaspar de Sousa para fazer nova repartição de terras no Rio Grande

João Felipe da Trindade

das que não tinham ainda sido repartidas, como também das que já tinham sido, mas que não houve nenhum benefício com o tempo. Ele fora informado das repartições exorbitantes que o capitão, que foi da capitania, Jerônimo de Albuquerque, fez a seus filhos, além de não terem feito as benfeitorias devidas conforme termo que assinou.

Outra informação do Rei era que os religiosos da com- panhia tinham na capitania dez léguas de terras para dois currais de gado, bastando para isso menos, por conta do dano a fazenda real e aos moradores. Determinou, por tudo isso, ainda, que se reduzissem todas as datas das terras que já estiveram repartidas, mas que se acharem exorbitantes. Por justiça, determinou que acomodasse aos que tiveram em modo que fiquem com a parte conveniente e repartindo as outras para as pessoas que as poderem cultivar e as em que os sesmeiros tiverem feito benfeitorias de consideração ainda que as fizessem fora do tempo por ser passado o de sua obrigação se lhe deixarão, ouvindo judicialmente as partes que pretenderem ter direito em algumas ditas terras.

Era capitão nessa data Lourenço Peixoto Cirne. Em outubro de 1612, o Rei escreve para Gaspar de Sousa sobre que esse dito capitão da Fortaleza do Rio Grande fez petição, alegando ter feito muitos serviços na dita fortaleza e cum- prindo inteiramente com sua obrigação, mas teve notícia que certos inimigos seus, vendo que este é o último ano de

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seu triênio por se vingarem dele e o desacreditarem e não poder alcançar, tão cedo, a satisfação de seus serviços, fize- ram queixas dele e o denunciaram ao governador e Relação daquele estado, dizendo que, por seu interesse e respeitos particulares, mandara enforcar um seu soldado e lhe morrera outro em tratos e que fizera outros diversos insultos, sendo tudo que dele se disse contra a verdade. Pedia, portanto, que queria ver os autos para se defender. O Rei determinou que o governador se informasse de tudo que Lourenço dizia em sua petição e procedesse ao que com justiça parecer, e, se as culpas fossem leves, o deixasse acabar seu tempo, e, estando o dito Lourenço suspenso e preso, ordenasse que se corresse com seu livramento.

Mas, em janeiro de 1613, o Rei escreve nova carta para Gaspar de Sousa. Com esta se vos darão uns apontamentos e outros papéis de Luis Gomes, alferes da Fortaleza do Rio Grande, sobre o procedimento de Lourenço Peixoto Cirne, capitão dela, mandando examinar os ditos papéis e achando- se pela diligência se fizer culpado o dito capitão o tireis logo daquela praça o envieis a esta cidade a bom recado com as culpas que contra ele resultarem.

Em setembro de 1613, o Rei escreveu novamente para Gaspar encarregando da Capitania do Rio Grande, a Estevão Soares, cavaleiro do hábito de Cristo, que já servia na capitania da Fortaleza do Rio Grande.

No documento Aqui, desde sempre (páginas 73-77)