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A função dos elementos coesivos no texto argumentativo

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 63-68)

1 INTRODUÇÃO

3.3 A função dos elementos coesivos no texto argumentativo

A produção de textos envolve um processo de aprendizagem lento e longo, por ser essa uma atividade complexa. Considerando-se que a comunicação humana se dá através de textos, torna-se necessário oportunizar aos alunos meios para que possam progredir e dominar a linguagem oral e escrita em diferentes contextos de comunicação. Desse modo, é de suma importância que o planejamento pedagógico contemple o trabalho com gêneros diversos, sempre atentando para a adequação do texto às suas necessidades, especificidades e potencialidades.

É importante destacar aqui que o trabalho com o texto não pode servir de pretexto para as atividades metalinguísticas. Defendemos, apoiadas nos diversos autores elencados neste trabalho, um trabalho com o texto reconhecendo-o como o meio pelo qual o cidadão pode agir e interagir socialmente, sendo importante, portanto, o desenvolvimento de atividades que possam colaborar com a formação da competência comunicativa dos alunos.

Miller (2003), em seu artigo intitulado “O trabalho epilinguístico na produção textual escrita”, apresenta algumas definições bastante importantes no que concerne ao trabalho com o texto. Para esta autora, existem diferentes atividades que o leitor/escritor realiza ao envolver-se com o texto escrito:

a) atividade epilinguística - é o exercício de reflexão sobre o texto lido/escrito e da operação sobre ele a fim de explorá-lo em suas diferentes possibilidades. Dizendo em outras palavras, é a reflexão que quem escreve ou lê faz enquanto escreve ou lê, para compreender ou atribuir sentidos ao texto, verificar sua lógica, coesão, coerência, adequação das categorias gramaticais e ortografia, seja como leitor que precisa entender o que lê, seja como autor que deseja que seu leitor entenda o que escreve;

b) atividade linguística - o próprio ato de ler e escrever;

c) atividade metalinguística - capacidade de falar sobre a linguagem, descrevê-la e analisá-la como objeto de estudo (a gramática convencional) (MILLER, 2003, p.118).

Assim, reconhecemos que ao realizar atividades de produção de texto, questões de gramática e ortografia aparecerão, podendo se tornar uma preciosa fonte de informação para o professor, o qual pode estabelecer quais intervenções são necessárias para auxiliar o aluno em suas dificuldades e especificidades. É importante ressaltar que tais intervenções não devem obscurecer outras dimensões do trabalho com a produção textual. Outro ponto que merece destaque é a importância de se oferecer, ao longo da escolarização, uma proposta de progressão em espiral dentro de uma perspectiva com um maior grau de desafio a cada momento, proporcionando aos aprendizes mestria no uso da linguagem em diferentes situações de comunicação oral ou escrita.

A escolha pelo texto argumentativo, nesse estudo, se deve ao fato de nossa proposta ter como participantes alunos do 9° ano do Ensino Fundamental e esse gênero fazer parte do conteúdo programático desse ano escolar. Entendemos, também, que o trabalho com textos argumentativos é de suma importância, uma vez que propicia ao aluno demonstrar sua opinião sobre diferentes assuntos, inclusive aqueles de natureza polêmica, possibilitando-lhe o posicionamento frente a tais assuntos por meio de argumentos. Segundo Koch (2000):

O exercício de argumentar torna-se, então, façanha que requer estratégias discursivas, que permitam ao argumentador obter o chamado acordo com o auditório universal, (...). Portanto, a combinação e a seleção de alguns elementos em detrimento de outros é diretamente proporcional à sua indispensabilidade na argumentação (KOCH, 2000, p.27).

Assim, entendemos que o trabalho com o texto argumentativo é fundamental no processo de ensino-aprendizagem que considera o aluno como sujeito em desenvolvimento, capaz de organizar as palavras, frases, períodos, para formar textos com coesão e coerência. Compreendemos os alunos como agentes, críticos e participativos, não meros copiadores passivos; como sujeitos conscientes de seus direitos e deveres e capazes de participar de diferentes situações sociodiscursivas.

4 METODOLOGIA

A metodologia adotada nesta pesquisa fundamenta-se, em parte, nos pressupostos da pesquisa bibliográfica, uma vez que foi realizada uma revisão da literatura acerca da interface entre ensino de língua portuguesa e as contribuições da Sociolinguística, bem como uma revisão documental dos PCN de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental II no que se refere às questões de variação linguística.

Além disso, nossa metodologia de pesquisa se baseou nos pressupostos da i) pesquisa qualitativa (BAUER & GASKELL, 2002; LÜDKE & ANDRÉ, 1986), visto que nosso objetivo é interpretativo e não quantitativo e, também, porque entendemos que essa perspectiva metodológica permite-nos olhar para o objeto de investigação em sua relação com os aspectos socioculturais, políticos e econômicos; ii) pesquisa- ação, a qual pressupõe que o pesquisador, após detectar determinado problema, busque meios de compreender suas causas para, em seguida, propor intervenções que possam solucionar o problema e, finalmente, socializar os resultados obtidos (cf. THIOLLENT, 1986).

Assim, para a execução desta pesquisa, iniciamos uma revisão e discussão da literatura sobre o ensino de LP, sobretudo no que se refere à questão das atitudes e crenças linguísticas no ensino dessa disciplina e às contribuições da Sociolinguística para o processo de ensino-aprendizagem. Em seguida, elaboramos um questionário de crenças e atitudes linguísticas, cujas perguntas apresentavam, além de respostas de múltipla escolha, um espaço para que os alunos pudessem justificar suas respostas, bem como comentá-las, caso quisessem.

Durante o período de levantamento do arcabouço teórico, elaboramos o projeto de pesquisa e o submetemos ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal de Uberlândia (MG) (CEP - UFU). Após a aprovação pelo comitê (parecer número 1.414.607, de 18 de fevereiro de 2016), entramos em contato, pessoalmente, com as diretoras das duas escolas públicas, alvo desta pesquisa, situadas no município de Monte Carmelo (MG): uma escola, caracterizadamente rural, situada num povoado distante 33 km do centro da cidade e, outra, reconhecida por seu histórico de “ensino de qualidade”, situada no centro urbano da mesma cidade. Solicitamos autorização das duas diretoras, por meio de

documento entregue (ver anexos), para aplicar o questionário, bem como para analisar os livros didáticos e aplicar a proposta de intervenção, após as devidas análises. Feito isso, convidamos os alunos a participarem do estudo. Iniciamos a aplicação do questionário e das atividades pedagógicas a partir do aceite dos alunos, em que assinaram, juntamente com seus responsáveis, termos de consentimento livre e esclarecido (ver anexos), no qual declararam concordar em responder aos questionários de crenças e atitudes linguísticas, bem como em participar das atividades de intervenção propostas em sala de aula pela professora- pesquisadora.

Na primeira semana de aulas do ano letivo de 2016 (de 15 a 18 de fevereiro de 2016), aplicamos, em sala de aula, o questionário de crenças e atitudes linguísticas para os alunos das duas turmas de 9° ano que concordaram em participar da pesquisa. Após a aplicação, fizemos a categorização e análise dos dados. Dentre as muitas questões consideradas, analisamos, sobretudo, se os alunos apresentavam crenças negativas em relação à própria língua; se essas crenças influenciavam negativa ou positivamente nas atitudes linguísticas que manifestaram; como isso repercutia no processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa; se alunos de zona rural apresentavam crenças mais negativas (ou positivas) em relação à própria língua quando comparados a alunos de zona central. Concomitantemente, analisamos os livros didáticos utilizados nas duas escolas, tendo em vista observar a abordagem que apresentam sobre ensino de língua portuguesa e se atendem às diretrizes propostas pelos PCN.

Após essas considerações, partimos do resultado da análise do questionário e da análise dos livros didáticos para fazermos uma adaptação do conteúdo de língua portuguesa presente nesses manuais didáticos utilizados nessas duas turmas, sobretudo na parte trabalhada no primeiro e no segundo bimestres do ano letivo de 2016. Foram desenvolvidas novas atividades, aplicamos, em sala de aula, o material didático elaborado, apresentando uma metodologia sociolinguística de ensino de língua portuguesa, buscando desmistificar as falsas crenças que os alunos possuíam em relação à própria língua e ao ensino a que estão expostos.

Na última semana letiva do segundo bimestre (de 11 a 15 de julho de 2016), aplicamos novamente o questionário, tendo em vista averiguar, dentre muitas questões, o alcance da abordagem metodológica sociolinguística trabalhada por meio do novo material didático apresentado aos alunos, observando, sobretudo, se

esse material auxiliou na desconstrução de falsas crenças acerca do uso e do ensino da língua; como contribuiu para uma aproximação do aluno à sua própria língua (língua materna) colaborando, portanto, para o ensino de língua portuguesa naquelas turmas; e, por fim, observando o quanto uma ou outra turma se mostrou mais resistente à mudança implementada pela professora-pesquisadora. O questionário trouxe, novamente, perguntas de múltipla escolha, com espaço para que os alunos pudessem justificar a resposta, bem como apresentar a opinião deles acerca do assunto abordado, caso quisessem.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 63-68)