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CAPÍTULO IV – Enquadramento da Atividade do Solicitador

4.3 A Função Notarial do Solicitador

De acordo com o artigo 1.º, n.º 1, do Código do Notariado, “A função notarial tem

essencialmente por fim dar forma legal e conferir fé pública aos atos jurídicos extrajudiciais.”.

77Art. 3.º da Lei n.º 49/2004, de 24 de agosto – “Considera-se consulta jurídica a atividade de

aconselhamento jurídico que consiste na interpretação e aplicação de normas jurídicas mediante solicitação de terceiro.”.

78 Mais adiante, na Terceira Parte, de forma mais aprofunda, fala-se do Solicitador no Ramo Empresarial, vide, p. 51 e ss.

Conforme o disposto no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 28/2000, de 13 de março, “A

celeridade que caracteriza a vida moderna exige que se encontrem soluções inovadoras para os problemas do acesso ao serviço de conferência de fotocópias, bem como ao problema da rapidez na prestação desse mesmo serviço.”. Assim, no seu 1.º artigo, n.º 1,

veio atribuir às juntas de freguesia e ao serviço público de correios a competência para a

conferência de fotocópias. No entanto, no seu n.º 3, alude que “Querendo, podem as câmaras de comércio e indústria reconhecidas nos termos do Decreto-Lei n.º 244/92, de 29 de dezembro, os advogados e os solicitadores praticar os atos previstos nos números anteriores.”.

Em 2001, com a publicação do Decreto-Lei n.º 237/2001, de 30 de agosto, veio possibilitar-se ao Solicitador o reconhecimento de assinaturas com menções especiais,

por semelhança, e a tradução ou a certificação da tradução de documentos, com “a mesma força probatória que teria se tais atos tivessem sido realizados com intervenção notarial.”, tal como refere o seu art. 6.º.

Assim, o Solicitador torna-se competente para proceder aos reconhecimentos de assinatura, que podem ser simples ou com menções especiais.

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março, ocorreram muitas alterações ao nível da função notarial79, tais como: no ramo das sociedades, deixou de ser obrigatória a celebração de escritura pública para a constituição de sociedades comerciais, a alteração do contrato ou estatutos das sociedades comerciais, o aumento de capital, a alteração de sede ou objeto social, dissolução, fusão ou cisão de sociedades comerciais; no domínio da autenticação e do reconhecimento presencial de assinaturas em documentos, permitindo aos Advogados, aos Solicitadores, às Câmaras de Comércio e Indústria e aos Conservadores passarem a poder fazê-las, tornando o acesso mais fácil dos cidadãos e empresas à prática daqueles atos; ao Solicitador, foi-lhe conferida, também, a faculdade de autenticar uma série de documentos, como procurações.

79 Art. 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março – “1 - Sem prejuízo da competência

atribuída a outras entidades, as câmaras de comércio e indústria, reconhecidas nos termos do Decreto-Lei n.º 244/92, de 29 de Outubro, os conservadores, os oficiais de registo, os advogados e os solicitadores podem fazer reconhecimentos simples e com menções especiais, presenciais e por semelhança, autenticar documentos particulares, certificar, ou fazer e certificar, traduções de documentos, nos termos previstos na lei notarial, bem como certificar a conformidade das fotocópias com os documentos originais e tirar fotocópias dos originais que lhes sejam presentes para certificação, nos termos do Decreto-Lei n.º 28/2000, de 13 de Março. 2 - Os reconhecimentos, as autenticações e as certificações efetuados pelas entidades previstas nos números anteriores conferem ao documento a mesma força probatória que teria se tais atos tivessem sido realizados com intervenção notarial.”

Nas palavras de EDGAR VALLES, “A procuração é um ato unilateral, pelo que

alguém confere a outrem poderes de representação.”80. Já o art. 116.º, n.º 1, do CNot

prevê que “As procurações que exijam intervenção notarial podem ser lavradas por

instrumento público, por documento escrito e assinado pelo representado com reconhecimento presencial da letra e assinatura ou por documento autenticado.”.

O ano de 2008 acarretou novas competências aos Advogados e Solicitadores a nível do registo predial e atos conexos, através do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04 de julho81, onde “Por um lado, tornam-se facultativas as escrituras relativas a diversos atos da vida

dos cidadãos e das empresas. Deixam de ser obrigatórias, nomeadamente, as escrituras públicas para a compra e venda e para a constituição ou modificação de hipoteca voluntária que recaia sobre bens imóveis e, consequentemente, para os demais contratos onerosos pelos quais se alienem bens ou se estabeleçam encargos sobre eles, aos quais sejam aplicáveis as regras da compra e venda. Igualmente, a escritura pública deixa de ser obrigatória para a doação de imóveis, para a alienação de herança ou de quinhão hereditário e para a constituição do direito real de habitação periódica. Estes atos passam a poder ser realizados por documento particular autenticado.

Por outro lado, as entidades com competência para praticar atos relativos a imóveis por escritura pública ou documento particular autenticado passam a estar obrigadas a promover o registo predial do ato em que tenham intervenção, assim desonerando os cidadãos e empresas das deslocações inerentes aos serviços de registo.”,

como refere o preâmbulo do mesmo diploma.

No artigo 22.º deste, cuja epigrafe é “Forma dos atos”, afirma que só são válidos se forem celebrados por escritura pública ou documento particular autenticado os seguintes atos: “a) Os atos que importem reconhecimento, constituição, aquisição,

modificação, divisão ou extinção dos direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, superfície ou servidão sobre coisas imóveis; b) Os atos de constituição, alteração e distrate de consignação de rendimentos e de fixação ou alteração de prestações mensais de alimentos, quando onerem coisas imóveis; c) Os atos de alienação, repúdio e renúncia de herança ou legado, de que façam parte coisas imóveis; d) Os atos de constituição e liquidação de sociedades civis, se esta for a forma exigida para a transmissão dos bens

80 VALLES, Edgar. (2017). Atos Notariais dos Advogados e Solicitadores. 6.ª Edição. Coimbra: Almedina. P. 91.

com que os sócios entram para a sociedade; e) Os atos de constituição e de modificação de hipotecas, a cessão destas ou do grau de prioridade do seu registo e a cessão ou penhor de créditos hipotecários; f) As divisões de coisa comum e as partilhas de patrimónios hereditários, societários ou outros patrimónios comuns de que façam parte coisas imóveis; g) Todos os demais atos que importem reconhecimento, constituição, aquisição, modificação, divisão ou extinção dos direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, superfície ou servidão sobre imóveis, para os quais a lei não preveja forma especial.”.

Logo, todos estes atos mencionados anteriormente deixam de ser exarados apenas por Notários, através de escritura pública, passando a ser válidos por documento particular autenticado, podendo o Solicitador lavrar o termo de autenticação, as cláusulas do contrato, de acordo com a vontade das partes, a sua assinatura e promover o seu registo

online.

O Código do Notariado pronuncia-se sobre as competências notariais dos Advogados e Solicitadores através do seu artigo 3.º, n.º 1, al. d), com a expressão “As

entidades a quem a lei atribua, em relação a certos atos, a competência dos notários.”,

e estes devem praticar os atos notariais “nos termos previstos na lei notarial”, como refere o art. 38.º do DL n.º 76-A/2006, de 29 de março.