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Lista de Anexos

CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 Os resíduos e o meio ambiente

2.2.2 A geração do resíduo de construção civil RCC

Segundo John (2000), de uma maneira geral, a massa de resíduos de construção gerada nas cidades é igual ou maior que a massa de resíduo domiciliar. Pinto (1999), estima que em cidades brasileiras de médio e grande porte, a massa de resíduos gerada varia entre 41% (Salvador, BA) a 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos. De acordo com Pinto (1999), as estimativas internacionais de geração de resíduo variam entre 130 e 3000 kg/hab.ano.

Na Finlândia, no período de 1988 a 1992, foram produzidas, por ano, cerca de 350.000 toneladas de agregados reciclados, utilizados quase que em sua totalidade em sub-bases e bases de pavimentos.

Situação em alguns países.

Quebaud (1996), citado por Affonso (2005), menciona a atuação de alguns países na aplicação prática dos Resíduos de Construção e Demolição - RCDs, que ultrapassava a marca dos 40% reciclados. Abaixo, apresenta-se um resumo das atividades em alguns países que, de acordo com a mesma fonte, estão efetivamente tratando esse assunto com profissionalismo.

Japão: em 1990, 25,4 milhões de toneladas de RCD foram geradas, sendo que 48% desse total foi reutilizado ou reciclado. Quebaud (1996) menciona ainda que parte desses agregados reciclados foi usada para aterrar grandes áreas no mar, conquistando extensas

áreas para uso urbano. Para se chegar a essa marca, no entanto, desde 1977 esse país dispõe de normas técnicas para o uso de agregados e de concretos reciclados, inclusive classificando-os pela densidade, para emprego em concreto, bases, etc. Hoje, cerca de 2/3 de todo o volume gerado é reciclado, segundo Leite (2001) citado por Affonso (2005). EUA: após 1982, as normas ASTM C-33-82 e C125-79 criam condições para a reutilização de RCD em pavimentos e concretos.

Dinamarca: nesse país, desde 1970, pesquisa-se o emprego de agregados reciclados em concreto, mas apenas em 1990, através de uma sobretaxa para a geração desses materiais, é que o governo atraiu o interesse pelo seu reaproveitamento. Em 1992, cerca de 25% foram reciclados, chegando em 2000 a 60%. Essas taxas continuaram a subir, paulatinamente. Hoje, cerca de 90% são reciclados conforme a revista Ecologia (2004) citada por Affonso (2005).

Países Baixos: esse país, desde 2002, conforme Leite (2001) citado por Affonso (2005), processa integralmente o seu resíduo e também importa de outros países, para aplicação em concreto reciclado e pavimentos de estradas e ruas. Assim, ao importar RCD de países vizinhos, torna-se o primeiro país a receber pagamento para processamento de passivo de outros países.

Alemanha: no país onde se iniciou o trabalho de reciclagem, a atividade reduziu-se, sendo reiniciada apenas mais tarde, com a reunificação das Alemanhas Oriental e Ocidental. Na ocasião, 43 milhões de toneladas foram recicladas, quase 35% do volume total existente. A demolição seletiva e a desconstrução foram, então, incentivadas. Em 1995, 60% já eram recicladas conforme Leite (2001), citado por Affonso (2005). A Alemanha foi o único país a desenvolver um projeto de construção de prédio utilizando 100% de material reciclado. Reino Unido: cerca de 50% do RCD são reciclados em pavimentação.

Bélgica: nesse país encontram-se três regiões independentes, com situações bastante distintas. Em Flandres, cerca de 60% do RCD é reciclado, enquanto na região da Wallonie, como a atividade extrativa mineral é forte, nada é reciclado. A terceira região encontra-se sem dados no momento.

França: na França, de todo o volume gerado anualmente, 25 milhões de toneladas, 80% provêm de demolição, 8% da construção e 12% da restauração ou reformas. Com um consumo anual de 400 milhões de toneladas de agregados, a produção de reciclado ainda é

modesta, chegando a 4 milhões, ou seja, 1% do total consumido.

O desempenho do reaproveitamento atual de RCDs em alguns países é listado por Motta e Fernandes (2003), citados por Affonso (2005), como mostra a Tabela (2.1):

Tabela 2.1 – Geração e reaproveitamento de RCD em alguns países, Motta et al., (2003) citado por Affonso, (2005).

Esses autores observam que a partir dos dados apresentados, é fato que a condição de geração de entulho, a reciclagem e a aplicação de RCDs é muito variável de país para país, mesmo entre os mais desenvolvidos. As principais aplicações do material reciclado são pavimentação e fabricação de concreto, embora sejam mencionadas ainda outras aplicações como a fabricação de tijolos, meio fios e canaletas.

John (2000), conclui que há diversidade nas estimativas apresentadas por diferentes fontes num mesmo país. Uma das razões da grande variabilidade é a classificação do que é considerado resíduo de construção conforme apresenta na Tabela (2.2). Alguns autores incluem a remoção de solos, enquanto outros excluem esse valor. Outras razões decorrem da importância relativa da atividade de construção, da tecnologia empregada e da idade dos edifícios, entre outros.

A Situação no Brasil:

O Brasil, segundo Affonso (2005), encontra-se ainda em um estagio incipiente em se tratando de reciclagem de resíduos. Nunes (2004), citado por esse autor, relata que dos 5.507 municípios brasileiros, apenas 2% tem algum tipo de tratamento de RCD. Em fins de

PAÍS Entulho (mil

ton/mês) % Reutilização % Depositado em aterros ALEMANHA 59 17 83 INGLATERRA 30 45 55 FRANÇA 24 15 85 ITALIA 20 9 81 ESPANHA 3 < 5 > 95 HOLANDA 11 90 10 BELGICA 7 87 13 AUSTRIA 5 41 59 PORTUGAL 3 < 5 > 95 DINAMARCA 3 81 19 GRECIA 2 < 5 > 95 SUECIA 2 21 79 FINLANDIA 1 45 55 IRLANDA 1 < 5 > 95 Media Total 180 28 72

2004, 14 unidades de reciclagem de RCD já existiam no Brasil. Hoje, com a entrada em operação da unidade de São Gonçalo, construída pela própria Prefeitura, e a usina da Arcano Arquitetura e Engenharia, na Cidade do Rio de Janeiro, já são 16. Outras, nessa mesma ocasião entraram em operação, ressaltando-se aqui as usinas de reciclagem da BR 040, em Belo Horizonte e também, a da Cidade de Fortaleza, CE.

De acordo com dados fornecidos pela Superintendência de Limpeza Urbana–SLU, em Belo Horizonte, a média anual de entulho recolhido em 2008 foi de 741.400 t sendo que 78.000 t são recolhidos de locais clandestinos. A produção de agregados reciclados nas três unidades de reciclagem, também em 2008, foi de 122.400 t, o que corresponde a 16,5% de aproveitamento, do total de entulho coletado.

Ainda segundo o Setor de Estatística da SLU-BH, o recolhimento de entulho clandestino tem um custo a nível de abril/2009 de R$ 23,53 para coletas mecanizadas e de R$ 99,13 para coletas manuais naqueles locais de difícil acesso para maquinas.

Tabela 2.2 – Estimativas por habitante de geração de resíduos de construção civil (John, 2000).

Zordan [1999?] apresenta na Tabela (2.3) as estimativas da quantidade do entulho produzido no país nas principais capitais. Comparando-se as Tabelas (2.1), (2.2) e (2.3), pode-se observar que as cidades brasileiras chegam a gerar resíduos em quantidades superiores à de países inteiros.

Quantidade Anual Pais

Mton/ano Kg/hab. Fonte

Suécia 1,2 – 6 136 – 680 TOLSTOY, BÖRKLUND & CARLSON (1998); EU (1999)

Holanda 12,8 –20 820 – 300

LAURITZEN (1998); BROSSINK; BROUWERS & VAN; KESSEL (1996); EU

(1999)

EUA 136 – 171 463 – 584 EPA (1998); PENG, GROSSKOPF, KIBERT (1994) UK 50 – 70 880 a 1120 DETR (1998); LAURITZEN (1998) Bélgica 7,5 - 34 7735 – 3359 Dinamarca 2,3 – 10,7 440 –2010 Itália 35 - 40 600-690 Alemanha 79-300 963-3658 LAURITZEN (1998), EU (1999) Japão 99 785 KASAI (1998) Portugal 3,2 325 EU (1999) Brasil Na 230 - 660 PINTO (1999)

Segundo John (2000), as estimativas de Pinto (1999) e de outros autores variam de cidade para cidade. Jundiaí, Santo André, São José dos Campos, Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Campinas, Salvador e Vitória da Conquista geram entre 230 kg/hab./ano, no caso dessa última cidade, até 760 kg/hab./ano, caso de Jundiaí. Nessas avaliações, a média foi 510 kg/hab./ano, o que é considerado um valor coerente com as estimativas estrangeiras. O autor pondera também que os dados nacionais necessitam ser validados a partir de uma metodologia única.

Tabela 2.3 – Geração de Resíduo de construção nas principais capitais do Brasil segundo ZORDAN [1999?].

Local Gerador Geração Estimada (t/mês)

São Paulo 372.000

Rio de Janeiro 27.000

Brasília 85.000

Brasil Porto Alegre 58.000

Salvador 44.000

Recife 18.000

Curitiba 74.000

Fortaleza 50.000

Florianópolis 33.000

Gonçalves (2001) igualmente apresenta, a esse respeito, alguns exemplos quantitativos: Em Ribeirão Preto, cidade de porte médio no interior paulista, a geração de resíduos ultrapassa 970 toneladas/dia. Em Campinas, cidade maior, com mais de 1 milhão de habitantes, esse valor ultrapassa 1.260 toneladas/dia. Em São José dos Campos, segundo levantamento realizado em 1995, o RCC representou 65% dos resíduos sólidos urbanos gerados no decorrer do referido ano. Na cidade de Belo Horizonte, local desta pesquisa, com população acima de 2 milhões de habitantes, são produzidos diariamente mais de 4.000 toneladas de lixo, sendo que desse total, 52,90% correspondem ao RCC.

2.2.3 Programa de coleta e reciclagem de resíduos de construção e demolição na