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A gestão e as características das incubadoras de empresas

No documento Anexo 1 Bionergia 05 04 2012 (páginas 37-42)

6. Suporte laboratorial da incubadora

7.3. A gestão e as características das incubadoras de empresas

Aerts et al28 analisaram a realidade europeia sobre a incubação de empresas, considerando uma

amostra final de 107 incubadoras. Relativamente às fontes de financiamento, concluíram que as origens mais importantes de rendimento das incubadoras (em 81% dos casos estudados) são as rendas e os serviços pagos pelas empresas incubadas. Outras conclusões relevantes, obtidas neste estudo, são que 80% das incubadoras são autossuficientes, o que evidencia uma taxa de sucesso elevada deste tipo de infraestruturas de apoio à atividade empresarial, e que apenas uma minoria das incubadoras europeias, concretamente 29%, tem fins lucrativos.

b) Seleção das empresas e serviços/recursos disponibilizados

Quanto à eventualidade de se realizar uma seleção das empresas para instalação nas incubadoras, de acordo com o estudo realizado por Aerts et al29, concluiu-se que das incubadoras que realizam esse

processo, 76% fazem-no através de uma comissão de seleção, constituída para esse efeito. Nas

26 Rothaermel, F.T., Thursby, M. (2005), University-incubator firm knowledge flows: assessing their impact on incubator firm

performance, Research Policy, 34, 305-320.

27 Mian, S. (1994), US university-sponsored technology incubators: an overview of management, policies and performance, Technovation, 14(8), 515-528.

28 ob. cit. 29 ob. cit.

restantes incubadoras, a tomada de decisão quanto à instalação de novas empresas verifica-se apenas com base no julgamento feito por uma única pessoa.

Em média, a perspetiva de existência de mercado é o fator de seleção mais importante (61%). O segundo critério mais relevante, tem a ver com a análise da composição da equipa de gestão da empresa que se apresenta como candidata (27%), sendo os fatores financeiros menos importantes (6%), para esse processo de seleção.

Aerts et al.30 referem que as empresas instaladas nas incubadoras europeias têm uma grande

variedade de serviços ao seu dispor. Apenas 4% das 107 incubadoras analisadas não está equipada com uma sala de reuniões ou instalações para realização de conferências. A grande maioria das incubadoras (88%) oferece a possibilidade do estabelecimento de relações de negócio às empresas incubadas, e 86% prestam assistência na elaboração do plano de negócios e no desenvolvimento futuro das empresas. Também o apoio na obtenção de financiamento constitui uma atividade normal entre as incubadoras (79%), tal como acontece com a disponibilização de equipamento geral de escritório (77%), e de serviços, na área de marketing (73%) e de consultoria financeira (72%). De destacar ainda que 68% das incubadoras oferecem serviços numa fase de pré-incubação, para apoio aos futuros empreendedores.

Allen e Rahman31 salientaram que uma das dimensões críticas de uma incubadora, e que a distingue de uma rede de escritórios com serviços partilhados ou de um edifício comercial multiempresas, é a prestação, no mesmo local, de serviços partilhados e de consultoria de negócios.

Esta consultoria pode ser prestada por colaboradores da própria incubadora ou por consultores independentes, indicados e/ou contratados pela gestão da incubadora. No estudo realizado, estes investigadores concluíram que os serviços mais frequentemente disponibilizados pelas incubadoras são a cópia de documentos, o envio e a receção de correspondência, as salas para realização de conferências, a assistência na elaboração do plano de negócios e o apoio administrativo. Outros serviços, como benefícios no acesso a serviços de saúde, representação e aconselhamento legal e apoio no acesso a capital de risco ou capital semente, são normalmente prestados através de acordos contratuais ou por outras entidades, ainda que ligadas à incubadora.

Por exemplo, no estudo de Cooper et al.32, salientava-se que eram os próprios profissionais da

incubadora quem asseguravam a consultoria especializada às empresas instaladas, nas áreas de finanças, contabilidade, marketing e relações públicas.

30 ob. cit.

Abordando a questão mais específica das empresas de alta tecnologia, McAdam e McAdam33 procuraram explicar como o desenvolvimento do ciclo de vida destas empresas, instaladas em incubadoras presentes em parques de ciência universitários, pode influenciar a forma como utilizam as oportunidades e os recursos únicos proporcionados por essas incubadoras.

Concluíram que, no período inicial do ciclo de vida, as incubadoras apoiam as empresas de alta tecnologia, proporcionando-lhes as instalações para os escritórios, cantinas, parque de estacionamento e serviços partilhados de secretariado. Podendo parecer questões triviais, os empreendedores referiram a utilidade de poderem contar com estes apoios, porque lhes permitiu concentrarem-se totalmente no seu negócio durante a fase inicial de crescimento das empresas.

No entanto, à medida que as empresas de alta tecnologia progrediram no respetivo ciclo de vida, enfrentaram desafios específicos, tais como conseguirem dispor de uma equipa equilibrada, a capacidade para delegar e a implementação de sistemas de gestão adequados. Os resultados mostram que a propensão das empresas de alta tecnologia para utilizarem os recursos e o apoio das incubadoras aumenta à medida que a empresa evolui no seu ciclo de vida. Por isso, a gestão das incubadoras deve ser sensível e flexível em relação a estas variações.

Admitindo a existência de problemas que decorrem do facto das incubadoras não prestarem alguns dos serviços entendidos como importantes pelas empresas incubadas, Allen e Rahman34 defendem que, se alguns serviços, como a contabilidade, o marketing e o apoio jurídico, não puderem ser assegurados internamente pela incubadora, esta deve tentar estabelecer uma rede local de prestadores de serviços, a preços mais reduzidos do que os normalmente praticados no mercado. c) Factores críticos de sucesso das incubadoras e valor acrescentado para as empresas

Smilor, citado por Lee e Osteryoung35, investigou os fatores críticos de sucesso relacionados com a gestão eficiente de incubadoras e sugeriu os seguintes: conhecimento sobre os negócios; acesso a 32 Cooper, C.E., Hamel, S.A., Connaughton, S.L. (2010), Motivations and obstacles to networking in a university business

incubator, Journal of Technology Transfer, publicado online em 25/09.

33 McAdam, M., McAdam, R. (2008), High tech start-ups in University Science Park incubators: The relationship between the

start-up s lifecycle progression and use of the incubator s resources, Technovation, 28, 277-290.

34 ob. cit.

35 Lee, S.S., Osteryoung, J.S. (2004), A Comparison of Critical Success Factors for Effective Operations of University Business

financiamento e capitalização; apoio financeiro em espécie às empresas; apoio comunitário; rede de empreendedores; educação em empreendedorismo; capacidade de perceção do sucesso; processo de seleção para as empresas a incubar e ligação a uma universidade.

A importância do fator ligação a uma universidade para o sucesso das incubadoras, surge também referida no trabalho de Rothaermel e Thursby36. Estes investigadores concluíram, numa investigação realizada junto de 79 start-up incubadas na Advanced Technology Development Center, uma incubadora promovida pelo Georgia Institute of Technology, nos EUA, que as ligações entre a universidade e uma nova empresa, através de uma licença para a empresa desenvolver invenções geradas na instituição universitária e/ou pelo facto de um professor da universidade integrar a sua equipa de gestão, reduzem significativamente a hipótese de um fracasso absoluto da empresa.

Algo que contribuirá, de forma decisiva, para o sucesso das incubadoras, relaciona-se com o valor acrescentado que as mesmas proporcionam às empresas que se encontram incubadas nas suas instalações e que motivará, em consequência, um maior interesse para que novas empresas queiram instalar-se no futuro.

Campbell et al.37 referiram que o valor acrescentado proporcionado pelas incubadoras às novas

empresas instaladas pode assumir diferentes formas, nomeadamente: o diagnóstico das necessidades totais do negócio; a seleção, provisão e monitorização dos processos de aquisição, implementação e coordenação dos serviços necessários para o negócio; o fornecimento de capital, se necessário, para pagar o desenvolvimento do produto e dos serviços que sejam necessários contratar a outros profissionais; a disponibilização de uma rede crescente de especialistas no desenvolvimento do negócio.

Relativamente ao valor acrescentado proporcionado pelas incubadoras tecnológicas, Colombo e Delmastro38 realizaram um estudo, com base numa amostra de 45 empresas italianas, localizadas em incubadoras tecnológicas que, por sua vez, se situavam no interior de um parque de ciência ou de um

36 Rothaermel, F.T., Thursby, M. (2005), Incubator firm failure or graduation? The role of university linkages, Research Policy,

34, 1076-1090.

37 Campbell, C., Kendrick, R.C., Samuelson, D.S. (1985), Stalking the latent entrepreneur: business incubators end economic

development, Economic Development Review, Summer, 43-48.

38 Colombo, M.G., Delmastro, M. (2002), How effective are technology incubators? Evidence from Italy, Research Policy, 31,

business innovation center (BIC). Estas empresas foram comparadas com uma amostra de controlo,

constituída por empresas não incubadas.

Os resultados obtidos indicam que os parques de ciência e os BIC italianos foram bastante bem sucedidos na atração de empreendedores com capital humano de alta qualidade. Em média, os empreendedores com o grau de doutoramento e com formação superior em engenharia ou noutros campos científicos e tecnológicos encontram-se em percentagem muito mais significativa nas empresas incubadas.

Por outro lado, concluíram que as empresas instaladas em incubadoras têm acesso mais facilitado aos subsídios públicos, relacionando este facto com o reconhecimento da validade do processo de seleção efetuado pelas incubadoras, e que garante melhores expectativas quanto ao desenvolvimento dos negócios. As empresas incubadas mostram ainda melhores resultados na adoção de tecnologias de informação e comunicação inovadoras, na participação em projetos de investigação apoiados pela União Europeia e na capacidade para tirar vantagem dos serviços técnicos e científicos proporcionados pelas instituições que se dedicam à investigação. Destaque-se ainda o facto das empresas incubadas mostrarem maior probabilidade de estabelecer relações cooperativas formais, em especial no que se refere à colaboração técnica com as universidades.

d) Rede interna e externa

Marques et al39, na análise efetuada, em Portugal, sobre 11 incubadoras ligadas a universidades,

confirmaram que as incubadoras de empresas portuguesas não são organizações isoladas e que tendem a estar relacionadas com fontes públicas e privadas de conhecimento científico e/ou tecnológico, incluindo neste campo não só as universidades, mas também os parques de ciência e tecnologia, os parques tecnológicos, os business innovation center (BIC), as instituições públicas e privadas de investigação e desenvolvimento, bem como as empresas de base tecnológica e as fontes de financiamento.

O estabelecimento de redes de cooperação, internas e com a comunidade exterior, afigura-se como um fator decisivo para que as incubadoras possam alcançar os principais objetivos que estão na sua génese.

Numa perspetiva interna, sendo desejável, em absoluto, o estabelecimento de uma rede de cooperação entre as empresas incubadas, os dados recolhidos por Cooper et al.40 evidenciam os obstáculos que

39 Ob. cit.

podem emergir para se alcançar uma rede de trabalho com sucesso, no interior de uma incubadora, no caso concreto de cariz tecnológico. Os autores sugerem que as empresas instaladas devem balancear a tensão existente entre a independência [que querem ter] e a conectividade [que é importante terem, embora possam não querer ou não reconhecer a sua importância]. A primeira é necessária para manter o foco nos objetivos da empresa e proteger a propriedade da informação. Mas a conectividade é desejável para aprender com as experiências e os conhecimentos adquiridos pelas outras empresas. Hansen et al,41 tal como Aerts et al.42, concordam que o networking é um fator de sucesso fundamental para as empresas incubadas, nomeadamente para as start-ups. Isto porque permite alcançar economias de escala, que resultam da partilha ou da utilização conjunta de inputs.

Campbell et al.43 dizem que uma incubadora de empresas é um instrumento interessante para

perseguir o empreendedor latente . )sto porque funciona como um agente facilitador na construção de pontes entre a comunidade de empreendedores, as suas oportunidades de negócio e as redes de apoio profissional e financeiro.

No documento Anexo 1 Bionergia 05 04 2012 (páginas 37-42)

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