• Nenhum resultado encontrado

Ao nos apropriarmos de vocábulo “mudança” precisamos refletir sobre o que seja mudança. Para o Dicionário Houaiss, mudança é alteração ou modificação do estado normal de algo: mudança de caráter. Modificação ou transferência de alguma coisa, para outro lugar. Alteração ou substituição de uma pessoa ou coisa por outra.

No caso da escola ou da gestão da escola nos últimos está vem sofrendo mudanças, na forma e na concepção, devido à mudança que também ocorre na sociedade, na organização dos sistemas escolares, na identidade profissional do professor que é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem a especificidade do trabalho do professor (Libâneo, 2014).

Para analisarmos o entendimento e a operacionalização da mudança na gestão escolar, nos propusemos analisar o pensamento de Heloisa Lück estudiosa brasileira de reconhecimento nacional sobre esse assunto e dessa forma procuramos seus trabalhos em diversos contextos da mídia escrita e oral, nos reportando a uma publicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep quando que trata da gestão escolar e sua implicação na formação de gestores (2000).

Nesse material a autora Luck (2000, p. 11) destaca que há mais de duas décadas atrás já se discutia a implantação da gestão democrática na escola básica, no entanto o que nos chamou atenção foi justamente a atualidade do mesmo, estando decorrida essa temporalidade ainda discutimos “a gestão escolar democrática”.

Lück (2000) procura organizar suas ideias a partir dos desafios que a gestão escolar democrática traz diante das demandas que a escola enfrenta num contexto que segundo ela se transforma constantemente, destacando que muitos dos desafios postos a escola, são conhecidos conceitualmente e pouco trabalhados pelos professores e gestores em situação de ensino e aprendizagem.

Enfatiza ainda o caráter complexo dos problemas sociais que a escola enfrenta no seu dia-a-dia, portanto, e nesse sentido há de se tratar recorrentemente sobre a tarefa da escola que se propõe ser democrática para termos a compreensão sobre a realidade e os problemas que estão presentes no contexto escolar.

Para Luck (2000) se antes a escola era o apanágio das elites, conforme nos aponta cenário, hoje ela está aberta todos que dela precisam, haja vista a quebra de paradigmas pelos quais a escola passou, e que na visão da autora foram mudanças calcadas na adoção de concepções e práticas interativas, no entanto, caracterizados pelo globalismo das alianças, parcerias e redes de associativismos que são valores estratégicos ao desenvolvimento da sociedade capitalista.

Entendemos no viés proposto pela autora em tela, que o aluno da escola atual, precisa ser criativo, empreendedor e crítico diante dos problemas que a sociedade apresenta, não bastando aprender os problemas aritméticos ou de literária, pois tem o compromisso de contribuir no enfrentamento do mundo hodierno, que seja competente e saiba aperfeiçoar os recursos que a escola oferece, contando com os sujeitos sociais que se fazem presentes na escola como gestores, professores, sociedade civil e familiar dos seus alunos, os quais compõem as instancias deliberativas da escola.

É nesse contexto, que Drucker (1992), explicita os setores representativos da gestão democrática na escola,

É nesse enfrentamento que a sociedade civil através da associação de pais, dos conselhos de classe, de grêmios estudantis, enfim de tudo que contribua para alterar o conceito de escola que se bastava a si mesma, se definindo nesse percurso seu caráter democrático, na medida em que o caráter estático da escola das certezas vai dando lugar a uma nova conjuntura das incertezas, a qual o gestor não trabalha com modelos de gerir estáticos e hegemônicos, identificado na administração cientifica (Drucker (1992, p.42).

Decorre daí o entendimento de que naquela escola das certezas o comportamento humano era previsível, a tensão e o conflito eram vistos como disfunções e, portanto deveria ser reprimida, a fragmentação do trabalho escolar deveriam ser executados por pessoas que

nelas se especializavam, e onde os professores e alunos eram cativos em vez de participes do processo educativo pautado em uma hierarquização de poder dentro da escola, foi perdendo sua razão de ser em substituição por uma escola das incertezas.

Hoje os sistemas escolares são organismos vivos, dinâmicos marcados pelo pluralismo das ideias, pelo trabalho em equipa e o enfoque anterior cedeu lugar à gestão escolar que promove transformação nas relações de poder, onde se assume as experiências exitosas como referência e não como modelos a serem seguidos, podendo se diferenciar de escola para escola, de município para município e de estado para estado.

Nesse novo modelo de escola, o diretor é o gestor da dinâmica social, política e pedagógica da escola, um mobilizador e orquestrador das possibilidades com vista a promoção do bem-estar de todos que estão implicados no contexto escolar, sendo nesse contexto que podemos falar de gestão democrática, conforme destaca Luck (2000),

Mediante o compartilhamento do poder realizado na tomada de decisões de forma coletiva, compreendo a dinâmica contraditória das relações interpessoais e sabendo de antemão que as mudanças educacionais estão atreladas as mudanças nas relações sociais praticadas na escola e nos sistemas de ensino (Luck, 2000, p.28).

Dessa forma conceitos como descentralização, democratização e autonomia da escola são importantes e imprescindíveis no entendimento do que seja gestão escolar democrática.

Descentralizar para Ferreira (2009) significa dar poderes às coletividades locais, disseminar o que se encontra agrupado, isso é necessário, pois estamos vivenciando um tempo de mudanças rápidas, onde a globalização coloca a cada dia coisas nova, havendo necessidade de revisão constante dos paradigmas emergentes, que exigem decisões imediatas, pois, se tardarem, não terão mais sentido.

Esse movimento é internacional e segundo especialistas da educação carece de um processo educacional que promova o esforço coletivo, diminuindo as pressões que antes se avolumavam na centralização, para Barroso (1997: In Luck, 2000, p.17).

A descentralização visa ajudar a gestão de processos e de recursos além de diminuir a sobrecarga dos organismos centrais que se tornaram gigantes com o crescimento do sistema educativo e consequentemente da complexidade gerada pelos mesmos que inviabilizavam o controle centralizado (Luck, 2000, p.18).

Associada a descentralização temos a autonomia da escola que segundo Luck (2000) é um conceito que usualmente aparece quando se fala de democratização do ensino, este

conceito está também alinhado as mudanças mundiais como a globalização e tem repercutido na concepção de gestão democrática, nesse sentido para a autora o conceito de autonomia, “Consiste na ampliação do espaço de decisão voltado para o fortalecimento da escola como organização social comprometida com a sociedade e tendo como objetivo a melhoria da qualidade do ensino” (Luck, 2000, p. 21).

Nesse viés, os problemas educacionais são problemas sociais, da coletividade e não do governo ou da municipalidade e assim as soluções devem ser buscadas em conjunto pela coletividade, negociada mediante o exercício da autonomia que só existirá se houver estrutura escolar colegiada que garanta a gestão compartilhada, em torno de um projeto político pedagógico que represente os anseios da coletividade.

Enfim, para que haja gestão escolar democrática há de existir não apenas novas ideias, mas sim um novo paradigma, que busca estabelecer na escola uma orientação transformadora, a partir da dinamização de rede de relações sem abrir mão de responsabilidades, mas permitindo que todos partilhem de ideias, sugestões, planos e realizações em prol do desenvolvimento educacional. Entenda-se como “todos”: gestor, professores, técnicos, funcionários, alunos, pais, comunidade do entorno da escola e demais parceiros da escola disseminados no contexto social e político da sociedade hodierna.

Somente com essa leitura de gestão escolar será possível alcançar a gestão escolar democrática almejada pelas autoridades educacionais e pela sociedade escolarizada, sendo por isso que a escola e a gestão escolar vêm sendo pressionada a repensar seu papel diante das transformações que tem ocorrido no mundo hodierno acelerando as mudanças comportamentais e atitudinais dos escolares de modo em geral e da gestão escolar de modo especial.

Desse modo a adequação das políticas educacionais do Brasil as orientações de organismos internacionais, principalmente do Banco Mundial e da UNESCO iniciadas na década de 1980, intensificada nos anos 1990 desde a Conferência Mundial sobre Educação para Todos na Tailândia, com objetivos de formular políticas de mudanças operacionais nos países emergentes alinhadas com o capitalismo neoliberal, trazem em seu bojo as mudanças que tratamos de refletir atualmente, com vista a compreensão dos objetivos da mudança que estão se operacionalizando em nossas escolas, mas principalmente nas formas de gerir a escola de forma democrática, o que para autores como Libâneo (2014; Nóvoa (2009); Toschi (2012) fazem parte de um paradigma produtivo que visa formar um consumidor mais exigente e sofisticado.